Arquivo anual: 2020

Gilberto Gil – Todas As Letras – Carlos Rennó (05/2020)

Há várias maneiras de se cantar e fazer música brasileira: Gilberto Gil prefere todas” – Torquato Neto

Neste típico livro de mesa de centro, Carlos Rennó compila quase toda a obra de Gilberto Gil (até 2002, ano anterior ao que o livro foi publicado). “Quase” porque segundo o prefácio muita coisa que não foi gravada ou transcrita, especialmente do início de carreira, se perdeu. Em 2003, ano de lançamento do livro e em que já existiam diversos sites com letras (e cifras) de músicas, talvez uma compilação destas já não tivesse tanto apelo, a não ser pelo “detalhe” de ter muitas das letras comentadas pelo próprio Gilberto Gil.

Além dos comentários, uma parte extraída de outras fontes (como entrevistas) e outra parte feita especificamente para este livro, o “guia” conta também com duas seções com fotos (muitas de acervo pessoal) e uma minibiografia inicial, que é importante para entender a dinâmica da evolução das canções.

Mas o próprio livro é uma autobiografia em si, já que além de ser organizado por ordem cronológica, Gil traça um panorama do que estava acontecendo no Brasil e no mundo e pelo que ele estava passando e o que estava sentindo em cada comentário. E claro, como tudo isto influenciou aquela canção (ou canções), álbum ou período.

O livro traz também duas curiosidades muito pouco conhecidas do público geral. A primeira é que, ainda na Bahia e antes de se mudar para São Paulo para estagiar na Gessy Lever, Gil trabalhou como freelancer em uma agência de publicidade fazendo jingles para lojas e políticos. A outra é que, além de compor para si e para sua turma (Tropicalistas, Doces Bárbaros e os parceiros de sempre, como Chico Buarque e Caetano Veloso), Gil também fez algumas canções para outros artistas menos relacionados aos movimentos do quais fez parte, como Roberto Carlos, Alcione e Zezé Motta, algumas delas por encomenda.

A obra também é uma mostra da versatilidade de Gil: tem músicas que ele fez para poemas de outras pessoas, tem poemas que ele fez para músicas de outras pessoas, tem composições sozinho, tem parcerias (letra e música compostas com outras pessoas ao mesmo tempo), tem versões (de músicas em inglês e francês para o português), tem composições próprias em outras línguas (inglês e francês).

Enfim, um artista completo que além de grande poeta é também um músico sensacional. Para não falar da “pessoa” Gil, que transmite aquela sensação de paz, de serenidade, antes mesmo de tocar o primeiro acorde ou cantar a primeira sílaba.

Mesmo que o site de Gil atualmente contenha praticamente todas as letras (inclusive as posteriores ao livro), muitas delas com os mesmos comentários do livro e eventualmente até mais coisas (como a ficha técnica), ainda é um livro pra deixar lá na coffee table para dar uma folheada de vez em quando. Ou procurar alguma letra no índice ao ouvir a música. Bem mais agradável do que usar o Google.

Be happy 🙂

Wonder – R. J. Palacio (04/2020)

Livro infanto-juvenil curtinho, mas bem interessante. Conta a estória de Auggie Pullman, um garoto dos seus 11 anos de idade e que é portador de uma síndrome congênita que causa deformações no rosto, além de outros diversos problemas de saúde. Após ser educado pela própria mãe em casa até os 10 anos, inclusive por conta das constantes cirurgias que o impediriam de acompanhar um ano letivo completo na escola, seus pais resolvem que é hora dele começar a frequentar uma escola regular para finalmente começar a ter uma vida normal como qualquer outra criança na sua idade.

Porém o fato da doença de Auggie provocar deformações físicas causa inúmeros contratempos nesta adaptação a uma nova fase, em um novo ambiente e com novos potenciais amigos.

Uma boa parte do livro é contada a partir da perspectiva de Auggie, mas alguns capítulos trazem as perspectivas de outros envolvidos neste processo e mostra como todas as pessoas próximas são impactadas (especialmente sua irmã), o que torna a estória bem interessante.

Por coincidência, logo após começar a leitura de Wonder comecei também a assistir a série Atypical, da Netflix, que tem o mesmo mote: mostrar como uma condição pode afetar uma pessoa e aqueles à sua volta. A diferença é que no caso de Atypical o personagem principal (Sam) é um jovem de 18 anos diagnosticado dentro do espectro do autismo e a série aborda a transição do segundo-grau para a universidade. Mas várias situações me pareceram bastante similares (a irmã protetora, por exemplo) e achei inclusive que a série havia se inspirado no livro, o que não consegui confirmar.

No Brasil o livro saiu com o título de Extraordinário e em 2017 foi lançado um filme baseado no livro.

Uma boa dica de leitura para todas as idades!.

Be happy 🙂

Os Anjos Bons da Nossa Natureza – Steven Pinker (03/2020)

Já diria Renato Russo em Baader-Meinhof Blues: “a violência é tão fascinante!”

Neste já best-seller, Steve Pinker tenta provar (com muita referência bibliográfica) a afirmação contida no subtítulo do livro: “porque a violência diminuiu”. Note que não se trata de uma pergunta, mas de uma afirmação, já que, de acordo com os dados fornecidos ao longo do livro, ela realmente vem diminuindo.

Importante notar que a análise que ele faz se dá ao longo de praticamente toda a história da humanidade, ou seja, medida em milênios. Se olharmos períodos menores, de décadas, ou até mesmo de um século, é possível que naquele corte a violência tenha aumentado, mas ao ampliar o escopo, especialmente comparando os grandes saltos da humanidade, a redução dos níveis de violência fica clara, apesar da dificuldade de coletar ou estimar dados com mais de 2 ou 3 séculos (e para o mundo todo).

No capítulo 1, meio no estilo do Sapiens, Pinker dá um panorama geral de como a violência era uma constante e até aceita (quando não exaltada) durante boa parte da história da humanidade. Os diversos tipos de violência faziam parte da cultura de praticamente todos os povos.

Entre os capítulos 2 e 7, ele elabora mais a tese central dividindo a redução da violência em 6 movimentos principais e cumulativos:

  • Processo de pacificação: transição de sociedades de caçadores-coletores para civilizações com cidades e governos, o que diminuiu as disputas por território e transferiu para um mediador o uso da força.
  • Processo Civilizador: a consolidação de pequenos entes (como os feudos) em grandes territórios, que ampliou a abrangência do movimento anterior.
  • Revolução Humanitária: impulsionada pelos ideais iluministas de igualdade e respeito ao ser humano, passa-se a valorizar a vida e a existência humanas. Além disto, através da disseminação da cultura através das artes (literatura, teatro, música), aproxima povos antes distantes, que poderiam se ver como potenciais inimigos.
  • A longa paz: o período que se segue após a segunda guerra, onde os estados se convencem de que um acordo ruim é mais vantajoso do que uma boa briga em praticamente 100% das situações.
  • A nova paz: o período pós guerra-fria, onde os conflitos “menores” (guerras civis, genocídios, repressão por governos autocráticos e ataques terroristas) vêm reduzido.
  • Revoluções dos direitos: ocorre em paralelo a longa-paz e a nova-paz, e diz respeito aos direitos básicos (aqueles do iluminismo) estendidos a grupos minoritários e/ou identitários (LGBTQ, mulheres, crianças, dos animais, entre outros) que talvez antes não fossem abrangidos.

Nos capítulos 8 e 9 ele aborda quais seriam prováveis causas biológicas para a violência (capítulo 8 – demônios interiores) e para a não-violência (capitulo 9 – anjos bons).

Finalmente, no último capítulo, a conclusão que já vinha sendo desenvolvida ao longo dos demais capítulos, com as cinco principais forças históricas responsáveis pelos processos de pacificação:

  • O Leviatã – a ascensão do Estado-nação moderno e das forças policiais e judiciárias deste Estado que detém o “monopólio do uso legítimo da força”, o que inibe os ataques exploradores, o impulso de vingança e retaliação (inclusive preventiva) e a resolução de conflitos através da violência.
  • Comércio – o aumento do progresso tecnológico que permite aumentar as redes de comércio e comunicação a distâncias enormes, cobrindo basicamente todo o planeta. Isto torna todo mundo em provável parceiro comercial que vale mais vivo que morto.
  • Feminização – crescente respeito pelos “interesses e valores das mulheres”, que são mais avessas a resolução de conflitos através da violência, tendem a ter um respeito maior pela vida e geralmente são menos impulsivas quando colocadas em situações de pressão/perigo.
  • Cosmopolitismo – o surgimento de forças como a alfabetização, a mobilidade e a mídia de massa, que expande o círculo de simpatia das pessoas além das nações ou grupos étnicos.
  • A Escada Rolante da Razão – causado basicamente pelos mesmos fatores que o cosmopolitismo / expansão do círculo de simpatia, mas diferindo neste no sentido de que é um movimento mais racional, ao considerar os interesses de outros e ignorar crendices e superstições.

