Virginia Grohl, como o nome e a capa do livro dão a deixa, é mãe do David Grohl, vocalista do Foo Fighters, ex-baterista do Nirvana, e talvez o rockstar mais famoso da atualidade. Tendo acompanhado o desenvolvimento do próprio filho como músico e a jornada dele e de seus companheiros das bandas das quais participou, sempre teve a curiosidade de saber como tinha sido o pré-estrelato de outros artistas e como isto influenciou suas respectivas famílias. Ao comentar com uma amiga sobre esta curiosidade, recebeu o desafio: “por que você nao entrevista as mães de outros artistas e escreve um livro?”. A missão dada, que durou cerca de três anos, culminou no ótimo From Cradle To Stage, cujo subtítulo é “stories from mothers who rocked and raised rock stars”, com prefácio escrito pelo próprio filho.
Nestes três anos, Virginia, que também é educadora, viajou pelos EUA, à Inglaterra e ao Canadá para entrevistar as mães de artistas como Michael Stipe, Adam Levine, Dr. Dre, Amy Winehouse, Pharrel Williams, entre outros. Cada uma destas entrevistas rendeu um capítulo no livro, mas ao invés de apresentá-los como uma entrevista mesmo, quem conta a história dos artistas e suas mães é a própria autora, adicionando, claro, suas percepções pessoais e comparando com a própria história. Entre cada um destes capítulos existem pequenos textos onde Virginia conta a sua própria história, a do filho, suas bandas e o que ela vivenciou em relação aos bastidores do mundo da música.
Uma constatação interessante é que a maioria destas mães já possuiam um nível educacional acima da média e uma visão de mundo diferente do senso comum, e que isto pode ter sido o canalizador para a energia criativa dos filhos. Invariavelmente ela faz uma crítica aos modelos educacionais até hoje vigentes, que tentam enquadram as crianças dentro de padrões ao invés de extrair delas o que elas têm de melhor. Ela inclusive levanta a questão de quantos talentos não devem ter se perdido por conta disto. Quantos hoje advogados ou médicos não são poetas, músicos ou pintores que foram desperdiçados pela falta de apoio e pela falta de um sistema educacional que aproveite o que cada pessoa tem de melhor.
Duas histórias são particularmente interessantes. A primeira é de Mary Weinrib, mãe do Geddy Lee, do power trio canadense Rush, que sobreviveu junto com sua família ao campo de concentração de Auchwitz e, quando estava em vias de estabilizar sua vida, já instalada no Canadá, perdeu o marido (este sobrevivente do campo de concentração de Dachau) precocemente e tendo então três filhos pequenos. A segunda é de Mary Morello, mãe de Tom Morello, guitarrista do Rage Against the Machine, Audioslave e agora do Prophets of Rage, uma revolucionária e aventureira por natureza, que teve bastante importância na formação da capacidade crítica do filho.
É um daqueles livros bem gostosos de ler, que dá inclusive para ser devorado de uma vez se a oportunidade assim permitir.
Be happy 🙂
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