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Wanderlust #64 – Copenhagen, Dinamarca

(07/07/2019-09/07/2019)

Finalmente chegamos ao último dos países nórdicos da trip (aqui os relatos da Finlândia, Suécia e Noruega). E provavelmente o mais turístico deles. Talvez por conta da alta expectativa acabamos achando que era um destino superestimado, especialmente quando comparado com os demais. Mas ainda assim nos divertimos bastante.

Dia 1

Chegamos na cidade lá pra uma 10:00 horas da manhã, deixamos as malas no Cabinn City e fomos bater perna. Seguindo em direção à área mais central da cidade, passamos pelo famoso Tivoli Gardens, que ficava a umas duas quadras do hotel. O Tivoli é um parque de diversões no estilo Playcenter. Fiquei com a impressão de que o parque paulistano, inaugurado na década de 70, foi inspirado no de Copenhagen, que é de 1843, tamanha a semelhança. Mas como parque de diversões não é nossa praia, só passamos em frente.

A região mais central da cidade é composta por várias ruas com acesso somente para pedestres em torno da Praça Gammeltorv, sendo a principal delas a Strogert. Como era domingo de manhã a cidade parecia estar ainda de ressaca, com várias lojas abrindo e pouca gente por ali. Felizmente encontramos um pequeno estabelecimento para tomarmos um bom café da manhã. Ainda andando ao redor da Gammeltorv, passamos pela Helligaandskirken e caminhamos até a o Kongens Nytorv.

Em quase todas as praças e em algumas ruas existiam palcos armados. Em um deles paramos para ver um cartaz que existia ao lado e descobrimos que estava ocorrendo o Festival de Jazz de Copenhagen, com centenas de shows e eventos, a maioria gratuitos. Assim como já havia ocorrido quando fui a Edimburgo, novamente acabei topando com um festival de artes muito legal sem nem ter programado. Ô sorte!

Seguimos até o Kongens Have (Jardim do Rei), onde ficam o castelo Rosenborg e o respectivo jardim (sim, um jardim dentro de um jardim), que é muito bonito. A seguir atravessamos atrás do Castelo e fomos então ao Botanisk Have (Jardim Botânico), que dentre diversas atrações tem duas muito interessantes. A primeira é um jardim da cerveja, com pés de diversas plantas usadas na produção (trigo, cevada, aveia) e inclusive diversos pés de lúpulo. A outra é um jardim localizado bem no meio do parque que tem plantas de praticamente todo lugar do mundo. Deve dar um trabalho danado mantê-las, especialmente as de regiões mais quentes, como várias espécies de cactos e suculentas que lá havia.

Continuando nas andanças, passamos pelo Torvehallerne, um misto de mercadão e praça de alimentação, um pouco diferente dos que tínhamos visto em Estocolmo e em Oslo. Este era maior e com uma parte ao ar livre. Ainda assim tinha a mesma proposta de vender comidas e bebidas mais artesanais para consumir no local ou levar. De volta à área mais central passamos pela Rundetårn, uma torre de observação astronômica do século XVII, que é uma das atrações arquitetônicas da cidade.

Copenhagen, assim como outras diversas cidades europeias, é repleta de canais. Existem uma série de grandes canais contínuos que cortam a cidade verticalmente (de norte a sul, ou vice-versa), praticamente um rio (que é como vou chamá-lo de agora em diante). A beira deste rio existe um passeio chamado Havnegade. Decidimos caminhar então por este calçadão, que é repleto de atrações, como bares, museus, teatros e outros canais perpendiculares. Um dos mais famosos destes canais é o Nyhavn (literalmente Novo Porto – a palavra havn é muito parecido com haven e harbor, do Inglês, e Hafen, do Alemão). O Nyhavn é usado como estacionamento para várias embarcações pequenas e ao redor dele, dos dois lados, existem várias atrações. Uma das que vale uma parada é a sorveteria Vaffelbagere. Continuamos caminhando pela beira do rio até chegar em Kastellet.

Kastellet é uma cidadela em forma de estrela (de ninja!) cercada por canais artificiais (tipo o fosso do castelo). Logo em frente fica a atração mais famosa e mais “brega”: Den Lille Havfrue, a estátua da pequena sereia (a que inspirou o desenho). É brega mas é aquela foto quase obrigatória! Próximo à Kastellet também ficam a St Alban’s Church e a belíssima Gefionspringvandet (Gefion Fountain).

