Arquivo anual: 2019

Wanderlust #59 – New Orleans, Louisiana (13/51)

(21/02/2019-26/02/2019)

Uma das festividades que eu mais gosto no Brasil é o carnaval (tem uns relatos dos carnavais de 2014 e 2015 aqui e aqui). Na época em que eu precisava fazer plantão, sempre me oferecia para trabalhar no Natal ou no Ano Novo para poder pegar a folga no Carnaval. A festividade é uma das coisas que me dão mais saudades do Brasil, especialmente porque nos últimos anos o Carnaval de rua de São Paulo virou uma festa muito legal. Então já que fazia 3 anos que a gente não curtia a festa, porque não curtir um carnaval diferente e aproveitar o Mardi Gras em New Orleans, a cidade dos EUA famosa por esta festividade.

Dia 1

Como não conseguiria pegar os dias do Carnaval de folga, planejamos a viagem para a semana anterior. Ao pesquisarmos, descobrimos que os eventos do Mardi Gras começam já no dia de Reis (6 de Janeiro) e que no fim de semana do “pré” existem mais desfiles (Parades) do que no final de semana do feriado (que não é feriado nos EUA) em si. Além de tudo, passagens e hospedagens são mais baratas.

Chegamos no começo da noite e após nos instalarmos no apartamento da Sonder, já fomos bater perna na área mais movimentada da cidade: a Bourbon Street. Já no caminho dá pra perceber o clima diferente e, além do calor (mesmo sendo inverno), as pessoas pareciam mais entusiasmadas, mesmo numa quinta-feira à noite.

A Bourbon St é uma rua que fica no French Quarter, a área mais turística e boêmia da cidade. Durante a noite e aos finais de semana, o acesso de carros é fechado e vira um grande calçadão. Além de bares, restaurantes e várias lojas de bugigangas (souvernis, fantasias, adereços, beads, etc.), também existem vários hotéis antigos na rua, com varandas (alguns bares também têm varanda), que é de onde o pessoal joga os beads, aqueles colares típicos da festividade. Os próprios hotéis e bares compram quilos e quilos dos colares e deixam pendurados para que os clientes possam jogar. Segundo a tradição, para ganhar um colar você tem que pagar uma prenda. Uma das prendas “preferidas” é que as mulheres exibam os seios.

Uma coisa legal nos bares da Bourbon é que nenhum deles cobra entrada. Eles apenas conferem a identidade (na maioria das vezes), para permitir apenas maiores de 21 anos, que é a idade legal para poder beber nos EUA (a legislação é estadual, mas todos os estados seguem esta idade mínima). Como New Orleans é uma das duas cidades norte-americanas onde se pode beber em público (a outra é Las Vegas) eles também não ligam muito se você entrar ou sair bebendo dos bares (só não pode sair com copos e garrafas de vidro, mas os bares disponibilizam copos de plástico). A maioria dos bares têm ótimas bandas com tudo quanto é tipo de som: jazz, blues, soul, rock, country. Por tudo isto é bem comum ver as pessoas saindo de um bar e entrando em outro, pra ver como está o som, ou então aproveitando o intervalo de uma banda pra ir curtir outra em outro local.

Primeiro a gente deu uma volta, indo até o final da rua e voltando. Paramos então na Huge Ass Beers, que vende cervejas em tamanhos realmente grandes (copos de até dois litros!), pegamos uma cerveja e curtimos um pouco o som. Saímos para dar mais uma volta e depois paramos no Fat Catz Music Club que na nossa opnião tem as melhores bandas (soul, funk, rhythm and blues e pop em geral). Depois de curtirmos um pouco o som e tomarmos umas cervejas, passamos numa loja de conveniência, compramos um pack de cervejas e voltamos para o apartamento.

Dia 2

Na sexta de manhã, mesmo com o tempo nublado e ameaçando chover, fomos dar uma volta. Passamos primeiro pela Canal St, a avenida mais movimentada da cidade, com hotéis, mais lojas de bugigangas, restaurantes, cassino, shopping e até uma arena de shows. De lá fomos até o rio Mississipi, o segundo maior rio dos EUA, que corta praticamente o país todo de norte a sul, desaguando no Golfo do México. Existe um boardwalk com algumas atrações e vários parques. Passamos pela parte do French Quarter que fica à beira do Mississipi, pela Jackson Square (que basicamente se resume a um shopping montado em uma antiga fábrica de cervejas) e caminhamos até o French Market, um mercadão local, que diferentemente da maioria dos outros mercados centrais dos EUA, é bem aberto.

Depois fomos dar umas voltas na Bourbon Street durante o dia e logo após paramos para experimentar as cervejas da Crescent City Brewhouse. Na sequência fomos até a Royal Street para acompanharmos a parade (desfile) da Krewe of Cork. As krewes podem ser considerados uma mistura de bloco carnavalesco com escola de samba. Cada krewe tem um tema e a de Cork é vinho (cork é rolha em inglês). O tema domina as fantasias, que são desenhadas e elaboradas por “foliões” individualmente ou em pequenos grupos, ou seja, não existe um padrão. Eles também confeccionam beads alusivos ao tema central que jogam para a galera (sem nem precisar mostrar os peitinhos…hahaha). Além dos beads, existem outros throws que são jogados pelos componentes: bonecos, óculos, máscaras, basicamente qualquer “recordação” que eles tenham em mente e que seja parte do tema.

O único ponto ruim foi que não haviam banheiros no trajeto desta krewe, então para não passarmos perrengue, preferimos não comprar cerveja.

Como as ruas do French Quarter são estreitas, os “blocos” (vou começar a chamar assim à partir de agora) que desfilam por lá são menores e eles não desfilam com os floats, que são os carros alegóricos. Os blocos maiores desfilam, em sua maioria, na St Charles Ave, e foi pra lá que fomos, já no final da tarde, para acompanharmos os blocos que passariam por ali no dia.  

Na St Charles Ave, além da presença dos floats, que em tamanho se assemelham aos trios elétricos do Brasil, desfilam blocos bem maiores, alguns com mais de 3 mil foliões. A variedade de throws também é enorme. Porém, como o local na St Charles em que paramos fica no final do percurso, muitos floats já estavam sem os throws. E como é a parte mais perto do centro, fica bem lotado. Depois de acompanharmos um pouco, fomos jantar e voltamos ao ap.

Dia 3

Sábado de manhã fomos tomar o café da manha no French Market e experimentamos a Mufalleta original. Passeamos depois pelas ruas perpendiculares à Bourbon e passamos em frente ao Lafitte’s Black Smith Shop, considerado o bar mais antigo ainda em funcionamento nos EUA, com quase 300 anos. Estava meio cedo, mas como estava lotado acabamos não parando. Fica para a próxima. Fomos então ao Louis Armstrong Park, que é até charmosinho, mas sem muitas atrações.