O livro é muito bom, mas achei ele muito longo. Poderia ter feito igual ao Harari e quebrado em dois ou três volumes. Mas apesar disto é o livro que eu gostaria de ter escrito.

A propósito, Baader-Meinhof é como ficou conhecida a Fração do Exército Vermelho (Rote Armee Fraktion, em alemão, ou RAF), grupo de extrema-esquerda da Alemanha Ocidental formado na década de 70 e que tinha entre suas principais características atentados e sequestros “cinematográficos” afim de chamar a atenção da mídia. Pode-se dizer que eles foram os precursores do tipo de atentados terroristas que viriam a ser realizados à partir de então, com o intuito de gerar o máximo de terror a um maior número de pessoas possíveis através da difusão de suas ações na mídia (imagina eles em termpos de internet!). O apelido do grupo vem do nome de dois de seus líderes: Andreas Baader e Ulrike Meinhof que eram tão famosos que tinham até fãs, como os grupos de rock à época. Existe um livro muito interessante, chamado Televisionários, que conta a história do grupo.

Be happy 🙂

Wanderlust #64 – Copenhagen, Dinamarca

(07/07/2019-09/07/2019)

Finalmente chegamos ao último dos países nórdicos da trip (aqui os relatos da Finlândia, Suécia e Noruega). E provavelmente o mais turístico deles. Talvez por conta da alta expectativa acabamos achando que era um destino superestimado, especialmente quando comparado com os demais. Mas ainda assim nos divertimos bastante.

Dia 1

Chegamos na cidade lá pra uma 10:00 horas da manhã, deixamos as malas no Cabinn City e fomos bater perna. Seguindo em direção à área mais central da cidade, passamos pelo famoso Tivoli Gardens, que ficava a umas duas quadras do hotel. O Tivoli é um parque de diversões no estilo Playcenter. Fiquei com a impressão de que o parque paulistano, inaugurado na década de 70, foi inspirado no de Copenhagen, que é de 1843, tamanha a semelhança. Mas como parque de diversões não é nossa praia, só passamos em frente.

A região mais central da cidade é composta por várias ruas com acesso somente para pedestres em torno da Praça Gammeltorv, sendo a principal delas a Strogert. Como era domingo de manhã a cidade parecia estar ainda de ressaca, com várias lojas abrindo e pouca gente por ali. Felizmente encontramos um pequeno estabelecimento para tomarmos um bom café da manhã. Ainda andando ao redor da Gammeltorv, passamos pela Helligaandskirken e caminhamos até a o Kongens Nytorv.

Em quase todas as praças e em algumas ruas existiam palcos armados. Em um deles paramos para ver um cartaz que existia ao lado e descobrimos que estava ocorrendo o Festival de Jazz de Copenhagen, com centenas de shows e eventos, a maioria gratuitos. Assim como já havia ocorrido quando fui a Edimburgo, novamente acabei topando com um festival de artes muito legal sem nem ter programado. Ô sorte!

Seguimos até o Kongens Have (Jardim do Rei), onde ficam o castelo Rosenborg e o respectivo jardim (sim, um jardim dentro de um jardim), que é muito bonito. A seguir atravessamos atrás do Castelo e fomos então ao Botanisk Have (Jardim Botânico), que dentre diversas atrações tem duas muito interessantes. A primeira é um jardim da cerveja, com pés de diversas plantas usadas na produção (trigo, cevada, aveia) e inclusive diversos pés de lúpulo. A outra é um jardim localizado bem no meio do parque que tem plantas de praticamente todo lugar do mundo. Deve dar um trabalho danado mantê-las, especialmente as de regiões mais quentes, como várias espécies de cactos e suculentas que lá havia.

Continuando nas andanças, passamos pelo Torvehallerne, um misto de mercadão e praça de alimentação, um pouco diferente dos que tínhamos visto em Estocolmo e em Oslo. Este era maior e com uma parte ao ar livre. Ainda assim tinha a mesma proposta de vender comidas e bebidas mais artesanais para consumir no local ou levar. De volta à área mais central passamos pela Rundetårn, uma torre de observação astronômica do século XVII, que é uma das atrações arquitetônicas da cidade.

Copenhagen, assim como outras diversas cidades europeias, é repleta de canais. Existem uma série de grandes canais contínuos que cortam a cidade verticalmente (de norte a sul, ou vice-versa), praticamente um rio (que é como vou chamá-lo de agora em diante). A beira deste rio existe um passeio chamado Havnegade. Decidimos caminhar então por este calçadão, que é repleto de atrações, como bares, museus, teatros e outros canais perpendiculares. Um dos mais famosos destes canais é o Nyhavn (literalmente Novo Porto – a palavra havn é muito parecido com haven e harbor, do Inglês, e Hafen, do Alemão). O Nyhavn é usado como estacionamento para várias embarcações pequenas e ao redor dele, dos dois lados, existem várias atrações. Uma das que vale uma parada é a sorveteria Vaffelbagere. Continuamos caminhando pela beira do rio até chegar em Kastellet.

Kastellet é uma cidadela em forma de estrela (de ninja!) cercada por canais artificiais (tipo o fosso do castelo). Logo em frente fica a atração mais famosa e mais “brega”: Den Lille Havfrue, a estátua da pequena sereia (a que inspirou o desenho). É brega mas é aquela foto quase obrigatória! Próximo à Kastellet também ficam a St Alban’s Church e a belíssima Gefionspringvandet (Gefion Fountain).

Na saída de Kastellet e a caminho da cervejaria Nørrebro Bryghus, que fica no bairro homônimo (Nørrebro, já que Bryghus pelo que percebi significa cervejaria), acabamos passando sem querer pelo palácio Amalienborg, que é uma das atrações mais famosas da cidade e que tínhamos colocado na programação do outro dia. Pelo que percebemos, Nørrebro é uma região boêmia da cidade, com bastante bares, restaurantes e alguns ateliês. Mas fomos direto tomar umas cervejas pois já tínhamos caminhado cerca de 30 kilometros e ainda teríamos 3 de volta até o hotel (45 mil passos computados pelo FitBit!)

Dia 2

No outro dia já havíamos programado atravessar o rio e visitar o bairro de Christianshavn, que também é todo cortado por canais. Primeiro cruzamos a Lille Langebro, uma ponte móvel exclusiva para pedestres e ciclistas. Interessante que diferentemente de outras pontes moveis, que normalmente abrem verticalmente, esta gira horizontalmente 90 graus em cima de um eixo (o pilar principal), ficando paralela ao rio para permitir a passagem dos barcos.

Já do lado de lá da ponte acabamos tropeçando e caindo sem querer no The Packhouse, um café bem charmoso no porão de um prédio residencial. Fica a dica para tomar um bom café da manhã com quitutes bem caseiros. Continuamos a caminhar pela beira do rio (pelo lado oposto do rio do percurso do dia anterior) até a Operaen, a ópera house de Copenhagen. De lá pegamos algumas ruas secundárias e desertas para cair em Christiania.

Christiania é um bairro de Copenhagen que tem um status especial, já que a maioria das leis da cidade e mesmo do país não se aplicam ali sendo as regras definidas pela comunidade (hippie) que habita a região. É como se fosse um minúsculo país dentro de outro país. Existem alguns ateliês, dois mercados (que eu notei), bares, restaurantes. Mas a atração mais interessante talvez seja a feira de maconha: vários ambulantes com barracas ou caixotes oferecendo inúmeras variedades de maconha (e outras drogas “leves”, já que drogas pesadas são proibidas ali pelas regras da comunidade), tanto para levar quanto para (e principalmente) consumir no local. Este é um dos motivos pelos quais as fotografias são proibidas ali: muita gente “normal” sai do escritório de terno e gravata na hora do almoço para ir ali fumar um em paz e voltar para o segundo tempo. A região também é repleta de grafites e deu para perceber que ocorrem muitos eventos culturais por ali.

Logo na saída de Christiania topamos com a Vor Frelsers Kirke (Igreja do Nosso Senhor Salvador), que tem uma arquitetura interessante: a torre me lembrou um sorvete de máquina, tipo do McDonalds, ou mesmo aqueles sorvetes de máquina antigos (que acabei de descobrir que se chamava “sorvete americano”!)