Na saída de Kastellet e a caminho da cervejaria Nørrebro Bryghus, que fica no bairro homônimo (Nørrebro, já que Bryghus pelo que percebi significa cervejaria), acabamos passando sem querer pelo palácio Amalienborg, que é uma das atrações mais famosas da cidade e que tínhamos colocado na programação do outro dia. Pelo que percebemos, Nørrebro é uma região boêmia da cidade, com bastante bares, restaurantes e alguns ateliês. Mas fomos direto tomar umas cervejas pois já tínhamos caminhado cerca de 30 kilometros e ainda teríamos 3 de volta até o hotel (45 mil passos computados pelo FitBit!)

Dia 2

No outro dia já havíamos programado atravessar o rio e visitar o bairro de Christianshavn, que também é todo cortado por canais. Primeiro cruzamos a Lille Langebro, uma ponte móvel exclusiva para pedestres e ciclistas. Interessante que diferentemente de outras pontes moveis, que normalmente abrem verticalmente, esta gira horizontalmente 90 graus em cima de um eixo (o pilar principal), ficando paralela ao rio para permitir a passagem dos barcos.

Já do lado de lá da ponte acabamos tropeçando e caindo sem querer no The Packhouse, um café bem charmoso no porão de um prédio residencial. Fica a dica para tomar um bom café da manhã com quitutes bem caseiros. Continuamos a caminhar pela beira do rio (pelo lado oposto do rio do percurso do dia anterior) até a Operaen, a ópera house de Copenhagen. De lá pegamos algumas ruas secundárias e desertas para cair em Christiania.

Christiania é um bairro de Copenhagen que tem um status especial, já que a maioria das leis da cidade e mesmo do país não se aplicam ali sendo as regras definidas pela comunidade (hippie) que habita a região. É como se fosse um minúsculo país dentro de outro país. Existem alguns ateliês, dois mercados (que eu notei), bares, restaurantes. Mas a atração mais interessante talvez seja a feira de maconha: vários ambulantes com barracas ou caixotes oferecendo inúmeras variedades de maconha (e outras drogas “leves”, já que drogas pesadas são proibidas ali pelas regras da comunidade), tanto para levar quanto para (e principalmente) consumir no local. Este é um dos motivos pelos quais as fotografias são proibidas ali: muita gente “normal” sai do escritório de terno e gravata na hora do almoço para ir ali fumar um em paz e voltar para o segundo tempo. A região também é repleta de grafites e deu para perceber que ocorrem muitos eventos culturais por ali.

Logo na saída de Christiania topamos com a Vor Frelsers Kirke (Igreja do Nosso Senhor Salvador), que tem uma arquitetura interessante: a torre me lembrou um sorvete de máquina, tipo do McDonalds, ou mesmo aqueles sorvetes de máquina antigos (que acabei de descobrir que se chamava “sorvete americano”!)

Voltamos então por este lado do rio, no sentido sul. Não tem muitas atrações turísticas deste lado, mas tem alguns parques e bares, aparentemente frequentados mais por nativos. O alvo desta caminhada era a região de Flæsketorvet, que era uma área onde existiam diversos matadouros, mas que foi revitalizada recentemente e hoje abriga uma série de bares, restaurantes, lojas. Estava até rolando uma feira gastronômica por ali. Paramos na Warpigs brewery, que tem bastante opção de cerveja e churrasco estilo Texano (brisket, pull pork, mac’n’cheese de acompanhamento, etc.).

De lá caminhamos até próximo a região central novamente, pois estando em Copenhagen, não podíamos deixar de ir até o Mikkeller Bar original. A Mikkeller é uma micro cervejaria com origem na cidade e que, apesar de muito famosa atualmente, ainda mantém o estilo “cigano”. Cigana é como são conhecidas as cervejarias que não têm capacidade de produzir volumes grandes e usam a infraestrutura de outras cervejarias para produção em maior quantidade. Normalmente eles têm um espaço reduzido onde desenvolvem as suas receitas em lotes pequenos (50, 100, 200 litros) e, quando pretendem produzir para comercializar, alugam o espaço de outras cervejarias. Existem até plantas cervejeiras que nem possuem marcas próprias e se prestam somente à produção (e às vezes distribuição) das invenções que saem das panelas dos ciganos.

