Os Anjos Bons da Nossa Natureza – Steven Pinker (03/2020)

Já diria Renato Russo em Baader-Meinhof Blues: “a violência é tão fascinante!”

Neste já best-seller, Steve Pinker tenta provar (com muita referência bibliográfica) a afirmação contida no subtítulo do livro: “porque a violência diminuiu”. Note que não se trata de uma pergunta, mas de uma afirmação, já que, de acordo com os dados fornecidos ao longo do livro, ela realmente vem diminuindo.

Importante notar que a análise que ele faz se dá ao longo de praticamente toda a história da humanidade, ou seja, medida em milênios. Se olharmos períodos menores, de décadas, ou até mesmo de um século, é possível que naquele corte a violência tenha aumentado, mas ao ampliar o escopo, especialmente comparando os grandes saltos da humanidade, a redução dos níveis de violência fica clara, apesar da dificuldade de coletar ou estimar dados com mais de 2 ou 3 séculos (e para o mundo todo).

No capítulo 1, meio no estilo do Sapiens, Pinker dá um panorama geral de como a violência era uma constante e até aceita (quando não exaltada) durante boa parte da história da humanidade. Os diversos tipos de violência faziam parte da cultura de praticamente todos os povos.

Entre os capítulos 2 e 7, ele elabora mais a tese central dividindo a redução da violência em 6 movimentos principais e cumulativos:

  • Processo de pacificação: transição de sociedades de caçadores-coletores para civilizações com cidades e governos, o que diminuiu as disputas por território e transferiu para um mediador o uso da força.
  • Processo Civilizador: a consolidação de pequenos entes (como os feudos) em grandes territórios, que ampliou a abrangência do movimento anterior.
  • Revolução Humanitária: impulsionada pelos ideais iluministas de igualdade e respeito ao ser humano, passa-se a valorizar a vida e a existência humanas. Além disto, através da disseminação da cultura através das artes (literatura, teatro, música), aproxima povos antes distantes, que poderiam se ver como potenciais inimigos.
  • A longa paz: o período que se segue após a segunda guerra, onde os estados se convencem de que um acordo ruim é mais vantajoso do que uma boa briga em praticamente 100% das situações.
  • A nova paz: o período pós guerra-fria, onde os conflitos “menores” (guerras civis, genocídios, repressão por governos autocráticos e ataques terroristas) vêm reduzido.
  • Revoluções dos direitos: ocorre em paralelo a longa-paz e a nova-paz, e diz respeito aos direitos básicos (aqueles do iluminismo) estendidos a grupos minoritários e/ou identitários (LGBTQ, mulheres, crianças, dos animais, entre outros) que talvez antes não fossem abrangidos.

Nos capítulos 8 e 9 ele aborda quais seriam prováveis causas biológicas para a violência (capítulo 8 – demônios interiores) e para a não-violência (capitulo 9 – anjos bons).

Finalmente, no último capítulo, a conclusão que já vinha sendo desenvolvida ao longo dos demais capítulos, com as cinco principais forças históricas responsáveis pelos processos de pacificação:

  • O Leviatã – a ascensão do Estado-nação moderno e das forças policiais e judiciárias deste Estado que detém o “monopólio do uso legítimo da força”, o que inibe os ataques exploradores, o impulso de vingança e retaliação (inclusive preventiva) e a resolução de conflitos através da violência.
  • Comércio – o aumento do progresso tecnológico que permite aumentar as redes de comércio e comunicação a distâncias enormes, cobrindo basicamente todo o planeta. Isto torna todo mundo em provável parceiro comercial que vale mais vivo que morto.
  • Feminização – crescente respeito pelos “interesses e valores das mulheres”, que são mais avessas a resolução de conflitos através da violência, tendem a ter um respeito maior pela vida e geralmente são menos impulsivas quando colocadas em situações de pressão/perigo.
  • Cosmopolitismo – o surgimento de forças como a alfabetização, a mobilidade e a mídia de massa, que expande o círculo de simpatia das pessoas além das nações ou grupos étnicos.
  • A Escada Rolante da Razão – causado basicamente pelos mesmos fatores que o cosmopolitismo / expansão do círculo de simpatia, mas diferindo neste no sentido de que é um movimento mais racional, ao considerar os interesses de outros e ignorar crendices e superstições.

O livro é muito bom, mas achei ele muito longo. Poderia ter feito igual ao Harari e quebrado em dois ou três volumes. Mas apesar disto é o livro que eu gostaria de ter escrito.

A propósito, Baader-Meinhof é como ficou conhecida a Fração do Exército Vermelho (Rote Armee Fraktion, em alemão, ou RAF), grupo de extrema-esquerda da Alemanha Ocidental formado na década de 70 e que tinha entre suas principais características atentados e sequestros “cinematográficos” afim de chamar a atenção da mídia. Pode-se dizer que eles foram os precursores do tipo de atentados terroristas que viriam a ser realizados à partir de então, com o intuito de gerar o máximo de terror a um maior número de pessoas possíveis através da difusão de suas ações na mídia (imagina eles em termpos de internet!). O apelido do grupo vem do nome de dois de seus líderes: Andreas Baader e Ulrike Meinhof que eram tão famosos que tinham até fãs, como os grupos de rock à época. Existe um livro muito interessante, chamado Televisionários, que conta a história do grupo.

Be happy 🙂

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