The New Geography of Jobs – Enrico Moretti (5/2019)

Enrico Moretti, economista italiano e professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, faz uma análise neste livro das mudanças recentes no perfil da economia americana e em como estas mudanças têm influenciado os empregos. De início, ele descreve as duas principais mudanças ocorridas à partir do século passado, sendo a primeira à partir de uma economia fortemente baseada na agricultura para uma economia manufatureira, sobretudo durante e logo após a segunda grande guerra. Esta mudança gerou um salto na qualidade de vida da população americana, tanto por conta do incremento na produtividade e consequentemente na renda média das famílias, quanto pelo barateamento do preço de produtos manufaturados.

Aqui ele traz à tona um fato bem importante: normalmente quando se fala em aumento de renda é difícil mensurar os aumentos relativos ao barateamento de bens e serviços, especialmente porque eles mudam muito em pouco tempo. Porém este “ganho” não deve ser desprezado. Ele traz alguns dados referentes à quantidade de carros por habitantes e de televisores por casa, que aumentaram exponencialmente entre as décadas de 50 e 70, ou seja, ficaram mais acessíveis para mais gente.

Depois ele fala da segunda grande mudança, que foi a migração das manufaturas para países em desenvolvimento e a mudança no perfil de emprego nos EUA para o setor de pesquisa e desenvolvimento e inovação, ocorrida à partir da década de 80, mas com uma forte aceleração durante a década de 90. Apesar desta mudança beneficiar o país como um todo (e até outras nações), ela aumentou as diferenças dentro do país, especialmente as geográficas.

Em uma economia baseada em manufatura, as regiões mais atrativas para a criação de um negócio são relacionadas à logística: proximidade das fontes de matéria-prima, de canais de escoamento e infra-estrutura. Neste perfil de economia, é mais fácil desenvolver determinada região, já que basta prover a infra-estrutura, barateando assim os custos logísticos. Porém, quando há a mudança para o perfil de inovação as coisas começam a ficar mais complicadas.

Através de vários exemplos, ele demonstra como as empresas atuantes em inovação se desenvolvem em conjunto, dentro de um ecosistema, que ele denomina de “innovation clusters” (quando analisa a perspectiva das empresas) e “brain hubs” (quando analisa o capital humano). A disponibilidade de matéria-prima e infra-estrutura é pouco determinante para o desenvolvimento destes clusters, já que a matéria-prima agora é o conhecimento (human capital). Porém, estes clusteres apresentam poucas razões objetivas para iniciarem e se desenvolverem e existe uma interdependência entre demanda e oferta: os melhores cérebros tendem a se moverem para os locais onde existem mais empresas, enquanto as empresas tendem a se instalarem onde existem mais cérebros. É o velho e famoso dilema da Tostines!

Dois conceitos bem importantes para a formação de um cluster são o efeito denominado “knowledge spillover” e a alta densidade do mercado (market thickness). O knowledge spillover pode ser traduzido ao pé da letra como transbordamento de conhecimento, e acontece porque quanto mais conhecimento existe num lugar, mais conhecimento tende a ser gerado, já que quando se agrega mais cérebros trocando conhecimento, o resultado é maior do que a soma do que estes indivíduos produziriam sozinhos. A densidade do mercado é entendida à partir da quantidade de demanda e oferta: se houver pouca oferta E pouca demanda, a chance de que “matches” ocorram é bem menor do que se houver bastante oferta E bastante demanda, mesmo que ambas estejam equilibradas (oferta = demanda) nas duas situações.

É mais ou menos assim: você vai vender um carro e vai num local onde só tem uma pessoa querendo comprar um carro. A chance de um negócio acontecer é bem menor do que em um lugar onde existam 100 pessoas querendo comprar um carro, mesmo que existam outras 99 pessoas querendo vender um carro (concorrência).

A boa notícia é que, por conta destas características, estes clusteres não são facilmente replicáveis, ou seja, dificilmente o movimento de migração para outros lugares por conta de custos que ocorreu com as manufaturas deve ocorrer. Pelo contrário: empresas nascidas fora de clusteres tendem a se mudar para algum cluster. E além disto eles têm um efeito multiplicador maior do que manufatura: os salários nestes clusteres tendem a ser maiores do que nos locais de perfil manufatureiro, e tanto os trabalhadores diretos (os tais “cérebros”) quanto todos os demais trabalhadores destes clusteres tem uma renda acima da média nacional.

Advogados, médicos, professores, garçons, frentistas, mecânicos, pedreiros: todos se beneficiam destes clusteres. De acordo com os dados do autor, trabalhadores com high school completo (equivalente ao segundo grau no Brasil) costumam ganhar mais nestes clusteres do que trabalhadores com nível universitário em outros locais. E isto se “cascateia” para os outros níveis, inclusive com trabalhadores menos qualificados colhendo proporcionalmente mais benefícios do que os altamente qualificados, como por exemplo, através do uso de serviços públicos melhores, que são financiados através de impostos. Como existe progressividade de imposto nos EUA, quem ganha mais paga mais imposto, mesmo que todos usufruam igualmente do benefício (tranferência de renda).

E ai começa o primeiro problema observado: isto está criando um abismo geográfico, com regiões muito ricas, algumas muito pobres e algumas poucas no meio do caminho (ainda não viraram um brain hub e podem tanto vir a se tornar um quanto não). O segundo problema é relativo à gentrificação, que acaba expulsando especialmente os mais idosos dos locais onde estes hubs se concentram, já que a aposentadoria deles não consegue acompanhar os custos de se viver nestes locais.

No último capítulo Enrico apresenta algumas ações que as sociedades podem tomar para fomentar estes clusteres (sem no entando garantir seu desenvolvimento), e a resposta não podia ser mais óbvia: investimento em educação (especialmente em ciências, tecnologia, engenharia e matemática, o famoso STEM) e em pesquisa e desenvolvimento (especialmente pesquisa de base).

Uma ótima leitura para entender as mudanças que ocorreram não só nos EUA, mas no mundo todo, já que toda a economia global tem sido influenciada por elas!

Be happy 🙂

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