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O Futebol e o Mensalão – #tbt

Originalmente publicado na Feedback Magazine, em 11 de Dezembro de 2013. As opniões do texto não refletem, necessariamente, a minha opnião atual, já que eu sou um ser em constante evolução e que prefere “ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opnião formada sobre tudo”.


 

Uma das coisas que mais me incomodam no comportamento do brasileiro, no que se refere à política, é esta mania de tratar de política como se trata de futebol. A pessoa escolhe um partido e/ou ideologia política para “torcer”, não faz muita questão de entender a teoria ideológica (aliás, os próprios partidos abandonaram a ideologia, pois não faz muita diferença mesmo), defendem seus partidos (ou atacam os outros) como se estivessem num campeonato, não questionam atos suspeitos dos membros importantes do seu “time” e o pior, mesmo com uma mudança na linha ideológica ou de discurso, parece que ficam com vergonha de “mudar de time”, de ser um “vira casaca” e continuam agarrados àquela escolha inicial, mesmo que ela não mais represente os seus ideais.

Isto sempre existiu no Brasil (aliás, em alguns outros países também, inclusive de primeiro mundo), porém, a coisa tomou uma proporção gigantesca com o advento da Internet e das redes sociais.

Vejamos todo o burburinho sobre a prisão dos condenados do caso chamado “Mensalão”.

À despeito das atitudes midiáticas e arbitrárias do ministro Joaquim Barbosa que, na minha opnião, não fazem bem para a instituição (judiciário), os réus do mensalão estão onde deveriam estar. Porém, seus simpatizantes e correligionários ainda continuam inventando desculpas (ou perpetuando mentiras a fim de que elas virem verdade). Vamos abordar algumas delas:

“Eles são inocentes” / “São presos políticos” / “Não existem provas” – lembro-me muito bem quando do estouro do escândalo (até porque fui um dos que se decepcionaram com o PT), a primeira coisa que os acusados fizeram foi dizer que “não era para compra de voto, era distribuição de caixa 2 de campanha”, ou seja, não alegaram inocência, apenas quiseram “trocar o crime” por um que teria pena mais branda e que, segundo as palavras deles mesmos, “todo mundo faz” (Mas não era o PT que iria fazer diferente?). Durante o processo, existiram provas materiais, testemunhais e circunstanciais que levaram à condenação. Apesar de quererem atrelar a decisão a uma só pessoa (o ministro Joaquim Barbosa), já que é mais fácil desqualificar uma pessoa do que várias, os réus foram julgados por um colegiado (cuja maioria foi indicada durante as gestões do PT!), tiveram ampla possibilidade de defesa num processo em que a própria defesa não procurou a absolvição (que seria muito difícil de provar), mas sim tentou desqualificar algumas acusações (como a de formação de quadrilha), para que pudessem ser aplicadas penas alternativas e mais brandas. Não são presos políticos, são políticos presos e ponto final.

“Os réus do mensalão mineiro ainda estão soltos” – bem, aqui podemos dizer que eles deram o “azar” de estarem no meio de um processo que envolvia autoridades que são julgadas por crimes comuns no STF (no caso os deputados federais João Paulo Cunha, Pedro Henry e Valdemar Costa Neto – posteriormente José Genoíno, que entrou como suplente em 2013) e acabaram sendo “arrastados” para a instância maior, antes de passarem pelas instâncias menores, o que iria fazer com que o processo se arrastasse durante vários anos, podendo inclusive existir prescrição de crimes. Porém, ao invés de reclamarem que o processo correu rápido demais, deveriam era exigir a mesma velocidade para os outros casos.

“Eles têm uma história” – sim, tanto o PT quanto o Genoíno, o Dirceu e o finado Gushiken têm uma bela história de luta pela democracia (assim como o Fernando Henrique, o Covas, o Serra, entre outros), porém, boas ações passadas não são passaporte para cometerem erros futuros e no máximo servem de atenuante para abrandar penas. E se alguém desconsiderou e não respeitou a própria história, foram eles mesmos.

De um outro lado, chega a ser deprimente ver os “anti-petistas” comemorando a condenação e prisão dos mensaleiros enquanto membros dos seus partidos estão envolvidos em escândalos que superam (em valores, engenharia, envolvidos, etc.), em muito, o mensalão do PT.

Só para citar os dois últimos casos recentes, as cifras envolvidas no escândalo de corrupção do Metrô do estado de SP e no caso dos fiscais do ISS da Prefeitura de São Paulo, fazem os mensaleiros petistas parecerem garotos que furtaram chicletes no supermercado (não que o montante desviado seja agravante ou atenuante, quem rouba um chiclete ou rouba 1 milhão comete o mesmo crime). E é difícil imaginar que o governador Geraldo Alckmin, que gosta de ter todos os detalhes das principais obras ao seu alcance, por conta de seu perfil centralizador, ou o senhor Gilberto Kassab, cuja família “coincidentemente” opera no ramo dos negócios imobiliários, não estivessem ao menos cientes da existência dos esquemas que desviaram cerca de 1 bilhão de reais dos cofres públicos.

No meu mundo ideal, neste momento, quem estaria comemorando a cassação dos mensaleiros seriam os próprios petistas, enquanto os simpatizantes dos demais partidos estariam envergonhados e cobrando da Justiça a investigação dos membros dos seus próprios partidos envolvidos em esquemas de corrupção, fosse para provar uma possível inocência deles, fosse para fazer uma limpa no seu partido e assim, uma limpa na política em geral.

Mas como aqui “o bom é ganhar”, mesmo que seja roubado, continua cada um fiscalizando a limpeza do rabo do outro, enquanto o próprio está sujo, esquecendo-se que, se cada um cuidar do seu, todos estarão limpos.

Be happy! 🙂

Os Black Blocs e a Democracia – #tbt

Originalmente publicado na Feedback Magazine, em 25 de Novembro de 2013. As opniões do texto não refletem, necessariamente, a minha opnião atual, já que eu sou um ser em constante evolução e que prefere “ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opnião formada sobre tudo”.


Muito tem se discutido, desde as manifestações de Junho, sobre a legitimidade de atos de protestos que utilizam de violência, seja contra pessoas (a hostilização de repórteres e membros de partidos em Junho também foi uma forma de violência, do mesmo nível da causada pela PM aos manifestantes e repórteres), seja contra patrimônio público ou privado. Os atos de “vandalismo” ganharam o nome e o “rosto” (encoberto) dos Black Blocs.

Historicamente, percebemos que “revolução” pacífica não gera efeito, aliás, nem é revolução. Porém, num estado democrático de fato e de direito, como o nosso, “revoluções” nem deveriam existir. Para começar, vamos abrir um (grande) parêntese para explicar o que é democracia (sim, infelizmente muita gente não sabe) e acabar com esta ideia de que “no Brasil não existe democracia”.

Bem, ao contrário do que muita gente pensa, democracia não é o “faça o que tu queres pois é tudo da lei”. Democracia não é a concordância plena, mas sim a maneira mais inteligente de gerenciar a discordância.

Na democracia, não é porque você acha que algo é certo, que você terá o direito de fazê-lo. Você pode até fazer, desde que não “incomode” mais ninguém (são as famosas “liberdades individuais”, um dos pilares da democracia). Um exemplo: você pode ser um naturista e gostar de andar nu, porém, como isto agride e ofende a maioria das pessoas, você não pode andar nu por aí.

