Francis Fukuyama é professor, escritor e cientista político e econômico. Muito famoso por sua defesa do liberalismo como forma de organização social, foi ele quem logo após a queda do muro de Berlin e da URSS decretou “a vitória do liberalismo”. Porém neste livro ele faz uma análise da ascenção recente de governos não-liberais, à direita (Turquia, Hungria e EUA, entre outros) e à esquerda (Venezuela, Russia), que colocam em risco as sociedades liberais. Ele tenta entender, da perspectiva do indivíduo, o que tem causado uma adesão em massa à estes movimentos iliberais que tanto ameaçam as democracias, inclusive as bem estabelecidas, como EUA e Reino Unido.
Mas antes de continuar, primeiro é preciso definir o que é o liberalismo clássico como filosofia de vida, e não somente a sua aplicação em economia. A filosofia liberal é apenas a filosofia do “viva e deixe viver”. Para que ela exista, todo indivíduo deve ser responsável pelas decisões que influenciam sua vida. Para isto ocorrer, todos devem ser tratados com igualdade, dignidade e respeito. A liberdade é o bem maior e deve ser defendida a todo custo. Um outro ponto importante a se frisar é que, de acordo com os “pais” do liberalismo, um indivíduo sozinho nao é capaz de garantir estes direitos, precisando se associar a outros indivíduos (no que pode se dado o nome de sociedade, cuja forma organizada normalmente resulta num Estado) afim de de fazê-lo.
Quando Fukuyama fala das democracias liberais isto engloba desde as sociais-democracias da Europa até a liberal-democracia norteamericana. O que define uma liberal-democracia, no conceito mais amplo do autor, é a premissa de que todos os seres humanos são iguais, todos devem ter as mesmas oportunidades e todos devem ter o máximo de liberdade possível. E para que isto ocorra no convívio em sociedade, a democracia é, até hoje, a melhor forma encontrada de organização social. Qualquer restrição às liberdades e qualquer ameaça à democracia acabará caindo ou no fascismo (autoritarismo à direita, que segundo Fukuyama, havia sido derrotado na segunda guerra) ou no socialismo (autoritarismo à esquerda, que havia sido derrotado quando da queda da URSS).
Porém, segundo o autor, tanto as sociais-democracias quanto as liberais-democracias têm falhado em suprir a necessidade que as pessoas têm de se sentirem parte de algo maior e de serem respeitados como invíduos. Os primeiros têm cada vez se concentrado em defender minorias “cada vez menores”, inclusive criando uma certa competição entre estas minorias é esquecendo que a sociedade e formada nao só por minorias, mas também por uma “maioria” que pode sentir colocada em segundo plano. Enquanto isto, os segundos se focaram na eficiência dos mercados achando que o bem estar financeiro seria suficiente e esquecendo que dinheiro só satizfaz os dois degraus mais baixos da famosa Pirâmide de Maslow.
O resultado está ai para todo mundo ver: bastante gente que, apesar da situação financeira confortável, se sente preterido em função de determinados grupos e que se acha no direito de ter uma posição privilegiada. Estas pessoas, que são maioria nas sociedades, são um alvo fácil para discursos nacionalistas ou religiosos que promovem justamente a segregação, afinal de contas, “nosso grupo” é melhor do que todos os demais, seja porque somos homens e/ou héteros e/ou brancos e/ou cristãos e/ou não-estrangeiros… E ai acabam partido para a tal democracia “iliberal” (numa tradução livre minha, uma “ditadura da maioria”), querendo impor seus valores para toda a sociedade (“as minorias que se curvem…ou simplesmente desapareçam”), colocando assim em risco os principais conceitos da filosofia liberal (de igualdade e liberdade) que deveriam reger as sociedades democráticas.
É um bom livro para tentar entender toda esta onda nacionalista que vem ocorrendo há pelo menos uns cinco anos e que, infelizmente, parece estar mais próxima de se espalhar do que de se retrair.
Be happy 🙂
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