Muita coisa já foi contada sobre o holocausto judeu provocado pelo regime nacional socialista de Hitler durante a segunda guerra. Não faltam relatos, livros (como o comovente “Diário de Anne Frank) e filmes. O museu a céu aberto “Topografie des Terror”, em Berlin, retrata todo o período da ascenção do nazismo até a queda do muro com detalhes impressionantes, suportados por fotos, gravações, vídeos, reportagens e documentos da época.
Mas para mim nada foi mais impactante do que esta obra, que conta no formato de quadrinhos a saga da familia de Art Spiegelman, através da narrativa de seu pai, Vladek Spiegelman, um judeu polonês sobrevivente de Auchwitz.
São vários fatores que fazem com que o impacto seja maior do que qualquer outra coisa que já foi dita ou escrita sobre os horrores deste período negro de nossa história. O primeiro deles é justamente que a história é contada por um sobrevivente, ou seja, alguém que sentiu tudo aquilo na própria pele e que foi moldado pela situação.
O segundo fato é que durante o livro, o autor também escancara o seu difícil relacionamento com o pai, que também foi moldado por aquele período: o pai que exigia muito do filho, pelo fato deste não ter passado por tudo o que o pai tinha passado, enquanto o filho que se culpava por não ter sentido aquilo como seus pais.
E o terceiro é a forma magistral que Art Spiegelman usou para relatar isto. Ele poderia apenas ter escrito um livro, mas como chargista, preferiu traduzir tudo em quadrinhos, num estilo de “Orwelliano” de fábula, onde os judeus são retratados como ratos (Maus em alemão, o que acabou por prover um ótimo trocadilho com o português), os alemães como gatos, os poloneses como porcos, e assim por diante.
Eu já comentei algumas vezes que algumas obras (como A Peste de Camus, Ensaio Sobre a Cegueira do Saramago e mesmo o seriado The Walking Dead) lidam com a forma como o homem abandona qualquer resquício de humanidade quando colocado em situações extremas (e que ameacem os dois primeiros níveis da pirâmide de Maslow). Mas é importante também nunca esquecer que, instados por um líder ardiloso e adeptos de uma ideologia (ou religião), o homem nem precisa chegar à situações extremas para que abandone a sua humanidade, que foi o caso dos alemães, que se compraziam em matar judeus, ciganos, negros, gays, deficientes e qualquer coisa que fosse “diferente” deles mesmos. E que também alguns outros podem apenas seguir este grupo no famoso efeito manada, caso dos Poloneses e até de Judeus que se tornaram adeptos do nazismo.
Be happy 🙂
Pingback: Slaughterhouse-Five – Kurt Vonnegut (10/2019) | Botecoterapia