O britânico Stephen Gough, de 53 anos, é conhecido como “o andarilho nu”. Ele acredita que a nudez é um direito fundamental e insiste em andar pelo país sem roupas. Como a maioria do povo britânico discorda desse “direito”, Stephen já passou mais de seis anos preso por “perturbar a paz”. | Créditos: BBC Brasil.

Dentro de uma democracia, o poder provém do povo (do grego demos = povo), seja diretamente (através de plebiscitos, referendos, audiências públicas, etc.), seja indiretamente, através de representantes eleitos pelo povo (vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidente).

A existência de liberdade de imprensa e expressão também é outro pilar básico da democracia. Aqui existe também muita confusão. Liberdade de expressão quer dizer que você pode dizer o que quiser sobre qualquer pessoa. Mas também quer dizer que você deve ser responsável por aquilo que fala, tanto que, não existe opinião “anônima”, já que, quem se sentir ofendido por algo que alguém falou, tem todo o direito de procurar a justiça e a pessoa que emitiu a opinião pode, se a justiça entender que deve, ser punida. Da mesma forma, não é porque existe liberdade de expressão, que ela possa ser exercida em qualquer lugar. Outro exemplo prático: o dono desta revista eletrônica pode deletar alguns comentários que ele julga inadequado. Ele não está sendo “antidemocrático” ou cerceando o seu direito de livre expressão. No caso, a revista é dele, é um espaço privado. Se você discordar da atitude dele em deletar seu comentário, você tem todo o direito de criar você mesmo um blog ou uma página, e postar a sua opinião.

Além destes pilares, alguns outros são: um judiciário autônomo, a igualdade entre as pessoas (todos são iguais perante a lei), liberdade para constituição de organizações sindicais e políticas (partidos), etc.

Bem, trazendo isto para a realidade do Brasil, podemos garantir que no Brasil existe sim democracia. Aqui existe liberdade de imprensa e expressão, existe garantia às liberdades individuais, o povo escolhe seus representantes de forma igualitária, existe liberdade para a constituição de organizações políticas e temos um judiciário independente (a condenação dos réus do Mensalão mostra isto). É claro que alguns ajustes necessitam ser feitos, até porque, nossa constituição é uma das mais recentes (1988) e somos uma das democracias mais novas do mundo (menos de 30 anos). Mas não dá para dizer que no Brasil existe uma “falsa democracia” ou que ela não exista.

Aí existe outro porém: se o povo prefere abdicar de fazer suas escolhas de uma forma racional, votando por critérios subjetivos como simpatia ou antipatia, ou por interesses pessoais (cestas básicas, cargos, etc.), o problema é do povo, e não do sistema. Como diria a música Freewill (livre arbítrio), do grupo canadense Rush: se você escolher não se decidir, ainda assim terá sido uma escolha.

Os bancos são os maiores alvos dos Black Blocs.

Num Estado onde existe democracia e o povo faz suas escolhas, não existe espaço para “revoluções”, já que a situação deste Estado é feita pela escolha da maioria das pessoas que o compõe. Se o intuito dos Black blocs nestas manifestações onde existe violência é chamar a atenção do público para fatos errados no sistema, e fazer, desta forma, o povo analisar e escolher melhor, ou se então a intenção é reivindicar garantias de direitos individuais, mesmo os atos mais violentos têm legitimidade (e desde que eles assumam os riscos e consequências destes atos).

Porém, se a intenção deles é impor algum desejo, ideologia ou valores, que são apenas de uma minoria, para toda a população, aí até o protesto em si, mesmo sem violência, perde sua legitimidade.

Aliás, a diferença entre o revolucionário e o golpista é apenas de perspectiva: se vai de encontro aos seus ideais, você enxerga como revolução, se vai contra, como golpe. Mas em ambos os casos, sempre existe, no fundo de um revolucionário/golpista, a sementinha do mal do totalitarismo, esperando o momento propício de germinar.

Agora resta aos Black Blocs virem à público explicar qual o sentido, o objetivo das manifestações.

Isto se eles mesmos souberem.

Be happy! 🙂

Sobre ostentação, Maslow e a Vida Alheia – #tbt

Originalmente publicado na Feedback Magazine, em 19 de Novembro de 2013. As opniões do texto não refletem, necessariamente, a minha opnião atual, já que eu sou um ser em constante evolução e que prefere “ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opnião formada sobre tudo”.


 

A sensação dos últimos dias na internet foi o vídeo, produzido pela revista Veja SP, sobre o tal “Rei do Camarote”. À despeito de tudo ser tão surreal e caricato que para mim parece um viral (e uma bela barrigada da Veja), algumas coisas me chamaram a atenção.

Antes de tudo, eu sou da opinião que as pessoas podem fazer o que acharem melhor para sua vida, desde que não prejudiquem outras pessoas. Neste caso, o dinheiro é do cara, desde que ele tenha ganho honestamente, ele faz com o dinheiro dele o que ele quiser. Ninguém tem nada a ver com isto. Se ele quer encher o camarote dele de Marias “Veuve Cliquot” e ser encoxado por um humorista (dos ruins!), o problema é só dele e das pessoas que o acompanham.

Mas a primeira coisa que me chamou a atenção foram os dois pesos e duas medidas de algumas pessoas ao fazerem julgamentos. Já começaram errado por fazerem julgamento, mas já que o fizeram, que ao menos usassem de imparcialidade e tivessem coerência. O que o Alexander gasta num ano, o Ronaldo Fenômeno, por exemplo, deve ter gasto em apenas uma das suas festas de casamento. E não é exclusividade dele. Jogadores de futebol e artistas da música e da TV adoram exibir suas conquistas. E quase não se vê críticas quando isto acontece.

Recentemente surgiram os tais “funkeiros ostentadores”, que ao emplacarem seus sucessos têm conseguido uma quantidade boa de shows, o que os proporciona manter um padrão de vida do mesmo nível do tal do Alexander, e com atitudes parecidas com as dele. Mas ao invés de receberem as mesmas críticas pela ostentação (vamos esquecer a questão musical), acontece o contrário, existiram até programas de TV e blogueiros analisando como um fenômeno sociológico a tal “ostentação”.

A incoerência acontece quando as pessoas que sempre exaltaram um jogador de futebol ou um artista, por ter saído de uma “condição humilde” e ter se superado na vida, julgam uma pessoa que, aparentemente (ninguém sabe a história do cara), teve algumas chances a mais, usando outro peso. Quando diz que é empresário então, já taxam de explorador, corrupto, etc. Isto é preconceito. Do mesmo tipo que dizer que favelado é tudo bandido, ou que gay é tudo promíscuo.

O ser humano gosta de se destacar no meio da multidão e exibir suas conquistas. Antigamente era o mais forte, o mais apto à caça, depois o que tinha mais posses, ou o que fazia parte da nobreza ou do clero. Natural que, no caso das pessoas que possuem mais dinheiro, este seja o meio de exibir. É só ler um pouco de Maslow que facilmente se percebe que isto não é apenas um comportamento de um “rico babaca”.

