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A democracia, a liberdade de expressão e o direito (ou não) de falar besteira

LevyFudelix

E tenho a teoria (mais uma!) que um dos grandes responsáveis pela incapacidade do brasileiro de analisar fatos e tomar decisões baseadas nos seus próprios conceitos são dos professores de ciências sociais, que na ânsia de promover uma doutrinação de esquerda, ao invés de ensinar os alunos a analisar fatos e tirarem suas próprias conclusões, fazem com que os brasileiros fiquem acostumados a receberem opniões prontas e as adotarem (mas isto é tema para outro artigo). Um grande exemplo é o conceito que a maioria dos brasileiros têm de democracia e um dos seus principais pilares: a liberdade de expressão.

O brasileiro comum faz uma mistura danada sem entender realmente o conceito de democracia. Democracia, segundo o conceito que boa parte dos brasileiros têm, é que a vontade da maioria deve se sobrepor à dos demais. Mas na verdade, a democracia é apenas um meio de gerenciar a discordância em temas que afetam a sociedade ou grupos dentro desta sociedade.

Ou seja, se a pessoa faz algo que afete somente a vida dela, não é o Estado que deve interferir.

Vamos exemplificar: reza a lenda que a palavra “fuck” (opa! Agora vai bombar o post!!!!…hahaha) é o acrônimo para “Fornication Under Consent of King” (fornicação sob consentimento do rei), que seria um aviso grudado na porta dos casais cujo Rei havia permitido que praticasse sexo (para fins de procriação). Na idade média, os Reis eram os donos de tudo o que havia no reino, inclusive das vidas dos seus súditos. Então (e isto não é lenda) eles determinavam até quando as pessoas iriam se procriar e inclusive se davam o direito de serem os primeiros a “experimentarem” cada mulher do reino.

Com o avanço das sociedades, “descoberta” da democracia e a evolução desta, chegou-se à conclusão que o Estado não deveria intervir em questões de foro íntimo dos cidadãos, desde que estas questões não inteferissem na vida de mais ninguém.

Seguindo pelo mesmo caminho, o do sexo, a democracia funciona da seguinte maneira: se duas pessoas praticam o ato sexual, de forma consensual, não é papel do estado intervir, já que isto não afeta a vida da população como um todo. Então se um homem trepa com uma mulher, ou mesmo que seja um homem com homem ou uma mulher com outra mulher, o ato só irá interferir na vida daquelas duas pessoas que, de livre e espontânea vontade, praticaram o ato.

Porém, se o ato sexual ocorreu entre duas pessoas sem o consentimento de uma delas (estupro), ai sim o Estado deve intervir. Ou se o ato aconteceu entre alguém com suas plenas capacidade mentais e intelectuais com alguém que não as tenha (menor de idade, deficientes mentais e mesmo pessoas que estejam incapacitadas momentaneamente, inclusive por álcool e outras drogas), ai o Estado deve interferir para proteger estas pessoas.

Agora vamos à questão da liberdade de expressão. É facultado à todo cidadão, em uma democracia, expressar o seu pensamento livremente. Porém, voltando ao ponto de que, você é livre para fazer o que quer desde que não prejudique alguém, que é um dos pilares da democracia (lembra quando sua mãe falava que “o seu direito termina quando começa o do outro”?), você pode expressar o que desejar sem prévia censura, só que, se alguém ou algum grupo se sentir prejudicado ou ofendido por aquilo que você falou, e se a justiça considerar que realmente aquilo causou algum constrangimento ou prejuízo, você irá pagar por isto.

A Liberdade de expressão quer dizer que ninguém vai cercear seu direto de se expressar, porém, também quer dizer que, se você falar algo que prejudique alguém, você terá que ser responsabilizado por isto.

Então agora vamos ao ponto principal: há algumas semanas atrás, em um dos debates entre os candidatos à presidencia que ocorreram antes do primeiro turno, o então candidado Levy Fidelix fez um discurso onde ele expressou toda a sua homofobia em rede nacional.

Ele ser homofóbico é todo um direito dele. Como é direito de qualquer cidadão não gostar de alguém por conta da etnia, do local de origem, de faixa etária, de gênero, etc. É um problema totalmente individual e o Estado não deve inteferir nisto.

Porém, e voltando ao assunto inicial, é problema do Estado quando isto interfere na vida de outras pessoas. O discurso do Levy Fidelix, que foi digno da caneta de Goebbels e do discurso de Hitler, por mais que fosse a livre expressão das idéias dele, vem a prejudicar outras pessoas, e no caso todo um grupo de pessoas. Quando ele fez aquele discurso dizendo que os homossexuais deveriam ser isolados e tratados (qualquer semelhança com os campos de concentração nazistas não é mera coincidência), desperta uma situação que exalta os animos agressivos (para ser “leve”) de quem não gosta de homossexuais e acaba por colocar os homossexuais em risco. E ai, voltando àquele ponto de que, enquanto você não atinge outro, você pode fazer o que quiser, o candidato Levy Fidelix colocou em risco a integridade física de pessoas.

