Nos últimos anos tinha ouvido falar muito sobre Yuri Harari, considerado um dos grandes pensadores contemporâneos, e sua principal obra, Sapiens. O livro tem sido bastante mencionado por alguns divulgadores científicos que eu acompanho na internet, mas efetivamente eu nunca tinha parado para lê-lo ou assitir alguma palestra ou TEDx do Harari (existem dezenas disponíveis no Youtube). Finalmente resolvi ler esta obra.
Sapiens tenta contar de uma maneira amigável e não técnica como e porque o Homo sapiens evoluiu de uma das várias espécies humanas até se tornar a espécie no topo da cadeia (considerando todas as espécies). A hipótese central de Harari é de que os sapiens atingiram o estado atual pois é a única espécie capaz de criar uma realidade imaginada e que isto é essencial para que grupos cada vez maiores de indivíduos possam colaborar. Para contar todo o percurso, o livro é dividido em quatro partes.
Na primeira parte, chamada de revolução cognitiva, o livro conta a história do surgimento dos ancestrais dos Homos, em como estes ancestrais se espalharam pelo mundo, evoluindo em espécies distintas até o surgimento dos sapiens. Existe uma descrição também das hipóteses evolutivas que levaram apenas uma destas espécies a desenvolverem uma inteligência superior e sua capacidade cognitiva e imaginativa. A partir dai, conta-se a história de como esta espécie se espalhou pelo globo, promovendo a extinção das demais espécies de Homo.
Na segunda revolução, denominada revolução agricultural, é descrita a fase de transição dos sapiens do nomadismo para o sedentarismo, através do dominio sobre outras espécies e da modificação dos ambientes. Como consequência desta transformação e somando-se a capacidade imaginativa, foi possivel cada vez mais a organização de uma quantidade maior de indivíduos em grupos. E cada vez mais mitos eram necessários para unir as pessoas, fazendo com que elas colaborassem em prol de um objetivo comum. Harari pontua que este “truque da evolução”, apesar de muito positivo para a espécie, não foi tão boa para os indivíduos, que passaram a trabalhar cada vez mais, consumir uma variedade menor de alimentos e a ficarem restritos a espaços menores.
A terceira parte trata de como estes grupos se expandiram através de impérios, seja anexando, seja aniquilando outros grupos. Alguns mitos que tiveram (e ainda têm) um papel muito importante nesta expansão rumo a um império global foram a crença no mito das nações, as religiões e ideologias políticas (Harari coloca estes dois mitos na mesma categoria) e o mito do dinheiro. Mas esta expansão teve seus limites, que foram vencidos através da revolução seguinte.
Na revolução científica (e tecnológica), os mitos da fase dos grandes impérios são reforçados: através da consolidação das religiões monoteistas, das ideologias políticas como fios condutores das nações e da crença no dinheiro, culminando no capitalismo. Agora as barreiras que separavam diferentes grupos são quebradas, o que invariavelmente deveria resultar no grande império global. E até o limite da vida está em vias de ser sobrepujado através da ciência e tecnologia.
O livro recebeu muitas críticas de acadêmicos, a maioria delas por “não trazer nada de novo”. Mas o novo no caso, na minha opnião, foi justamente ter “traduzido” muito conhecimento produzido em áreas como história, biologia, antropologia, entre tantas outras, para uma linguagem mais palatável a quem não é especialista nestas áreas. E além de tudo com doses certeiras de humor. Altamente recomendado!
Be happy 🙂
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