Pirâmide das necessidades do ser humano de Abraham Maslow. | Créditos: gestaonossadecadadia.com.br

O segundo ponto que me chama a atenção é a relação que o Brasileiro, assim como os demais povos de origem latina, têm com o dinheiro. Vamos primeiro tentar explicar o que é o dinheiro.

Dinheiro é apenas um meio de troca. Antigamente, quando as pessoas trabalhavam no campo e em atividades extrativistas, o excedente conseguido era trocado com vizinhos por outros produtos de seu interesse. Para facilitar a troca, já que muitos destes produtos eram perecíveis e/ou tinham um volume e/ou peso muito grande para ser carregado de um lado para o outro, as pessoas inventaram meios de facilitar esta troca. Um dos meios mais conhecidos foi o utilizado durante o Império Romano, onde os soldados recebiam do Império sal como pagamento por seus serviços, e utilizavam este sal para adquirir outros produtos de seu interesse. Daí vêm as palavras “salário” (de sal) e “soldo” (de soldado) para designar pagamento por trabalho.

Atualmente, onde as ideias, conexões e influência (E por que não sorte?) geram mais valores do que o trabalho braçal (que pode ser substituído por máquinas), faz mais sentido ainda ter um meio de troca.

Portanto, uma pessoa que tem muito dinheiro (partindo do princípio que ela ganhou honestamente), é apenas uma pessoa que conseguiu gerar muitos frutos do seu trabalho e, portanto, não deveria ter vergonha de tê-lo ou demonstrar tê-lo. Nos EUA, Canadá e em vários países europeus, as pessoas se orgulham de ganharem mais e não tentam esconder isto, pois é sinal que a pessoa gerou bastante riquezas à partir do seu trabalho.

Porém, e acredito muito que devido à influência da Igreja Católica (Dinheiro é pecado! Nos entregue que nós nos livramos dele para vocês!), nos países latinos, dinheiro é visto como algo sujo, vergonhoso, algo que as pessoas devem evitar. Se não for possível evitar de ganhá-lo, então “compartilhe” com as demais pessoas.

Como consequência, ouvimos frases do tipo: “com tanto dinheiro assim, ele tinha que distribuir”, “porque ao invés de gastar com baladas, não doa aos pobres”. Se você tem a caridade como princípio de vida e isto faz bem pra você, ótimo. Talvez ele não tenha, e não é demérito nenhum.

Erroneamente, sempre levam a questão para esse lado.

 

E aí caímos no terceiro ponto que me chamou a atenção. E este eu acho particularmente muito perigoso. Vi muitas pessoas dizendo “coitado, ele não é feliz”, “podia fazer tal coisa que iria ser melhor”, “não deve ter amigos”.

Quem disse que o que é bom para você tem que ser bom para todo mundo? Quem disse que “ter amigos verdadeiros” é bom para ele? Talvez ele prefira estes amigos de ocasião e seja feliz desta forma.

As pessoas têm que entender que cada pessoa é um indivíduo, que tem seus valores, princípios, ideologias. E repetindo: desde que não faça mal a mais ninguém, nenhum valor ou princípio é melhor do que o outro. São só diferentes e devem ser respeitados.

Só lembremos que muitas das desgraças que ocorreram na humanidade, tais como guerras, ditaduras, genocídios, entre outros, aconteceram quando um grupo decidiu que a sua ideologia política, a sua raça, o seu intelecto ou a sua religião eram melhores do que a das outras pessoas (mesmo que estas outras fossem maioria) e decidiram impô-los às estes demais. Ou então eliminar quem se opusesse.

Quanto à mim, a única coisa que achei foi graça. Tanto que li a matéria na internet e assisti o vídeo umas três vezes. Mas ao menos eu escolhi assistir ao vídeo, e não foi alguém, dentro de um transporte público coletivo, que resolveu me “presentear” com a exibição

Be happy! 🙂

É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro – #tbt

Originalmente publicado na Feedback Magazine, em 20 de Outubro de 2013. As opniões do texto não refletem, necessariamente, a minha opnião atual, já que eu sou um ser em constante evolução e que prefere “ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opnião formada sobre tudo”.


Tomei emprestada a frase do título da música “Por Quem os Sinos Dobram”, do mestre Raul Seixas, para falar de um assunto que dominou as redes sociais, os portais de notícias, os telejornais e outros meios nos últimos dias: o vídeo, filmado pela vítima, em que um assaltante é baleado após uma tentativa de roubo de uma motocicleta.

O assalto foi filmado por uma câmera no capacete da vítima.

Discordo da “socialização” da criminalidade, como muitos gostam de fazer, atribuindo todos os problemas de segurança pública à condição social. Particularmente, por ter crescido em um bairro da periferia de São Paulo, onde moro até hoje, entendo que não é a condição social, falta de oportunidades ou qualquer outro motivo do tipo que faz uma pessoa se tornar um criminoso. Estudei com várias pessoas que passavam privações de todos tipos e que não se tornaram bandidos, assim como conheço alguns que, à despeito de terem muitas oportunidades, resolveram se enveredar por este caminho.

Não sou psicólogo ou sociólogo para explicar quais os motivos que levam alguém a escolher uma vida destas, mas por conclusão creio que as pessoas são ou não más e, no máximo, a condição social ou algum estado de privação apenas contribui, não sendo o motivo principal, para alguém “escolher” este caminho. Tanto que se fosse apenas uma questão socioeconômica, não teríamos criminosos entre as classes mais abastadas e/ou em países onde estes problemas sociais são praticamente inexistentes.

Entendo que a ação do policial foi corretíssima, assim como acho que o ladrão assumiu o “risco do negócio” e todos que assumem riscos têm que arcar com as consequências. Simples assim.

Mas o que mais me chamou a atenção, especialmente nas redes sociais, é a hipocrisia das pessoas. Boa parte dos “cidadãos de bem” que engrossam o coro de “bandido bom é bandido morto” são pessoas que tem o hábito de adquirir produtos em locais onde, conhecidamente, a origem dos produtos é no mínimo suspeita. Alguns deles até se vangloriam de adquirir produtos “na boca” por preços bem abaixo dos praticados em lojas. Alguns deles também têm o hábito do uso de substâncias ilegais para “fins recreativos”.

Só existe “mercado” para este tipo de produto, que geram ações como a dos criminosos e reações como a do policial, porque existe demanda. Isto é puro princípio econômico.

Acho que falta à muitas pessoas assumirem que, ao comprar um produto fruto de roubo ou furto, de contrabando ou pirataria, e mesmo aquele que “apenas” fuma a sua maconha nos finais de semana, também puxa o gatilho, tanto do policial, quanto o do marginal.

Como diria o Capitão Nascimento: “É você, playboy, quem financia esta merda”.

Cena de Tropa de Elite, onde o icônico Capitão Nascimento dá lição de moral em um estudante viciado.

Be happy! 🙂

Eduardo e Marina: mais do mesmo – #tbt

Originalmente publicado na Feedback Magazine, em 14 de Outubro de 2013. As opniões do texto não refletem, necessariamente, a minha opnião atual, já que eu sou um ser em constante evolução e que prefere “ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opnião formada sobre tudo”.


 

Devido ao meu ceticismo, acompanhei de longe (porém, com otimismo!) as já tão comentadas manifestações de junho por todo o Brasil. Muitos meios de comunicação, sociólogos, cientistas políticos, entre tantos outros, tentavam entender o que estava acontecendo, ou seja, o que estava por traz dos 20 centavos.

