Antes de falar sobre o livro em si, vou primeiro fazer o “disclaimer”: eu acho que as pessoas deveriam ter autonomia para fazerem o que quiserem com os seus corpos e suas vidas, desde que as decisões sejam tomadas dentro de plenas capacidades mentais e sem pressões externas. E isto inclui até abdicar da própria vida em si.
Este romance, que tem como subtítulo “tudo menos ser amortal”, trata justamente da questão de até quando devemos prolongar a vida, ou no caso a sobrevida, de pessoas com doenças terminais ou em idade avançada. O livro conta a história de Lúcia, encarregada de cuidar da sua mãe, quase centenária e em estado avançado de Alzheimer.
Basicamente todo o romance gira em torno do sofrimento e da perda de dignidade da mãe da narradora, mas também do sofrimento e da perda de dignidade e liberdade do familiar (geralmente uma mulher) responsável pelos cuidados, já que internar em uma instituição ou então contar somente com profissionais seria um absurdo (segundo a cultura brasileira, pelo menos). E interromper a vida, mesmo a própria, é uma heresia (“só quem pode tirar a vida é Deus!”).
Em alguns momentos, por conta do mote e das discussões filosóficas, me lembrou o maravilhoso As Intermitências da Morte, do Saramago.
Apesar do assunto denso, a autora conseguiu colocar mesmo as situações mais “pesadas” de uma forma que, acima de tudo, nos faz refletir. Talvez o fato de Betty ser psicanalista tenha influenciado bastante. Eu particularmente gostei do livro, mas não sei se recomendaria para todo mundo. Acho que poucas pessoas estão preparadas para este tipo de reflexão.
Be happy 🙂