No caso da Mikkeller eles ainda levam o termo “cigano” ao pé-da-letra, já que os fundadores viajam o mundo visitando cervejarias e produzindo colaborativamente, inclusive no Brasil. Com esta proposta, eles já lançaram centenas de rótulos, de todos os tipos imagináveis, em todos os locais imagináveis. Só pra ter uma idéia, no beeradvocate.com existem cadastradas mais de 1000 rótulos. E isto porque quem cadastra são os usuários, ou seja, dá pra estimar que deve ter pelo menos mais umas 1000 “perdidas”, já que o site é mais utilizado nos EUA.

Enfim, “passaporte carimbado”, cervejas tomadas, fomos andar a esmo e, sem querer, acabamos voltando próximo à região de Flæsketorvet e topando com o Halmtorvet 9, um bar com área aberta onde estava rolando um palco de jazz como parte do festival. Paramos então por ali para descansar, tomar umas cervejas e curtir o som. Como já estávamos na região, aproveitamos para jantar no mother que tem uma pizza bem famosa (e gostosa!). Andamos um pouco pela região de Vesterbro, mas como já tínhamos planejado de passear por ali no outro dia resolvemos voltar para a região central onde acabamos topando com o Fringe Jazz Fest (por sinal, o festival que citei no início, em Edimburgo, também se chamava Fringe), que é um evento paralelo ao festival principal e que foca no Jazz de New Orleans (coincidentemente também, onde havíamos passado o carnaval alguns meses antes). Este mini-festival rola num lugar bem legal chamado Pumpehuset, que lembra um pouco a Kulturbrauerei de Berlin.

Depois de toda esta maratona, ainda tivemos pique pra ir curtir um pouco mais de Jazz (e a saideira) na praça Nytorv. E depois foi voltar pro hotel e capotar.

Dia 3

Na Terça-feira, nosso terceiro e último dia na cidade, levantamos cedo e fomos tomar café no charmoso Café kopenhag, que ficava bem próximo ao hotel. De lá fomos dar uma volta em Chritiansborg, que é meio que uma ilha cercada pelo canal Nybrogade, bem na região central. Nesta ilha ficam vários prédios históricos e importantes, como o da Børsen (bolsa de valores), o Christiansborg Slot (um castelo enorme com um belo jardim), entre outros. Vale também uma passada no Bibliotekshave, o jardim da biblioteca que tem ali.

De lá, como já comentei, fomos até uma área mais periférica chamada Vesterbro. Fomos caminhando por uma avenida com comércio popular, para sentir um pouco da vida regular, até o Frederiksberg Have, um parque muito bonito que tem em uma de suas extremidades o castelo Frederiksberg e o Zoológico de Copenhagen. De lá caminhamos mais um pouco pelo bairro, inclusive por dentro de um outro parque que era na verdade um cemitério (como em Oslo) até a cervejaria BRUS, onde tomamos umas no beergarden.

Voltamos então para área central para experimentar as cervejas da BrewPub Copenhagen, que produz cervejas com temática inspirada em música, especialmente Jazz (como ninguém antes teve a idéia de uma Porter chamada Cole?!?!?). De lá voltamos ao Pumpehuset para curtir um pouco mais antes de fecharmos a passagem pela cidade.

Observações, dicas e considerações:

  • Por toda cidade existiam grafites “comerciais”: várias propagandas (de chocolate, refrigerante) estão espalhadas em forma de grafite por paredes cegas de edifícios, muros, bancas de jornais. Eu não pesquisei, mas talvez a ideia surgiu à partir de alguma proibição de outdoors (como existe na cidade de São Paulo).
  • Acho que comida por quilo é novidade e moda na cidade. Topamos com alguns e, diferentemente do Brasil, onde eles são locais para refeições rápidas e baratas, do dia-a-dia, parece que o pessoal sai exclusivamente para comer em quilo. Tipo um evento especial.
  • Muito interessante ver muitos jovens tanto curtindo quanto fazendo jazz.
  • Em vários pontos da cidade nos deparamos com pessoas usando fone de ouvido e andando de costas, seguindo uma linha marcada no chão. Trata-se do projeto REVERSE, que convida as pessoas a olharem a cidade de outra forma (os fones são um áudio-guia). Em locais mais perigosos, como escadarias ou cruzamento de vias, existem assistentes para auxiliar. Muito interessante!
  • Café é bem caro na cidade, muitas vezes mais do que o lanche ou o salgado.

Be happy 🙂