Voltamos então por este lado do rio, no sentido sul. Não tem muitas atrações turísticas deste lado, mas tem alguns parques e bares, aparentemente frequentados mais por nativos. O alvo desta caminhada era a região de Flæsketorvet, que era uma área onde existiam diversos matadouros, mas que foi revitalizada recentemente e hoje abriga uma série de bares, restaurantes, lojas. Estava até rolando uma feira gastronômica por ali. Paramos na Warpigs brewery, que tem bastante opção de cerveja e churrasco estilo Texano (brisket, pull pork, mac’n’cheese de acompanhamento, etc.).

De lá caminhamos até próximo a região central novamente, pois estando em Copenhagen, não podíamos deixar de ir até o Mikkeller Bar original. A Mikkeller é uma micro cervejaria com origem na cidade e que, apesar de muito famosa atualmente, ainda mantém o estilo “cigano”. Cigana é como são conhecidas as cervejarias que não têm capacidade de produzir volumes grandes e usam a infraestrutura de outras cervejarias para produção em maior quantidade. Normalmente eles têm um espaço reduzido onde desenvolvem as suas receitas em lotes pequenos (50, 100, 200 litros) e, quando pretendem produzir para comercializar, alugam o espaço de outras cervejarias. Existem até plantas cervejeiras que nem possuem marcas próprias e se prestam somente à produção (e às vezes distribuição) das invenções que saem das panelas dos ciganos.

No caso da Mikkeller eles ainda levam o termo “cigano” ao pé-da-letra, já que os fundadores viajam o mundo visitando cervejarias e produzindo colaborativamente, inclusive no Brasil. Com esta proposta, eles já lançaram centenas de rótulos, de todos os tipos imagináveis, em todos os locais imagináveis. Só pra ter uma idéia, no beeradvocate.com existem cadastradas mais de 1000 rótulos. E isto porque quem cadastra são os usuários, ou seja, dá pra estimar que deve ter pelo menos mais umas 1000 “perdidas”, já que o site é mais utilizado nos EUA.

Enfim, “passaporte carimbado”, cervejas tomadas, fomos andar a esmo e, sem querer, acabamos voltando próximo à região de Flæsketorvet e topando com o Halmtorvet 9, um bar com área aberta onde estava rolando um palco de jazz como parte do festival. Paramos então por ali para descansar, tomar umas cervejas e curtir o som. Como já estávamos na região, aproveitamos para jantar no mother que tem uma pizza bem famosa (e gostosa!). Andamos um pouco pela região de Vesterbro, mas como já tínhamos planejado de passear por ali no outro dia resolvemos voltar para a região central onde acabamos topando com o Fringe Jazz Fest (por sinal, o festival que citei no início, em Edimburgo, também se chamava Fringe), que é um evento paralelo ao festival principal e que foca no Jazz de New Orleans (coincidentemente também, onde havíamos passado o carnaval alguns meses antes). Este mini-festival rola num lugar bem legal chamado Pumpehuset, que lembra um pouco a Kulturbrauerei de Berlin.

Depois de toda esta maratona, ainda tivemos pique pra ir curtir um pouco mais de Jazz (e a saideira) na praça Nytorv. E depois foi voltar pro hotel e capotar.

Dia 3

Na Terça-feira, nosso terceiro e último dia na cidade, levantamos cedo e fomos tomar café no charmoso Café kopenhag, que ficava bem próximo ao hotel. De lá fomos dar uma volta em Chritiansborg, que é meio que uma ilha cercada pelo canal Nybrogade, bem na região central. Nesta ilha ficam vários prédios históricos e importantes, como o da Børsen (bolsa de valores), o Christiansborg Slot (um castelo enorme com um belo jardim), entre outros. Vale também uma passada no Bibliotekshave, o jardim da biblioteca que tem ali.

De lá, como já comentei, fomos até uma área mais periférica chamada Vesterbro. Fomos caminhando por uma avenida com comércio popular, para sentir um pouco da vida regular, até o Frederiksberg Have, um parque muito bonito que tem em uma de suas extremidades o castelo Frederiksberg e o Zoológico de Copenhagen. De lá caminhamos mais um pouco pelo bairro, inclusive por dentro de um outro parque que era na verdade um cemitério (como em Oslo) até a cervejaria BRUS, onde tomamos umas no beergarden.

Voltamos então para área central para experimentar as cervejas da BrewPub Copenhagen, que produz cervejas com temática inspirada em música, especialmente Jazz (como ninguém antes teve a idéia de uma Porter chamada Cole?!?!?). De lá voltamos ao Pumpehuset para curtir um pouco mais antes de fecharmos a passagem pela cidade.

Observações, dicas e considerações:

  • Por toda cidade existiam grafites “comerciais”: várias propagandas (de chocolate, refrigerante) estão espalhadas em forma de grafite por paredes cegas de edifícios, muros, bancas de jornais. Eu não pesquisei, mas talvez a ideia surgiu à partir de alguma proibição de outdoors (como existe na cidade de São Paulo).
  • Acho que comida por quilo é novidade e moda na cidade. Topamos com alguns e, diferentemente do Brasil, onde eles são locais para refeições rápidas e baratas, do dia-a-dia, parece que o pessoal sai exclusivamente para comer em quilo. Tipo um evento especial.
  • Muito interessante ver muitos jovens tanto curtindo quanto fazendo jazz.
  • Em vários pontos da cidade nos deparamos com pessoas usando fone de ouvido e andando de costas, seguindo uma linha marcada no chão. Trata-se do projeto REVERSE, que convida as pessoas a olharem a cidade de outra forma (os fones são um áudio-guia). Em locais mais perigosos, como escadarias ou cruzamento de vias, existem assistentes para auxiliar. Muito interessante!
  • Café é bem caro na cidade, muitas vezes mais do que o lanche ou o salgado.

Be happy 🙂

Tigeren på Jernbanetorget

Wanderlust #63 – Oslo, Noruega

(04/07/2019-06/07/2019)

E aí sim, fomos surpreendidos novamente!

À exemplo do que já havia ocorrido com Edimburgo e Zagreb, uma cidade que só entrou no roteiro porque “estava no caminho” conseguiu um lugar no meu top 5 de cidades favoritas (junto com Lisboa e Berlin, que estou quase colocando como hors-concours para abrir uma vaga!)

Dia 1

Chegamos na estação de trem central de Oslo, vindos do aeroporto Gardermoen, logo de manhã, debaixo de uma chuva que nos fez ficar uma meia hora esperando para podermos então ir até o hotel deixar as malas. Logo de início já achamos a cidade um pouco mais charmosa que as demais, com seus calçadões e bondes passando de um lado para o outro. Malas no locker, fomos bater perna.

A área mais central de Oslo é formada por alguns calçadões de paralelepípedo enfeitados com muitos vasos de flores, de todos os tipos e cores. Como o sol abriu depois da chuva estes calçadões estavam bem movimentados. Fomos “descendo” em direção ao palácio real, passando pelo Stortinget (o Parlamento Norueguês) e a linda praça Spikersuppa skøytebane, que tem um chafariz gigante, convertido em ringue de patinação durante o inverno.

Quando estávamos em frente ao Nationaltheatret (outro prédio muito bonito, mas como toda a cidade é bonita, vou parar de usar o adjetivo de agora em diante), notamos que a rua lateral à praça estava sendo fechada e as pessoas estavam se acumulando nas calçadas. Como bons curiosos fomos lá ver o que era e notamos uma tropa descendo a rua: era a troca da guarda real do Palácio. A tropa, composta por infantaria, cavalaria e uma banda marcial, sai do Karl Johans gate as 13:00 e chega ao palácio às 13:30, onde ocorre a cerimônia de troca, que dura até as 14:00.

Tiramos algumas fotos e continuamos na próxima praça, Studenterlunden Park, que conta com belos jardins (pô, não era mais pra usar adjetivos!) e várias estátuas. De lá subimos a colina até o Det Kongelige Slott (o palácio real) onde pegamos o finzinho da cerimonia (não tem nada demais também, o cortejo é mais bonito – aliás, geralmente o caminho é melhor do que o destino).

Voltamos então para a região dos calçadões e fomos à Oslo Domkirke, a catedral da cidade, que fica no meio de um jardim murado. Junto ao muro que cerca este jardim existem diversos estabelecimentos comerciais, inclusive bares! De lá fomos dar um pulo no Oslo Street Food, uma praça de alimentação com comidas de várias partes do mundo. No final da tarde tem DJ e às vezes som ao vivo. Deu pra notar que o pessoal local vai até lá durante este horário para fazer happy hour. Como o tempo estava bom, tinha bastante gente do lado de fora. Mas como ainda era cedo, só demos uma olhada e fomos continuar o passeio.