É engraçado que muitas pessoas gostam de usar os Estados Unidos ou a Europa como parâmetro na área econômica e em questão de desenvolvimento, mas estas mesmas pessoas pregam um discurso totalmente contrário à estes países no que se refere aos direitos humanos, liberdades individuais e a tolerância. E boa parte delas sairam em defesa do Levy Fidelix, alegando a liberdade de expressão para defender o discurso e até para praticarem discurso iguais.

Conheço bem os EUA e conheço um pouco a Europa e se um discurso igual ao dele fosse proferido em rede nacional nos EUA e em boa parte da Europa Ocidental, ele sairia algemado do local do debate e já impugnado para as eleições. Na Alemanha então, uma “democracia cristã”, como gostam de usar como exemplo ideal de país os “cristãos fundamentalistas”, ele simplesmente estaria preso até agora e sua carreira política teria se acabado naquele momento.

Como bem disse a amiga Gisele Berto, naquele momento ele passou da categoria de caricato, a do “candidato do aerotrem”, para a categoria dos canalhas.

Meias verdades e mentiras por inteiro: o auxílio reclusão

Auxilio ReclusaoTrabalho com TI há mais de 20 anos e tive a oportunidade de ver o nascimento da Internet no Brasil. Como um consumidor voraz de todo tipo de informação eu imaginava, época o tanto de oportunidades que seriam criadas com o acesso fácil, amplo e praticamente gratuíto à informação. Não que antes da Internet fosse impossível ter este tipo de acesso (em menor escala, óbvio), já que as bibliotecas, jornais, revistas e livros sempre existiram. Porém eu imaginava que, com a facilidade de não precisar nem se deslocar e conseguir acesso à informação através de um clique, uma sede por conhecimento talvez surgisse nas massas e que, consequentemente, isto se transformasse em infinitas oportunidades de desenvolvimento da nossa sociedade.

Passados alguns anos da disseminação do acesso à internet no Brasil, é triste constatar que as pessoas ainda abrem mão de ter informação e conhecimento. Para piorar, ainda utilizam esta ferramenta para disseminar ódios e preconceitos e para repetir e propagar algumas inverdades sem ao menos “perder” alguns preciosos minutos para verificar a informação, analisá-la e ai sim, tirar suas próprias conclusões. Ao invés disto, as pessoas preferem adotar opniões alheias pela simples preguiça de buscar mais informações. Porém, já diria Nietzche, em Assim Falou Zaratrusta: “Melhor ser um louco segundo os próprios critérios, do que sábio segundo o critério dos outros”.

Pensando nisto, resolvi pegar algumas inverdades que circulam na internet e fazer uma pesquisa sobre cada um dos assuntos, afim de trazer um pouco de embasamento para a formação primeiramente de minha opnião, e que agora pretendo compartilhar (e cada um que tire suas conclusões). Como ficaria um texto muito longo, eu vou dividir em vários artigos com temas específicos. Por enquanto tenho 4 temas já programados. Se tiverem algum e quiserem me sugerir, eu agradeceria, já que minha curiosidade é grande.

Um dos vários boatos, que também é carregado de ódio e preconceito, que circula na internet, especialmente nas redes sociais, é a que se refere ao “bolsa bandido”, “bolsa vagabundo” e outros nomes pejorativos que dão ao benefício do Auxílio Reclusão.

Bem, primeiro vamos contextualizar: o Auxilio Reclusão é um benefício do INSS. INSS signifca Instituto Nacional de Seguridade Social. Como o próprio nome diz, este órgão é um instituto de seguro, semelhante a diversas empresas seguradoras existentes na iniciativa privada. O INSS em específico, visa proporcionar à população brasileira benefícios que as demais seguradoras de mercado, por opção, não proporcionariam, ou mesmo para atender segurados que estas seguradoras não têm interesse em atender. Além disto, alguns benefícios são de exclusividade do INSS e não podem ser oferecidos por nenhuma outra seguradora.

No caso do Auxilio Reclusão, ele é também um benefício do INSS, ou seja, é um seguro que permite que a familia do segurado receba um benefício, caso este esteja impossibilitado de prover-lhes o sustento, pelo fato de estar preso. Este tipo de seguro é muito comum em outros países, sendo oferecido por praticamente todas as operadoras de seguro do mercado e adquirido especialmente por profissionais que correm um risco maior de sofrerem ações penais (cirurgiões por exemplo). Não consegui descobrir o porque de, no Brasil, o INSS ter o monopólio deste tipo de seguro, não permitindo que ele seja oferecido por nenhuma seguradora privada.

