“Há várias maneiras de se cantar e fazer música brasileira: Gilberto Gil prefere todas” – Torquato Neto
Neste típico livro de mesa de centro, Carlos Rennó compila quase toda a obra de Gilberto Gil (até 2002, ano anterior ao que o livro foi publicado). “Quase” porque segundo o prefácio muita coisa que não foi gravada ou transcrita, especialmente do início de carreira, se perdeu. Em 2003, ano de lançamento do livro e em que já existiam diversos sites com letras (e cifras) de músicas, talvez uma compilação destas já não tivesse tanto apelo, a não ser pelo “detalhe” de ter muitas das letras comentadas pelo próprio Gilberto Gil.
Além dos comentários, uma parte extraída de outras fontes (como entrevistas) e outra parte feita especificamente para este livro, o “guia” conta também com duas seções com fotos (muitas de acervo pessoal) e uma minibiografia inicial, que é importante para entender a dinâmica da evolução das canções.
Mas o próprio livro é uma autobiografia em si, já que além de ser organizado por ordem cronológica, Gil traça um panorama do que estava acontecendo no Brasil e no mundo e pelo que ele estava passando e o que estava sentindo em cada comentário. E claro, como tudo isto influenciou aquela canção (ou canções), álbum ou período.
O livro traz também duas curiosidades muito pouco conhecidas do público geral. A primeira é que, ainda na Bahia e antes de se mudar para São Paulo para estagiar na Gessy Lever, Gil trabalhou como freelancer em uma agência de publicidade fazendo jingles para lojas e políticos. A outra é que, além de compor para si e para sua turma (Tropicalistas, Doces Bárbaros e os parceiros de sempre, como Chico Buarque e Caetano Veloso), Gil também fez algumas canções para outros artistas menos relacionados aos movimentos do quais fez parte, como Roberto Carlos, Alcione e Zezé Motta, algumas delas por encomenda.
A obra também é uma mostra da versatilidade de Gil: tem músicas que ele fez para poemas de outras pessoas, tem poemas que ele fez para músicas de outras pessoas, tem composições sozinho, tem parcerias (letra e música compostas com outras pessoas ao mesmo tempo), tem versões (de músicas em inglês e francês para o português), tem composições próprias em outras línguas (inglês e francês).
Enfim, um artista completo que além de grande poeta é também um músico sensacional. Para não falar da “pessoa” Gil, que transmite aquela sensação de paz, de serenidade, antes mesmo de tocar o primeiro acorde ou cantar a primeira sílaba.
Mesmo que o site de Gil atualmente contenha praticamente todas as letras (inclusive as posteriores ao livro), muitas delas com os mesmos comentários do livro e eventualmente até mais coisas (como a ficha técnica), ainda é um livro pra deixar lá na coffee table para dar uma folheada de vez em quando. Ou procurar alguma letra no índice ao ouvir a música. Bem mais agradável do que usar o Google.
Be happy 🙂