Nos dirigimos então para a região de Vulkan, que foi revitalizada recentemente e passou a abrigar uma das várias regiões boêmias da cidade. No meio do caminho passamos pela Kulturkirken Jakob (Igreja de Cultura, e nem precisei do Google Translator para entender!), uma antiga igreja que hoje abriga eventos culturais diversos. Já em Vulkan, demos uma volta pela rua principal, que dá nome à região e passamos no Mathallen um misto de mercado e praça de alimentação (como os existentes em Estocolmo). Mas achamos muito fancy. A rua é legal e tem várias outras atrações, mas infelizmente não voltaríamos mais tarde para ver como é à noite (3 dias foram muito pouco!)

De lá caminhamos até Grünerløkka, uma outra região com bastante bares e restaurantes, mas também com vários ateliês, galerias e brechós. A Olaf Ryes plass (praça, outra que não precisei de dicionário) tem alguns bares bem no meio e outros nas laterais. Em outra praça, Birkelunden, presenciamos uma cena engraçada (no bom sentido): estava garoando e tinha um casal sentado em um banco, debaixo de um guarda-chuva, comendo uma pizza e tomando uma cerveja, totalmente despreocupados com a vida, no melhor estilo Berlin (hmmmm, tá começando a ficar claro agora porque me apaixonei por Oslo!)

Na sequência fomos “abrir” a Schouskjelleren Mikrobryggeri, uma cervejaria charmosíssima, que fica no porão de um pequeno imóvel comercial, que por sua vez fica dentro de uma vila. Tentaram esconder mas conseguimos encontrar!

O bar parece um bunker e em caso de uma guerra nuclear era lá que eu gostaria de me esconder (com todas as ótimas cervejas, claro!) Na volta, como já havíamos decidido, voltamos ao Oslo Street Food para jantar. Escolhemos o Kain, um restaurante filipino muito bom. Eles têm uma ótima barriga de porco ao (molho?) adobo, mas o melhor prato é o tapsilog, que é um picadinho acompanhado por arroz e ovo pochê. A sobremesa de manga, coco e arroz (num estilo tapioca) chama a atenção, mas pode passar, pois é sem graça.

Dia 2

Na Schouskjelleren, eu pedi uma cerveja cujo nome era Tiger alguma coisa. O barman me explicou que a cidade de Oslo é conhecida como Tiger City. Então quando nos deparamos com a estátua de um Tigre ao lado da estação central no outro dia de manhã, já sabíamos do que se tratava.

Da estação seguimos até a Operahuset (Ópera House) Oslo, à beira do Fiorde de Oslo. Vale a pena subir até o terraço, que dá uma ótima vista tanto da baia quanto da cidade. A Operahuset, assim como uma boa parte das atrações de Oslo, ficam no Havnepromenaden, um calçadão que margeia quase toda a costa à beira da baia (que por sinal é bem recortada). Primeiramente fomos em direção ao leste, pois pretendíamos ir até o Ekebergparken. Neste lado do Havnepromenaden existem muitos prédios residenciais novos e uma das atrações é o Sørenga Sjøbad, um complexo de piscinas (inclusive uma com raias olímpicas) construído no fiorde (imagina o gelo!!!). Às margens existe uma praia e alguns decks, e mesmo no início da manhã já havia algumas pessoas por ali aproveitando o sol.

No final do calçadão e tentando achar o caminho do Ekebergparken passamos por Middelalderparken que tem as ruinas de Mariakirkens. Não achamos o Ekeberg (os caminhos no Google eram meio confusos), então andamos somente por Old Town. Uma atração curiosa por ali é o Gamlebyen gravlund, um cemitério sem muros e com algumas trilhas calçadas onde algumas pessoas davam uma corridinha (entre os túmulos!)

Voltamos então ao promenade para continuar a caminhada, agora sentido Oeste. No caminho passamos pelo Barcode Project, um conjunto comercial novo, atrás da ópera, que tem este nome pois os prédios, todos quadrados e quase da mesma altura, mas com larguras diferentes, lembram um código de barras quando olhados de longe. Já no calçadão, notamos que existem algumas “plataformas” dentro da água, boiando, onde alguns grupos de pessoas se reuniam para aproveitar o sol, o mar ou simplesmente para beber (pra acessar precisa de uma escada, já que o nível da água fica bem abaixo do nível do calçadão).

De frente para a Ópera fica o SALT, Havnepromenaden, um espaço com bares, lanchonetes, espaço para shows, exposições. Tinha bastante gente, provavelmente o pessoal que trabalha nos escritórios do Barcode, almoçando por ali. Aproveitamos e paramos para uma cerveja, porque ninguém é de ferro! Continuando a caminhada, passamos pelo Vippa, Havnepromenaden, uma praça de alimentação também à beira do fiorde. Deve ser bem legal comer ou tomar umas por ali, mas demos apenas uma rápida volta e continuamos a caminhada. Passamos em frente ao Akershus Fortress, uma das principais atrações da cidade, porém não entramos, e fomos até a Plac Rådhusplassen, uma enorme praça onde se encontram a prefeitura (Rådhuset) e o musel Nobel (mais um, já que existia outro em Estocolmo).

Continuando a caminhada, fomos dar uma volta em dois bairros novos e bastante movimentados: Aker Brygge e Tjuvholmen. Nesta área existem muitos restaurantes, hotéis, bares e até uma praia, que estava lotada com o pessoal aproveitando os 25 graus de calor!

De lá fomos dar uma bela caminhada, passando por uma área residencial, até chegar ao Vigelandsparken, um dos parques de esculturas da cidade, que é uma das várias atrações imperdíveis de Oslo.

Após toda esta caminhada, merecemos uma parada na Oslo Mikrobryggeri, que também fica numa área menos turística, para tomarmos umas. Na volta, sem querer, acabamos voltando pelo Slottsparken, o parque/jardim do palácio real.

Dia 3

No terceiro dia, pegamos um day-pass do transporte público para irmos às regiões mais distantes. Finalmente, agora de bonde, conseguimos chegar ao Ekebergparken Skulpturpark (que descobrimos que estava a uns 300 metros de onde passamos em Old Town no dia anterior). O Ekebergparken também é um parque de esculturas, só que dedicado a instalações mais contemporâneas (mas tem Dalí, Botero e Rodin). Muito legal mesmo! Tem até camping para quem quiser pernoitar lá.

Depois pegamos o bonde e mais um ônibus e fomos até a Península Bygdøy, mas não vale muito à pena, já que não conta com atrações fora os museus.

Voltamos então ao centro da cidade, próximo à estação central e, seguindo o conselho de um casal de amigos, fomos andar pela beira do canal Akerselva. A caminhada em sí é muito agradável e existem várias atrações interessantes. Uma delas é o (a?) Blå, um conjunto formado por galeria de arte e bar, mais algumas vielas e muros todos grafitados ou ladrilhados. A decoração de tudo ali é bem cool também (a porta do banheiro é uma porta de cofre). Achamos muito mais legal que o Vulkan (que também fica à beira do canal, mas mais à frente).

Grünerhagen é um enorme gramado, também às margens do Akerselva, onde as pessoas vão pra curtir o sol. Kunsthøgskolen i Oslo é a academia nacional de arte, um pouquinho mais acima. Lá quase no final do canal (a área mais central dele) encontra-se a Ringnes Brygghus, uma cervejaria bem legal e muito bem montada, apesar de difícil de achar também. O pessoal gosta de esconder as cervejarias nesta cidade. Nos banheiros da cervejaria tinham diversos artigos de higiene pessoal, como enxaguante bucal, desodorante, cotonete, etc. Mimos interessante para os clientes.

O passeio foi tão agradável que resolvemos voltar pela beira do canal, ao invés de fazer outro caminho e ai aproveitamos para dar uma parada no Blå para algumas cervejas. Já no final da tarde (lembrando que também não escurecia antes das 22:00 horas), voltamos ao Oslo Street Food para comermos no Filipino novamente (o tapsilog é realmente muito bom!)