Para ter direito a um benefício originado de um seguro, o segurado paga à seguradora um prêmio, ou seja, o segurado “premia” a seguradora por esta assumir um determinado risco. Isto também acontece no Auxílio reclusão. A pessoa, para ter direito ao benefício, precisa pagar este prêmio, que no caso do INSS acontece ou por meio de desconto em folha, para os profissionais que tenham carteira assinada, ou através do pagamento do carnê do INSS, para os demais profissionais. Atualmente, cerca de 40500 famílias utilizam-se do benefício. Dentro de uma população carcerária de aproximadamente 550 mil presos, isto corresponde a aproximadamente 7,4% das famílias dos detentos.

O benefício é concedido aos familiares do segurado e visa proporcionar à estes (esposa, filhos, pais, ou qualquer outro dependente legal) uma fonte de sustento, caso estes sejam dependentes do segurado, no caso da impossibilidade da continuação do trabalho, pelo motivo de condenação e detenção do segurado.

O valor para toda família é calculado com base no valor e tempo de contribuição de INSS por parte do segurado e tem um teto de R$ 971,00, que é corrigido com base no salário mínimo.

Este benefício foi criado há mais de 50 anos e incluido na Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS (Lei nº 3.807, de 26 de agosto de 1960) e foi mantida para na Constituição Federal de 1988.

Estes são os fatos objetivos do Auxílio Reclusão, que, como podemos perceber, são omitidos ou distorcidos neste hoax que roda há anos pela internet.

Agora vamos a algumas considerações pessoais.

Levando-se em conta que só tem direito ao benefício quem contribui com o INSS e, pelo que eu saiba, “bandido profissional” ainda não tem carteira assinada (ainda!). O benefício vai chegar à família do trabalhador que, por uma besteira ou infelicidade, cometeu algum crime e deve pagar por isto. Porém, somente ele deve pagar pelos seus atos e não se deve condenar, por tabela, esposa, filhos, pais, ou quaisquer outros que dependam dele.

Infelizmente não encontrei dados sobre o tipo de pena que estes beneficiários cumprem, mas como um palpite eu duvido muito que existam latrocidas, assaltantes de banco e grandes traficantes entre eles. E como palpite, creio que a maioria sofreu condenações por furto, crimes relacionados ao transito ou crimes passionais. Eventualmente pode ter algum usuário que acabou “rodando” por portar uma quantidade maior de drogas do que o delegado achou que ele deveria.

O benefício é concedido à familia do detento. Ou seja, visa proporcionar aos familiares que perderam sua fonte de sustento, um meio de se manter. Entendo que é melhor conceder um benefício (que como já explicado, é um direito, pois já foi pago) a alguem que era sustentado por uma pessoa que cometeu um erro e deve pagar por isto, do que deixar estes dependentes à mercê da sorte, ai sim, correndo o grande risco de jogá-los à marginalidade.

Um dos argumentos dos detratores do Auxilio Reclusão é de que o criminoso recebe um auxílio (novamente, é um seguro!), enquanto a família da vítima (já supondo que todos sejam assassinos) fica à merce da sorte. Na verdade, a família da vítima, caso esta seja beneficiária do INSS, também tem direito a solicitar o auxílio por morte.

O valor não é por filho. O valor é um só, independente de filhos, e é relativo ao valor e tempo com que o beneficiário titular contribuiu com o INSS. Os tais quase mil reais É O VALOR DO TETO. O valor médio pago em 2013 foi de R$ 727,00.

Agora o argumento que eu acho mais estúpido usado pelos detratores é de que compensa mais roubar do que trabalhar, já que o benefício é maior que o salário mínimo. Bem, bandidos de carreira com certeza ganham muito mais do que um salário mínimo e mesmo mais do que o teto do Auxílio Reclusão, então não faria sentido cometerem crimes para serem presos e receberem o benefício (e como disse, não creio que eles tenham carteira assinada ou paguem carne, então não teriam direito). Não creio que exista um único caso deste tipo, de alguém cometer um crime somente para ser preso e obter o benefício, mas supondo que exista algum caso, imaginem o desespero pelo qual está passando uma pessoa que abre mão da sua liberdade para prover míseros R$ 900 reais para a sua familia!

Uma das várias imagens que circulam na internet com pouca informação e muito preconceito.

Uma das várias imagens que circulam na internet com pouca informação e muito preconceito.

 

Tanto faz, é igual! Felizes são os peixes!

TantofazPrimeiramente gostaria de avisar que o post é desaconselhável para os torcedores de partido A ou B (ou para os que torcem contra A ou B).