Voltamos então para a St Charles para acompanharmos os blocos do dia. Desta vez escolhemos um lugar mais afastado do centro, e acabamos topando com uma ruazinha que contava com um bar que, além de servir de “base” (para usarmos o banheiro), tinha umas IPAs ótimas. Depois de quase duas horas debaixo de um sol inesperado (virei camarão até) finalmente os blocos começaram e pudemos nos divertir (e coletar mais beads and throws).

Já no final da tarde, mas com o dia ainda claro, voltamos à Bourbon e ficamos no Band Stand curtindo um som e tomando umas Abitas (quem puder, experimente a Purple Haze deles).

Dia 4

No domingo fomos procurar outro ponto para acompanhar as paradas do dia e acabamos topando com a Lee Circle, que é definitivamente o melhor lugar para acompanhá-las. Além de ser uma praça grande e aberta (muitas familias levam até churrasqueiras, cadeiras de praia, coolers, etc.), ali existem banheiros e tem um posto de gasolina com uma loja de conveniência vendendo cerveja a preços módicos. Também é o melhor lugar para pegar os giveaways. Ficamos ali praticamente o dia todo e depois fomos jantar no French Quarter e darmos mais uma volta na Bourbon.

Dia 5

Na segunda não tinham mais blocos, então fomos conhecer a cidade. Resolvemos pegar a Magazine Street, uma rua com bastante bares, boutiques e comércio diverso que leva até o bairro de East Riverside, o mais “luxuoso” da cidade. No meio do caminho paramos para tomar um café na La Boulangerie, uma padaria que quase lembra as brasileiras. A parte residencial do bairro também é bem interessante, com casas antigas numa arquitetura mista de Europa e Sul dos EUA. Imagino que fossem construções bem suntuosas para a época.

Depois de umas voltas pelo bairro pegamos a St Charles sentido centro. Quase no Lee Circle, paramos na The Courtyard Brewery, que além de ter cervejas muito boas (produzidas lá e por outras cervejarias locais) é bem charmosa. Uma pena que o tempo estava ruim e não pudemos aproveitar para tomarmos umas no jardim. Seguimos então no final da tarde para a região do French Quarter onde jantamos no restaurante Tableau. De lá fomos curtir um pouco no Fat Katz novamente.

Dia 6

Na terça, nosso último dia na cidade, fomos andar do lado oposto de East Riverside, em By Water. O bairro é mais residencial e mais “pobre” que East Riverside, porém pareceu mais interessante. Apesar da quantidade menor de comércios, ainda conta com alguns cafés e bares pequenos que, imagino eu, seja frequentado pela galera local mais “cool”. Em By Water também fica o St. Roch Market New Orleans, que é uma praça gastronômica (existe este termo?).

Na volta andamos pela Frenchmen St, passando pela Washington Square, que parece ser também uma região boêmia, e paramos na pequena Brieux Carré Brewing Co. que tem cervejas bem interessantes de estilos não muito populares e um patio no fundo onde é possivel apreciar as bebidas.

E claro, para fechar com chave de ouro, voltamos à Bourbon para fazer um tour por vários dos bares onde estava rolando música ao vivo.

Observações, dicas e considerações:

  • Mufalleta (ou muffuletta) é um sanduiche típico da região, de origem italiana. Ele é feito num pão redondo bem parecido com o pão italiano (o pão em sí chama muffuleta e tem origem na Sicília) recheado com salame, presunto, mortadela e queijo provolone. Vai também um molho feito com azeitonas (uns 90% do total do molho), salsão, couve-flor e cenoura picados em pedaçoes bem pequenos e curtidos no azeite, alho e orégano. Apesar de bem salgado é uma delícia.
  • Um outro quitute típico da região é o Beignet (pronuncia-se “benhê”) feito com uma massa frita (a massa lembra a das carolinas brasileiras) e coberta com açucar de confeiteiro. Normalmente come-se acompanhado com café logo após o preparo. É tipo um bolinho de chuva deles. A origem deste é francesa.
  • O percurso das paradas é gigante, coisa de 5, 7 quilômetros. Entao dependendo do lugar em que se pretende assistir ela pode passar umas 2 horas depois de ter iniciado (por isto esperamos tanto no segundo dia).
  • A parada em sí é igual qualquer outra parada nos EUA: tem as bandas marciais de escolas, tem carros de comércio ou entidades locais, tem as “alas” de academias, de escoteiros, de associações diversas. A única diferença basicamente são os floats e a temática. Mas pra quem já viu qualquer parada (St. Patricks, Natal, Veteran’s Day, etc.) é basicamente a mesma coisa. Mas o fato de poder beber parece que faz uma diferença na empolgação da galera.
  • A tradução de bead é conta, entao beads, no plural, é apenas um colar de contas.
  • Uma outra atração da cidade é o café com xicória, que pode ser encontrado facilmente no Café Du Monde. A xicória, que também é amarga, era adicionada ao café para baratear o custo, numa tradição que começou na Europa e chegou à New Orleans com os imigrantes que ali se instalaram quando a região ainda era uma colônia francesa (o estado se chama Louisiana em homenagem ao rei Luis XV).
  • O Kilwins, na Decatur St, é uma ótima pedida para quem, como eu, adora sorvete.

Be happy 🙂

Samba de Enredo – Alberto Mussa e Luiz Antônio Simas (12/2019)

Escrito à quatro mãos pelo linguista e historiador Alberto Mussa e pelo também historiador Luiz Antônio Simas, este já um conhecido especialista na história do gênero brasileiro mais popular, o Samba, o livro se propõe a fazer o que descreve no  subtítulo: mostrar a “história e arte” deste que é mais do que um gênero musical, já que o enredo é a figura central e a música, bem como as alegorias (artes plásticas), a apresentação (artes cenográficas), além de diversos outros tipos de arte, servem ao enredo.

Dividido em três partes principais, o livro descreve na primeira delas (que é ordenada cronologicamente e separando em “eras”) o desenvolvimento da arte desde a pré-história, ou seja, dos movimentos culturais que viriam a gerar as agremiações, até a era moderna do samba de enredo (ou samba-enredo).

Na segunda parte o foco é nas principais escolas do Rio de Janeiro, incluindo algumas que não existem mais e até de alguns blocos que seguiam a mesma proposta de apresentar um enredo. Nesta segunda parte, além da “biografia” das escolas, traz também algumas informações como as premiações, os principais enredos e compositores que marcam a história de cada uma delas.

A terceira parte muda o foco para os compositores, já que muitos deles compuseram sambas para mais de uma agremiação, trazendo uma breve biografia de cada um dos principais compositores do gênero. O apêndice final traz uma lista de todos os sambas que eles conseguiram mapear e analisar para o trabalho, também em ordem cronológica. Infelizmente, muitos se perderam parcialmente (tem-se alguns trechos, normalmente passados de boca em boca, muitos só com a letra e sem a melodia) ou totalmente, já que a tradição de se registrar os sambas de enredo em gravações só se iniciou em meados da década de 60.

O livro é muito interessante para entender um pouco deste mundo fantástico que envolve os desfiles de carnaval e as escolas de samba. Também serve como um guia para procurar os sambas listados no Youtube. Só achei que caberia um quarto capítulo fazendo pelo menos um apanhado geral do desenvolvimento da arte em outros locais, especialmente São Paulo. Mas posso apenas estar sendo bairrista.

