Com o subtítulo de “The Rise and Fall of Empires” (a ascensão e queda de impérios – numa tradução livre) e usando conceitos e técnicas da cliodinâmica, uma área multidisciplinar que tenta explicar a história através de vários pontos de vista (econômico, cultural, demográfico, etc.) e usando várias ferramentas das ciências exatas, Turchin tenta elucidar quais são as circunstâncias que possibilitam a ascensão de impérios. E quais são as circunstâncias que levam estes mesmos impérios ao fim.
Segundo a hipótese de Turchin, a principal razão para ascensão de impérios é a coesão social: uma sociedade onde seu povo se vê como uma nação, com os mesmo objetivos e anseios, e onde existe confiança entre os membros, tem a chance de se expandir e conquistar, muitas vezes absorvendo, outras nações cuja coesão não é tão forte. Do mesmo modo, quando o tecido social começa a se esfacelar, são grandes as chances de um império ruir.
O autor se baseia bastante no conceito de assabia, muito divulgado pelo pensador tunisino Ibne Caldune durante a expansão islâmica ocorrida no século XIV. A expansão islâmica em si já traz um dos fatores geradores de coesão: a religião. Além do exemplo do Islã, as próprias cruzadas e a consequente expansão da Igreja Católica são claros exemplos de expansão imperial baseada em coesão motivada por razões religiosas.
Turchin também explora um pouco a religião como um fator que pode aumentar a assabia entre indivíduos que não partilham da mesma localização geográfica, língua e etnia. Cabem às religiões também serem um dos fatores com capacidade de aumentar a assabia nos dias de hoje, já que alguns dos outros fatores (como as “faulty lines” – explicadas abaixo) são mais difíceis de ocorrer atualmente.
Um outro fator histórico que sempre gerou aumento de assabia, e que Turchin argumenta ser o fator principal responsável pela ascensão dos impérios Romano, Russo, Mongol, e a maioria dos demais impérios surgidos até cerca de 500 anos atrás, eram as disputas por recursos. Estas disputas ocorriam normalmente no que ele chama de “faulty line”, que é a fronteira onde as civilizações se chocavam e, portanto, disputavam recursos.
O grupo que conseguia maior coesão, via de regra, subjugava o grupo com menor coesão, e assim movia esta fronteira adiante, aumentando desta forma sua nação até encontrar uma outra fronteira com outra civilização. E então as pressões se reiniciavam. As nações que viraram impérios foram as que mais conseguiram expandir estas fronteiras enquanto absorviam os povos subjugados. O “nós contra eles” é o principal fator de coesão nestes casos.
E então ocorre o ciclo de decadência: depois de se expandir, começam disputas internas, na maioria das vezes causadas pelo aumento da população e consequente redução proporcional de recursos (terras e alimentos), além de disputas causadas também pela concentração de renda (pessoas que ascenderam à burguesia, acumulando posses, contra pessoas comuns, não proprietários de terra). De acordo com Turchin, o ciclo total de ascensão e ruína de um império dura cerca de um milênio.
Porém dentro deste ciclo maior existem vários microciclos, de expansão (alta coesão social) e contração (baixa coesão social), que duram cerca de um século cada (aproximadamente 3 gerações): ocorrem o aumento populacional e a concentração de renda, iniciam-se os conflitos internos, com subsequente redução da população (tanto por conta dos conflitos, quanto também pela escassez de recursos), o que gera um aumento dos recursos per-capita. Outro fator para redução dos conflitos é o fato das pessoas literalmente se cansarem de matar uns aos outros. Só que após um novo miniciclo de expansão, os mesmos problemas de falta de recursos e desigualdades voltam a ocorrer. Além disto, a memória das dores do conflito se esvai. E aí inicia-se um novo miniciclo de contração.
O livro é um pouco antigo (2006), então ainda não haviam ocorrido as transformações que levaram o mundo aos choques existentes na atualidade, que ultrapassam fronteiras geográficas e mesmo as religiões. Estes conflitos ocorrem basicamente entre parcelas “integracionistas” (que querem integrar os diferentes – e se integrar aos diferentes) e parcelas “isolacionistas” (que querem que os diferentes se mantenham em suas “bolhas” – e que a sua bolha tenha mais privilégios que as demais) das populações. É o embate cidade X interior, progressistas X conservadores, população jovem X população de maior faixa etária, que vemos em diversas sociedades, especialmente nas democracias liberais ocidentais.
O assunto é interessante, mas o livro, sendo resultado de um trabalho acadêmico, é um tanto cansativo. Então não indicaria para quem realmente não é um aficionado por história (ou especificamente história de impérios, ou de alguns impérios).
Be happy 🙂