Já havia decidido, antes mesmo da eleição começar, que só iria votar no segundo turno se alguém que não fosse do PT ou do PSDB que estivesse lá. Inicialmente havia a possibilidade do Eduardo Campos, e depois do falecimento deste, poderia ser a Marina Silva. Não porque tenha votado nela no primeiro turno, pois resolvi mudar meu voto para o Eduardo Jorge, mas por achar que a diferença entre PT e PSDB é pouca e por me recusar a votar em qualquer um destes dois partidos tão iguais (a não ser que o candidato em si me convença e nem Dilma nem Aécio conseguiram). Isto posto, é claro que surgiriam algumas perguntas dos meus três leitores, que tentarei “imaginar” quais seriam e tentarei responder.

Como são iguais se o PSDB é direita e o PT esquerda?
Para início de conversa, os dois partidos são originalmente de esquerda. O PT tem como origem o sindicalismo, ou seja, um esquerdismo mais “hard”, enquanto o PSDB tem como origem os bancos das faculdades, ou seja, um esquerdismo mais “light”. Figuras históricas de ambos os partidos lutaram juntos contra a ditadura militar e sofreram perseguições desta (o Lula foi preso, o Serra se exilou no Chile, para citar dois exemplos).

Como o PSDB é de esquerda se foram eles que privatizaram as estatais?
Um dos motivos pelo qual o PSDB nunca defendeu veementemente as privatizações que ocorreram (e tinham que ter ocorrido mesmo!), é justamente porque vai contra a ideologia deles. A diferença entre eles e o PT é que os tucanos são mais pragmáticos e estão mais propensos à concessões ideológicas, se enxergarem que é o melhor caminho a se tomar no momento.

Mas o Serra foi contra o aborto e a legalização das drogas, que são posições de direita!
O que ocorreu nos últimos 10 anos foi que o PT se moveu dentro do espectro em direção à centro-esquerda, que era a posição ocupada pelo PSDB (a tal esquerda light), o que fez com que o PSDB (erroneamente, pois deveria ter defendido posição) movesse em direção à direita, para fazer contraponto. Aliás, este é mais um motivo para eu não votar em nenhum dos dois: por causa da busca pelo poder eles mudam de posição ideológica muito facilmente.

Mas o PT quer implementar uma ditadura socialista no Brasil!
Quer nada. Eles já se renderam às maravilhas do capitalismo. A questão é que eles ainda precisam manter o discurso marxista para agradar à parcela mais radical do partido (aquela que não se debandou para o PSOL e PSTU) e aos comunistas de beira de piscina e copo de whisky na mão que são fãs do partido.

Mas o PT é corrupto! / Mas o PSDB é corrupto!
Ambos são corruptos e talvez na mesma medida. Talvez a única diferença entre os dois partidos é que o PT, como “estatista” que é, prefira roubar diretamente na fonte e o PSDB prefere roubar no mercado. E os escândalos do PT vieram mais à tona pois estes são (ou eram) mais amadores, enquanto o PSDB neste quesito sempre foi mais profissional e consegue fazer esquemas que sejam mais difíceis de investigar / provar.

Mas então por que a maioria dos escândalos que saem na imprensa são do PT?
Além do fato anterior (os Ptistas são mais amadores), o povo tem uma tolerância menor à falhas de caráter do PT (por culpa deles mesmos, foram eles que sempre disseram que seriam diferentes, o que gerou a expectativa), então os meios de imprensa “pressionam” o PT com reportagens, para que este libere verbas de propagandas institucionais ou de estatais. É só notar que tanto Folha, quanto Veja, Globo, Época, têm como seus maiores anunciantes o próprio governo. E note também que nas semanas subsequentes à qualquer escândalo divulgado na imprensa, a quantidade de reportagens sobre política diminui, enquanto a quantidade de páginas de propaganda dos Correios, Petrobrás, ministérios, etc aumenta.

Mas e por que o empresariado prefere o Aécio?
Como disse, o PT tem em suas bases o sindicalismo e sofre pressões destas bases. Para o empresariado é melhor um governo sem estas influências.

Então se o PT está com os sindicatos, está com os trabalhadores!
Ledo engano. Os sindicatos hoje são verdadeiras máfias (do nível do PCC, com a diferença é que os sindicatos são bancados por um dia de salário por ano de todo trabalhador registrado) que funcionam em função própria. Aliás, muitas vezes os próprios sindicatos se unem aos empresários para arrancar benesses do governo. Exemplo: as montadoras de carro anunciam demissões, o sindicato pressiona o partido, que concede isenção de IPI (ou aumenta o IPI para importados). Ou então as empresas de ônibus de SP atrasam pagamentos, os sindicalistas organizam greves e pressionam a prefeitura a aumentar o repasse às empresas. Pode até que não seja combinado (cada um acredita na mentira que quiser), mas uma classe (empregadores / sindicatos patronais) usa a outra (sindicatos dos trabalhadores) em benefício próprio e vice-versa.