Observações, dicas e considerações:

  • Fiquei impressionado com a quantidade de carros híbridos e elétricos. Proporcionalmente tem muito mais Teslas em Oslo do que em qualquer parte dos EUA. A caminho do Vigelandsparken resolvi contar quantos híbridos e elétricos tinham estacionados numa rua residencial. Dentre 10 carros, 6 eram elétricos e 2 híbridos (pelo que pude ver). O fato é mais interessante ainda pela Noruega ser o 15º maior produtor de petróleo do mundo.
  • A estação central é muito bem montada, com lojas, lanchonetes. Um bom ponto especialmente para pegar o wi-fi gratuito ou para um lanche rápido.
  • Como todo país de primeiro mundo e com uma cultura avançada, como a do estado de São Paulo, eles colocam purê no hot-dog. 
  • Uma coisa que notamos em Oslo e nos demais países nórdicos foi a quantidade de pais passeando com bebês. Era muito comum ver grupos de 3, 4 homens jovens, cada um empurrando um carrinho (ou levando no colo quando as crianças já eram maiorzinhas). Especialmente nos países latinos parece que esta “obrigação” cabe às mulheres, mas por ali a responsabilidade (e o prazer) de criar uma criança é compartilhado.
  • Como já havia comentado no post sobre Estocolmo, a nudez nos países nórdicos é encarada com naturalidade. É comum ver estátuas ou pinturas de pessoas nuas. Ao longo do Havnepromenaden existiam totens com o mapa da região, informações e fotos, de todas as épocas. Na maioria destas fotos as pessoas nadavam nuas (especialmente nas fotos mais antigas).
  • Os bilhetes do transporte público podem ser adquiridos em lojas de conveniência, como 7-eleven.
  • A caminho da Península Bygdøy passamos por uma fazenda, em plena área urbana. Mais tarde fomos descobrir que se trata da Bygdø Royal Farm, a casa de verão da família real norueguesa. No local se produz derivados de leite e frutas, que são consumidos pela família real e também colocados à venda.
  • A cidade inteira parecia ser um enorme canteiro de obras, com algumas partes sendo revitalizadas e outras modernizadas. Daqui alguns anos ela vai estar totalmente diferente. Já temos uma “desculpa” para voltar. Mais uma!

Be happy 🙂

Wanderlust #62 – Estocolmo, Suécia

(01/07/2019-03/07/2019)

Após a passagem pela Finlândia, nossa próxima parada foi a Suécia, o maior e mais populoso dos países nórdicos (desconsiderando o território da Groelândia, cuja área é maior que a somatória dos cinco países nórdicos “oficiais”).

Como havíamos planejado fazer durante toda esta trip, chegamos no Aeroporto de Arlanda no início da manhã e pegamos o trem para Estocolmo, que é composta por diversas ilhas interligadas por pontes. Depois de alguns minutos procurando o Comfort Hotel Xpress Stockholm Central, descobrimos que ele ficava exatamente na estação de trem, ao lado da porta do elevador de onde havíamos saído. Deixamos as malas na “barcepção” do hotel e fomos bater perna  até o horário do check-in.

Dia 1

Assim que começamos a caminhada, estávamos procurando algum lugar para tomar o café da manhã e felizmente acabamos encontrando a charmosíssima Fabrique Stenugnsbageri (que tem ótimos pães artesanais) que fica quase em frente à bela igreja de Santa Clara. Depois nos dirigimos até a Gamla Stan, a ilha mais turística da cidade.

Gamla Stan, além de ser o local onde fica o Palácio de Estocolmo, também conta com outras atrações, como a Praça Stortoget, onde fica o museu do Nobel (o do prêmio), a Catedral de São Nicolau e a Igreja de Santa Gertrudes. A ilha também é recheada de restaurantes, lojas de souvenirs, bares. Vale a pena dar uma olhada nas vielas em busca de surpresas.

Depois da volta em Gamla Stan, paramos no Kerstin & Britt Strömparterren Bar Café Restaurant, que fica numa outra ilhota, para tomarmos uma cerveja no beer garden deles e aproveitarmos o tempo aprazível (sempre quis usar esta palavra!). Depois de umas duas cervejas, só para curtirmos o clima, nos dirigimos até a ilha Skeppsholmen, de onde dá pra ter uma vista das outras ilhas. A ponte Skeppsholm, que dá acesso à Skeppsholmen é um bom lugar para fotografar a Gamla Stan e o Palácio.

Caminhamos então pelo Kungsträdgården, que estava lotado de pessoas aproveitando para almoçar ao ar livre, e acabamos saindo numa área mais comercial da cidade. Voltamos então ao hotel para fazermos o check-in.

Check-in feito, fomos dar uma volta no lado norte da cidade, uma área nada turística (mas vale sempre à pena, pra ver a cidade com ela é). Na volta passamos pela Stockholms stadshus, um belo prédio ocupado pela prefeitura e pelo conselho municipal (tipo uma câmara de vereadores) e cujo jardim, chamado de Stadshusparken, tem uma bela vista para a ilha Södermalm. De lá, atravessamos mais duas pontes e paramos no Evert Taubes Terrass que deve ser bem legal para apreciar o pôr-do-sol.

Porém tínhamos outros planos e nos dirigimos até a região de Götgatan, na ilha de Södermalm, que é uma das várias regiões boêmias de Estocolmo. Lá paramos na Omnipollos hatt, uma cervejaria pequena mas relativamente famosa entre apreciadores de cervejas artesanais. O local é bem procurado e invariavelmente tem uma espera para conseguir mesa (no esquema “se vira aí mano”). Mas a espera valeu a pena, já que eles produzem ótimas cervejas

Na volta, como passaríamos por Gamla Stan novamente, já havíamos planejado de tomar um sorvete no Café Kåkbrinken. Além do sorvete em si, que é muito bom, o waffle e a casca do sorvete, feitos no local e na hora, são outros atrativos que tornam a parada no café praticamente obrigatória.

Já no hotel, tomamos algumas no barception e fomos descansar.

Dia 2

No dia seguinte, debaixo de uma chuva fina, mas constante, fomos andar pela ilha de Södermalm. Passamos pela Sta Maria Magdalena kyrka (igreja em Sueco, palavra bem parecida com a alemã Kirche e mesmo com a inglesa Church, que são sinônimos), pela praça Mariatorget e acabamos caindo na Saluhallen Medborgarplatsen, que é um misto de praça de alimentação com Farmers Market, mas com um ar moderninho. Tem bastante opção de comida para consumir no local e para levar, inclusive muita coisa in natura. A praça em frente provavelmente deve receber bastante eventos e imagino que se tivesse um tempo bom como no dia anterior ela também estaria ocupada por gente almoçando.

De lá passamos, ainda debaixo de chuva, pela Katarina Kyrka e a caminho da Sofia kyrka (o bairro se chama Katarina-Sofia pois é delimitado pelas duas igrejas) descobrimos a Nytorget (já deu pra perceber que torget significa praça né?), uma praça toda rodeada de bares, cafés e restaurantes. Uma das ruas da praça estava fechada e com mesas (imaginamos que seja assim normalmente). Na praça também fica o Urban Deli Nytorget um misto de mercado e praça de alimentação, como vários outros que vimos em Estocolmo, voltado à alimentação orgânica e produtos locais (locavore).

De lá (ainda com chuva!) fomos andando até uma parte mais afastada que fica atrás de Södermalm (passamos outra ponte). Esta região parece ser bem mais nova, com vários prédios comerciais e residenciais (um ao lado do outro) grandes e modernos. O objetivo final era a Nya Carnegiebryggeriet, uma cervejaria que conta com uma enorme área externa de frente para o rio e que tem ótimas cervejas (são parceiros da Brooklyn Brewery).

Na volta, fizemos uma confusão enorme para pegar o barco, dando umas 3 voltas numa linha circular, até que desistimos e resolvemos fazer a enorme caminhada pra voltar a pé mesmo. Fomos então dar uma volta completa na ilha de Skeppsholmen, que não tínhamos feito no dia anterior.

Dia 3

No terceiro dia fomos andar em Norrmalm, que também é um bairro menos turístico. Entre as atrações da região estão a praça Maskrosbollen, que tem uma escultura interessante, e as igrejas S:t Peters kyrka e Gustaf Vasa kyrka. A Stockholms stadsbibliotek, também em Norrmalm, tem um belo prédio e o Observatorielunden fica no alto de uma colina em um parque bem interessante. Tanto na parte baixa do parque quanto lá em cima, na colina, existem bastante esculturas.

Depois de Norrmalm, caminhamos até Östermalm, que parece ser a “Oscar Freire” de Estocolmo, com muitas lojas de luxo e de marcas famosas. Norrmalm e Östermalm são separadas por uma íngreme colina. Existe um túnel para pedestres cortando por debaixo da colina, mas quem quiser se exercitar pode encarar uma escadaria para se locomover entre os bairros. Em Östermalm fica a avenida Kungsgatan, que é a via onde foi tirada aquela fotografia já bem famosa da confusão que se formou quando a Suécia implementou a mão de direção do lado direito da via, que é chamado de Dia H (Dagen H) no país.

Caminhando ainda pelo bairro, passamos ao lado do Humlegården, que parece ser um belo parque, mas não chegamos a entrar, passando apenas por uma de suas laterais. Uma outra atração interessante é o Dramaten, um antigo teatro com a fachada com muito dourado. Pegamos então um boardwalk na direção de Djurgården, conhecida como “ilha dos museus”.