Be happy 🙂

Homo Deus: A History of Tomorrow – Yuval Noah Harari (11/2019)

Homo Deus é basicamente a continuação do Sapiens, do próprio Harari. Enquanto o Sapiens conta a história dos humanos desde o surgimento de outras espécies de hominídeos até os tempos atuais, Homo Deus tenta imaginar o que acontecerá com a nossa espécie e como ela evoluirá daqui em diante. Sapiens é mais centrado em história e biologia (evolução), Homo Deus é um livro mais filosófico e um exercício de “futurologia”.

No enorme e cansativo primeiro capitulo (70 páginas!) e nos dois capítulos seguintes, que formam a primeira parte do livro, denominada “O Homo sapiens conquista o mundo”, Harari faz um resumo da primeira obra, revisando como foi a caminhada do homem desde o seu surgimento até o domínio sobre outras espécies e sua consolidação como a mais bem-sucedida delas.

Na segunda parte, “O Homo sapiens dá um significado ao mundo”, vem a parte filosófica, onde ele se estende, além da parte histórica, pela busca do homem a dar um sentido à sua existencia. Nesta parte ele foca muito no humanismo como uma forma que o ser humano encontrou para dar este sentido. Neste ponto o ser humano passa a ser o centro do universo e de todas as atenções. Esta abordagem faz com que inclusive ele ache que todo o restante do mundo e todas as demais espécies estão ao seu dispor.

Na terceira parte ocorre o exercício de futurologia. Harari tenta imaginar como a espécie irá evoluir à partir deste momento em que vivemos, onde estamos conseguindo inclusive desenvolver a capacidade de manipularmos a evolução da nossa espécie, através de engenharia e genética, e não mais dependendo do acaso da evolução.

Achei o livro interessante, porém bastante cansativo e não tão fluido quanto o Sapiens. Mesmo assim a leitura vale muito, especialmente a terceira parte.

Be happy 🙂

Wanderlust #58 – Porto Rico

(23/12/2018-01/01/2019)

Ano passado decidimos que não iriamos passar as festas de final de ano em casa e que iriamos procurar algum lugar quente para fugirmos um pouco do frio. Fazendo algumas pesquisas, descobrimos que Porto Rico se trata de um vôo doméstico e sairia bem em conta. Ainda conseguimos comprar as passagens com milhas. E que grata surpresa foi visitar este local, que apesar de ser um território norteamericano, tem sua própria cultura!

Dia 1

Além da ilha principal onde fica a capital San Juan, Porto Rico conta com diversas outras ilhas, sendo duas delas mais importantes e turísticas: Vieques e Culebra. Não haveria tempo hábil para visitar as duas e também conhecer a ilha principal como queriamos, então acabamos por escolher Culebra meio que aleatoriamente. Como chegaríamos no final de tarde em Porto Rico, para não corrermos o risco de algum inconveniente, resolvemos pernoitar em San Juan e tomar o vôo para Culebra na manhã seguinte.

Assim que chegamos, fizemos o checkin no hotel e fomos dar uma volta em Condado, um dos bairros turísticos da capital. Condado basicamente se resume a uma avenida de uns 800 metros com alguns hotéis, um cassino e bastante bares e restaurantes. Após uma breve volta paramos no The Place para comermos algo e tomarmos uma cervejas, de leve, já que a viagem se iniciaria de verdade no outro dia.

Dia 2

Depois de um tempo procurando, conseguimos achar o balcão da Vieques Air Link e despacharmos as malas. Estranhei um pouco o atendente perguntando quanto pesávamos, porém quando nos dirigimos à pista para embarcar entendi que era para poder distribuir corretamente o peso dos 6 passageiros na pequena aeronave Britten Norman BN-2 Islander (que tem capacidade para 8 passageiros, além de dois tripulantes). O passeio no “teco-teco” foi uma atração a parte, especialmente porque antes de chegar a Culebra ele fez uma parada em Vieques para deixar os demais passageiros. Ou seja, além da bela vista proporcionada ainda tivemos uns 10 minutos de um “vôo privado”, com direito a selfie tirada pelo piloto.

Chegamos a Culebra e a segurança do aeroporto nos ajudou a chamar um táxi, mas talvez nem precisasse, já que a agradável pousada Country Family ficava a poucos minutos do pequeno aeroporto. Culebra é bem pequena e muita gente aluga aqueles carrinhos de golf, que também é um modo de transporte comum aos moradores da ilha. Mas resolvemos fazer as coisas à pé mesmo. Depois do checkin e de algumas dicas da Mari, a simpática dona da pousada, fomos dar uma volta na área mais habitada da ilha. Já sabiamos que a ilha era pequena (cerca de 3 mil habitantes), mas não achavamos que era tanto!

Demos uma parada primeiramente na Dinghy Dock , um bar todo aberto à beira Ensenada Honda, a principal baia da ilha, para comermos um peixe e tomarmos uma cerveja. Em seguida andamos para o centrinho, onde estavam acontecendo os preparativos para a noite de natal. Depois do rápido passeio, voltamos ao hotel para nos prepararmos também.

De volta ao centro da cidade passamos no Mamacitas Bar & Grill onde tomamos uma ótima Piña Colada (talvez a melhor que eu já tomei) e depois fomos jantar e passar a noite de natal novamente no Dinghy Dock.

Dia 3

No outro dia, fomos até a Playa Flamenco, talvez a mais conhecida da ilha. Haviamos decidido caminhar os quase 4 quilometros até lá, porém antes da metade do caminho dois turistas num carrinho de golf nos ofereceram carona. Cobra-se uma pequena entrada de US$ 2,00 por pessoa para acessar a praia à pé e carros pagam um adicional pelo estacionamento. Mas a praia conta com infraestrutura como quiosques (em uma espécie de “praça de alimentação”), banheiros e duchas. Também é possível alugar cadeiras de praia e guarda-sóis, porém existem bastante árvores ao longo da faixa de areia, então dá pra apenas estender uma canga debaixo de uma delas e ficar à vontade.

A praia era usada há algumas décadas como área de treinamento da marinha americana e uma das atrações são alguns tanques de guerra que eram usados como alvo para os treinamentos. Obviamente os tanques estão envelhecidos e enferrujados, mas foram “decorados” com grafites. Depois de aproveitarmos um pouco a praia (sem entrar na água), resolvemos sentar em um dos quiosques (onde já tinhamos tomado café da manhã) para almoçarmos e tomarmos umas cervejas. Tivemos que ficar um tempo a mais pois caiu uma baita chuva e iriamos voltar à pé. Mas novamente no meio do caminho duas turistas nos ofereceram carona.

Fomos então para o centrinho da cidade. Estava ocorrendo uma festa de natal tradicional na ilha, onde eles enfeitam os carros (incluindo os de golf) com luzes e se reunem à beira do porto da área central para beber e dançar (tinha música ao vivo). Depois fomos outra vez tomar umas e agora jantar no Mamacitas.