Mas então tão faz votar em um ou em outro?
Sim. Para não dizer que eles são idênticos. O PSDB tem uma agenda levemente mais liberal no quesito economia, enquanto o PT prega uma maior intervenção do Estado nesta. Mas tirando esta “divergência”, em linhas gerais, as coisas não vão mudar. Da mesma forma que o PT não jogou fora todas as conquistas do governo PSDB na área econômica, este não vai dar um passo atrás desfazendo as conquistas no campo social que o PT conseguiu.

Como bem disse a Luciana Genro em um dos debates, Aécio, Dilma e Marina são irmãos siameses. Eu até tenderia a votar no Aécio pela alternância de poder, que é sempre saudável, e pela agenda econômica mais liberal do PSDB. Mas eu já cansei de escolher o menos pior e, se possível, farei como em 2010 e irei pegar uma praia. Se não rolar, anulo o voto e vou tomar umas cervejas, já que terei quatro anos de ressaca mesmo.

P.S. Para quem ficou curioso com o título, é uma música do disco Titanomaquia, na minha opnião o melhor disco da banda paulistana Titãs. E felizes são os peixes pois a memória deles se limita a alguns segundos, como a memória da grande parte do eleitorado brasileiro.

Sobre o eleitorado brasileiro e porque a Dilma “merece” ganhar a eleição!

EleicoesEu sou um observador e curioso nato. Até por força de profissão, eu tenho uma tendência a coletar a maior quantidade de informação possível, “armazenar” e depois analisar, chegando a alguma conclusão. Um assunto, dentre os vários que me interessam, é política. Com o advento das redes sociais, a quantidade de informações a que eu tenho acesso hoje em dia é bem maior do que a que eu tinha há anos atrás e com isto posso formar algumas teorias (sou mestre nisto!).

Analisando como amostragem meus contatos nas redes sociais e observando o seu comportamento, eu tracei um “mapa” do eleitorado brasileiro.

Do total de eleitores (ou pessoas que se mostram minimamente interessadas em política), 30% são militantes ou apaixonados pelo PT. São aquelas pessoas que, se o Capeta sair como candidato pelo partido irão não somente votar nele, mas também irão defende-lo com unhas e dentes, inclusive dizendo que o que falam dele é boato inventado por Deus, um elitista branco tucano, que através da sua imprensa golpista e seu maior veículo, a Bíblia, perpetua mentiras e mais mentiras, afim de manter o status quo e evitar que o proletariado ascenda à classe de anjos e deuses.

Do mesmo modo, existem uns 30% que são anti PT. Não são necessariamente tucanos, até porque o PSDB é muito, mas muito parecido com o PT (nenhum dos dois lados quer admitir isto, pois seria “dar o braço a torcer”), mas apenas apoiam os tucanos por estes fazerem contraponto ao PT. Da mesma forma, se Deus sair candidato pelo PT, vão dizer que ele se vendeu, que está querendo implementar uma ditadura “divina” no país e vão mandá-lo morar em Cuba, ou na China (talvez o país mais capitalista da atualidade!), e votaria no Capiroto só pra não correrem o risco de ver alguém do PT, mesmo se este alguém fosse Deus, se elegendo.

Uma pequena pausa para um fato que tenho notado também nas redes sociais: os PTistas, que há alguns anos atrás eram desafiados pelos anti PTistas à irem morar em Cuba ou na China (aquela de 30 anos atrás) e se irritavam, são hoje os mesmo que mandam os segundos irem morar em Miami. A diferença é que os segundos, não fossem os problemas de visto de trabalho, não pensariam duas vezes para se mudarem para Miami, Europa, Canada, Austrália ou qualquer outro país de primeiro mundo. Mas os primeiros nunca tiveram vontade de ir à Cuba. Nem a passeio.

Mas voltando à vaca fria, temos 60% de pessoas que já têm opnião e voto formados, independente de programa de governo, de candidato, até de ideologia política (pois nenhum dos dois principais “players” têm uma ideologia definida que não seja conquista e manutenção de poder). Eu os considero como os eleitores que “votam com o coração”. Eles já têm uma escolha prévia e a partir daí tentam arrumar (ou inventar) argumentos que justifiquem a sua escolha e desqualifiquem escolhas contrárias, muitas vezes caindo em contradição. Restam 40%.

Destes, temos uns 5% que acham que políticos são todos iguais e que preferem pegar uma praia e justificarem seu voto. Não os condeno, até porque em 2010 eu fiz o mesmo, nos dois turnos, e não tive nenhum peso na consciência por não ter “exercido meu dever de cidadão”. Eu simplesmente havia me cansado de escolher o menos pior e preferi me abster.

