Arquivo anual: 2016

Botecando #89 – O Embarxador – Beer & Food – São Paulo – SP

Inauguração do Embarxador

Inauguração do Embarxador

Quando criei esta “seção” a intenção era dar dicas de bares que eu gosto, ou seja, não é algo impessoal, algo para ser “imparcial”. Até porque, não tem como ser imparcial no quesito boteco. Então já que nunca tive esta proposta, vou ser parcial pra caralho para avaliar O Embarxador!

O Embarxador é um bar/boteco recém inaugurado na Zona Norte, numa travessa da Alfredo Pujol e é resultado da vontade de três apaixonados por boteco, cervejas especiais, petiscos, e tudo o que diz respeito à esta cultura, de montar um bar não apenas para “ganhar dinheiro”, mas de criar um boteco que eles próprios gostariam de frequentar.

Olha eu ajudando a tirar uns chopps na inauguração

Olha eu ajudando a tirar uns chopps na inauguração

O imóvel, apesar de pequeno, foi bem montado e aproveita bem todos os espaços. A decoração foi planejada para ser aconchegante, sem deixar de ser um boteco, mas também sem ser “largado”. De um lado está o balcão, com as 5 torneiras de chopp: uma de Heineken e mais quatro que variam entre estilos e marcas, sempre nacionais. Do outro uma bancada para os clientes apoiarem os copos e logo acima alguns “caixotes” que fazem a vez de prateleiras, com as cervejas disponíveis para levar para viagem. A maioria delas também está disponível para consumo na hora. Caso não esteja, é só pedir que eles colocam pra gelar. Apesar do espaço restrito, a carta de cervejas foi montada para cobrir a maioria do dos estilos.

No quesito comida, além da ótima coxinha, carro chefe da casa, de acordo com o cardápio do dia pode-se provar um caldinho, um bolinho de carne, uma casquinha de siri, ou então o ótimo pernil no pão de queijo, muito famoso em Minas Gerais, mas difícil de se encontrar em São Paulo.

O atendimento é feito pelos próprios donos e por isto pode esperar ser muito bem tratado. Eventualmente alguma apresentação de artistas (MPB e Rock Nacional) ocorre na casa.

Para quem procura um local na Z/N para tomar umas cervejas especiais / artesanais, para beliscar alguns petiscos saborosos ou mesmo para dar uma passada e levar umas cervejas para casa (ou encher o growler), é só dar um pulo e falar que é amigo do Ruivo que talvez até consiga um desconto (o amendoim de graça é garantido sem precisar citar meu nome…haha).

Pra ficar completo e batizar o bar, só está faltando nosso amigo Zé ir dar uma vomitada por lá…..kkkkk

P.S. Não, o bar não é meu, mas me sinto como “sócio honorário” e, parafraseando aquele adesivo que colam em carro: não sou dono do bar, mas sou amigo do dono!!!!

Onde: O Embarxador (Rua Embaixador João Neves da Fontoura, 306 – Santana – SP)
Quando: 28/05/2016
Bom: comida, bebida, atendimento, etc
Ruim: as prateleiras da geladeira são muito frágeis….hahaha
Facebook: https://www.facebook.com/oembarxador/?fref=ts

Be happy! 🙂

Algumas das guloseimas: bolinho de carne, coxinha e o saboroso pernil no pão de queijo!

Algumas das guloseimas: bolinho de carne, coxinha e o saboroso pernil no pão de queijo!

Botecando #88 – Bar do Antenor – São Paulo – SP

Bar do AntenorO Bar do Antenor é um tradicional “pé-sujo” (no melhor sentido da palavra) da região da Lapa / Vila Romana (inclusive havia um bloco carnavalesco que usava o bar como quartel general). Após o falecimento do Seu Antenor, ele ficou fechado por alguns meses até a familia receber a proposta de reabrir o Bar, mantendo o nome. Os novos proprietários fizeram alguns ajustes, deixando o bar um pouco menos “botecão”, mas nada que tirasse a alma do bar (uma vez pé-sujo, sempre pé-sujo!).

No dia em que fomos uma dupla (muito boa!) que tocava rock (principalmente internacional, especialmente grunge: Pearl Jam, STP, Nirvana, etc) animava a noite. O atendimento é ainda um pouco atrapalhado, mas devem se acertar com o tempo e a clientela presente (que parecia ser toda local) até se divertia com a atrapalhação dos garçons.

A cerveja (Heineken) estava sempre bem gelada. Além dela, ainda havia opções de Original, Skol, Brahma e até Eisenbahn (a Brasil Kirin mandou muito bem na idéia de popularizá-la). Um dos destaques fica por conta da comida, que além de porções (na hora do almoço também tem PF), oferece espetinhos assados na hora. A carne e os acompanhamentos (farofa e vinagrete) estavam muito bons.

É uma boa opção para um happy hour, almoço, etc na região da Lapa

Onde: Bar do Antenor (Rua Tito, 765 – Vila Romana – SP)
Quando: 21/05/2016
Bom: comida e música ao vivo
Ruim: ainda falta alguns ajustes, especialmente no atendimento
Facebook: https://www.facebook.com/pages/Bar-Do-Antenor/419588874854030?fref=ts

Be happy! 🙂

Cien Años de Soledad – Gabriel García Márquez (07/2016)

Cien-años-de-soledadEste foi o primeiro livro em espanhol que eu li e apesar de eu ter conseguido uma leitura fluída, tendo que recorrer poucas vezes ao dicionário (algo que não me espanta, já que consigo assistir até filmes do Almodovar, por exemplo, sem legendas), mesmo assim posso ter perdido um ou outro detalhe.

Mas com certeza não foi nada que tirou o brilho desta estória fantástica. Quando eu escrevi a resenha de “O Amor nos Tempos do Cólera” eu citei que apesar de o livro ser bom, eu tinha criado expectativas muito altas, que acabaram sendo frustadas (mas repito: o livro é bom). Então, desta vez baixei um pouco a expectativa e descobri um livro fantástico (inclusive no sentido de que é uma estória fantasiosa).

Cien Años de Soledad conta a saga da familia Buendia e do povo de Macondo, uma pequena cidade em algum lugar da América Central continental. A história de vida de cada uma das sete gerações dos Buendia se confundem com a própria história do povoado, desde a fundação da cidade pelo patrono da família, até a sua “desaparição” do mapa, ao mesmo tempo em que o último Buendia também morria, passando principalmente pelas Guerras na qual o Coronel Aureliano Buendia se envolve e nas quais acaba envolvendo toda a cidade, e também pelos dias de glória da passagem da Companhia Bananeira, que também encontram paralelo com os dias de glória dos gêmeos “Segundo”.