Acabei apelidando o movimento de “Marcha dos Descontentes”. As pessoas que estavam ali compunham toda a diversidade do povo brasileiro, em credos, ideologias políticas, classes sociais, etc. Por tratar-se de uma massa tão heterogênea, não havia um ponto específico em comum que seria o desejo, porém, estava muito claro o que todas aquelas pessoas não queriam. Não queriam a continuidade do modelo político atual, que apesar de ser democrático, permite que, com o devido conhecimento do processo, determinados grupos se perpetuem no poder, mesmo sendo estes grupos adversários ideológicos. Queriam também que os políticos brasileiros trabalhassem, como seria natural, em prol da população, e não em prol de interesse deles mesmos e de uma pequena minoria.

Usando como “amostra” amigos meus que participaram dos movimentos, notei esquerdistas radicais que se desiludiram com o movimento de centralização do PT (e também, por incrível que pareça, do PCdoB), esquerdistas moderados também desiludidos com o PT por conta do sepultamento do discurso da ética na política, sociais democratas descontentes com a movimentação rumo à direita do PSDB, direitistas descontentes com as alianças entre alguns de seus representantes (PP por exemplo) com o PT, entre tantos outros.

Marcha dos descontentes e não representados.

Notei uma grande semelhança desta massa com os quadros do movimento Rede Sustentabilidade, encabeçado pela Marina Silva, mas que conta com nomes como Walter Feldman (PSDB), Heloísa Helena (ex PT e PSOL) e Alfredo Sirkis (PV). Apesar de entender a opção da Rede de não se envolver diretamente como movimento, já que as manifestações estavam querendo se desvincular de partidos políticos (e até hostilizando membros de partidos), eu achei, na época, que seria uma boa oportunidade para ambos (a massa e o movimento Rede) afinarem discursos e criarem uma identidade político-ideológica (mesmo que isto gerasse divisões na hora do movimento virar partido, justamente por conta de ideologias totalmente distintas).

Também tenho acompanhado o movimento Rede Sustentabilidade desde o começo deste ano. A parte do manifesto da Rede que mais atraiu minha simpatia, foi a que trata do jogo político atual, ao qual à Rede se opunha, especialmente no que tange ao fisiologismo puro, ou seja, o abandono de sua ideologia em função apenas do poder. (Quem pensaria, há alguns anos atrás, em ver o PT se unindo a Paulo Maluf, por exemplo?)

Por ser um movimento novo, que ainda nem é um partido, e por ter uma identidade ainda em formação, como citado acima, não compreendia a pressa em se tornar partido e lançar candidatos na eleição do próximo ano, já que, como o próprio discurso diz, o movimento ia contra o “poder pelo poder”.

Qual não foi minha surpresa (e decepção) quando, no dia 02 de outubro, Marina Silva anunciou sua filiação ao PSB e a disposição de ser vice de Eduardo Campos, na próxima corrida presidencial, levando consigo a votação impressionante obtida na última eleição e seu bom desempenho nas pesquisas de intenção de voto para 2014.

À exemplo do que aconteceu com o PT, a Rede mostrou, mais uma vez, que o que move os partidos e os políticos (e aqui podemos generalizar, já que se trata da ampla maioria), ao invés de ideologias e um projeto de nação, é apenas o poder e projetos de poder. Infelizmente, acabo tendo que concordar com alguns estrangeiros que têm mais conhecimento do Brasil quando dizem que “o Brasil é o país do futuro. E sempre será!

Em tempo: o rompimento do PSB com o governo, a união deste com a Rede e a comemoração do fato pelo PSDB me lembrou muito o livro 1984. No clássico de George Orwell (imperdível, assim como A Revolução dos Bichos, outro clássico do autor), o mundo era dividido em três mega potências: a Eurásia, a Lestásia e a Oceania. Estas três potências alternavam entre si os aliados e inimigos: ora a Eurásia e a Lestásia se uniam em guerra contra a Oceania, no momento seguinte o inimigo comum da Oceania e da Lestásia virava a Eurásia, e assim sucessivamente, mantendo o mundo em um estado constante de guerra.

O inimigo a ser batido no momento é o PT e os demais se uniram para isto, mas não duvido nada que, num futuro próximo, PT e PSDB se unam em âmbito nacional (em níveis regionais já ocorreu) para derrotar o PSB e/ou a Rede, ou qualquer outro bloco que venha a surgir.

P.S.: O título deste texto me ocorreu devido à duas músicas da Legião Urbana: Eduardo e Mônica, do disco Dois, e Mais do Mesmo, do disco seguinte, Que País É Este? (pergunta que também poderia servir de título para este texto).

Be happy! 🙂

A Riqueza Na Base da Piramide e o Bolsa Familia – #tbt

Originalmente publicado na Feedback Magazine, em 28 de Setembro de 2013. As opniões do texto não refletem, necessariamente, a minha opnião atual, já que eu sou um ser em constante evolução e que prefere “ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opnião formada sobre tudo”.


Em 2005, um professor (já falecido) de Harvard, chamado CK Prahalad, lançou um livro chamado “A Riqueza na Base da Pirâmide”. A teoria dele basicamente diz que quanto mais a população pobre de determinado país (que são sempre a maioria da população) têm acesso ao mercado de consumo, mais isto gera riquezas para todos os extratos da sociedade e para a nação como um todo. Baseado nesta tese, ele diz que as empresas podem ajudar as pessoas em benefício próprio futuro. Um grande exemplo brasileiro, estudado por Prahalad, é o senhor Samuel Klein e suas Casas Bahia, que tem como público alvo as classes mais baixas.

Apesar de não citar explicitamente, a teoria dele faz contraponto à Mais-Valia descrita por Marx, já que, se as classes que controlam os meios de produção aumentarem a sua margem ao ponto de remover seus empregados do mercado de consumo, simplesmente irá extinguir este mercado de consumo.

Em 2009 estávamos discutindo as teorias de Prahalad em uma aula da minha pós-graduação e resolvi fazer a relação entre estas teorias e o principal programa social do governo Lula/Dilma, o Bolsa Família.

Assim como o PT demonizou as privatizações (E agora recorrem à ela!), a direita (a linha hoje é tão tênue que fica complicado utilizar conceito de direita e esquerda no Brasil) também tenta demonizar o principal programa do Lula.

O Bolsa Família é uma junção de várias bolsas (escola, gás, entre outras) que nasceram primeiramente no Distrito Federal, através do seu então governador Cristovam Buarque, em meados da década de 90. Depois foi levado ao âmbito nacional durante o primeiro governo de Fernando Henrique, através de uma proposta do senador Eduardo Suplicy.

Quando Lula se elegeu, ele unificou as bolsas em uma só e aumentou bastante a abrangência do programa.

O Bolsa Família tem três funções primordiais:

  1. Melhorar a distribuição de renda, diminuindo as diferenças;
  2. Combater a fome;
  3. Evitar o trabalho infantil e a evasão escolar.

O valor da bolsa é pensado de uma forma que supra as necessidades básicas de uma família, mas ao mesmo tempo não permita acomodação ou luxos. Ao contrário do que dizem, o valor não é “por cabeça” e existe a contrapartida das crianças estarem na escola (aí caímos no outro problema da educação básica, mas é assunto para outro texto).