Dia 4

Tomamos o pequeno avião de volta a San Juan logo cedo. Lá chegando pegamos o carro alugado e fomos fazer a programação na ilha principal. Nossa primeira parada foi Barceloneta. A cidade lembra muito as pequenas cidades do interior de São Paulo, mas além de um Outlet que fica na beira da estrada (e que pode ser atração para alguns) e uma pequena praia (La Boca), não tem nada que valha muito a pena a parada. De lá seguimos para Aguadilla, no Oeste da ilha.

Escolhemos Aguadilla para ficar pois à partir dela teriamos acesso tanto às praias do Norte quanto do Oeste da ilha. A cidade em sí é bem pequena e a maior atração talvez sejam as casas coloridas existentes numa encosta do morro que cerca o centro do povoado (além de uma pista de patinação no gelo!). Depois de darmos uma volta neste pequeno centro e passarmos pela Crash Boat Beach, a praia mais popular da região, fizemos o check-in. Mas como o dia já tinha praticamente acabado e o restante da programação seria feita no dia seguinte, fomos até o Beer Box, um bar de cervejas especiais a cerca de 20 minutos do hotel.

Na volta acabamos encontrando, sem querer, uma loja de conveniência bem próxima ao hotel que tinha um deck externo e vendia algumas cervejas diferentes. Então ficamos lá tomando algumas Medallas mesmo e observando o movimento.

Dia 5

Na quinta-feira fomos conhecer as praias da região, primeiro as do norte, na região de Isabela. Por lá existem várias praias que lembram muito as do litoral norte de São Paulo, como Punta Sardina, Middles Beach e Jobos Beach. Para quem visita Porto Rico atrás de praias, este seria um bom lugar para ficar hospedado.

De lá seguimos sentido oeste, e demos uma parada nas Ruinas del Faro, em Punta Borinquen. Com tempo até vale a rápida parada, mas também não tem nada demais em termos de visual.

Fomos então até Rincon, que assim como Isabela, também conta com várias praias que lembram o litoral norte de São Paulo e é também uma ótima pedida para quem quer curtir praia. A principal diferença de Rincon para Isabela é que em Rincon existe um balneário e mais infraestrutura. Este balneário,  na área central da região, lembra inclusive algumas praias mais movimentadas do litoral paulista. Outro ponto interessante em Rincon é o Faro Punta Higueras, que fica no alto de um penhasco e conta até com um bar. Deve ser bem legal pra ver o por-do-sol.

Para finalizar a programação do dia, fomos até Mayagüez, que é uma das maiores cidades fora da região metropolitana de San Juan, com seus pouco mais de 70 mil habitantes! Para turistas de fora do país não existe nenhuma atração interessante.

Voltamos para Aguadilla e à Crash Boat, desta vez para sentarmos e tomarmos uma cerveja. A praia é muito movimentada e bem popular na região. No início da noite voltamos à loja de conveniências da beira da estrada, onde tinhamos ido no dia anterior (sério, é bem agradável e tem ótimas opções de cerveja!). Depois fomos jantar no Aliyah’s Rooftop, que fica ao lado.

Dia 6

Na sexta-feira saímos cedo em direção a Ponce. Acabamos parando em Mayagüez novamente, que ficava no meio do caminho, para tomarmos café da manhã na padaria Ricomini, que lembra muito as padarias brasileiras. Vale a pena comprar lá o Brazo Gitano, que é um rocambole recheado de goiaba e queijo e que lembra um pouco o Bolo de Rolo. Seguimos então para San Germán, que assim como Mayagüez, também não tem quase nenhuma atração turística (e nem uma padaria!).

Chegamos então em Ponce, que é a maior cidade fora da região metropolitana de San Juan (130 mil habitantes!). Ponce, apesar de pequena, tem algumas atrações turísticas interessantes. Passeamos pelo Parque de Bombas, um antigo quartel de bombeiros transformado em museu e pela Plaza del Mercado, que já estava quase vazia.

Demos mais uma passeada pela cidade, almoçamos e fomos andar na La Guancha, um boardwalk que conta com vários quiosques. O boardwalk estava fechado para reparos, provavelmente por conta dos danos causados pelos furacões Maria e Irma, em 2017. Vale a pena parar em algum dos quiosques para tomar uma cerveja e uns drinks. Pelo que pudemos perceber, à noite rola um “fervo” por ali.

Mas como já tinhamos outros planos, saimos logo no início da noite em direção ao bar Birriola, que oferece umas 10 taps com cervejas locais. Depois jantamos no restaurante Sabor y Rumba e fomos descansar.

Dia 7

Levantamos cedo para ir a San Juan e fomos parando em algumas praias, meio aleatoriamente, nas cidades de Guayama, Humacao, Fajardo e Ceiba, mas não lembro os nomes das praias. Muitas delas são bem interessantes, porém muita coisa ainda está danificada por conta dos furacões.

Chegando na região metropolitana de San Juan, paramos primeiro no Balneário de Carolina, onde existem muitos prédios residenciais (ou de veraneio?) enormes. A região é bem turística, com bastante restaurantes, lojas de bugigangas (guarda-sol, brinquedos de praia, etc.), bem “Brasil” mesmo. Aposto que muitos norteamericanos mantém estes imóveis na ilha para passarem temporada.  

Depois de devolvermos o carro e tomarmos um Uber até o hotel, fomos dar uma volta em Miramar, região onde ficamos hospedados. Miramar é uma área mais comercial, mas conta com vários prédios antigos e alguns museus. Andando pela Avenida Juan Ponce de León, acabamos topando com o Lote 23, uma praça gastronomica bem agradável.

De lá continuamos a peregrinação até a Calle Loiza, uma região boêmia mais “alternativa”, que lembra um pouco a antiga Vila Madalena. Fizemos um pit-stop no El Tap, que tem 50 torneiras, a maioria delas com cervejas locais e umas poucas (4 ou 5) com vinho e cidra. O bar é até meio “fancy” para a região, mas nada que destoe e não teve nenhuma frescura. É chegar, pedir a bebida, se alojar no balcão ou em alguma das mesas ou sofás e aproveitar. Depois jantamos um ótimo e barato PF no Ana’s Cafe Restaurant. A região estava bem movimentada, mas caiu uma baita chuva (“mucha água!”) e resolvemos voltar para o hotel.

Dia 8

No domingo, debaixo de um calor escaldante, fomos finalmente conhecer a parte mais turística de San Juan, a Isleta de San Juan, onde fica Old San Juan. Mas primeiro, já na ilheta, passamos pela Punta Escabron, onde fica o Balneário El Escambrón, que tem um belo paisagismo e bastante infraestrutura (bares, chuveiros, estacionamento). É uma boa pedida para pegar uma praia e diferentemente do Balneário Carolina, onde os prédios ficam colados na areia, existe um parque que separa a faixa de areia da avenida principal, ou seja, tem um visual mais “natureza”.