Temos ainda 30% de pessoas que votam de acordo com a sua situação atual/recente. Se a pessoa conseguiu manter um certo conforto e qualidade de vida durante o mandato de determinado partido, ela tende a votar naquele partido novamente. Mas ele não é fiel. Se no próximo mandato algo não for bem (por exemplo, ele perder o emprego), ele tende a culpar os mesmos políticos que ele acabou de eleger e votar no adversário. Este eleitor tem uma visão restrita (ele enxerga somente o que acontece com ele mesmo, no máximo com sua família e amigos mais próximos) e de curto prazo (no máximo o período de um mandato, mas geralmente apenas os últimos seis meses), mas ao menos ele utiliza alguma razão lógica.

Os 5% restantes são aqueles que utilizam a razão, mas têm uma visão mais ampla e de longo prazo. Ele entende que ações tomadas hoje podem refletir daqui 10, 20 anos. Do mesmo jeito ele cobra dos governantes algumas ações que podem até lhe causar algum desconforto no curto prazo, mas que trará benefícios maiores no longo prazo. Entre estes temos esquerdistas e direitistas, liberais e conservadores, estatistas e privatistas. Porém eles não se limitam a votar somente no partido que reflete suas ideologias, mas a analisar o candidato e o momento, inclusive fazendo concessões ideológicas.

Particularmente eu navego entre os 5% desesperançosos e os 5% que utilizam a razão no longo prazo. Tudo depende do momento, dos candidatos e, porque não, do meu humor.

Já fui eleitor do PT, apesar de nunca ter sido um Marxista, mas havia caido no “canto da sereia” de se fazer política de uma forma diferente, e principalmente no discurso da ética, fatos abandonados tão logo o partido chegou à instância máxima de poder no país. Já votei no PSDB, no PV e, mesmo antes da tragédia com o Eduardo Campos, estava propenso a votar no PSB, por conta da Marina e do pessoal da Rede Solidariedade, apesar de não ter gostado da aliança em sí, fato este que já havia comentado neste artigo. Não votei no PTista Haddad (pela primeira vez na vida anulei meu voto), mas gosto da sua gestão na cidade de São Paulo e se ele estivesse saindo hoje como candidato a Governador, por exemplo, meu voto seria dele.

Apesar de estar propenso a votar na Marina (ou no Eduardo Jorge, ainda estou decidindo), eu torço para que a Dilma ganhe o pleito.

Ai o prezado leitor vai pensar “que cara louco! Ele vota em um candidato, mas quer que o adversário ganhe?”

Para explicar os motivos, é preciso fazer um pequeno recall dos mandatos dos últimos presidentes brasileiros. Já que, desde o Collor, todos eles contribuiram de alguma forma para a situação em que o país se encontra hoje, que se ainda está longe do que eu imagino ser um país ideal, também está distante do terrível período Sarney (é o que eu me lembro, antes disto eu era muito novo).

O Collor, apesar de todas as trapalhadas (confisco de poupança, planos econômicos desastrosos), fez uma coisa que pouca gente teria a coragem de fazer, da forma que foi feita: abriu o mercado brasileiro de uma vez. Ok! Isto gerou quebradeira de várias empresas nacionais, mas só quebraram aquelas que tinham se tornado acomodadas com a reserva de mercado, ou seja, quebrou quem tinha que quebrar. Se ele tivesse implementado uma abertura progressiva, como desejava o empresariado e as associações sindicais (um dos maiores males do Brasil, mas é papo para outro artigo), talvez até hoje estivéssemos andando em “carroças” e utilizando computadores Scopus, Micro Digital ou o MSX da Gradiente (google it!). Aliás, perto dos escandalos dos governos FHC, Lula e Dilma, o escandalo que disparou o movimento “Fora Collor” era fichinha. Coisa de moleque furtando chicletes no mercado.

Depois veio o Itamar, que deu carta branca para o Fernando Henrique Cardoso implementar o plano Real. O FHC conseguiu a tão sonhada estabilidade econômica (já vamos para 20 anos sem cortes de zeros e troca de moeda!), enxugou o Estado e se livrou das estatais. Algumas cresceram e viraram gigantes internacionais (Vale e Embraer), e algumas outras, se ainda não prestam com a qualidade devida os serviços que deveriam prestar pelo valor que se paga (caso das Teles e das Rodovias), ao menos prestam este serviço (enquanto estatais não o faziam) e a custos bem menores do tempo em que eram estatais (linha telefônica, dependendo da região, chegava a custar o valor de um imóvel!).

O Lula veio e, já com a estabilidade econômica consolidada, conseguiu expandir alguns programas sociais criados no governo FHC (Bolsa Escola, o embrião do bolsa família, FIES, etc), implementar outros e reduzir a grande diferença social existente no Brasil. Se hoje ela ainda é grande, basta lembrar que há 15 anos atrás era um verdadeiro abismo. Lula também agiu bem quando, diante da crise de 2008, tomou medidas para desenvolver e explorar o enorme potencial do mercado interno que tinhamos à época (o mercado ainda existe, mas hoje já não há mais espaço para expansão como havia).