O valor é em dinheiro, centralizado, através de um cartão benefício, por alguns motivos:

  • Problemas de logística: imaginem centralizar cestas básicas e ter que distribuir isto por um país com extensão continental igual ao Brasil;
  • Uso das “cestas” em troca de voto;
  • Desvio durante o processo;
  • E o principal: incentivo à economia local e consequentemente nacional.

Este último ponto é muito importante, pois a inserção dos beneficiários no mercado consumidor gira toda uma roda da economia que tem beneficiado até os tais “classe média” chorões.

Uma explicaçãozinha básica de como a “roda da economia” gira: uma certa região começa a receber o benefício do Bolsa Família. As pessoas do local passam a consumir mais. O “Seo Zé”, dono da vendinha, começa a vender mais, logo, terá que contratar mais funcionários, que por consequência, assim como o “Seo Zé”, também vão consumir. Gera renda e trabalho para o caminhoneiro, que terá mais produtos até a tal região. Gera renda nos postos de gasolina ao longo do caminho, nos restaurantes, etc.

Bem, este pessoal está consumindo todo tipo de produto, como alimentos, produtos de higiene e até alguns “supérfluos”, como computador, televisão, refrigerador, etc., incentiva a agricultura, incentiva as fábricas. A empresa em que eu trabalho, que faz bens de consumo (higiene pessoal, medicamentos…), também tem sua produção aumentada, portanto, terá que contratar mais funcionários, ou seja, mais pessoas dentro da economia de consumo.

Estes funcionários, os tais “classe média” que reclamam do “Bolsa Esmola”, ao invés de estarem desempregados, estão recebendo um bom salário porque o “vagabundo do beneficiário” está consumindo mais produtos.

Estes mesmos “classe média”, com emprego gerado pelo aumento do consumo, estão comprando TVs de LCD, carros, viajando pra Miami, gerando empregos em indústria automotiva, turismo, etc., que por consequência, gera emprego em atividades extrativistas (petróleo, minerais).

No final de tudo isto, o acionista da empresa onde eu trabalho, lá nos EUA, tá rindo de orelha a orelha, pois nos últimos anos viu sua operação no Brasil (e em outros mercados emergentes) crescer à taxa de 25% ao ano, enquanto as operações nos países de primeiro mundo, devido à uma crise mundial, encolheram. No final suas ações se valorizaram e ele recebeu seu quinhão de lucro.

P.S.: Sou capitalista até o último fio do cabelo, e como “capitalista” entendo que só existe lucro se existe mercado consumidor.

P.S. 2: Classe média, hoje em dia, mais do que uma classe social, é um “estado de espírito”. Existem “classe média” ricos, pobres e “classe média”, na acepção real do termo. Mas basicamente é aquele sujeito que acha que o mundo gira em torno dele, que só olha para o próprio rabo, que reclama que carrega o mundo nas costas, que critica ferozmente os atos de corrupção de políticos enquanto dá uma “cervejinha” para o guarda fazer vistas grossas à uma multa de trânsito.

Be happy! 🙂

Orwell’s Revenge: The 1984 Palimpsest – Peter Huber (03/2017)

Em 1994 Peter Huber teve uma brilhante idéia: desmembrar sua edição de 1984, escanear todas as páginas usando um software de reconhecimento de caracteres (OCR) e fazer uma análise do livro com a ajuda do seu computador pessoal, a máquina que Orwell quase chegou a prever e que seria o instrumento para a propagação e manutenção de tiranias, de acordo com o clássico publicado em 1949. Indo mais além, Huber também escaneou todas as obras publicadas de Orwell (ensaios, romances, contos), alguns outros textos, transcrições do programa que ele apresentou por algum tempo na rádio BBC e textos biográficos sobre Orwell de autoria de outros.

Ao analisar o livro e os demais textos ele notou que 1984 era um recorte de outros textos e pensamentos que Orwell havia escrito até então e resolveu, ele mesmo (Huber), “reescrever” 1984 usando a mesma técnica que Orwell utilizou (recortar e colar trechos de outros textos). Claro que depois de tomar esta liberdade, o próximo passo foi “corrigir” o que Orwell havia errado em suas previsões, adicionando coisas que talvez ele nem imaginasse que iriam acontecer. Na verdade, o livro é uma sequência, já que a estória relata fatos posteriores a 1984, em que o rumo da estória muda de acordo com e como as tecnologias se desenvolveram e foram adotadas desde que o livro havia sido escrito.

Além de ser uma estória nova, o livro é ao mesmo tempo um estudo sobre a obra e a vida de Orwell, inclusive chegando a fazer uma análise de como a infância e adolescência do autor (como um bolsista de origem simples dentro de uma escola de ricos) moldou seu carater e gerou um ódio ao rentismo, ao capitalismo, aos mercados (quando eles saem do nível de trocas voluntarias entre “pessoas físicas”) e ao dinheiro.

Um ponto importante a considerar é que a escolha do ano de 1984 como sendo o ponto futuro foi totalmente aleatória, apenas invertendo os dígitos finais do ano em que o livro foi concluído (1848 -> 1984). Orwell não estava de forma alguma querendo fazer uma previsão de que aquilo seriam os proximos passos, mas apenas retratar o que ele achava que aconteceria no futuro, sem estabelecer um prazo pra isto.

E o que ele (Orwell) imaginava que iria acontecer tem muito a ver com suas crenças e seu pessimismo. Quem lê apenas Animal Farm ou 1984 talvez imagine que Orwell fosse um ferrenho crítico das teorias de Karl Marx, mas na verdade ele era um socialista convicto e sua crítica ao sistema implementado na antiga União Soviética, por exemplo – e especialmente em Animal Farm – se dá justamente porque ele acredita que as sociedades só iriam evoluir para um estado de bem estar geral sob o comando central do Estado, de uma centralização nas decisões econômicas e com os meios de produção sendo controlados democraticamente através de um Estado.

E aí entra um dos maiores dilemas enfrentados por Orwell: enquanto ele abomina totalmente o capitalismo e os mercados, pois entende que, invariavelmente eles levam a uma concentração de poder (monopólio) nas mãos de meia dúzia de rentistas (oligarquias), ele também não consegue encontrar uma solução para que uma sociedade coletivizada mantenha-se democrática, pois ele entende que invariavelmente uma sociedade com planejamento central tende a se tornar um Estado totalitário, com o poder nas mãos do grupo político que conseguir controlar este Estado no momento certo. Huber traz justamente à tona este problema que Orwell não conseguiu resolver: se o capitalismo (livre mercado) e o socialismo (planejamento central através do Estado) resultam em concentração de poder na mão de poucos e opressão de muitos, o que fazer para evitar o Big Brother ou um Napoleão?

Segundo uma das “previsões” de Orwell, a Telescreen, um tipo de “telefone com imagem” (Skype?) seria utilizado como intrumento de controle social pelo partido no poder, que teria ascendido ou das oligarquias detentoras dos monopolios ou através de grupos politícos, no caso de uma sociedade centralizada. O que Orwell não consegue imaginar é que, da mesma forma que a Telescreen poderia transmitir informações para os ministérios, ela também poderia ser usada para transmitir informações entre qualquer pessoa, desta forma contrabalanceando a “centralização” de informações. Da mesma forma, a Telescreen como se desenvolveu (Internet) descentraliza a geração das informações, já que a história fica espalhada em milhares de lugares e fica difícil para qualquer governo controlar e alterar os fatos, como era comum na Alemanha Nazista e na União Soviética socialista, por exemplo. Mais um “tiro n’água” de Orwell.