De lá, pegamos o “boardwalk” que leva até o San Juan antiga. Quase chegando em San Juan, fica o Capitólio, que é o palácio de governo e, assim como o de Cuba, parece uma cópia do Capitólio dos EUA. Em frente ao Capitólio tinha um vendedor de águas e resolvemos comprar uma. Acho que ele percebeu que tinhamos caminhado bastante debaixo daquele sol e gentilmente nos deu uma água.

Finalmente chegamos em Old San Juan e fomos caminhar pelas ruas estreitas da parte mais antiga da cidade. Andamos também pelo Paseo de La Princesa, passamos em frente à Fortaleza e entramos novamente na cidade pelo Portão de San Juan.

Caminhando um pouco mais pelas rua estreitas (muitas delas fechadas para veículos), acabamos topando com a La Taberna Lupulo, que até tinhamos mapeado anteriormente, mas não esperávamos que fosse tão legal. O bar foi montado em um imóvel antigo, com portas largas e janelas enormes (lembra o Frangó e o Empório Sagarana), que torna o local bem agradável, especialmente no calor da cidade. Além disto, o atendimento é muito bom e tem uma boa carta de cervejas, tanto nas taps quanto em garrafas e latas. Após tomarmos umas e petiscarmos algo, perguntamos se no outro dia, véspera de reveillon, eles estariam abertos (estariam!) e fomos dar mais umas bandas.

Dando mais uma volta, acabamos caindo sem querer na Calle Tanca, que fica na entrada da comunidade La Perla. A comunidade é muito parecida com as favelas brasileiras e é onde parte do clipe de Despacito, do Luis Fonsi, foi gravado. A rua é fechada e estava ocorrendo uma festa, muito parecido com os pagodes encontrados no Brasil, com músicos se revezando (e improvisando), a galera dançando, bebendo. Tirando a diferença de estilo musical (ritmos latinos ao invés de samba), me senti praticamente em algum morro do Rio ou periferia de São Paulo. Ficamos um bom tempo ali degustando algumas Medallas (aliás, vale assistir o clipe Calma, de Pedro Capó, para entender como a cerveja faz parte da cultura local) e mojitos com os locais.

Já no começo da noite, fomos até o Restaurante Raices, que é meio turístico, mas é uma boa opção para degustar alguns pratos da culinária local. Resolvi encarar a Chuleta Kan Kan que estava muito boa. Porém, além de bem gordurosa ela é grande e acabei passando mal durante a noite (e olha que tenho estômago de avestruz).

Mas felizmente, mesmo sentindo o peso da chuleta, demos uma passada na La Factoria (onde outra parte de Despacito foi gravada). O bar fica num imóvel bem antigo, que deveria ser uma fábrica. A especialidade da casa são ótimos drinks. Ótimos mesmo, inclusive com diversos prêmios internacionais. Uma portinha atrás do balcão dá acesso à parte “secreta” do bar: mais 3 ambientes onde ocorre música ao vivo e DJs à partir das 23:00 hrs até a hora do sol nascer.

Dia 9

Na véspera de ano novo, fomos dar uma volta em Condado, para conhecer de dia. Tem algumas praias interessantes também, quase no estilo do Balneário Carolina. Os restaurantes ficam abertos de dia, mas talvez por conta do feriado, estavam bem vazios.

À tarde nos preparamos e fomos para o centro. Primeiro passamos na La Factoria novamente, para tomarmos os bons drinks. Depois do “exquenta” fomo até a La Taberna Lúpulo (que fica em frente) para jantarmos e passarmos a virada tomando boas cervejas. Depois da virada, voltamos à La Factoria para curtimos um pouco a balada (e claro, mais alguns bons drinks) como saideira.

Observações, dicas e considerações:

  • A primeira coisa a se pontuar sobre Porto Rico é que ele é um caso especial: ele não é uma nação soberana, mas um território que pertence aos Estados Unidos mas que não faz parte dele (um “território não-incorporado”). Qualquer pessoa nascida em Porto Rico tem cidadania norte-americana. Residentes de Porto Rico não votam para presidente dos EUA, já que a eleição para presidente é indireta, através de voto dos representantes dos 50 estados da federação. Porém, alguém nascido na ilha pode se registrar e votar, caso resida em algum dos estados. A perda do direito a voto ocorre também para alguém que tenha nascido em algum dos 50 estados e tenha se mudado para a ilha. O território não tem representantes no congresso, já que os representantes também são estaduais. Localmente eles elegem um governador e legisladores. O lado positivo desta situação é que os residentes de Porto Rico não pagam o imposto de renda federal (apesar de ainda precisarem fazer a declaração, que é exigida de qualquer cidadão norteamericano, mesmo os que moram fora do país) e mesmo empresas têm bastante atrativos para se instalarem na ilha (e muitas o fazem, inclusive empresas não norte-americanas).

  • Pra entrar na ilha precisa do visto americano: não existe um visto portoriquenho, como não existe mais um passaporte portoriquenho. A moeda é o dolar, o sistema de telefonia é norteamericano (apesar de várias operadoras do continente não prestarem serviço na ilha e operarem através de roaming), as leis de trânsito se assemelham muito às leis dos estados norteamericanos (as regulamentações de trânsito nos EUA acontecem no nível estadual). Até as estradas lembram muito as dos EUA, com apenas uma diferença: as placas de velocidade e distâncias normalmente apresentam valores em milhas e em kilômetros. Também existe muita placa em espanhol e em inglês. Mas o idioma mais falado na ilha é o espanhol mesmo.

  • Existe muita propaganda na ilha incentivando os residentes a aprenderem inglês. Meu palpite é que a falta de domínio no idioma mais utilizado nos EUA seja um empecilho para que mais empresas se instalem na ilha. E a título de curiosidade: o inglês NÃO é o idioma oficial dos EUA. Os EUA não tem, propositalmente, um idioma oficial. A nação foi fundada à partir da união de várias ex-colônias (Britânica, Francesa, Holandesa, Espanhola, etc.) e determinar um idioma a ser utilizado iria prejudicar a unidade.

  • Outro ponto interessante é que pode-se beber em público, coisa que só é permitido nos EUA em duas cidades (Las Vegas e New Orleans) e, eventualmente e temporariamente, em alguns outros lugares, mas não no nível estadual em nenhuma das unidades federativas.

  • O Natal parece ser a principal festividade da ilha. Todo mundo se prepara, é o dia dos parentes “voltarem para casa” e se reunirem, é dia de visitar os amigos, comer, beber, dançar, se divertir. De acordo com os dois turistas que nos deram carona até a Playa Flamenco, outra comemoração muito importante é o Dia de Reis (6 de Janeiro). Segundo eles, é o carnaval deles e a festa onde a galera “perde a linha”.

  • Ainda tem muito dano dos furacões de 2017, mesmo na capital (outdoors retorcidos, imóveis sem teto, etc.). A eletricidade de Culebra até este ano era feita por geradores já que as conexões submarinas foram danificadas pelo furacão Irma. Os ferries são muito inconstantes, não existe venda antecipada e a preferencia é sempre dos moradores das ilhas. Por isto aconselha-se a tomar um avião se o tempo para visitar Vieques ou Culebra for pouco, já que turistas podem não conseguir embarcar. E para pegar o Ferry com carro só se for morador da ilha, já que turistas não podem embarcar com carros alugados.