A estória tem de tudo: fantasia, romance, guerra, pseudo ciência, misticismo, dramas e tragédias. Ainda senti um pouco o problema do Gabo de ficar fazendo muitas idas e vindas no tempo, se preendendo mais ao personagem do que a uma linha cronológica, problema que em “Cien Años” se miniminiza pelo fato da maioria dos personagens ter uma vida “curta” do ponto de vista em que é importante para a estória (com exceção de Úrsula, a matriarca, que acompanhou os 100 anos, os demais personagens tem relevência por no máximo 20 anos), mas por outro lado se intensifica devido à quantidade de personagens e pelo fato dos nomes se repetirem ao longo das gerações. Mas este segundo ponto (repetição de nomes) acho que foi uma brincadeira proposital do autor. Mas que dá um trabalho para ligar os personagens, isto dá, e o interessante é ter uma árvore da família à mão (na edição que eu li, tinha).

O livro tem tantas estórias e aguça tanto a imaginação que durante a leitura eu sempre me perguntava do porque ainda não terem transformado em uma série de TV. E precisaria ser série, com pelo menos uma temporada para cada geração, pois a estória não se comportaria em apenas um filme. E ainda ficava imaginando quem poderia ser o diretor de alguns episódios: o  Tim Burton ou o David Lynch para as partes fantásticas, o Quentin Tarantino para as cenas de violência, etc.

Be happy 🙂

Botecando #87 – Boteco Todos os Santos – São Paulo – SP

Todos os Santos 02Sempre que tenho passado ali na Aspicuelta eu notava que um bar ao lado do Companhia da Cerveja (que é muito ruim!) estava sempre cheio e imaginava que fosse no mesmo estilo. E por puro preconceito demorei um pouco para conhecer o Boteco Todos os Santos. Ainda bem que alguns amigos compartilharam fotos e resolvi “arriscar”. Grata surpresa!

O boteco (e aqui cabe a palavra “boteco” mesmo) fica num imóvel que devia ser uma casa, por isto tem aquele formato bem mais comprido do que largo da maioria dos bares da Vila. A decoração é bem simplista, sem nada que se destaque, exceto por uma bela árvore (carregada de orquídeas) que foi preservada na área da frente, que é onde acontece o samba aos sábados.

Todos os Santos 03O samba é um dos principais destaques, com uma roda que executa o melhor do samba de raiz. Aqui fica uma dica para quem vai procurar algum samba mas não gosta de “pagodinho”: veja se no grupo tem alguém com um violão de 7 cordas. Se tiver, pode ir fundo (e saia correndo se tiver teclado…hahaha). Só estranhei que nos intervalos do samba rolava sertanejo universitário. Acho que sertanejo universitário não combina nem com pagodinho, imagina com samba de raiz!

Outro destaque vai para o atendimento: hostess, gerente, garçons, seguranças. Todo o staff é muito educado e atencioso. Mais do que isto, são muito simpáticos e atendem com aquele sorriso genuino no rosto.

No quesito bebidas, eles oferecem as populares mesmo, e como eu sempre digo, cada situação pede um tipo de bebida. Ninguém vai tomar uma Imperial IPA debaixo de um sol de 40 graus numa praia do Nordeste e, para esta situação, uma Skol estupidamente gelada, para refrescar e encher a cara, serve muito bem ao propósito. No samba também é assim: cerveja comum geladíssima, intercalada com caipirinhas (de cachaça, limão, gelo e açucar, fora isto não é caipirinha!) que também é confeccionada com maestria pelo barman, com aquele equilíbrio perfeito entre os ingredientes.

Todos os Santos 04Quando algum bar ou restaurante aqui em São Paulo oferece torresmo no cardápio já sai com uma nota 10 na minha avaliação e só vai perder pontos se for muito ruim. No cardápio não havia torresmo na parte de petiscos, mas como era dia de feijoada e havia como opção de guarnição, resolvi perguntar. O barman nem pensou meia vez e falou “a gente arranja”. Voltou depois de 10 minutos com uma bela porção daqueles torresmos bem carnudos (e peludos, claro….kkkk).

Este entrou na minha lista de bares com samba para recomendar para os outros, inclusive à frente do Traço de União e do Bar Samba.

Onde: Boteco Todos os Santos (Rua Aspicuelta, 585 – Vila Madalena – SP)
Quando: 07/05/2016
Bom: atendimento, samba e, claro, torresmo!
Ruim: sertanejo no intervalo
Site: http://www.botecotodosossantos.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/botecotodosossantos/?fref=ts

Be happy! 🙂

Todos os Santos 01

Botecando #86 – Olaria Bar & Grill – São Paulo – SP

Olaria

Nunca tinha ouvido falar no Olaria até a mulher de um amigo marcar uma farewell party pois este amigo estava indo estudar um período nos EUA. E me surpreendi positivamente em quase todos os quesitos. O imóvel em sí é bem legal, com uma decoração voltada à música e é bem amplo.

O bar funciona naqueles esquemas de espetinhos rodando e tem espetos para todos os gostos. Além disto o cardápio também oferecia algumas porções e pratos prontos. De cervejas, acabamos ficando na Heineken mesmo, mas vi que existiam algumas opções da InBev no cardápio (Leffe, Hooegarden, etc).

Gostei bastante da música ao vivo: além do músico ter um repertório muito bom, mesclando MPB, Pop e Rock nacional, o volume estava num tom que permitia que as pessoas conversassem.

Um ponto falho da casa é o atendimento. Várias vezes fizemos pedidos e eles foram “esquecidos”, ou chamávamos os garçons e eles não ouviam. Mas ao menos os garçons sempre foram prestativos e educados.

Não é aquele baita bar que dá vontade de voltar, mas para um happy hour ou comemoração na região da Avenida Paulista está mais do que justo.

Onde: Olaria Bar & Grill (Rua Treze de Maio, 1802 – Bela Vista – SP)
Quando: 28/04/2016
Bom: espetos e música ao vivo
Ruim: atendimento um tanto atrapalhado
Site: http://www.olariabar.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/olariagrill/?fref=ts

Be happy! 🙂

Botecando #85 – Empanadas Bar – São Paulo – SP

20160415_221303Um dos veteranos da Vila Madalena, o Empanadas Bar é muito famoso pelos quitutes que dão nome à casa e que faz muita gente passar por ali somente para levar para viagem. Já com mais de 30 anos, é um espaço informal, com decoração baseada em pôsteres de peças de teatro e filmes (muitos deles produções brasileiras da década de 80), flâmulas e bandeiras de times de futebol, canecas de festas e um monte de bugiganga que dá um ar kitsch ao local. Fica aquela cara de boteco de bairro, que o dono vai acumulando e exibindo presentes que ganha dos frequentadores e souvenirs de viagens (tipo “fui à Mongaguá, lembrei de você”). Pessoalmente eu acho legal esta “breguice” (no bom sentido óbvio), especialmente quando ela é espontânea (caso do Empanadas) e não “forçada” (como no Casa 92, por exemplo).