Talvez os maiores “erros” (lembrando que o próprio Orwell evitava usar as palavras “profeta” e “profecia”, pois ele tinha consciência que a chance de erro é infinitamente maior do que a de acerto, sempre!) foi achar que o livre mercado sempre leva a monopólios e que, para produzir grandes inventos (como um avião, por exemplo) o planejamento central (estatal ou corporativo) seria mandatório. Quanto ao primeiro erro, talvez ele se surpreendesse se tivesse vivido um pouco mais para testemunhar que o livre mercado pode até conduzir a um monopólio temporário, mas que esta “bolha” sempre estoura e, por ironia, sempre são mantidas por intermédio do Estado, principalmente em democracias. É o Estado que, afim de “proteger os interesses nacionais” ou “evitar concorrência desleal”, cria regras para proteger monopólios e oligopólios. Quanto ao segundo erro, basta ver que quanto mais o conhecimento é distribuido e o planejamento “quebrado” em partes menores, mais avanços tecnológicos são obtidos. Talvez para tirar um grande projeto do papel realmente seja necessario um “sponsor”, porém a necessidade se dá mais pelo fator financeiro do que científico.

A solução para a questão do Estado Totalitário, que segundo Orwell invariavelmente ocorreria, acabou sendo a propria Telescreen/Internet. Porém, a Internet, as novas tecnologias e os modelos de economia compartilhada ameaçam o status quo: elas estão criando a possibilidade de uma sociedade com oportunidades e equidade que as teorias baseadas em Marx nunca conseguiram entregar, enquanto ao mesmo tempo quebram a lógica da concentração de poder e renda que as “elites” e os políticos tem no denominado “Capitalismo”. Só falta a massa perceber que o embate à partir de agora não deveria mais se dar entre Estado X Iniciativa Privada, Coletivo X Individual, Mercado X Planejamento Central, o embate à partir de agora é entre o progresso e o conservadorismo, tanto daqueles que querem manter as coisas no estado atual (concentração de renda e poder nas mãos de poucos), quanto daqueles que ainda insistem em uma utopia com quase dois séculos de idade: todo o poder na mão de um Estado, que em tese e utopicamente seria democratico, mas que apenas move a concentração de poder do campo econômico para o político.

Mesmo que Orwell não tenha estabelecido justamente 1984 para suas “previsões” e que boa parte delas não tenham ocorrido como ele imaginava, a epoca escolhida aleatoriamente por ele se dá exatamente quando uma das rupturas que geraram o mundo atual e, talvez tenham sido até uma das responsáveis por desviar a humanidade do caminho previsto por ele, foi massificada: o Computador Pessoal. No ultimo capitulo do livro, Huber trata justamente do nascimento de duas indústrias (B&B, Bell & Blue, Bell Telecom & IBM) que são as principais responsáveis pelos incríveis avancos tecnológicos ocorridos à partir da década de 80: as telecomunicações e os computadores. Mas Huber, assim como Orwell, tambem foi traido pelo tempo: ele escreveu seu livro em 1994, apenas alguns anos antes da popularização da Internet. A “rede” já existe desde os anos 60, mas seu uso ficava restrito às universidades, e a “barreira” foi ultrapassada justamente por conta do aumento da capacidade de tráfego nas redes de telecomunicações. Se tivesse esperado alguns anos, talvez Huber tivesse escrito um outro livro. Ou talvez já esteja na hora de escrever um Orwell’s re-revenge.

Uma coisa Orwell conseguiu acertar no alvo: o duplipensar. A unica diferenca é que ele imaginava que “dar sentidos diametralmente opostos a uma mesma palavra” seria algo imposto de cima para baixo, pelo “partido” (ou a corporação) detentora do poder. Talvez seu pessimismo se agravasse ao perceber que, com o “controle da verdade” nas mãos da massa, é a propria massa que cria expressões com sentido oposto no intuito de validar suas proprias incoerências (e justificar seus ódios e preconceitos). Exemplos? Os termos politicos “liberal conservador” ou “conservador liberal”, que nem semanticamente fazem sentido!

Be happy 🙂

Justiça – Michael J. Sandel (02/2017)

Este é mais um daqueles livros que deveriam ser de leitura obrigatória nas escolas e universidades, inclusive devendo ser relido algumas vezes. Exagerando um pouco: deveria ser pré-requisito para quem quisesse comentar sobre política na Internet….hehehe.

Sandel é um filosófo americano e o livro, cujo subtítulo é “O que é fazer a coisa certa”, é um apanhado do que ele discute em uma materia chamada “Justiça” que ele mesmo leciona em Harvard e que é atendida especialmente por alunos de direito.

O livro discorre sobre três principais linhas filosoficas do que é certo: o utilitarismo (o bem comum como princípio básico das sociedades), o libertarianismo (a liberdade individual como o princípio básico) e uma “terceira via” que fica no meio termo e que, justamente por variar de sociedade para sociedade, é de dificil delimitação e generalização. Ele aborda cada uma das linhas através do uso de muitos exemplos reais, alguns casos de dilemas morais e, principalmente, confrontando estes casos e dilemas com as duas primeiras linhas e tentando chegar a um meio termo que, repito, varia muito de acordo com os valores e a formação histórica das sociedades.

Durante o livro ele traz idéias de vários filosofos, tais como Aristóteles, Immanuel Kant, John Stuart Mill, John Locke, John Rawls, entre outros, sempre situando as idéias destes autores dentro do espectro entre o interesse comum (da família, da sociedade, de uma nação, da humanidade) e a liberdade individual.

Entre os assuntos, casos e dilemas, o livro fala de intervenção no livre mercado (“é  errado que vendedores possam cobrar mais por seus produtos se aproveitando da escassez gerada por um desatre natural?”), a relação entre igreja e Estado, direitos humanos, as obrigações impostas através de acordos sociais tácitos (impostos, voto, serviço militar obrigatório), o “valor da vida” (qual a quantidade de mortes aceitáveis no transito para justificar um aumento de velocidade, por exemplo), aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, entre outros. Mas dois me chamaram bastante a atenção, especialmente pelo fato de vermos, pelo menos no Brasil, discussões muito exacerbadas e onde cada um dos lados nunca procura entender as causas da própria posição, quem dirá da posição do outro.

O primeiro é a questão da meritocracia. No Brasil existem os defensores e os detratores do sistema meritocrático, com poucas pessoas realmente entendendo o que seria a meritocracia em sí. A meritocracia tem a intenção de premiar o esforço do indivíduo ao realizar determinada tarefa ou função. Mas ai entra na questão de realmente separar o que é mérito do que são circunstâncias do acaso, ou seja, a pura sorte. Até que ponto o fato de eu ter nascido com um bom raciocínio lógico em uma época e sociedade onde esta aptidão é valorizada é merito meu? Certamente eu investi bastante tempo desenvolvendo este “dom”, mas será que conseguimos mensurar o quanto realmente existe de esforço individual e onde, portanto, a meritocracia é aplicável, da pura sorte ou das condições do ambiente? Alguem que recebeu uma heranca, certamente não pode contá-la como mérito próprio, por exemplo. Como criar mecanismos para equilibrar as condições, ou seja, a linha de partida, entre pessoas que não tiveram a sorte de nascer em um lar com melhores condições com aqueles que tiveram esta sorte?

