Depois de anos fui aprender uma fórmulazinha bem simples e que faz toda a diferença em nossas vidas. É o seguinte: se a expectativa criada em relação à um acontecimento (ou pessoa) é maior que a realidade o resultado é frustração. Consequentemente, se a expectativa criada é menor ou igual a realidade o resultado é no mínimo satisfação. Do mesmo jeito que fiquei de certa forma decepcionado com Londres e Dublin pela alta expectativa que eu tinha criado sobre elas, Edimburgo foi a cidade que eu menos criei expectativa e foi a que mais me surpreendeu positivamente.
Quando estava planejando esta minha primeira viagem à Europa eu tinha certeza de que iria conhecer Londres, Liverpool e Dublin. Programei 3 noites em cada cidade (poderia ter programado mais em Londres) e ainda me sobravam 3 dias das férias que eu tinha tirado. Depois de pensar um pouco (fiquei tentado em ir à Holanda) decidi que conheceria a Escócia e assim já “riscaria” o Reino Unido da minha lista de lugares a conhecer. Como conhecia pouco da Escócia, inicialmente pensei em ficar em Glasgow, mas ao ver que o aeroporto ficava em Edimburgo e verificar os hostels, acabei por decidir ficar hospedado em Edimburgo mesmo. Acho que Edimburgo era o último lugar da Europa que eu pensava visitar. Mas em apenas poucas horas a cidade conseguiu me “ganhar”, a ponto de se tornar, junto com Berlin, a cidade mais incrível que eu conheci (sim, até mais que Nova Iorque!).
Aterrisei no pequeno aeroporto de Edimburgo na tarde de um domingo chuvoso, peguei o bus que levava ao centro da cidade e me registrei no Hostel. Como de praxe, banho para tirar inhaca de vôo e volta de reconhecimento na cidade.
Por ser uma cidade em uma região montanhosa, Edimburgo é uma cidade com bastante variação de altitude, do tipo você estar em uma rua e a rua paralela a ela ficar há uns 10, 15 metros de altura (dava pra ter idéia pelos andares dos prédios). As ruas todas são bem inclinadas (tipo morros do Rio). Em alguns casos existem escadarias que te levam de uma rua à outra e te poupam de andar um bom pedaço até encontrar uma rua que te permita acesso à esta paralela. Dando esta volta inicial me deparei com uma escadaria, resolvi subir e sai ao lado de uma ponte que passava por cima da rua em que eu estava (esta ponte da foto inicial). Resolvi seguir o fluxo e entrei na Rua do Castelo, que como o nome diz, é uma rua que dá acesso ao Castelo de Edimburgo, e foi ai que eu soltei, em alto e bom som: “Caralho! Que louco!!!!!”.
A Rua do Castelo é uma subida de pedra, estreita, ladeada por pequenos edifícios (não mais que dois andares) também de pedra, com pelo menos 500 anos cada um deles. E lá em cima, no alto da colina, você enxerga o imponente Castelo de Edimburgo. A primeira coisa que me veio à cabeça foi que parecia um cenário de filme de Robin Hood.
Para o cenário ficar melhor, estava acontecendo o Fringe, um festival de arte de rua que acontece todo mês de Agosto em Edimburgo. Então as várias rodinhas com palhaços, malabaristas, contadores de piadas, músicos e dançarinos que se formavam, faziam mais ainda com que a rua parecesse o centro de uma vila medieval durante alguma festividade. Na verdade era exatamente isto que estava acontecendo: uma vila medieval com uma festividade, só que em pleno século XXI!!!!
Subi até o castelo parando para ver os diversos artistas, ou para entrar em um dos pequenos edifícios (a maioria hoje abriga restaurantes, cafés, bares e lojas de souvenirs), porém como já estava no final da tarde e a chuva parecia que não ia ceder, eu resolvi voltar para o Hostel para bater um rango e tomar algumas cervejas no Belushi’s (o pub do hostel), já que a intenção era acordar cedo para andar pela cidade. E ai sim! Fomos surpreendidos novamente!
