Este já é o terceiro livro do Parral que eu leio (veja as outras resenhas aqui e aqui) e cada vez mais fico impressionado com sua capacidade de perceber o mundo, organizar idéias e, principalmente, colocá-las no papel. Você pode até discordar de suas posições ou teorias, mas nunca negará que elas podem fazer sentido e que são muito bem explicadas e fundamentadas.
Neste livro, que foge dos outros dois por não ser um romance filosófico, ele discorre um pouco (bastante!) sobre os motivos que levaram o ser humano, o único dos seres vivos capaz de ter consciência da sua existência, de sua perenidade e de ser capaz de modificar o meio em que vive para adaptá-lo conscientemente às suas necessidades, ao invés de usar todas estas faculdades para viver de uma forma plena, em perfeito convívio com seus pares, com outros seres e com o meio, prefere subjugar os pares, exterminando no processo os demais seres e destruindo o meio. Nota: “viver plenamente” é o nome que eu dou para “aproveitar nossa efêmera passagem neste mundo da melhor maneira possível, sem interferir negativamente na vida dos outros”.
Partindo do princípio dos conceitos Darwinianos (A Origem das Espécies é o próximo da lista!) da manutenção e evolução da espécie, de que todos os seres estão aqui para perpetuar sua espécie, transmitindo o seu gene e, no conjunto de toda espécie, melhorando sua genética para que as próximas gerações da espécie sejam melhores (mais adaptadas ao meio) do que a atual, ele faz uma análise do que poderia ter acontecido no meio do caminho que fizesse com que, apesar da clara evolução biológica, nossa evolução como individuos racionais se deu por vias tortas, através do que ele chama de “perfil degenerado”, que se multiplica através da memética (a repetição de padrões comportamentais).
Inicialmente, este perfil degenerado conseguiu se propagar através da violência (vários “machos” rejeitados pelas fêmeas se juntaram para, em conjunto, eliminarem o macho alfa e assim dividirem o “butim” do grupo entre si). Com o passar do tempo, não bastava mais à este ser ter a melhor comida e as melhores fêmeas para passar seu gene adiante e quando o homem deixou de ser nômade, ter mais posses era o “diferencial”. Nesta época a maioria dos machos já era composta deste perfil e os mais inteligentes/ardilosos sabiam que já não seria mais possível convencer os demais a atacar o “macho alfa virtuoso”, que já estava em extinção, e então começou a criar formas de subjugar os demais através de artimanhas intelectuais, sendo as religiões e as ideologias políticas as mais comuns (mas não podemos esquecer também os nacionalismos extremos, afinal de contas, “Deus” e a Pátria são responsáveis pelos maiores massacres que ocorreram ao longo da história).
Parral prega no livro que, se queremos que no futuro a humanidade consiga conviver em paz com seus pares, com os outros seres e sem esgotar os recursos do nosso planeta, alguma coisa deve ser feita agora (e já estamos atrasados, na verdade) para que mudemos este perfil. Para tanto os pais (genitores) devem ser preparados para criar melhores pais (suas proles), que criarão melhores pais, reproduzindo também memeticamente, um bom perfil de ser humano.
O problema é que as próprias instituições criadas para subjulgar o perfil degenerado lutam contra. É só ver como as religiões pregam contra a implementação de educação científica, pensamento cético, além de lutar contra meios contraceptivos, de interrupção de gestações indesejadas ou qualquer tipo de planejamento familiar.
Achei muito interessante também, aproveitando este gancho das religiões, a teoria dele que diz que o ser humano pouco se preocupa com o meio ambiente (nosso planeta, nossa casa), em muito por conta das religiões, pois, se aqui deve ser um local para expiarmos nossos pecados para que possamos, enfim, merecer um paraíso em outro mundo (outra vida), além dele ser provisório e não precisarmos nos preocupar com o planeta, ele também deve ser (ou parecer) um “inferno”.
Mas voltando ao assunto principal, em seus pensamentos, Parral diz até que é dever de uma sociedade eventualmente impedir que alguns indivíduos sejam responsáveis por criar seus filhos, já que eles não teriam condições de criarem seres melhores para que tenhamos um mundo melhor.
Para concluir, achei bem interessante o conceito de que, o sucesso de um ser humano (homem ou mulher), é ver sua prole ser melhor do que ele, tanto no sentido físico, quanto intelectual, de caráter, etc. Significa que sua missão de perpetuar e melhorar a espécie foi cumprida com êxito!
É por meio do raciocínio que avaliamos o mundo, a vida e a realidade, e tomamos decisões sobre o que fazer ou deixar de fazer para obtermos o desempenho satisfatório nessa efêmera jornada que é nossa vidinha nessa vastidão de tempo e espaço a que temos o privilégio único em toda a eternidade de perceber e conceber para desfrutar a experiência única de se saber parte de tão extraordinário fenômeno, mesmo por tão pouco tempo e em tão pouco espaço. Por mais que exploremos a dimensão do nosso planeta e experimentemos o máximo de sensações que a vida nele possibilita, será sempre uma experiência efêmera e pobre em relação ao que fica por viver – dentro e fora dos seus limites, aos quais, intuímos poder transcender, e muito nos superamos para efetivar desta perspectiva. Mesmo assim, somos retirados de cena no melhor da festa, e muitas vezes, ainda a caminho da festa…
Be happy 🙂
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