Além das ótimas empanadas, no cardápio há ainda boas opções de lanches e de petiscos. A cerveja (Original, Serramalte, Brahma, Skol, Antártica, Heineken, etc) vem sempre “estupidamente gelada”, o que pode afastar os “xiitas da cerveja” (ou beerchatos), mas cabe ao propósito de matar a sede e encher a cara.

Um dos destaques fica por conta da caipirinha, muito bem preparada e carregada no gelo, o que é bom para dias quentes. O atendimento é também sempre acima da média e é um dos destaques do bar.

O Empanadas é aquele bar pra ser ir de bermuda e chinelo num domingo à tarde para acompanhar um jogo de futebol em uma das várias TVs espalhadas, totalmente descontraído. Acho que esta é a palavra que melhor define o Empanadas: descontraido!

Onde: Empanadas Bar (Rua Wizard, 489 – Vila Madalena – SP)
Quando: 15/04/2016
Bom: empanadas, caipirinha e atendimento
Ruim: nada
Site: http://www.empanadasbar.com.br/
Facebook: https://www.facebook.com/Empanadas-Bar-321674657872033/

Be happy! 🙂

O Limite da Internet

LimiteRecentemente a Vivo anunciou que vai começar a exercer os limites quando as pessoas atingirem as franquias dos seus contratos de internet fixa, da mesma forma como já ocorre com a internet móvel. Isto será exercido através de cobrança adicional quando o limite for ultrapassado, da redução da velocidade após o consumo da franquia ou eventualmente até o bloqueio pode vir a ser implementado. Isto deverá ser feito à partir de dezembro, respeitando os contratos atuais e provavelmente deverá ser seguido por outras operadoras.

Primeiramente é preciso frisar que em todo contrato de internet já existe cláusula especificando qual é a franquia, mas como atualmente muito pouca gente chega a atingi-la, ela não era “executada”, já que seria mais custoso cobrar adicional de alguns poucos do que apenas “isentar” os usuários. Outro ponto a ser frisado também é que estes limites existem na maioria dos demais países.

Com a popularização dos serviços de streaming de áudio e vídeo, a tendência é que a média de dados que um usuário utiliza por mês aumente exponencialmente nos próximos anos, acompanhando o crescimento de serviços como Netflix, Spotify, e os novos que virão (a Google e a Amazon já estão desenvolvendo os seus “Netflix”). As próprias empresas que hoje são operadoras de TV à cabo tendem a virar concorrentes neste mercado.

Como a largura de banda é um recurso escasso que, para ser aumentado, exige investimentos em tecnologia e infraestrutura, as operadoras têm algumas opções para “custearem” estes investimentos: ou aumentam os custos dos pacotes ou  começam a “exercer” a franquia de dados (que repito, já existia, só não era exercida),  cobrando mais de quem consome mais e menos de quem consome menos, como acontece com 99% dos bens e serviços que adquirimos. Uma outra opção é apenas não aumentar a capacidade de banda do sistema e simplesmente não oferecer maiores velocidades para seus clientes.

Particularmente acho a alternativa escolhida é a melhor possível, tanto do ponto de vista das empresas, quanto do ponto de vista do consumidor, já que as duas alternativas (reduzir a velocidade para todo mundo, racionando assim a capacidade de banda, ou aumentar os preços) seriam mais impactantes para ambos.

A Anatel, agência que regula o setor (e falarei dela mais à frente) entende que isto vai beneficiar a maioria dos usuários, que consomem pouco de sua franquia, em detrimento de alguns poucos que hoje ultrapassam. A reação à mudança de política da Vivo gerou uma comoção e mobilizações na Internet, mas tendo a concordar com o pensamento da ANATEL e vou explicar porque fazendo alguns paralelos.

O Open Bar (ou a churrascaria rodízio)
Atualmente o modelo de negócio de internet funciona como uma churrascaria rodízio, como um buffet de preço único ou uma festa open bar: o usuário escolhe o nível de serviço, através da velocidade, e consome a quantidade de dados que melhor lhe convier. Mais ou menos como numa churrascaria, onde você poderia escolher entre ter apenas carne, ou carne e frutos do mar, e dentro daquele nível de serviço, poderia comer até estourar. Ou como numa festa open bar, onde você pode escolher ficar na área VIP, com Whisky, Vodka, Energético, Cerveja Premium, ou então na área comum, que terá Itaipava, Caipirinha de Velho Barreiro e água, porém dentro daquele nível de serviço, a quantidade é ilimitada.

Tanto a churrascaria, quanto o promotor da festa e a operadora telefônica simplesmente fazem o cálculo dos custos, colocam algum risco e o lucro em cima e dividem o valor pela quantidade de clientes. Alguns clientes farão “valer o preço pago”, consumindo mais do que se pagassem por unidade (uns 10%), a maioria das pessoas vai consumir muito próximo à média (entre 50% e 70%) e uma parcela considerável, geralmente maior do que aqueles que consomem acima, vão consumir abaixo da média, ou seja, estão gerando uma margem maior de lucro porque deixaram de consumir a parte que lhes cabia.

Para exemplificar coloco meu consumo médio dos últimos doze meses. Levando-se em consideração que em casa são 5 usuários da minha Internet, sendo que 2 deles são consumidores ávidos de Netflix (meu irmão) ou Youtube (minha sobrinha) e que eu mesmo também consumo muito os dois produtos, além de trabalhar cerca de 50% do tempo de casa (e como trabalho conectado na VPN da empresa, muitos dados trafegam pela minha rede), até que não excedi muito e consigo até identificar os picos: meses de férias, onde minha sobrinha está o dia todo em casa e em janeiro, quando resolvi subir todos os meus arquivos pessoais para o OneDrive.

Em condições normais, mesmo com o uso massivo (3 pessoas consumindo bastante e duas consumindo moderadamente), eu não ultrapassei o limite. E quando ultrapasso, nada mais justo do que pagar por este adicional do que ter alguém que trabalha fora o dia todo, consome apenas e-mail e páginas em casa, e que mesmo assim paga o que eu pago, “bancando” a minha parte.

ANATEL e suas responsabilidades
Contrariando o pensamento destes “ultraliberais” que surgiram ultimamente, infelizmente ainda existem alguns setores e mercados que precisam de regulação, já que as regras do capitalismo, especialmente no que tange à livre concorrência, não são aplicáveis em todos os casos. Basicamente estes mercados têm grandes barreiras de entrada (tecnológicas, financeiras, legais, etc) que impedem que exista uma concorrência plena, o que é sempre benéfico para o consumidor, tanto em questão de valores quanto em qualidade do serviço oferecido.