Ao lado da ponte de acesso à ilha, existem vários barcos-bares ancorados para quem quer curtir uns drinks. Já na ilha, como a alcunha diz, encontram-se diversos museus e parques: Nordiska Museet, Vasamuseet, Galärparken. Mas o mais inusitado e curioso com certeza é o ABBA The Museum. Sim, existe um museu da atração musical mais popular do país (bem, em Berlin existe um museu dos Ramones!). Outra atração interessante e o Gröna Lund, um parque de diversões, tipo Playcenter, que também é palco de diversos shows, eventos e festivais de música.

Apesar de ser a “ilha dos museus”, também existe uma enorme área residencial na ilha, que acho que toma inclusive a maior parte dela.

Voltamos à Östermalm pois pretendíamos almoçar em um mercado / praça de alimentação na região (sim, havíamos feito tudo isto de manhã!) e no caminho passamos pela igreja Oscarskyrkan, pelo belo prédio da Riksantikvarieämbetet (tipo um IPHAN da Suécia), e pela igreja Hedvig Eleonora Församling, que ficaria justamente atrás do mercado. Porém, o mercado havia sido transferido temporariamente para outro lugar, a uma quadra dali. Além do mais, achamos ele meio “fancy” e abortamos a missão.

Havíamos já planejado outra longa caminhada até a região portuária, para irmos em outra cervejaria. Fomos através da Karlavägen, uma avenida (boulevard?) com um bonito jardim central, que termina na Karlaplan. Antes ainda de chegarmos no porto, passamos pelo Kaknässpåret, um parque totalmente aberto, e aí foi que o barraco desabou! Caiu uma baita tempestade e como estávamos em campo aberto, só deu tempo de sair correndo à procura de algum lugar para nos abrigarmos, já que nem jaqueta impermeável e muito menos guarda-chuva davam conta do toró. Encontramos um conjunto comercial e tivemos que ficar ali por quase uma hora.

Ainda tivemos que esperar mais uma hora na porta da Stockholm Brewing Co., já que ela abria mais tarde naquele dia (tanto o horário no Google quanto no site estavam errados). Mas valeu a pena, já que além de ótimas cervejas e petiscos bem interessantes, o atendimento foi muito bom. Pegamos então o metro (acho que já tínhamos andado uns 30 quilômetros) até a região central, próxima ao hotel, e depois fomos andando até o The Temple Bar (na Gamla Stan), onde paramos para assistir ao jogo da seleção feminina da Suécia pela Copa do Mundo Feminina de Futebol. Infelizmente a seleção perdeu para a dos EUA, que viria a ser a campeã do torneio.

Observações, dicas e considerações:

  • Systembolaget é a loja estatal autorizada a vender bebidas alcoólicas para levar. Porém encontra-se bebidas com até 3,5% nos mercados, como a Heineken.
  • Na cidade toda as pessoas usam muito a bicicleta para se locomover, apesar das distancias grandes (para os padrões europeu) e as várias colinas. Patinete elétrico também é uma febre em Estocolmo.
  • Existem muitos pubs, parklets e ruas fechadas para carros e ocupadas por mesas de bares e restaurantes.
  • Uma curiosidade interessante: a maioria dos estabelecimentos são cashless, ou seja, só aceitam cartões. É interessante considerar o IOF em todos os custos de viagem, já que nem adianta levar dinheiro pois simplesmente não aceitam.
  • A rede de fastfood Max é uma boa opção para uma refeição rápida (Hamburguers).
  • E o Arlanda Express é a melhor opção para ir do aeroporto até Estocolmo, mesmo que o ônibus seja mais barato.
  • A rainha Sílvia da Suécia, que muitos falam que é brasileira, nasceu na verdade na Alemanha, de mãe brasileira e pai alemão. Ela viveu em São Paulo durante dez anos. Não encontrei informação se ela possui cidadania brasileira, mas devido ao fato de que ela teve que se naturalizar como sueca pouco antes de se casar, imagino que não tenha.
  • Quando a gente visitou a cidade tinham acabado de colocar em pratica a lei que proibia fumar em restaurantes e bares abertos.
  • Assim como nos outros países nórdicos, existe muita gente tatuada.
  • E assim como nos demais países nórdicos, existe uma relação muito natural com o nú, que se nota nas esculturas, em fotos de praia e piscina (inclusive fotos antigas), etc. Mas volto a falar nisto no próximo post, sobre a fantástica Oslo.

Be happy 🙂

Bird Box – Josh Malerman (02/2020)

Bird Box é o livro que deu origem ao filme homônimo produzido pela Netflix e que fez algum burburinho em 2018. Pra início de conversa, eu não havia gostado do filme. A idéia central é bem legal, mas o filme é bem fraco na execução. Não é horrível, mas é aquele que você bota pra ver quando não tiver nenhuma outra opção ou apenas acompanha se estiver zapeando na TV e o encontra passando em algum canal (alguém ainda faz isto hoje em dia?).

Já haviam me dito que o livro era bem melhor (como ocorre via-de-regra), mas acabei não me interessando após ver o filme, até achá-lo numa promoção. Ficou alguns bons meses na estante, lá embaixo da minha lista de prioridades, até que resolvi finalmente ler.

A história, que se pretende ser um terror psicológico, se passa em torno de um mundo onde, de repente, a maioria das pessoas começa a apresentar um comportamento suicida após enxergar algo. Não vou entrar no detalhe do que é este algo para não dar spoilers. A solução então encontrada é que as pessoas não mais saiam de casa de olhos abertos, além de cobrirem todas as janelas dos imóveis (para evitar enxergar para fora). Mas até que as pessoas comecem a entender o que se passa e a encontrar esta “solução”, muito caos é instalado, com o colapso de tudo o que suporta nosso estilo de vida atual: transportes, telecomunicações, produção industrial, e assim por diante (algo parecido com o que uma pandemia pode causar se não for controlada).

É basicamente um misto de The Walking Dead com o Ensaio Sobre a Cegueira, do Saramago. Interessante pois sempre achei que The Walking Dead foi claramente inspirado no Ensaio, que por sua vez foi inspirado n’A Peste do Camus. De certa forma Bird Box tem a inspiração dos três.

O livro conta com duas estórias paralelas, intercaladas em capítulos alternados. Uma delas é a busca (às cegas) da personagem principal (Malorie, interpretada pela Sandra Bullock, o que salva um pouco o filme) por um local que promete ser um refúgio para trazer um pouco de paz em tempos de caos. A segunda linha traz a estória (em flashback) de Malorie desde o momento em que ela descobre uma gravidez não planejada até o ponto em que a busca por este refúgio se inicia. Ou seja, são duas linhas do tempo que se encontram no final do livro.

O livro é muito bem escrito, com o autor provendo muitos detalhes sem se tornar algo enfadonho. É um bom passatempo. Mas infelizmente como eu fiquei com os personagens do filme na cabeça não consegui montar os personagens e o filminho na minha imaginação, como normalmente ocorre. E este é o principal motivo pelo qual se deve, SEMPRE, ler o livro primeiro: para fazer sua imaginação voar.

A única exceção que encontrei até hoje para a regra de que o filme é SEMPRE melhor que o livro foi a adaptação de Good Omens, do Terry Pratchett e do Neil Gaiman. Não que o livro seja ruim, muito pelo contrário, tanto que foi um dos poucos livros que li mais de uma vez (quer dizer, em tese, já que li uma vez em inglês e outra em português). Mas a adaptação da Amazon em forma de mini-série ficou fantástica, muito por causa do elenco e, claro, pela fidelidade ao livro.

Be happy 🙂

Factfulness – Hans Hosling (01/2020)

Você acha que o mundo hoje está melhor ou pior do que há 20 ou 30 anos atrás? Bem, sugiro a você fazer o teste da Gapminder Foundation sobre como indicadores socioeconômicos têm mudado nas últimas décadas. Aposto que a maior parte das pessoas, por mais otimistas que sejam, não acertam todas as questões. Aproveite e assista também a uma das apresentações do Hans Hosling, como esta já famosa apresentação num TedTalk, ou alguma de Ola ou da Anna (filho e nora de Hans), colaboradores do livro e na fundação.

O enorme subtítulo, que numa tradução livre seria “Dez Razões Porque Estamos Enganados Acerca do Mundo – e Porque as Coisas Estão Melhores do que Você Pensa”, virou “O hábito libertador de só ter opiniões baseadas em fatos” na versão brasileira, e talvez este subtítulo faça mais jus ao título (que nem é uma palavra de verdade, ainda…).