Outro assunto que me chamou a atenção foi a da questão das cotas raciais, que trouxe um ponto de vista totalmente diferente e que fez com que eu mudasse de idéia sobre o assunto pela terceira vez na minha vida. Inicialmente eu tinha restrições, por achar que acabam por criar um grupo de “excluidos entre os excluidos”, depois fui entender que não se trata de “corrigir erros do passado”, mas sim “corrigir o futuro” e agora eu ja mudei totalmente a minha visão, concordando com o Sandel.

Primeiro o Sandel traz o  caso de uma universidade pública no Texas onde uma candidata não conseguiu ser aceita para determinado curso, apesar de ter um histórico escolar melhor e melhores notas no SAT (o “ENEM” dos EUA) do que alguns outros alunos que entraram através de outros critérios (étnicos, esportivos, etc). Esta aluna entrou com uma ação e a justiça entendeu (como tem entendido para a maioria dos casos parecidos) que, se a regra quanto aos critérios de admissão eram claras antes do inicio do processo, não há do que reclamar. A instituição tem o poder de definir os critérios que bem entender para selecionar seus alunos.

E ai o Sandel diz que, para que os critérios sejam justos, a universidade deve adotar os criterios de seleção que se adequem à sua missão e valores, independente de ser uma instituição particular ou pública. O “justo” neste caso é medido do ponto de vista universidade, e não do candidato/aluno. E foi ai que eu acabei concordando totalmente com ele e mudando de opnião sobre o assunto.

Vou tentar aplicar este pensamento no caso da USP.

Se a missao da USP, por exemplo, é “proporcionar ensino de alta qualidade e gratuito para aqueles que melhor se classificarem no teste de aptidão”, realmente o vestibular, da maneira que é hoje, seria a maneira “justa” de acordo com a missão da instituição. Mas se esta for a missão da USP eu, como contribuinte, sou até a favor do fechamento dela e que os recursos destinado a ela fossem investidos em outras prioridades (como educação básica). Nao faz sentido a sociedade pagar para que alguns poucos afortunados tenham a chance de obter uma qualificação acima da média, sem retorno (ao menos mensurável) para a própria sociedade. Para mim, educação deve ser encarada como investimento por uma nação.

Agora, se entre uma das missoes da USP estiver a “disseminação do conhecimento, afim de proporcionar o bem estar geral da sociedade, promovendo um ambiente diverso e plural…”, acho inclusive que as “cotas” são muito pouco para atingir esta missão e deveriam criar uma forma de reproduzir entre seus quadros a mesma pluralidade existente na sociedade, criando “cotas” de gênero, classe social, etnias e até de orientação sexual, usando como base a distribuição geral de cada um destes grupos na sociedade brasileira.

E ao refletir sobre isto, tambem me ocorreu o seguinte pensamento: será que alguns detratores das cotas raciais existentes hoje, ao aplicarem para cursos em universidades estrangeiras, que valorizam muito a diversidade entre seus quadros, especialmente nos cursos de graduação (mestrado e doutorado), pois entendem que se tiverem apenas alunos com as mesmas caracteristicas (sociais, étnicas, etc) a geração e disseminação de conhecimento fica comprometida, apelam para a sua “latinidade” afim de aumentar as suas chances? No minimo seria incoerente, pra nao dizer hipócrita mesmo.

Be happy 🙂

The Invention of Solitude – Paul Auster (01/2017)

the-invention-of-solutideCheguei neste livro por conta de um post no Blog do Flávio Gomes onde ele citava uma frase do livro: “Foi. Não será de novo. Lembre.”. Achei a frase muito interessante, pois creio que existem dois tipos de saudade: uma boa e outra ruim. A boa é aquela saudade nostálgica: você lembra de um fato que foi interessante, o que te propicia um momento de prazer ao relembrá-lo, mas que você sabe que aquilo ficou no tempo (“não será de novo”). E existe a saudade ruim, aquela em que a pessoa fica comparando e se remoendo pois “antigamente era melhor”, “quando era jovem…”, “no meu tempo”, etc.

O mundo muda (e mudou muito rapidamente nos últimos vinte ou trinta anos), as pessoas mudam, as situações nunca serão as mesmas. “Foi. Lembre”. Então fui atrás do livro que continha a frase. Livro bom, ótimo até. Mas que não te dá uma “boa” sensação. Mas explico abaixo.

Em Português o livro tem o título de “A Invenção da Solidão”, que numa tradução literal difere do título original. Solitude em Inglês seria traduzido, ao pé da letra, por solitude em Português, que é um estado de privacidade, mas não exatamente ligado ao sofrimento, o que seria o caso da solidão (loneliness em Inglês). Porém, esta “tradução errônea” não perde o sentido quando comparado ao conteúdo do livro, que trata da “solitude” de Sam, o pai de Paul, e da própria solidão do autor.

Na primeira parte do livro, chamada “Retrato de um homem invisível”, Austin retrata os fatos que se seguiram após a morte “súbita” (não estava doente, morreu em casa) do próprio pai e o processo de conhecê-lo durante os “trâmites” post mortem. Conhecê-lo pois Sam, o pai de Austin, era uma pessoa que, enquanto não conseguia se “encaixar” no mundo (ou não queria), também não conseguia se isolar e que, desta forma, acabou criando uma camada, uma zona intermediária entre sua inserção e o isolamento. E durante este processo o autor começa a entender melhor o pai , sua complexa relação com ele, bem como o relacionamento do pai com o restante da família (a mãe, da qual Sam havia se separado há alguns anos, e a irmã). A descoberta de fatos da infância do pai (nao darei spoilers, já que é uma das melhores partes do livro), aliado a memórias que ficaram escondidas (ou talvez tivessem sido ignoradas) faz com que Austin comece a compreender melhor o pai e seu relacionamento com ele, o que leva à segunda parte do livro, denominado inicialmente de “The Book of Memory” (O Livro da Memória).

Logo após a morte do pai e passando por uma separação, o autor se isola para tentar, ao mesmo tempo, um processo de autoconhecimento e a criação de um novo livro. Neste processo (escrito em terceira pessoa), ele próprio passa a analisar fatos importantes da sua vida, que moldaram a pessoa que ele era à época e que, de alguma forma, guiam o relacionamento dele com o próprio filho (então com três anos). Ele se descobre uma pessoa com uma “nostalgia do presente”: aquele medo de que as coisas deixem de ser como são e que faz com que as pessoas tentem manter, a todo custo, o estado atual das coisas, isto quando não querem fazer com que algumas coisas do passado voltem a ser como eram (qualquer semelhança com os conservadores não é mera coincidência…hahaha).

Revisitando passagens da vida de alguns nomes da arte (escritores, poetas, pintores) e mesmo evocando algumas passagens bíblicas, ele vai comparando os relacionamentos e as reações destes “personagens”, fazendo paralelos com seus próprios relacionamentos, suas reações e suas motivações. Até o ponto em que “O Livro da Memória” vira “A Invenção da Solitude”, culminando com a maravilhosa frase.