Todos eles deram sua contribuição para que a nossa economia fosse, apesar dos pesares, uma das maiores do mundo, para que boa parte dos brasileiros tivessem acesso à bens e serviços que a geração do meu pai, por exemplo, não teve (faculdade, carro zero, imóvel próprio antes dos 40 anos, viagens, inclusive pro exterior, etc).

Porém, tanto o FHC quanto o Lula deixaram de tomar ações para garantir o crescimento sustentável do Brasil a longo prazo e para elevar a qualidade de vida dos Brasileiros a um padrão de primeiro mundo. Simplesmente deixaram de tomar porque “deitaram em berço esplêndido” das suas realizações e à partir dai preferiram jogar para a torcida para garantir a permanência de sua turma no poder. Só que o ser humano, à partir de um momento em que tem uma necessidade atendida, cria outra num patamar acima desta (grande Maslow, google it too!).

O FHC ainda pegou algumas “bombas” (medidas impopulares e crises) durante seu mandato, não que isto justifique a falta de investimentos em educação e infra estrutura, e a necessidade, cada vez mais proeminente, das reformas (política, tributária, trabalhista e previdenciária, por ordem de importância). Mas o Lula surfou durante boa parte do seu mandato em ondas havainas (o boom dos BRICs e o bom momento da economia mundial) e soube aproveitar o enorme potencial do mercado interno, quando estas ondas viraram “marolinhas”, mas mesmo assim também não mexeu nestes vespeiros. Dilma fez ainda pior: além de também não ter feito os investimentos e reformas necessários, manteve uma política econômica que deveria ser sido usada “com parcimônia” durante mais tempo do que necessário, também como forma de se sair bem no seu mandato e garantir um novo, mas esquecendo do impacto disto no longo prazo.

Só que crises econômicas vêm e vão em ciclos e o que difere o impacto delas nos países é justamente as atitudes tomadas  em tempos de vacas gordas (lembram da passagem bíblica do sonho de Faraó?) e o governo Dilma não “recolheu o quinto da colheita” para guardar para o tempo de vacas magras.

Com isto, independente de quem vencer estas eleições, o ano de 2015, mais tardar 2016, será um ano de estagnação, quando não crise mesmo.

Mas voltando à questão inicial, com base em tudo o que escrevi, tenho os seguintes motivos para, apesar de pretender votar na Marina ou no maluco beleza, torcer para que a Dilma ganhe:

  • O PT se fez em tempos de fartura e ele tem que sofrer também os anos de fome, já que ele não tomou as medidas necessárias para aplacar este “inverno” que se aproxima (lembrei agora da fábula da Cigarra e a Formiga).
  • O próximo presidente, devido a esta estagnação que se anuncia, seja quem for, irá se queimar para a disputa das eleições de 2018. Se for a Dilma, o Lula apenas a jogará aos leões e voltará para o pleito. Porém, se for o Aécio ou a Marina, este estará fora do páreo para o próximo pleito e, com um contendor a menos, o caminho estará aberto para a volta do “nosso senhor e salvador Luis Inácio” (lembrem-se que 30% do eleitorado, que é quem decide as eleições, o faz por conta de resultados recentes).
  • Como pode-se notar neste breve recall que eu fiz, grandes mudanças no Brasil só acontecem quando “a água bate na bunda” e, como eu acho que, com a Dilma este período de vacas magras tende a ser pior do que com algum outro (até pela expectativa, é a tal da “profecia autorealizável”), é melhor ser um período ruim “de verdade”, pois talvez desta forma alguns dos remédios amargos que temos que engolir sejam enfim utilizados.
  • Como disse, o Fernando Haddad vem fazendo um bom mandato à frente da cidade de São Paulo, inclusive arrumando briga dentro do próprio PT por não utilizar de populismo barato, por escolher para as secretarias pessoas técnicas e não por questões partidárias. Com um monte de PTistas desempregados, é capaz que ele acabe cedendo à pressão do partido para colocar este bando de gente em cargos na prefeitura de São Paulo (cidade em que moro). Até porque boa parte dos salários dos ocupantes dos cargos comissionados volta para o caixa do partido (isto acontece com TODOS os partidos, é um dízimo que qualquer postulante a cargos deste tipo têm que pagar).

P.S. Notem que na análise do eleitorado eu não fiz nenhum juízo de valor. Dentro de uma democracia, “votar com o coração”, ou mesmo se abster, é totalmente válido. Mas que eu acho engraçado o pessoal procurando argumentos lógicos para justificar uma escolha emocional, isto eu acho!

Eleicoes

Mal tá a mídia! O rock vai bem, obrigado!