Indo nesta “toada”, muita gente prega que, afim de termos serviços de telecomunicações (telefonia fixa e móvel e internet) de qualidade a um preço justo, o mercado deve ser desregulado.

Mas ai entra uma outra função dos Estados, que podem ser exercidas tanto diretamente por ele, através de uma empresa ou um órgão do governo, ou então através de agentes privados, que serão regulados por alguma agência que regule este mercado (e vão chorar na cama os miMISESentos: uma sociedade sem Estado é tão utópica quanto qualquer Estado totalitario como os idealizados por Marx e sua gangue): prover serviços considerados essenciais para a população, como saúde, segurança, educação, transporte, saneamento básico, água, luz e, claro, serviços de telecomunicações.

A regulagem do mercado de telecomunicações (e é muito parecido com o de Transporte Público Urbano) funciona da seguinte forma: a agência regulatória permite que determinada empresa opere em uma região lucrativa, mas exige que, em troca, ela opere em uma região deficitária. Ou seja, a empresa vai ter lucro na cidade de São Paulo, por exemplo, e vai ter prejuizo em outras cidades (lembrando que a implementação e manutenção da rede é muito cara e que os custos individuais em telecomunicações são irrisórios: o preço da infraestrutura para atender 1 cliente é o mesmo para atender 10 mil!). Especialmente em municípios com numero pequeno de habitantes (menos de 10 mil habitantes, 43% dos municípios do estado de São Paulo) e/ou com densidade demográfica muito baixa (abaixo de 100 habitantes por km2, 73% dos municípios do estado de São Paulo) estes serviços só existem por conta da regulamentação.

Ou seja, o cliente da cidade de São Paulo acaba pagando um valor que encobre a infraestrutura de telecomunicações da cidade de Lutécia, no interior de SP, que é atendida somente pela Vivo, já que nenhuma outra operadora se interessou em atender seus 3 mil habitantes, sendo 2 mil em área urbana, espalhados por uma área de 918 km2 (densidade demográfica de 5,71 habitantes por km2, a terceira menor do estado).

O fato é que a desregulamentação total do mercado iria isolar estas pequenas cidades, já que provavelmente nenhuma operadora iria querer atender estas regiões ou, caso houvesse o interesse, o valor a ser cobrado afim de bancar a infraestrutura ficaria tão alto que afastaria boa parte dos clientes. O governo poderia adotar nas telecomunicações um modelo parecido com o da Saúde, onde ele fornece uma rede de atendimento (postos de saúde, hospitais, farmácias populares) para quem não pode pagar um plano privado ou médicos particulares, montando (novamente) uma Telebras? Claro que poderia, mas de alguma forma os recursos para isto deveriam ser gerados, muito provavelmente através de novos impostos em cima dos serviços similares da iniciativa privada e, no final das contas, quem vive em mercados avitários acabaria bancando o serviço para quem vive em mercados deficitários. E pior: com toda a ineficiência do Estado.

Bem, ai o querido leitor vai pensar: mas que incoerência! Ele diz que, no caso do limite da banda, é justo quem consumir mais pagar mais, mas acha certo que consumidores “privilegiados” que moram em áreas onde há demanda e concorrência subsidiem o serviço de quem mora em regiões remotas ou pouco populadas. Cada um que arque com os seus problemas: se quiser morar longe, que pague mais caro ou viva sem internet.

Infelizmente não é bem assim que as coisas funcionam. Primeiramente que de alguma forma os mercados que não são alvos da operadoras precisam ser atendidos pelo menos por telefone, ou seja, a infraestrutura deve ser criada (seja via cabo, fibra ótica, satélite, etc). Em segundo lugar justamente nestas regiões vivem as pessoas que produzem o carro chefe da nossa economia, que são os commodities (grãos, minérios, carne, frutas, etc). Se estas pessoas tiverem que pagar mais por um serviço essencial, muito provavelmente estes custos serão repassados através da cadeia de consumo.

Um outro ponto a se notar é que são justamente estas pessoas que mais necessitam da internet para fins comerciais (uso de banco, compras, etc), já que elas não tem um shopping, uma rede de lojas, um grande mercado, que podem ser acessados facilmente de carro ou mesmo à pé, porém todos os municípios são servidos pelos correios. Uma boa parte do comércio eletrônico deve servir estes municípios que seriam deficitários.

Conclusão
O sitema de internet precisa evoluir para atender às mudanças tecnologicas e de consumo dos usuários. O investimento é alto e as operadoras precisam, de alguma forma, custear este investimento. A maneira de custeio que menos impactaria um número maior de usuários é cobrar de acordo com o uso. Em mercados onde há livre concorrência, no médio para o longo prazo, a tendência é que a maioria das pessoas acabem por pagar menos (e “pagar menos” pode ser consumir mais dados a uma velocidade maior, pagando o mesmo preço ou mesmo um pouco a mais), enquanto uma pequena parcela realmente será impactada de forma maior. O problema está nos mercados/localidades que não são atendidos por mais de uma operadora. Por outro lado, nestes mercados o serviço provavelmente só existe por conta da regulamentação do mercado, ou seja, a internet nestes locais já é barata pois está sendo subsidiada pelos mercados mais atrativos.

Be happy! 🙂

Botecando #84 – Bar do Sacha – São Paulo – SP

bardosacha

O Sacha é um dos bares mais antigos ainda em atividade na Vila Madalena, acho que com uns 20 anos já, e nestas duas décadas já passou por várias fases. A primeira vez que eu fui, há uns 15 anos atrás, lembro que era um point de “pegação” famoso, especialmente aos domingos à noite. Naquela época o imóvel era menor e basicamente era um bar com um balcão central, pouco espaço para circulação e a galera se concentrava na rua.

Desde então o bar sofreu duas ampliações (a última delas recentemente), além de várias reformas, o que mudou um pouco sua cara. Hoje o bar é composto de 3 grandes salões, com uma área intermediária entre a calçada e estes salões, que poderiamos considerar como um “quintal”, além de algumas poucas mesas na calçada propriamente dita. A decoração é tão simples que passa despercebida.

O público também mudou e hoje, ao invés daquela galera pronta para a caça (a mulherada ia até de salto alto!), é formado mais por casais e grupos de amigos que vão tomar uma cerveja descontraida (de bermuda e chinelo mesmo) e comer algo. Além do que, por existirem vários telões e TV espalhados sintonizando jogos de futebol, em dias de jogos muita gente vai para assirtir às partidas.