O livro trata de dez “instintos dramáticos”, cada um com um capítulo próprio, que turvam a nossa visão de mundo (já volto neles daqui a pouco). Estes instintos foram sendo desenvolvidos nos seres humanos através da evolução e nos foram muito úteis até aqui, afinal de contas, no meio da floresta ou da savana africana, é bem melhor começar a correr ao ouvir algum barulho do que parar para analisar o que poderia ser aquele barulho e, de repente, dar de cara com algum predador. Porém nos dias de hoje a maioria das ameaças que eram evitadas através do instinto já não se fazem tão presentes e analisar dados e fatos é a melhor forma de tomar as melhores decisões (ou as com maior chance de sucesso).

Porém, existem duas categorias de profissionais que exploram estes nossos instintos em benefício próprio e quase sempre a nosso desfavor: os jornalistas (que até o fazem sem má intenção, na maioria das vezes) e os políticos (que normalmente o fazem com má intenção!). No trecho em que ele fala em como a mídia abusa destes instintos, encontrei uma feliz coincidência: ele usa o mesmo exemplo que eu sempre uso para explicar porque usar somente informações da mídia (que dá atenção para os casos extremos, para os pontos fora da curva) ao moldar sua visão de mundo, via de regra conduz ao erro: o caso dos acidentes de avião.

Toda vez que acontece um acidente de avião a mídia explora o caso à exaustão, o que leva à má impressão de que voar de avião é inseguro. Porém, os acidentes são uma exceção muito rara diante do total de voos completados com sucesso. Só que não faria sentido nenhum a mídia noticiar todos os voos completados com sucesso. Imagina o jornal do meio dia listando todos os voos que deixaram sua origem e pousaram no destino sem nenhum incidente? 

Uma outra coincidência com outro trecho é quando ele faz a distinção entre ativistas e especialistas. O trecho discorre durante alguns parágrafos sobre as diferenças entre os dois, mais ou menos na mesma definição que eu uso: um especialista é alguém que vai analisar fatos e dados para moldar sua opinião e vai considerá-los mesmo que eles digam algo que vai contra os valores e princípios iniciais desta pessoa. Por outro lado, um ativista é alguém que vai procurar dados que confirmem os seus valores e princípios e, caso não os encontre, ele normalmente irá “fabricar” fatos. E no caso de encontrar dados que contradigam suas crenças, ele vai simplesmente ignorar.

Os dez instintos dramáticos trazidos à tona no livro são:

  1. Instinto de separação (gap instinct): o instinto de achar que tudo se divide em dois grupos muito distintos, com uma enorme distância entre eles, quando na verdade a maioria das coisas se concentra no meio e os extremos é que são minoria (a famosa distribuição normal).
  2. Instinto de negatividade (negativity instinct): sempre achar que as coisas estão piores do que estavam. As coisas podem não estar bem, mas geralmente quando falamos em indicadores socioeconômicos elas estão melhores do que há 10, 20, 30, 100 anos (varia dependendo do indicador). Ignorar o progresso é simplesmente jogar fora tudo o que foi feito de bom até o momento e que deveria continuar a ser feito.
  3. Instinto da linha reta (straight line instinct): assumir que uma linha de tendência vai sempre continuar na direção em que ela aponta. Quando se fala nestes indicadores socioeconômicos, geralmente nem é uma linha, mas sim uma curva, que atinge seu ápice ou vale e depois se estabiliza (afinal de contas nem tem como ter, por exemplo, taxa de mortalidade abaixo de zero).
  4. Instinto do medo (fear instinct): achar que as coisas são sempre ruins, que o pior vai sempre acontecer, deixando o medo se sobressair a racionalidade.
  5. Instinto do tamanho (size instinct): não colocar as coisas sob a perspectiva, a proporção correta, e achar que ou são muito grandes, ou muito pequenas.
  6. Instinto de generalização (generalization instinct): usar um exemplo ou um pequeno pedaço para definir o todo. Normalmente associado a preconceitos.
  7. Instinto do destino (destiny instinct): assumir que as coisas vão continuar a ser de um jeito porque elas sempre foram assim e uma mudança é inevitável. Muito relacionado aos instintos de tamanho e medo e, novamente, a preconceitos.
  8. Instinto da perspectiva única (single perspective instinct): querer usar sempre a mesma solução, a mesma “ferramenta”, para solucionar todos os problemas, por mais distintos um do outro que eles sejam.
  9. Instinto de (botar a) culpa (blame instinct): querer encontrar culpados ao invés de soluções.
  10. Instinto de urgência (urgency instinct): achar que tudo requer uma medida urgente, quando na verdade poucas coisas requerem tanta urgência a ponto de não se ter tempo de analisar a situação, as possibilidades e as consequências.

Cada um destes capítulos é recheado de dados e histórias da vida do próprio Hans, o que torna o livro uma quase biografia póstuma escrita pelo próprio. Infelizmente ele veio a falecer em 2017, vítima de um câncer no pâncreas diagnosticado cerca de um ano antes. O livro começou a ser escrito um pouco antes do diagnóstico e se tornou o trabalho final onde ele dedicou seus últimos meses de vida.

No final de cada capítulo, existem algumas dicas para evitar estes instintos, mais ou menos na pegada do A Field Guide to Lies. Sugiro demais a leitura do livro e, quem sabe, após a leitura você refaça o teste do início e se saia melhor do que os chimpanzés.

Be happy 🙂

Wanderlust #61 – Helsinki, Finlândia

(29/06/2019-30/06/2019)

Depois de termos ido à Islândia em 2018, havíamos colocado na lista uma trip pelos demais países nórdicos (que não é a mesma coisa de escandinavos, ver abaixo no “Dicas…”). Resolvemos então aproveitar o verão europeu e “matar esta pendência”, fazendo Finlândia, Suécia, Noruega e Dinamarca. A Groelândia, que é um território autônomo ligado a Dinamarca, vai ficar pra outra oportunidade.

Apesar dos países terem muitas coisas em comum, eles também têm muitas particularidades, então além de indicar quando alguma dica ou curiosidade também vale para os demais, vou atualizando e colocando o link para os demais artigos assim que for publicando.

Dia 1

No metrô que liga o aeroporto, que fica em Vanta, uma cidade na região metropolitana de Helsinki (tipo Guarulhos), notamos um monte de gente vestindo roupas ou adereços com as cores do arco-íris. Após deixarmos as bagagens no locker do Forenom Aparthotel fomos dar uma volta na cidade e descobrimos que estava rolando a parada LGBT de Helsinki justamente naquele dia.

Após acompanharmos um pouco a parada, fomos explorar a cidade, que não é lá tão grande. Primeiro passamos por uma praça onde fica a famosa escultura Topelius and Children e logo à frente pela St. John’s Church. Cruzamos o parque Neitsytpuisto, passando pela Saint Henry’s Cathedral em direção ao porto.

Na região do Porto encontra-se o Vanha kauppahalli, um mercadão onde se pode comprar produtos alimentícios diversos (peixes, conservas, embutidos, frutas, etc.) e que também conta com alguns restaurantes. Logo à frente na Kauppatori (Market Square) existe também uma feira, com várias barracas de frutas, comidas e artesanato.

Bem próximo a Kauppatori fica a Esplanadi, um belo e florido Boulevard. Existem alguns bares e cafés na Esplanadi, além de alguns vendedores ambulantes (de sorvete por exemplo). Parece ser um local que os habitantes da cidade curtem bastante, mesmo durante o frio (ou seja, quase sempre).

De lá, caminhamos pelas ruas da área central, muitas delas somente para pedestres e todas lotadas de comércios, até a bela Helsinki Cathedral, onde ocorria um casamento. A grande escadaria ao lado da catedral parece ser um dos pontos mais fotografados da cidade.

Caminhamos então até a Helsinki Central Station, onde tínhamos descido de manhã, mas não paramos para admirar e de lá até a praça Narinkka, uma grande praça cercada de bares e comércio onde fica a famosa Kamppi Kappeli (Capela do Silêncio). Não chegamos a entrar pois ela já estava fechada para visitação, mas dizem que vale a pena.

Já quase no “final do dia” (lembrando que, assim como na Islândia, o sol praticamente não se põe durante o verão em Helsinki) fomos até Torikortellit, um distrito de uns 3 ou 4 quarteirões, com bares, restaurantes, lojas. Inclusive uma das ruas estava fechada para carros devido a uma feira com comida, bebida e música. Mas preferimos mesmo parar na Bryggeri Helsinki para tomarmos algumas cervejas artesanais locais.