  • Servi-carro é o drive-thru dos restaurantes. Faz muito mais sentido!

  • A experiência com o pequeno avião foi bem legal, mas na volta eu pensei “se o piloto tem um piripaque ferrou”, já que não tinha co-piloto. Preciso tirar logo meu brevê!

  • Em San Juan existem caixotes nos pontos de ônibus onde as pessoas compartilham livros. Qualquer um pode deixar ou pegar um livro pra levar. Bela idéia! Pena que esqueci de tirar foto.

  • Chinchorro é um boteco pequeno que vende de tudo: cerveja, drinks, comida, frutas, verduras, etc. É tipo aquelas vendinhas que tem em bairros periféricos do Brasil. Chinchorrear portanto é botecar (comer e beber, mas invariavelmente sempre acaba em festa e música). Vacilar é curtir, aproveitar, e não “dar mancada” como no Brasil.

  • Os portoriquenhos são muito simpáticos, receptivos e educados. Além de serem bastante festeiros.

Be happy 🙂

Slaughterhouse-Five – Kurt Vonnegut (10/2019)

Segundo o prefácio, escrito pelo próprio autor, Kurt Vonnegut sempre quis escrever um livro baseado na sua história pessoal como prisioneiro de guerra em Dresden, durante a segunda guerra mundial. A experiência foi marcante pois ele estava na cidade quando esta, já no final da guerra, sofreu um intenso bombardeio, considerado por muitos totalmente desnecessário àquela altura do conflito.

Ao procurar um antigo companheiro para colher informações sob outra perspectiva, prometeu à mulher deste que não escreveria um livro “heróico” e não “glamourizaria” a guerra. E assim o fez com maestria: criou uma estória que mistura alguns fatos e personagens reais com ficção, jogando na cara todo horror presenciado por quem esteve no front de batalha, em contraste com a tendência de romantizar a guerra que normalmente ocorre com quem as promove (oficiais, políticos, etc.). E sendo um livro do Vonnegut, não poderia faltar muita ironia e humor.

Porém é aquele humor que faz você sentir vergonha de ter achado engraçado, e isto foi feito propositalmente pelo autor ao criar como personagem principal Billy Pilgrim, um oftalmologista (optometrist em inglês) que é um personagem muito caricato. Além disto a estória de Billy ainda traz à tona as agruras posteriores (ou anteriores, bem, o tempo não existe) a este evento tão traumático.

É um livro maravilhoso, daqueles que dá aquele aperto no peito, uma angústia, que a gente não consegue explicar direito porque. Para mim junto com Nada de Novo no Front, do Erich Maria Remarque, e com Maus, do Art Spiegelman o livro forma uma trilogia espetacular sobre guerras. E Kurt Vonnegut já está entrando na minha lista de autores favoritos.

So it goes.

Be happy 🙂

The Inevitable: Understanding the 12 Technological Forces That Will Shape Our Future – Kevin Kelly (9/2019)

Kevin Kelly é um dos fundadores da revista Wired e um estudioso de tecnologia e de cultura digital. Num exercício de futurologia, ele tenta prever em The Inevitable quais são as 12 tendências tecnológicas que devem permear as nossas vidas em um futuro próximo. Porém, ao invés de falar de tecnologias específicas, ele tenta descrever ações que serão providas ou incorporadas por tecnologias. E para isto ele usa os verbos no gerúndio como título de cada um dos capítulos.

A explicação do porque disto ocorre no primeiro capítulo, Becoming, onde ele afirma que hoje em dia praticamente nada tem um estado final e tudo está constantemente evoluindo. E isto deve se acelerar mais ainda.

Outro capítulo bem interessante é Sharing, onde ele chega à mesma conclusão que eu e o Peter Huber (em Orwell’s Revenge: The 1984 Palimpsest) chegamos de que, através da colaboração em larga escala, a tecnologia está conseguindo entregar o que tanto o capitalismo quanto o socialismo nunca conseguiram. Um trecho do que escrevi na época que li o livro de Huber:

…a Internet, as novas tecnologias e os modelos de economia compartilhada ameaçam o status quo: elas estão criando a possibilidade de uma sociedade com oportunidades e equidade que as teorias baseadas em Marx nunca conseguiram entregar, enquanto ao mesmo tempo quebram a lógica da concentração de poder e renda que as “elites” e os políticos têm no denominado “Capitalismo”.

Nos dois capítulos finais, o autor faz a observação de que cada resposta que encontramos gera um número maior ainda de novas perguntas (Questioning) e que invariavelmente estas perguntas iniciam um novo ciclo (Beginning ) em busca de respostas.

Os demais capítulos do livro são:

  • Cognifying: tornar tudo cada vez mais inteligente usando o poder da inteligencia artificial que, com a tecnologia de cloud computing, tem se tornado cada vez mais barata.
  • Flowing: tornar tudo um fluxo infinito, sem início e sem fim. Tem muita relação com Becoming e com Accessing (abaixo).
  • Screening: tornar qualquer superfície em uma tela ou algum outro tipo de meio para transmitir e receber informação.
  • Accessing: a mudança da cultura de aquisição de bens para uso de servicos, que já vem ocorrendo (por exemplo, no caso de um carro próprio X Uber) e que deve se acentuar ainda mais.
  • Filtering: a necessidade que temos de filtrar a informação que nos chega, já que é humanamente impossível absorvermos tudo o que é produzido atualmente (Cognifying é um meio para isto).
  • Remixing: a tendência de produzirmos conteúdo (música, vídeo, fotografia, textos, etc.) através de colagens de conteúdo de terceiros.
  • Interacting: interação total com os computadores, inclusive através de implantes e ondas cerebrais.
  • Tracking: emprego de vigilância total (vídeo, áudio, telemetria, biometria) em benefício de cidadãos e consumidores.

No final de cada um dos capítulos ele faz um exercício imaginando como seria um dia dele num futuro onde estas tendências existissem, e ai enfim ele descreve um pouco a aplicação prática de cada um dos conceitos. O livro tem mais ou menos o mesmo mote de Black Mirror, mas sem ser pessimista e sem entrar nos dilemas éticos, apenas focando nos benefícios da tecnologia.

Be happy 🙂

Adão & Erva – Yumbad Baguun Parral (8/2019)

Este é o quarto livro do Parral que eu leio e, apesar deste ser melhor que o último que eu li (Biomarketing), ainda não é melhor que os dois primeiros (Sua Excrecência… e Santa Puta). Mas desta vez eu nem posso tecer muitas críticas, já que o livro é escrito como um cordel e eu simplesmente não consigo ler textos em versos. Falha minha!