As cervejas oferecidas são as populares (Original, Brahma, Serramalte, Heineken, etc), mas a um preço até que justo para a Vila Madalena: R$ 9,90 a garrafa de 600mls. Um dos destaques da casa, e que sempre atrai uma boa clientela no horário do almoço, especialmente aos domingos, é a oferta de cortes e preparos de carne. A Costela no Bafo acompanhada de mandioca é o carro chefe da casa, mas eu particularmente prefiro pedir o espeto misto da casa, uma tábua com maminha, lombo e linguiça assados na brasa e acompanhados de pão, farofa, vinagrete e maionese. Pena que desta vez tenham caprichado no sal (inclusive na linguiça, que já é salgada!) e que, aparentemente, a porção tenha reduzido bastante de tamanho, apesar de um pequeno aumento de preço.

O atendimento é simples, com garçons prestativos e educados, mas impessoais. Felizmente não no ponto dos botecos cheios de frescura. No mais, é uma boa pedida pra tomar umas cervejas baratas, em um lugar que dificilmente vai lotar e, eventualmente, assistir algum jogo de futebol.

Onde: Bar do Sacha (Rua Original, 89 – Vila Madalena – SP)
Quando: 10/04/2016
Bom: opções de comida e cerveja barata
Ruim: comida salgada e acima do preço pelas porções
Site: http://bardosacha.com/site/index.html
Facebook: https://www.facebook.com/pages/Bar-do-Sacha/194163343942026

Be happy! 🙂

Ahhhh!!! A Cerveja!!!!

20151210_234731A cerveja é uma bebida alcoólica carbonatada, produzida através da fermentação de materiais com amido, principalmente cereais maltados, como a cevada e o trigo. Estima-se que seja a quinta bebida mais consumida no mundo, perdendo apenas para a água, o café, o chá e o leite (nesta ordem).

Não existe uma data precisa de quando ela tenha surgido na história, mas os primeiros registros de fabricação de cerveja têm aproximadamente 6 mil anos e remetem aos Sumérios. Em seguida os Egípicios aprenderam a fazer a cerveja e o Império Romano, após o contato com a bebida no Egito foi o responsável pela expansão do produto (apesar dos Romanos tratarem a bebida como de “segunda categoria” em relação ao vinho!).

Inicialmente, a cerveja era um produto caseiro, como o pão e outros alimentos e as mulheres eram as principais responsáveis pela produção. Porém, na idade média, os conventos tomaram para sí o monopólio da fabricação da cerveja. Os monges também foram responsáveis pelo aperfeiçoamento da bebida: como eles eram os poucos que detinham a capacidade da comunicação escrita, eles puderam relatar, conservar e aperfeiçoar, ao longo de gerações, as técnicas de fabricação.

Os ingredientes
A cerveja tem como base 4 ingredientes: água, malte, lúpulo e levedura. Porém, ela pode receber outros ingredientes de acordo com a criatividade do fabricante ou das características do local onde foi produzida.

  • Água: constitui entre 90% e 95% de uma cerveja, sendo assim um elemento essencial na produção e que têm forte influência na qualidade final do produto. Nas ditas cervejas artesanais, as diferenças da água utilizada em diferentes lotes de uma mesma receita podem gerar pequenas alterações no resultado final. No caso das grandes produtoras, estas conseguem, através de processos químicos, fazer com que a água utilizada em determinada receita tenha exatamente as mesmas propriedades (acidez, quantidade de sais minerais, etc) independente da origem da água ou local de produção. Portanto, aquela história de que a cerveja de Agudos é melhor do que a de Jacareí ou Guarulhos não passa de lenda (existem outras razões para as diferenças, mas com certeza não será a água, vide curiosidades abaixo).
  • Cevada

    Cevada

    Maltes e adjuntos: o malte é obtido através do processo de geminação de cereais maltados. Este processo é controlado: estimula-se a geminação (através da água) para que o cereal produza algumas enzimas e depois interrompe-se o processo (atraves de secagem e/ou torragem). O malte mais comumente utilizado na produção de cerveja é o proveniente de cevada, seguido pelo do trigo. Através da adição de cereais não maltados, chamados de adjuntos, é possível baratear o processo de fabricação, já que estes cereais em geral são mais baratos que os maltados. Os cereais não maltados mais comumente utilizados são o arroz e o milho. Durante o processo de brassagem (fervura da água com o malte) estes cereais, que devem conter amido, liberam o açúcar, que será transformado em álcool durante o processo de fermentação. Os maltes e adjuntos também são responsáveis por boa parte do sabor da cerveja.

  • Lúpulo

    Lúpulo

    Lúpulo: as cervejas, assim como outras bebidas fermentadas, tendem a ter no sabor uma mistura de ácido com adocicado. Em alguns casos o ácido era tão intenso que alguns produtores começaram a utilizar-se de ervas e especiarias afim de temperar e aromatizar a cerveja. O rosmaninho, o gengibre e o anis foram alguns dos vários aromatizantes utilizados ao longo do tempo. Porém o lúpulo foi ganhando popularidade, pois além de dar um amargor e aroma característicos, também é um ótimo antiséptico e conservante, que acaba por aumentar a qualidade e a vida útil da cerveja.

  • Leveduras

    Leveduras

    Levedura: são microorganismos unicelulares, biologicamente classificados como fungos. São eles os responsáveis por transformarem o açúcar em álcool durante o processo de fermentação. Como resultado deste processo, além do álcool, também é gerado o gás carbônico.

  • Outros ingredientes: as cervejas podem receber diversos outros ingredientes, como frutas, legumes, ervas, madeiras, condimentos ou mesmo outras bebidas (como vinho e whisky), afim de garantir características específicas de sabor, aroma e aparência à cerveja.

Famílias
Existem duas famílias principais de cervejas, as Lagers e as Ales.

As Lagers, também conhecidas como cervejas de baixa fermentação, são fermentadas à temperaturas mais baixas, e por isto levam este rótulo. Outro motivo para serem consideradas como “cervejas de baixa” é o fato das leveduras usadas neste tipo executarem o processo de fermentação mais lentamente e o fazerem no fundo do recipiente usado para o processo. As Lagers são relativamente novas (cerca de 600 anos), já que os processos para manter as temperaturas mais baixas durante a fermentação e maturação também são relativamente novos: antes do advento da refrigeração elas eram produzidas em locais específicos, apenas em determinadas épocas do ano, geralmente dentro de cavernas, afim de manter a temperatura baixa constante durante todo o processo.

Nas Ales, conhecidas como cervejas de alta fermentação, o processo acontece a temperaturas mais altas, o que faz com que a levedura aja com mais rapidez e fique concentrada no topo do líquido.