Creio que por causa da chuva, o pub do hostel, que é aberto ao público em geral, estava bem cheio. Como depois de umas 3 cervejas as pessoas começam a falar em “drunkish” e a interagir, ali não seria diferente: acabei por conhecer austriacos, espanhóis, portugueses, italianos e muitos escoceses.
Só sei que o bar virou um furdúncio (dos bons) e lá pelas 22:00 hrs já não exstiam mais mesas individuais ou “panelinhas” e todo mundo já tinha virado amigo. Para quem tinha planos de dormir cedo, fui expulso do pub (literalmente! Eu e todos que estavam lá!) quase à 1 hora da manhã. Fumei mais um cigarro, subi pro quarto e ai descubro que 3 espanhóis com os quais eu fiquei um bom tempo conversando (um deles era fanático por futebol e acabou ficando com uma das minhas camisas do Santos de presente) estavam no mesmo quarto que eu.
Eles tinham outros planos para a segunda, então combinamos de fazer algum passeio na terça. Na segunda eu fui fazer um “city tour” e acabei andando mais de 20 kilômetros. Dei uma volta pelo Princess Garden, pela região central (e antiga de Edimburgo), subi a Carlton Hill (vale pela vista!) e depois fui fazer a visita guiada no Castelo (é um pouco caro e dura quase quatro horas, mas vale muito à pena).
À noite fui tomar umas no pub do hostel e já aproveitei para combinar o passeio do outro dia com os espanhóis. Eles sugeriram ir para Glasgow, que fica a cerca de uma hora de ônibus de Edimburgo. Passeio combinado fui dar uma volta para aproveitar a efervescência que o Fringe trazia à cidade, mesmo em uma segunda feira.
Na terça cedinho então pegamos o bus para Glasgow. Sobre a cidade não tem muito o que dizer. A cidade é bem organizada e, tirando a Catedral, não parece ter muitos atrativos turísticos e é mais voltada para o turismo de negócios. Sei lá, deve ser como São Paulo, que para um visitante esporádico, que vem passar poucos dias, pode não ter muitos atrativos, porém quem vive a cidade acaba descobrindo lugares e programas fantásticos. Taí, acho que Glasgow seria uma boa cidade para se morar alguns meses. Mas com poucos dias de viagem deveria ter ficado somente em Edimburgo mesmo.
Como pegaria o vôo de volta para Londres e depois para o Brasil no outro dia somente as 11:00, aproveitei para pegar uma balada na última noite.
Na volta à Londres, cheguei bem cedo (umas 13:00hrs) e o vôo de volta para o Brasil era só as 22:00hrs da noite. A intenção era deixar a mochila em um locker e ir até Abbey Road, que eu havia “perdido” por ter achado que ficava em Lïverpool (que burro! Dá zero pra ele!), mas infelizmente estavam ocorrendo aqueles tumultos que existiram no verão de 2011 e achei melhor não arriscar me deparar com algum problema e perder o vôo. Então preferi ler um bom livro (terceiro nesta viagem!) para encerrar esta minha primeira vez na Europa!
Observações, dicas e considerações:
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- O local para ficar em Edimburgo é o St Christopher. Os quartos não são dos melhores (mas também não são dos piores), mas a localização (em frente à estação de trem, próximo à rodoviária, ao Castelo, shoppings, etc), o restaurante (tem uma BBQ Back Ribs fantástica!) e o pub compensam as pequenas falhas dos quartos.
- Gaita de fole não é um instrumento legal de ouvir por muito tempo. Como disse o guia da visita do castelo: “para mim soa como se estivessem matando um gato!”.
- Acho que, fora do Brasil, Edimburgo foi o único lugar em que as pessoas se oferecem para tirar foto.
- Agosto! Não tem outro mês para ir à Edimburgo. O clima é ameno (meio do Verão) e a cidade ferve por causa do Fringe. Sugiro até passar mais tempo (1 semana), especialmente para quem é fã de artes.
- O escocês é totalmente diferente do Inglês e do Irlandês. Ele é bonachão, piadista, simpático, receptivo. É mais ou menos como se você pegasse um brasileiro ou um colombiano e deixasse ele por anos curtindo no whisky!
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