Eu tenho uma relação de amor e ódio com o Frangó. Vivi praticamente minha vida toda na Freguesia do Ó e conheço o bar há pelo menos 20 anos. Foi um dos primeiros bares que eu frequentei e no qual tive meu primeiro contato com cervejas importadas. Era o bar que eu e meus amigos frequentávamos às sextas feiras depois do trabalho (por já estar perto de casa) e no qual eu chegava e sabia que sempre teria um lugar para sentar e era só pedir uma caipirinha e uma cerveja e relaxar da semana árdua de trabalho.
Porém, no início de 2002 isto mudou. O empresário Washington Olivetto havia sido sequestrado no final de 2001 e, após 53 dias no cativeiro, ao ser libertado, respondeu aos repórteres, quando questionado sobre o que mais sentiu saudades “das coxinhas do Frangó”. Pronto, ai acabaram com o “meu bar”.
Por conta desta propaganda involuntária, o que era apenas um boteco de bairro, conhecido pelos “locais” e por alguns poucos aficcionados em cervejas (o Frangó foi um dos, senão o primeiro, bar a oferecer uma carta com cervejas especiais, sendo que hoje constam cerca de 500 nesta carta!) virou um hit e tudo quanto é gente, de tudo quanto é parte da cidade (quando não de outras cidades) quer conhecer o Frangó.
Para atender as demandas de seu novo público, o bar sofreu algumas modificações: cobriu uma área aberta nos fundos para acumular mais mesas, adquiriu um imóvel ao lado que funciona parte como depósito e parte comportando mais mesas, aboliu o som ao vivo que acontecia, eventualmente, às sextas e sábados e, para mim, o que foi pior, ficou impessoal.
Além disto, devido à alta procura, nas noites de sexta e sábado, e nas tardes de sábado e domingo, é praticamente impossível que não exista ao menos uma pequena espera por alguma mesa.
Afora isto, é um bar bem legal e interessante. Fica instalado num casarão do século 18, ao lado da Igreja da Matriz de Nossa Senhora do Ó, situado no Largo do mesmo nome. A existência do Largo e seus imóveis em volta (tombados pelo patrimônio histórico da cidade), a maioria deles dedicados à gastronomia, faz com que o largo pareça uma cidade do interior e traz um ar bucólico. Eventualmente se pode presenciar novenas e procissões na igreja, o que remete ainda mais à este clima interiorano.
Mas o que impressiona realmente no bar é a carta de cervejas, que é realmente impressionante pela quantidade e variedade, sem contar as raridades encontradas. Impressiona mais ainda saber que, há pelo menos 20 anos este bar se dedica à cervejas especiais, muito antes da moda atual das cervejas gourmet (moda que espero que deixe de existi para se tornar um hábito).
Quanto ao cardápio, além das famosas coxinhas (confesso que não sou muito chegado nelas, pois não gosto muito de catupiry), constam outros petiscos comuns de bar (pastéis, croquetes, frango à passarinho, etc) e no almoço, são servidos pratos à la carte de muito boa qualidade também (para quem gosta, dizem que a feijoada, às quartas e sábados, é bem suculenta).
Duas sugestões importantes: chegue cedo (se for para o almoço, antes do meio dia, se for da tarde para a noite, antes das 18:00 hrs) e vá de táxi, pois geralmente existem comandos às sextas e sábados na saída do largo (por conta das mãos de direção das ruas, não tem como fugir, além de tudo é mais seguro e hoje em dia mais barato).
Acho que talvez a minha birra atual com o Frangó, que faz com que eu só vá até o bar quando insistam muito, ou quando algum “forasteiro” resolve conhecer e me pede para ciceroneá-lo, tenha a ver com um sentimento de posse, pois afinal, não é mais “meu” bar, o Frangó hoje é de todos.
Onde: Frangó (Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó, 168 – Freguesia do Ó – SP)
Quando: 22/02/2014
Bom: carta de cervejas e petiscos
Ruim: preço e atendimento impessoal
Página: http://frangobar.com.br/
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