Além das Lagers e das Ales, ainda existem as Lambics, que são cervejas de fermentação espontânea, pois não são adicionadas leveduras específicas e o processo ocorre naturalmente, com “leveduras selvagens” presentes no ar.

Existem ainda vários estilos menores (em quantidade e opções, não em qualidade, que fique claro) que não se encaixam em nenhuma das grandes famílias, tais como Rauchbier (literalmente “cerveja defumada” em Alemão, pois os grãos são defumados, e não torrados como normalmente acontece), Gruitbier / Gruitale (cervejas sem adição de lúpulo), Trapistas / Abadias (estilos que podem ter cervejas tanto entre Ales quanto em Lagers), Fruitbiers (cervejas com adição de suco de frutas), entre outras.

Escolas cervejeiras
Podemos definir como “escola cervejeira” aquela região (lembrando que há séculos atrás as fronteiras eram bem diferentes de hoje) e/ou cultura que desenvolveu estilos próprios de cervejas, estilos estes que são seguidos por outras regiões / culturas. Existem três principais escolas já estabelecidas e uma ainda em processo de desenvolvimento:

  • Alemã: talvez a escola mais famosa do mundo, por produzir a família Lager, a mais consumida no mundo e um dos tipos (Pilsen) mais consumidos. São eles os inventores/descobridores do processo de baixa fermentação e um dos grandes divulgadores das cervejas de trigo. Também fazem parte desta escola a parte norte e oeste da Holanda, a República Tcheca (onde foi inventado o estilo Pilsen), a Polônia e partes dos países nórdicos (geralmente o sul).
  • Belga: a escola Belga, que também engloba geograficamente o norte da França e o Sul da Holanda talvez seja a escola mais cultuada entre os apreciadores de cervejas. Há séculos suas Abadias e Mosteiros desenvolvem diversos estilos muito diferentes entre si, como trapistas, abadias, witbiers, etc. Via de regra são cervejas mais “densas”, com uma gradação alcólica mais elevada e um sabor mais adocicado.
  • Inglesa: como fica separado da parte continental da Europa, aqui é mais fácil restringir geograficamente a escola para o Reino Unido (incluindo as ilhas ao redor e a Irlanda do Norte) e República da Irlanda. Ale lá é sinônimo de cerveja (você pede uma Ale num bar!) e notadamente existe uma preferência por cervejas com grãos mais torrados (red, brown, stout, etc), o que confere um sabor de amargor proveniente também da torra destes grãos, e não somente do lúpulo, além de uma cerveja um pouco mais “seca”.
  • Americana: esta é a escola que ainda está se desenvolvendo, até porque, por conta da Lei Seca americana que proibiu a produção e comercialização de bebidas alcóolicas, ela começou a se desenvolver há pouco mais de meio século. Porém, a lei seca acabou por ser benéfica, pois deu um “reset” na indústria americana, que apenas copiava as escolas Inglesa (no norte do país) e Alemã (no sul). Ela se caracteriza pelas experiências com os mais diversos ingredientes (frutas, ervas, temperos, etc) e pelo “exagero”: muito malte e muito lúpulo é sempre bem vindo. Poderiamos classificar o inscipiente mercado brasileiro, por conta de suas características, dentro da escola americana.

Além das principais escolas, temos países / culturas que não criaram uma escola própria, mas têm características bem peculiares, tais como o Japão, com as suas rice beers (sim, aqui o ingrediente principal é o arroz, tão mal afamado) ou a Rússia (e alguns outros países da antiga URSS) com suas Imperials. A Escócia, apesar de fazer parte da escola Inglesa, também se destaca por suas cervejas altamente alcólicas, licorosas e maturadas em barris de madeira (muitos deles utilizados anteriormente para maturar whisky).

Degustando e apreciando
Não existe uma regra para apreciar uma cerveja, até porque a cerveja seja talvez a bebida mais descontraida que exista. Mas para que a experiência da degustação seja melhor aproveitada, existem algumas sugestões:

  • Aparência: é com certeza a primeira característica a ser notada e que pode enriquecer ou empobrecer a experiência. Alguns pontos a serem notados:
    • Embalagem: qual o tipo (lata? long neck? garrafa mais gordinha? garrafa de 600?), o rótulo (existem verdadeiras obras de arte nos rótulos, especialmente das cervejarias artesanais), o tamanho, o tipo de lacração (tampa de metal, tampa de pressão), etc
    • Cor: a cor da cerveja é determinada principalmente pelo tipo do malte e seu nível de torrefação. Porém, alguns dos aditivos podem influir na coloração. Existe uma medida chamada SRM (Standard Reference Method, ou método de referência padrão, em português), que vai do amarelo palha, quase branco, até o negro, e é utilizado internacionalmente por cervejeiros e aficcionados.
    • Translucidez: a translucidez da cerveja é determinada pela filtragem. Uma cerveja filtrada geralmente é translucida (se ela não for muito escura, obviamente), enquanto as não filtradas, pelo fato das partículas de malte, lúpulo e outros ingredientes ainda estarem presentes no líquido podem ser turvas (em diversos níveis) ou totalmente opacas.
    • Formação dos gases: como o gás se forma e se dissipa. Fazem muitas bolhas? Fazem poucas? Elas demoram a se dissipar? São bolhas maiores? Menores?
    • Formação da espuma: a espuma que se forma é de grande volume? E a persistência? Ela fica bastante tempo ou some rapidamente? Deixa aquele “véu de noiva” no copo?
    • Cor da espuma: qual a cor da espuma? Branca, bege, marrom?
  • Aroma: boa parte do gosto que nossas papilas gustativas detectam são complementados ou modificados pelo olfato. Lembra daquela história de ficar gripado e a comida perder o gosto? Por isto é interessante tentar sentir quais os aromas que aquela cerveja traz antes de levá-la à boca. Entre os aromais mais típicos estão:
    • Álcool: o volume de álcool em uma cerveja é determinado pelo tipo e quantidade do malte utilizado (consequentemente, quanto amido virou açúcar) e pelo tempo de fermentação e tipo de levedura utilizada (quanto deste açúcar foi transformado em álcool). Assim como para o a cor, existe uma medida internacional, esta para todas as bebidas alcólicas, chamada ABV (Alcohol by Volume, álcool por volume) que representa a porcentagem de álcool contida a cada 100mls da bebida. Importante destacar que não necessariamente uma bebida com alto teor alcólico terá álcool no aroma, já que este aroma poderá ser suprimido pelos outros componentes.
    • Frutas: mesmo quando não se usa fruta na composição da bebida as reações químicas ocorridas durante todo o processo podem gerar aromas similares. As Witbiers são famosas pelo aroma cítrico (mesmo uma parte delas não levando nenhuma fruta) e as German Weizen, além dos cítricos, costumam ter banana e cravo no aroma, mesmo não usando destes ingredientes. Por sua vez, as Stouts apresentam notas de café e/ou chocolate, devido à torrefação dos seus grãos.
    • Especiarias: cravo, pimenta, ervas, etc. Assim como acontece com as frutas, mesmo a receita não contendo alguns destes ingredientes, aromas deles podem aparecer em uma cerveja.
    • Outros: pão/fermento, capim, chá, chocolate, baunilha. Muitos deles por conta de aditivos para dar as determinadas características e outros tantos por conta das reações e transformações químicas dos ingredientes básicos.
  • Sabor: com certeza o ponto mais importante da cerveja é o seu sabor e as reações que ele provoca (vide curiosidades). Podemos dizer que devido às variadas combinações das principais característiscas, a variedade de sabores e sensações proporcionadas pela cerveja são infinitas. Mas dentre as principais características e nuances do sabor, podemos destacar:
    • Álcool: independente da quantidade de álcool presente na cerveja, pode-se notá-lo ou não no sabor. Mesmo que às vezes ele não seja notado no aroma, ele pode aparecer no sabor, ou vice-versa.
    • Amargor: uma das principais características da maioria das cervejas é o seu nível de amargor e, além do efeito inebriante da bebida, o amargor é uma das principais fontes de prazer (vide curiosidades). Além do lúpulo, o nível de torrefação, bem como algum produto adicional (cravo-da-índia, por exemplo), contribuem para esta característica. À exemplo da cor e do volume de álcool, o IBU (International Bitterness Unit, Unidade Internacional de Amargor) estabelece uma gradação do nível de amargor de uma cerveja. Estima-se que à partir de 150 IBUs, o amargor é tão forte que a diferença é imperceptível para os seres humanos.
    • Dulçor: como já explicado, o amido dos grãos utilizados como malte é o gerador de açucar, que se transformará em álcool durante a fermentação, e invariávelmente a cerveja contará com algum nível de açucar (por isto também é que ela é calórica). Dependendo do nível de fermentação e dos outros ingredientes, este dulçor pode ser perceptível ou não, mas com certeza ele estará lá!
    • Notas: entende-se como notas outros sabores que possam estar presente na cerveja, mas que não provém diretamente dos ingredientes principais, e podem ser adicionados propositalmente ou então serem, assim como o aroma, resultado dos processos químicos. Uma cerveja pode ter uma infinidade de notas de sabor não relacionadas aos ingredientes principais, tais como: chocolate, café, frutas, madeiras, ervas, temperos, e vou para por aqui pois a lista é, literalmente infinita.
    • Retrogosto: a língua do ser humano tem pontos específicos onde cada tipo de sabor é detectado: o doce é melhor absorvido na ponta da língua, o ácido (ou azedo), nas laterais dianteiras da língua, o salgado bem no meio e o amargo no fundo da parte da língua que está na boca. Recentemente separaram o sabor adstringente (que também é um resultado do ácido) em uma categoria distinta, que é sentida na parte inferior da língua. O retrogosto é o sabor que uma bebida deixa na boca após ser ingerida. Como a língua se estende até a garganta, normalmente o retrogosto da cerveja leva o amargor (detectado no final da língua) como nota principal, que forma o conjunto com o restante dos sabores sentidos anteriormente.

Harmonização
Eu detesto esta palavra, mas vou usá-la: harmonização é o ato (ou arte, segundo alguns) de combinar a bebida com a comida. A regra básica de harmonização é que as características de um (aroma, sabor, e até características visuais) não devem se sobressair à do outro, mas sim se complementarem e, quando possível, realçarem as características um do outro. Então uma Witbier (com características mais leves) não combinaria bem com algum prato apimentado, ou com comida Indiana, por exemplo, que é “carregada” de especiarias, enquanto uma IPA, que tem notas de lúpulo muito marcantes, iria acabar por suprimir o sabor suave de uma mussarela de búfala.

Mas no final a regra geral é: desceu bem? Então manda bala!!!!

Curiosidades

  • Nas prisões européias era comum o preso ter, além da alimentação, uma ração diária de cerveja que variava entre um e dois pints (um pint equivale a 473 mililitros)
  • O lúpulo pertence a mesma família das canabidáceas, ou seja, é prima da maconha, porém não contem os efeitos entorpecentes desta. Quer dizer, o lúpulo sozinho, já que junto com o álcool, além de prazer (ver abaixo), proporciona uma sensação inebriante.
  • Diferentemente do vinho, a maioria das cervejas perde qualidade com o tempo (talvez esta seja a causa da alegada diferença de cervejas de um lugar para outro). Existe até um ditado que diz que “a melhor cerveja é aquela tomada na fábrica”. Portanto, para apreciar o melhor da cerveja, quanto mais perto da data de fabricação, melhor.
  • Um outro fator de deterioração da cerveja é a exposição à luminosidade. Por conta disto a imensa maioria das cervejas é embalada em garrafas de vidro escuro.
  • É por isto também que se adiciona limão nas cervejas conhecidas como “draft beers” (Corona, El Caguama e Müller, por exemplo, apesar do termo draft ser incorretamente utilizado): o limão disfarça o “ranço” provocado pela exposição da cerveja à luz, causado pelas garrafas transparentes.
  • Uma das explicações para o prazer em se beber cerveja (além da sensação de embriaguez) seja a endorfina, “componente com característica dos opiatos que são produzidos no cérebro como resposta natural do corpo à dor” (Le Couteur, Penny e Burreson, Jay em os Botões de Napoleão): ao sentir o amargor, que é uma sensação inicialmente desagradável para o ser humano, o nosso corpo produz esta substância, que gera uma sensação de prazer. É o mesmo princípio da pimenta e de outras especiarias “picantes”.
  • Apesar da grande maioria de cervejas populares vendidas no Brasil ostentarem o título “Pilsen”, elas na verdade são do tipo “American Lager”. Mesmo não sendo Pilsen ao pé da letra, ambas pertencem à mesma família, a das Lagers.
  • A Reinheitsgebot (Lei da Pureza da Cerveja, em português) é uma das regulamentações de produção de alimentos mais antigas do mundo, sendo promulgada pelo duque Guilherme IV da Baviera em 23 de Abril de 1516 e que determinava que a cerveja deveria conter apenas água, malte de cevada e lúpulo (não se sabia, à época, da influência das leveduras e o processo de fermentação era espontâneo). Mais tarde a lei foi modificada para permitir a levedura e o trigo. Mas o intuito principal da lei foi mais econômico e político do que afim de garantir a qualidade das cervejas: na época da promulgação da lei o monopólio das cervejas de trigo pertencia à casa nobre de Degenberg, rivais de Guilherme IV. A promulgação da Lei foi um golpe fatal na saúde financeira dos rivais.
  • A Reinheitsgebot foi considerada uma lei protecionista quando da formação da União Européia e por isto, hoje, ela é mais uma tradição do que uma lei realmente, já que os cervejeiros alemães hoje já podem utilizar qualquer ingrediente para produzir cervejas (e os cervejeiros Berlinenses têm sido os mais “criativos” ao desenvolverem novas receitas).
  • Santa Hildegard von Bingen, uma abadessa alemã que viveu entre 1098 e 1179, é considerada por muitos dos “cervejólogos” como a padroeira da cerveja. Pesquisadora do uso de ervas em tratamentos medicinais, inclusive do nosso amigo lúpulo, é dela a primeira citação por escrito do lúpulo na fabricação de cerveja de que se tem notícia.
  • A cerveja já foi conhecida como “Pão Líquido”, isto por três motivos principais: o processo de produção é parecido, pelo fato de utilizar, antigamente, o mesmo ingrediente que o pão (ao invés de cevada, usava-se o grão de centeio para produzir a cerveja, que também era usado no lugar do trigo para produzir o pão) e pelo fato dela alimentar.