De lá, demos mais umas voltas na cidade e acabamos topando com a Pien Shop & Bar, uma loja/bar de cervejas artesanais. Quando estávamos pra ir embora, já as 22:00 (e com o dia totalmente claro), resolvi levar umas cervejas diferentes para tomar no apartamento e aí fui surpreendido com a atrapalhada e complexa lei de álcool da Finlândia (exceto pela Dinamarca, em todos os demais países nórdicos a comercialização de álcool é extremamente regulada).

Escolhi umas cervejas e quando fui pagar o atendente pediu desculpas e disse que eu não poderia levar algumas delas. Segundo ele, pode-se vender cervejas com qualquer teor para tomar na loja até a meia noite e a partir disto só em bares com autorizações especiais. Para levar ele não pode vender nada acima de 5,5% de teor alcoólico. Só as lojas estatais podem vender qualquer coisa acima disto. Porém, após as 21:00 horas o teor cai pela metade e, portanto, ele não poderia me vender nada acima de 2,75% pra eu levar naquele horário. Se quisesse tomar lá tudo bem. Achei algumas cervejas interessantes dentro deste limite e consegui levar.

Na volta para o AP acabamos passando pela Kolme Seppa, uma outra escultura bem conhecida na cidade.

Dia 2

Como já tínhamos visto praticamente tudo na região mais central da cidade, fomos fazer um passeio recomendado por muita gente, a Suomenlinna, uma pequena ilha que faz parte de Helsinki e que precisa ser acessada de ferry. O ticket de ida e volta do ferry custa 5 euros e é válido por 24 horas, o ticket diário que dá direito ao transporte em toda a área central de Helsinki, incluindo Suomenlinna, custa 8 euros e também é válido por 24 horas (contadas à partir do primeiro uso).

A ilha parece uma pequena vila, daquelas que você vê em filme sobre pescadores. Tem várias trilhas e algumas atrações, como a grande (pro tamanho da ilha) igreja e a fortaleza de Suomenlinna. Existe uma pequena praia na ilha que pode ser usada para banho, um castelo e um antigo submarino (a visitação deste é paga).

Depois de algumas voltas, tomamos café no charmoso Café Piper (que só abriu as 10 no domingo!) e depois de passear pelas atrações acima, paramos no início da tarde na Suomenlinna Brewery. Realmente o passeio em Suomenlinna vale muito à pena. 

Voltando para a região continental de Helsinki, passamos de ferry pela Allas Sea Pool, um complexo que conta com piscinas (uma aquecida e uma com a água do mar à temperatura ambiente, ou seja, gelada!), que estava lotada com as pessoas aproveitando os 22 graus de calor. Também passamos em frente a Uspenskin katedraali, que fica em frente ao complexo. Depois fomos nos encontrar com o Hugo, um amigo Brasileiro que se mudou para a Finlândia há uns 5 anos atrás. Paramos no Dekki, um bar aberto que fica na praça Lasipalatsinaukio (que deve ser um paraíso para skatistas) para tomarmos algumas e botarmos o papo em dia, ele nos contando da sua experiência na Finlândia e nós da nossa nos EUA.

Depois de nos despedirmos do Hugo, voltamos à Piên para encerrarmos nossa passagem por este país interessantíssimo!

Observações, dicas e considerações:

  • A parada LGBT de Helsinki parecia ter mais “simpatizantes” do que público LGBT em si. Todo mundo se divertindo bastante. Parecia o carnaval deles.
  • Na praça do mercado existem diversas barracas de comida. É um ótimo local para experimentar a culinária local e também para comprar souvenirs.
  • Na porta de praticamente todos os prédios havia um equipamento composto por duas ou três escovas. Imaginamos que seja para limpar a neve das botas.
  • Até as 11:00 horas do domingo Helsinki parecia uma cidade deserta e nada abriu. Nem os cafés. Em compensação, em frente à estação de trem tinha muita gente “virada” de balada.
  • Como explicado acima, as leis relativas ao comércio de bebidas alcoólicas nos países nórdicos são bem restritivas. Já havíamos notado isto na Islândia e na Finlândia não é muito diferente, sendo que neste caso a estatal responsável pela comercialização de qualquer bebida acima dos 5,5% é a Alko. Nos mercados se encontram cervejas abaixo disto e também abaixo dos 2,75%, inclusive versões de cervejas populares mundialmente, como a Heineken, com este teor.
  • Notamos que em Helsinki havia muitos imigrantes e uma diversidade étnica grande. Imaginamos que o motivo talvez seja o fato de ser uma cidade portuária em um país que fica na divisa entre a Europa e a Ásia. Ok, a parte oeste da Rússia é considerada Europa, mas a maior parte do país fica na Ásia. Aliás, dá para pegar um trem de Helsinki e ir a São Petersburgo em cerca de 4 horas.
  • Somente há pouco tempo notei que as bandeiras dos países nórdicos seguiam o mesmo padrão. Depois de uma googlada descobri que eles estampam a Cruz Nórdica e só se diferem pelas cores. E agora acabei descobrindo também que o padrão inspira várias bandeiras ao redor do mundo, inclusive no Brasil.
  • A Finlândia é o único dos países nórdicos a integrar a União Europeia e a adotar o Euro como moeda. Entretanto os demais países são signatários de diversos acordos, incluindo o tratado de Schengen, que permite a livre circulação de pessoas entre os países do espaço.
  • Como mencionado acima, a Finlândia é um dos países nórdicos, mas acabei descobrindo também (juntamente com a história das bandeiras) que Escandinávia é um termo mais restrito usado para a Dinamarca, Suécia e Noruega. Apesar disto, ninguém vai ficar chateado se alguém se referir à Islândia ou Finlândia como parte da Escandinávia.
  • O Hugo nos deu uma dica que, infelizmente, foi tardia. Ele nos disse que existem navios de cruzeiro que fazem o trecho entre Helsinki e Estocolmo (que seria nossa próxima parada). Normalmente eles saem no final da tarde e cruzam o Mar Báltico durante à noite, chegando na outra manhã à Suécia. Dependendo do Navio tem cassino, cinema, restaurantes, danceteria. Ele disse que é uma divertida opção de transporte entre os dois países.
  • Eu gosto bastante de prestar atenção no idioma dos países que visito, tentando inclusive fazer associações com os poucos idiomas que conheço. Normalmente, ao menos entre os idiomas de origem no ocidente, eu consigo encontrar algumas semelhanças (como citei no post da Islândia, linkado acima). Porém, eu não consegui encontrar nenhuma semelhança do Finlandês (escrito ou falado) com nenhum idioma. E sinceramente, aos meus ouvidos me pareceu mais estranho até do que idiomas do oriente (Chinês, Japonês, Coreano, os vários Indianos). Nosso amigo Hugo mesmo disse que desistiu de tentar aprender e que, se algum dia sentir que o Inglês não é suficiente, ele vai preferir tentar o Sueco, o outro idioma oficial do país.
  • Apesar disto, eles têm a forma mais correta de se referir ao transporte privado individual de passageiros: Taksi!

Be happy 🙂

The Long Dark Tea-time of the Soul – Douglas Adams (14/2019)

Na resenha sobre o primeiro livro da série Dirk Gently, eu expliquei um pouco do processo de criação do Douglas Adams. Também pontuei que achei o livro um tanto confuso, inclusive com uma das estórias não se encaixando muito bem na “colcha de retalhos” que os livros do Adams normalmente são.

Bem, não vou dizer que achei The Long…, o segundo livro da série, uma obra-prima, mas ao menos achei bem melhor que o primeiro. Talvez eu tenha pego a manhã de ler Douglas Adams em inglês, mas talvez o principal fato seja que neste as duas estórias principais (que se desenvolvem em paralelo, em conjunto com umas duas ou três linhas menores) ficaram bem melhor costuradas.

A primeira tem como ponto de partida um bate-boca entre dois passageiros e uma atendente de companhia aérea no balcão de check-in no Aeroporto Heathrow, em Londres, seguida por uma misteriosa explosão. A descrição de Adams para o aeroporto, suas áreas e respectivas funções é hilária! Já na segunda linha, nosso herói (?) se vê envolvido em na morte misteriosa de um de seus clientes (provavelmente o único cliente!).

A partir daí vários detalhes vão sendo adicionado à cada uma das linhas, bem como outras pequenas linhas vão sendo iniciadas, cada uma no apropriado tempo, para que no final todas elas se juntem. E aí achei o ponto fraco do livro: os capítulos que ligam todas as pontas têm um ritmo muito corrido e mereciam ser mais bem explorados. De qualquer forma, é um livro bem divertido.

Uma curiosidade a respeito do título: ele foi retirado de “A Vida, o Universo e Tudo Mais”, da série o guia. A frase foi usada para descrever o tédio miserável do ser imortal Wowbagger.

Be happy 🙂