De qualquer forma, a proposta é interessante: reescrever o mito bíblico da criação do mundo, do pecado original, e outras estórias do cristianismo, introduzindo vários elementos de outras mitologias. Neste livro, é Adão quem comete o pecado de, sob a influência de Prometheus, queimar e inalar a erva proibida. De uma certa forma, assim como no mito original, Eva é a personagem criada por um Deus(pota) para receber toda a culpa por esta “escorregada” de Adão e por tudo de ruim que acontece à humanidade à parti dai.

A premissa inicial é bem interessante, assim como o desenvolvimento, misturando diversas passagens da bíblia com alguns fatos históricos e tecendo uma crítica a uma sociedade misógina e ignorante (e na maioria das vezes arrogante também). Mas vou para por aqui devido à este meu problema com versos (eu fico “cantando” as rimas na cabeça e não consigo captar a mensagem).

Be happy 🙂

Wanderlust #57 – Munique – Alemanha

(31/08/2018-01/09/2018)

Quando estávamos planejando esta Eurotrip, já sabiamos que teriamos que fazer alguma conexão na volta da Croácia. Dentre as diversas opções, como Londres ou Lisboa, estava Munique. Como geralmente não existe um custo adicional além da taxa de embarque, resolvemos ficar dois dias na cidade, já que na primeira vez que visitei, além de ser bem durante o primeiro final de semana da Oktoberfest, choveu praticamente todo o tempo. E adivinhe o que aconteceu? Sim, choveu novamente! Acho que Munique não vai com a minha cara.

Dia 1 – Sexta

Estava chovendo cântaros! Então depois de deixarmos as malas no hotel, fomos dar um passeio pela região central. Primeiro paramos na Galeria Kaufhof em Marienplatz, uma loja de departamentos meio feita pra turista, geralmente nos centros das grandes cidades alemãs (tem uma bem na Alexanderplatz em Berlin), só pra dar uma olhada e esperar a chuva passar. Como não passou, desencanamos da chuva e fomos andar mesmo assim.    

Paramos então no Viktualienmarkt uma antiga farmer’s market que hoje em dia é um misto de mercadão e praça de alimentação ao ar livre. Infelizmente a chuva apertou novamente e só conseguimos tomar uma cerveja. Se tivesse um tempo melhor provavelmente pegariamos alguns beliscos nas barracas e teriamos ficado um bom tempo por ali.

Já tinha passado da hora do almoço e como estávamos passando pela Paulaner im Tal, por que não parar por ali para petiscarmos algo e tomarmos algumas? Depois da Paulaner, ficamos andando pela cidade, meio a esmo, até o início da noite, quando então fomos turistar na famosa Hofbräuhaus. Como era sexta-feira e faltavam algumas semanas para o início da Oktoberfest, o bar já estava cheio de locais fazendo happy hour com os trajes típicos da Baviera. Além das cervejas, obviamente pedimos um prato com porco para o jantar e para finalizar a sempre ótima Apfelstrudel.

Dia 2 – Sábado

Sábado de manhãzinha, após o café da manhã, fomos andando até o Theresienwiese, que é o enorme parque onde ocorre a Oktoberfest original (que tem a ver com a história do parque). Como faltavam apenas algumas semanas para o início da festa, uma boa parte do parque estava fechada e as obras estavam à todo vapor. Mas deu pra notar que a área da festa aumentou bastante de tamanho desde 2012, quando participei dela.

Como iria chover novamente (a previsão do tempo na Alemanha é muito precisa) fomos até a Primark, uma loja de vestuários bem famosa na Europa (agora tem algumas nos EUA também) que tem preços muito bons. É ótima pra comprar coisas básicas, tipo camisetas, meias, cintos, etc. Aconselho a sempre pesquisar se existe uma na cidade em que as pessoas forem visitar.

Voltamos para a região central para aproveitar que a chuva iria parar por umas duas horas para andar por ali. Andando um pouco para fora da região mais turística, acabamos passando pela Promenadepltz, que tem um estranho memorial ao Michael Jackson. O negócio é bem estranho e kitsch e não é nada que deva entrar numa programação (nem para os fãs mais ardorosos do Rei do Pop), mas foi interessante topar com esta atração.

De lá, como já haviamos planejado, fomos tomar umas na Augustiner-Keller, uma das “big six”, como são conhecidas as seis grandes cervejarias da cidade que participam da Oktober (as outras são a Löwenbräu, Spaten, Hofbräu, Hacker-Pschorr e a Paulaner). No caminho passamos pelo belo Alter Botanischer Garten e pela Hopfenstraße (Rua do Lúpulo), que não poderia estar em outra cidade ou país! A Augustiner tem um biergarten gigante, mas estava chovendo novamente (na verdade haviamos programado estas paradas justamente para fugirmos da chuva). Mas pelo menos uma pequena parte do jardim estava coberto e pudemos ficar do lado de fora. O atendimento no local também é muito bom, além da ótima cerveja, claro.

De lá fomos até a Löwenbräukeller e o atendimento foi totalmente o contrario da Augustiner. Mal chegamos e perguntaram se a gente ia comer, meio que de uma forma rispida. Porra! Nem sabiamos o que tinha lá pra comer, como vou saber se vou comer ou não? Falamos que não e então nos acomodaram em uma região do bar onde estavam os piores garçons: mal educados, não tinham paciência com turistas (e olha que eu engano no alemão). Tinha um casal de orientais na mesa do lado tentando se comunicar e uma das garçonetes simplesmente deixou eles falando sozinhos e foi embora. Tomamos apenas uma cerveja, só para “carimbar o passaporte” e fomos embora.

Saíndo de lá, passamos na Königsplatz, que é bem parecido com o portão de Brandemburgo, pela Karolinenplatz e Odeonsplatz. Em todas estas praças existem vários prédios históricos de várias épocas. Quando voltamos à região central (Marienplatz) já estava escuro, então fomos comer algo (e claro, tomar mais uma cerveja) e depois voltamos pro hotel para descansar.

Se tivessemos mais um dia teriamos conseguido visitar as outras duas cervejarias que faltavam. Quem sabe na próxima. Mas desta vez sem chuva, por favor!

Observações, dicas e considerações:

  • Quando fui pra Oktoberfest em 2012 eu cheguei na cidade bem na sexta-feira, na hora da saída do expediente e notei que o metrô estava cheio de pessoas com as vestimentas tradicionais (Lederhosen e Dirndl) que estavam simplesmente voltando do trabalho. Depois eu descobri que durante as festividades (e mesmo antes delas) o pessoal costuma ir trabalhar à carater às sextas-feiras. Imagina se fizessem isto no Carnaval no Brasil como seria legal!
  • Tenha sempre algumas moedas no bolso quando estiver em um bar para dar de Trinkgeld (gorjeta) para os tiozinhos/tiazinhas que tomam conta dos banheiros nos bares (a dica vale pros EUA também!).
  • Na Löwenbräu tive o pior atendimento da minha vida até agora.
  • Entre 18:30 e 20:30 é sempre o pior período para jantar na cidade. Todos os lugares lotam durante este horario.
  • Se ver algum grupo de homens ou mulheres usando alguns adereços engraçados (tiaras, camisetas, óculos ou mesmo fantasias completas) e portando uma cesta com garrafas de bebida em miniatura trata-se de uma despedida de solteiro. Normalmente eles pedem uma “caixinha” (coisa de 1 ou 2 euros) para as pessoas e em troca o doador escolhe algum dos “schnaps” da cesta. A grana arrecadada provávelmente será usada para uma cervejada.