Be happy 🙂 (and have a beer!!!!)

397 - Liverpool

Pais para a Paz – Yumbad Baguun Parral (06/2016)

Pais Para A PazEste já é o terceiro livro do Parral que eu leio (veja as outras resenhas aqui e aqui) e cada vez mais fico impressionado com sua capacidade de perceber o mundo, organizar idéias e, principalmente, colocá-las no papel. Você pode até discordar de suas posições ou teorias, mas nunca negará que elas podem fazer sentido e que são muito bem explicadas e fundamentadas.

Neste livro, que foge dos outros dois por não ser um romance filosófico, ele discorre um pouco (bastante!) sobre os motivos que levaram o ser humano, o único dos seres vivos capaz de ter consciência da sua existência, de sua perenidade e de ser capaz de modificar o meio em que vive para adaptá-lo conscientemente às suas necessidades, ao invés de usar todas estas faculdades para viver de uma forma plena, em perfeito convívio com seus pares, com outros seres e com o meio, prefere subjugar os pares, exterminando no processo os demais seres e destruindo o meio. Nota: “viver plenamente” é o nome que eu dou para “aproveitar nossa efêmera passagem neste mundo da melhor maneira possível, sem interferir negativamente na vida dos outros”.

Partindo do princípio dos conceitos Darwinianos (A Origem das Espécies é o próximo da lista!) da manutenção e evolução da espécie, de que todos os seres estão aqui para perpetuar sua espécie, transmitindo o seu gene e, no conjunto de toda espécie, melhorando sua genética para que as próximas gerações da espécie sejam melhores (mais adaptadas ao meio) do que a atual, ele faz uma análise do que poderia ter acontecido no meio do caminho que fizesse com que, apesar da clara evolução biológica, nossa evolução como individuos racionais se deu por vias tortas, através do que ele chama de “perfil degenerado”, que se multiplica através da memética (a repetição de padrões comportamentais).

Inicialmente, este perfil degenerado conseguiu se propagar através da violência (vários “machos” rejeitados pelas fêmeas se juntaram para, em conjunto, eliminarem o macho alfa e assim dividirem o “butim” do grupo entre si). Com o passar do tempo, não bastava mais à este ser ter a melhor comida e as melhores fêmeas para passar seu gene adiante e quando o homem deixou de ser nômade, ter mais posses era o “diferencial”. Nesta época a maioria dos machos já era composta deste perfil e os mais inteligentes/ardilosos sabiam que já não seria mais possível convencer os demais a atacar o “macho alfa virtuoso”, que já estava em extinção, e então começou a criar formas de subjugar os demais através de artimanhas intelectuais, sendo as religiões e as ideologias políticas as mais comuns (mas não podemos esquecer também os nacionalismos extremos, afinal de contas, “Deus” e a Pátria são responsáveis pelos maiores massacres que ocorreram ao longo da história).

Parral prega no livro que, se queremos que no futuro a humanidade consiga conviver em paz com seus pares, com os outros seres e sem esgotar os recursos do nosso planeta, alguma coisa deve ser feita agora (e já estamos atrasados, na verdade) para que mudemos este perfil. Para tanto os pais (genitores) devem ser preparados para criar melhores pais (suas proles), que criarão melhores pais, reproduzindo também memeticamente, um bom perfil de ser humano.

O problema é que as próprias instituições criadas para subjulgar o perfil degenerado lutam contra. É só ver como as religiões pregam contra a implementação de educação científica, pensamento cético, além de lutar contra meios contraceptivos, de interrupção de gestações indesejadas ou qualquer tipo de planejamento familiar.

Achei muito interessante também, aproveitando este gancho das religiões, a teoria dele que diz que o ser humano pouco se preocupa com o meio ambiente (nosso planeta, nossa casa), em muito por conta das religiões, pois, se aqui deve ser um local para expiarmos nossos pecados para que possamos, enfim, merecer um paraíso em outro mundo (outra vida), além dele ser provisório e não precisarmos nos preocupar com o planeta, ele também deve ser (ou parecer) um “inferno”.

Mas voltando ao assunto principal, em seus pensamentos, Parral diz até que é dever de uma sociedade eventualmente impedir que alguns indivíduos sejam responsáveis por criar seus filhos, já que eles não teriam condições de criarem seres melhores para que tenhamos um mundo melhor.

Para concluir, achei bem interessante o conceito de que, o sucesso de um ser humano (homem ou mulher), é ver sua prole ser melhor do que ele, tanto no sentido físico, quanto intelectual, de caráter, etc. Significa que sua missão de perpetuar e melhorar a espécie foi cumprida com êxito!

É por meio do raciocínio que avaliamos o mundo, a vida e a realidade, e tomamos decisões sobre o que fazer ou deixar de fazer para obtermos o desempenho satisfatório nessa efêmera jornada que é nossa vidinha nessa vastidão de tempo e espaço a que temos o privilégio único em toda a eternidade de perceber e conceber para desfrutar a experiência única de se saber parte de tão extraordinário fenômeno, mesmo por tão pouco tempo e em tão pouco espaço. Por mais que exploremos a dimensão do nosso planeta e experimentemos o máximo de sensações que a vida nele possibilita, será sempre uma experiência efêmera e pobre em relação ao que fica por viver – dentro e fora dos seus limites, aos quais, intuímos poder transcender, e muito nos superamos para efetivar desta perspectiva. Mesmo assim, somos retirados de cena no melhor da festa, e muitas vezes, ainda a caminho da festa…

Be happy 🙂