Para explicar a “sensação ruim” (que é boa ao mesmo tempo): existem algumas músicas que mexem comigo de uma forma estranha. Sabe aquela sensação do peito apertado, que você precisa inspirar fundo e expirar pela boca? A Sonata ao Luar do Beethoven, o Requiem do Mozart e o album Obscured by Clouds do Pink Floyd são algumas das obras que me causam esta sensação. Mas este livro, especialmente a primeira parte, talvez seja a primeira obra literaria que me causou a mesma sensação (“O Processo” de Kafka e “O Estrangeiro” de Camus foram obras que chegaram perto).

Não é um livro para ser devorado. É para ser degustado aos poucos. Pois a experiência de “descobri-lo” acontecerá uma vez, não se repetirá, e só restará lembrar.

It was. It will never be again. Remember.

Be happy 🙂

O Gene Egoísta – Richard Dawkins (18/2016)

o-gene-egoistaExistem alguns assuntos que, por mais que alguém não vá ser especialista neles, formam um conjunto de conhecimentos nos quais todo mundo deveria ter ao menos uma visão macro, um nível mínimo básico de conhecimento. Basicamente são as áreas de conhecimento que fazem parte do curriculum escolar. Biologia é um deles. Eu ainda não entendo porque deva ser estudado em separado da Química. E porque a Química deva ser estudado em separado da Física. E porque a Física tem que ser estudada a parte da Matemática. E por ai vai. Mas acho que já estou ficando repetitivo neste ponto.

Dentro da Biologia, talvez o assunto mais importante desta base geral seja a teoria da evolução de Charles Darwin e as teorias baseadas nela.

Além destes assuntos, um que deveria constar no curriculum escolar deveria ser aplicação dos conceitos de pensamento científico, metodologia de pesquisa científica (que geralmente é muito mal ensinada nas faculdades) e tudo ligado aos mecanismos de geração de conhecimento, ou seja, à ciência.

Em “O Gene Egoísta”, primeiro livro publicado por Dawkins, em 1976, ele defende a teoria da seleção no nível do gene, em contraponto às teorias da seleção de indivíduo, de grupo e de espécie, aplicando exatamente os métodos científicos (as idéias, hipóteses e teorias podem e devem ser confrontados, mas o método em sí é o que garante o bom funcionamento de todo o sistema).

Segundo esta teoria, cada gene sozinho luta por sua própria sobrevivência e propagação, sendo que ele se alinha a outros genes na medida em que esta união traz mais benefícios do que a competição com estes demais genes. Ou seja, um gene se alia a outro, para formar um determinado “veículo” afim de que ele possa continuar sobrevivendo. O que ele chama de veículo são os seres vivos (todos, desde uma bactéria até o ser humano), que na verdade são apenas meios para que o gene possa continuar se propagando.

Este egoísmo também é repassado para os veículos, que se unem (com veículos de espécies diferentes, em vários tipos de arranjos, ou veículos da mesma espécie, em colônias ou sociedades) ou competem entre si. Deixando de lado simplesmente a teoria biológica e partindo para a filosofia e moral, a teoria torna-se um tanto quanto controversa, já que até o cuidado parental é uma face deste egoísmo (o seu filho tem 50% dos seus genes, assim como seus irmãos, portanto, é interessante cuidar deles para que o gene possa sobreviver).

Dawkins chega ao ponto de mencionar a xenofobia e o racismo como faces desta teoria: o gene produz alguns sinais externos (fenótipos, como cor dos olhos e tom da pele), também com o intuito de que genes de mesma origem, em veículos distintos, possam se reconhecer. Pensando na teoria, faria sentido. A discussão moral, em tese, não caberia aqui.

O mesmo vale para os sinais externos usados na escolha do parceiro com o qual se reproduzir, como a cauda do pavão, que gera um custo grande para o veículo (de energia para produzi-la), mas serve como um indicativo de que os genes que compõem aquele veículo são bons e que a fêmea faria uma boa escolha ao copular com aquele indivíduo, pois desta forma as chances de que seus genes venham a se propagar (os 50% que estariam na cria) seriam maiores.

E ai aparece outra polêmica (das várias do livro), de que a fêmea (independente da espécie), por investir mais na geração de um novo ser (os óvulos são várias vezes maiores do que os espermatozóides em qualquer espécie), tende a selecionar melhor o parceiro e a também investir mais em cuidado parental, enquanto o macho, por produzir uma quantidade enorme de gametas, investindo pouco em cada um deles (e geralmente bem menos na somatória do que a fêmea no óvulo), estaria mais propício a tentar a cópula com o máximo de fêmeas possível e a abandonar as crias à própria sorte.

O livro gerou tanta polêmica que foi “acusado” de ter inclusive colaborado para a ascenção da Margareth Thatcher, que pregava o individualismo acima do coletivo, ao posto de primeira ministra da Inglaterra ao final da década de 1970.

Tanto que nesta terceira edição revisada, o Dawkins faz questão de esclarecer, na introdução e nas notas, que a análise dele não é filosófica, nem moral e nem social e inclusive, erroneamente a meu ver, chega ao ponto de explicitar que ele mesmo votou contra a então candidata Thatcher à época. Se por um lado mostra que ele coloca a ciência acima de suas convicções pessoais, por outro ele parece “pedir perdão” pelo livro e pelo fato das pessoas não terem interpretado corretamente.

O novo capitulo adicionado na segunda edição, de 1989, é o relativo ao que ele denomina memes (sim! Esta palavra tão comum em tempos de internet foi cunhada pelo Dawkins!). Ele traça um paralelo entre o nascimento, a propagação e a “evolução” da cultura, com o mesmo processo executado pelos genes. Ele traz vários exemplos, sendo o mais notável a religião.

Um outro ponto que tem me interessado muito já há alguns anos e que ele traz no livro é o que eu chamo de “mecanismo do ‘vale à pena'”. Como eu trabalho com análise de dados, sempre tem me intrigado como, para quase todas as decisões que o ser humano toma, ele realiza, inconscientemente, milhares de cálculos para ver a relação “custo X benefício” daquilo. Na verdade isto é um mecanismo que existe em diversas outras espécies. Um outro exemplo que eu uso é: quando um leão sabe exatamente quando não vale mais à pena perseguir determinada presa e guardar energia para tentar a sorte com uma outra, ao invés de ficar perseguindo indefinidamente, até que suas forças se esgotem? Dawkins traz o tema, dizendo que, provavelmente a evolução fez com que nossos cérebros fizessem estes cálculos sem que percebamos, da mesma forma que um morcego faz um cálculo complicado para detectar a distância dos objetos através do eco do próprio som emitido (a própria emissão do som já é bem complexa).

O livro é bem longo e cansativo, com o Dawkins sendo até prolíxo ao explicar o mesmo tema diversas vezes, utilizando apenas metáforas diferentes, mas há de se perdoar esta “falha” por se tratar do primeiro livro de alguém acostumado a escrever literatura científica e acadêmica. Apesar disto, é uma leitura que vale a pena, mesmo assim não sendo melhor que os dois outros livros dele que eu li: Deus Um Delírio (o melhor) e O Relojoeiro Cego.

Be happy 🙂