Be happy 🙂

How Democracies Die – Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (7/2019)

Steven Levitsky e Daniel Ziblatt são dois cientistas políticos, ambos professores de Harvard (de verdade!) e estudiosos do desenvolvimento de sistemas políticos na América Latina e Europa (respectivamente). Em How Democracies Die eles compilam seus estudos e observações para mostrar como sistemas autoritários podem se instalar à partir de democracias. Isto vem ocorrendo principalmente à partir do início do século XX e inclusive tem se tornado a forma mais comum, em contraposição ao que ocorria até então, onde estes sistemas se instalavam à partir de golpes ou de conflitos.

Usando exemplos dos mais diversos espectros políticos, como Hitler, Mussolini, Getúlio Vargas, Ferdinando Marcos, Pinochet, Perón, Fujimori, e mais recentemente Putin, Erdogan, Viktor Orban, Hugo Chaves, Rafael Correa e Evo Morales, eles mapeiam o modus operandi comum a todos estes déspotas (que eles chamam de demagogos). Normalmente estes chegam ao poder por vias democráticas, na maioria das vezes com a ajuda de pessoas, grupos e partidos comprometidos com a democracia, mas que vislumbram a tomada de poder a qualquer custo achando que, depois de chegar ao poder, estes déspotas serão facilmente controlados ou descartados. Porém, depois de instalados, estes déspotas começam a distorcer as leis e regras da democracia para perseguir adversários (incluindo muitos que eram até há pouco tempo aliados), a aparelharem a máquina estatal (legislativo, judiciário, estatais, etc.) e a colocar a imprensa e os adversários em descrédito ou sob ameaça, afim de se perpetuarem no poder.

Logo de início, eles trazem à pauta uma ferramenta desenvolvida por ambos a partir do trabalho do sociólogo e cientista político Juan Linz. A ferramenta consiste em uma tabela com quatro critérios principais (e 13 subquestões) para testar se um político é um potencial déspota. (1) Rejeição ou pouca aceitação de regras democráticas; (2) negação da legitimidade de oponentes políticos; (3) encorajamento ou tolerância à violência e; (4) uma prontidão para limitar as liberdades civis de oponentes, incluindo a mídia, são os quatro critérios. Os autores frisam que a associação de apenas um dos critérios a um político já deveria ser suficiente para descartá-lo como um potencial candidato/governante.

Depois de prover os exemplos e o modus operandi, bem como a tabela, eles entram especificamente no caso dos EUA, dando um apanhado geral em como o sistema democrático norteamericano se desenvolveu e evoluiu, muitas vezes sendo não tão democrático, até atingir uma estabilidade que, aparentemente, seria constante à partir de então. Neste capítulo eles trazem à tona o importante papel dos partidos e das lideranças políticas como gatekeepers (não achei uma tradução boa para o termo, mas seria algo como aqueles que impedem ou filtram a passagem), evitando assim que estes déspotas (que na sua absoluta maioria são também populistas) cheguem a disputar as eleições e contar com a infraestrutura partidária.

Porém, à partir do meio dos anos sessenta, por conta do movimento dos direitos civis, até o meio dos anos setenta, com a questão do aborto definida pela decisao do caso Roe vs Wade, esta estabilidade começou a ser ameaçada. Os republicanos (conservadores) começaram a concentrar eleitores brancos (especialmente nos estado do centro-sul e em cidades pequenas) e religiosos (contrários à legalização do aborto), “empurrando” os demais eleitores para os democratas (liberais). Importante frisar que, até então, ironicamente, os democratas destes estados eram os que se opunham à concessão de direitos iguais aos negros. À partir de então os republicanos têm ficado acuados, ainda mais devido às mudanças na demografia americana, que vem reduzindo ano a ano a proporção do perfil de eleitores republicanos (branco cristão). Sentindo a possibilidade da perda de poder, num movimento iniciado à partir do meio dos anos 80, o partido tem “apelado” à estes déspotas.

O ápice desta instabilidade democrática ocorreu em 2016, com a nomeação do então empresário e apresentador Donald Trump como o candidato republicano. Trump basicamente atende todos os critérios do teste e na verdade os usa como tática política. Para agravar o problema, nos EUA existem poucas leis e muitos acordos tácitos, ou light guard-rails, como eles chamam, que vêm sendo colocados à prova desde então.

Os autores também frisam que, apesar da tentação que a oposição tem de retribuir com a mesma moeda e usar as mesmas táticas (qualquer semelhança com o Brasil dos últimos 20 anos não é mera coincidência), os demais partidos, grupos e políticos precisam evitar o uso do mesmo ardil, pois senão a escalada rumo a um sistema iliberal (para citar o Identity do Fukuyama) é inevitável.

Be happy 🙂

Biomarketing – Yumbad Baguun Parral (6/2019)

Este é o quarto livro que eu leio do Parral. As outras três resenhas estão aqui, aqui e aqui (no primeiro link tem uma explicação de quem é o autor e um link para uma matéria da Piaui sobre ele, então não vou repetir). Entre todos este foi o mais fraco. A impressão que me deu é que este é uma colagem de pequenos trechos e textos avulsos que não foram muito bem ligados.

A idéia central do livro é fazer um paralelo entre o livre mercado (e suas ferramentas, como o marketing) e o desenvolvimento de um indivíduo. Também tenta trazer uma fórmula para atingir o sucesso em ambos: nos negócios e na vida pessoal. Existe também um paralelo entre as duas situações e a teoria da evoluçao de Darwin. Porém este segundo paralelo é bem fraco, pois o livro dá a entender que um indivíduo é responsável pelo desenvolvimento de sua prole (e por consequência da espécie) quando na verdade, segundo a teoria de Darwin, o processo é totalmente aleatório. O máximo que um indivíduo faz é tentar espalhar ao máximo o seu gene.

Depois de desenvolver estes paralelos, contando inclusive com muitas dissertações sobre componentes individuais (novamente dando a impressão de serem textos independentes), existe uma pequena autobiografia, onde o autor conta um pouco da sua trajetória e de como ele atingiu o sucesso segundo os seus critérios. E aqui eu concordo totalmente com o autor: o critério para o sucesso é muito pessoal. E ainda vou mais além: à partir do momento em que alguém deixou outro ente (outra pessoa, um grupo, a sociedade, etc.) determinar o que é seu sucesso, isto em sí já é um fracasso. Outro ponto é que o livro tem uma pegada de auto-ajuda, o que pode ter contribuido também para a minha má impressão. Mas fica a dica: se encontrarem o Parral pelos bares da Vila Madalena, adquiram um exemplar deste ou de algum outro (“E já vem autografado, pra virar relíquia!”).

Be happy 🙂