Malta1Todo domingo, nos últimos 2 meses (pelo menos), tenho visto comentários no facebook e grupos de whatsapp sobre como o “rock nacional foi salvo” por uma tal de Banda Malta, Banda Suricato, Banda Jamz. Sei que se trata de participantes do programa Superstar (um The Voice para bandas), da rede Globo.

Como não costumo assistir televisão, e passei as últimas 4 semanas fora do Brasil, nunca tive a oportunidade (ou curiosidade) de ver. Mas diante de tanto burburinho a respeito, especialmente durante a final do programa, fui atrás para conhecer um pouco e realmente me inteirar destes “fenômenos” recem descobertos.

Antes de continuar, um adendo: não assisto TV simplesmente por ter outras formas de entretenimento (livros e séries americanas), não porque eu acho que a TV é “imbecilizante”. TV, livros, música servem primariamente para entreter, e neste ponto a TV brasileira atinge seu objetivo. Aliás, eu inclusive detesto os “caga regras” que dizem que a Globo não acrescenta nada, que Funk não ensina nada. Quem tem que educar e ensinar são os pais e a escola. Como disse, TV, música, etc são apenas formas de entretenimento, e se um Funk ou Sertanejo vende um milhão de cópias (ou tem 10 milhões de views no youtube), ele cumpriu sua função. Aliás, para não dizer que eu nunca vejo TV, além de Fórmula 1 e Futebol, não perco um Esquenta!, simplesmente porque acho divertido.

Mas voltando ao assunto principal, dei uma pesquisada e assisti alguns vídeos destas bandas citadas (e que foram as mais comentadas nas redes sociais). São bandas boas. Porém quando executam covers, não são melhores que a Rockover, Mr Kurk, Armagedon e várias outras bandas covers que tocam na noite paulistana em palcos como o Piu Piu, Wild Horse e Stones. Talvez eles tenham mais recursos (tempo e grana) para adquirirem equipamentos melhores, ensaiarem mais e produzirem melhor suas músicas. Mas não creio que tenham mais ou menos talento do que meus amigos do Le Passage, por exemplo (além das já citadas).

Quanto as músicas autorais, gostei da música que a Jamz tocou no final, mas não faz nada de diferente do que o Jota Quest fazia no começo da carreira, imitando o Jamiroquai. O som da Banda Malta (que foi a vencedora) eu achei bem simples, nada mais que sertanejo com um arranjozinho um pouco melhor, mas nada que “salvasse o rock nacional”.

Aliás, este é o problema: o rock nacional não precisa ser salvo! A disseminação da internet e o acesso à tecnologia de produção musical (hoje com um bom notebook e mais um software você consegue montar um bom estúdio caseiro), fizeram com que a produção musical, que antes era centralizada em grandes gravadoras, se espalhasse, por isto hoje é mais raro ver um grande sucesso estourar nacionalmente. Mas por outro lado, a variedade e quantidade de bandas boas que surgiram nos últimos tempos têm impressionado.

Basta dar uma procurada que você vai achar coisas ótimas como os piauienses do Guardia Nova (Quando Chegar é uma obra prima!), bem como o Violante (um projeto de um dos membros do Guardia Nova), o rock à lá Los Hermanos dos brasilienses do Lafusa (infelizmente a banda anunciou uma pausa), a mistureba dos paulistanos do Zabomba, o hard rock em ingles dos goianienses do Black Drawing Chalks.

Sem contar os caras que estão há tempos na luta, como O Rappa (a melhor coisa surgida nos desde 1990 no rock nacional!) e o Skank (que abandonou aquele pop-ska chato do início de carreira e hoje bebem descaradamente nas fontes dos Beatles e do Clube da Esquina, o que é ótimo!). Tem ainda os “dinossauros” como o Lobão (sempre um ótimo compositor, arranjador e músico), o Paralamas, a volta do Ira! Rola até umas coisas mais pops (pra mim chatas) como o já citado Jota Quest, Lulu Santos e o Capital Inicial.

Um pouco fora do Rock temos a grata surpresa do Bixiga 70, os sempre competentes músicos do Funk Como Le Gusta, a soulzera da Nova Black Rio, os violeiros/rockeiros do Moda de Rock, o jazz “espacial” do Liquidus Ambiento, o jazz/chorinho com cavaquinho(!) do Galinha Caipira Completa e muitos outros.

Ou seja, não falta música de qualidade, o que falta é nego parar de esperar que tudo caia no colo e correr atrás para descobrir coisas boas, até porque, se depender da grande mídia, que também está perdidinha com esta disseminação/democratização da indústria de entretenimento, ela vai “fabricar” sucessos para tentar manter as coisas sob controle.

Então sugiro uma coisa: na próxima edição do Superstar ou do The Voice (ou qualquer outro parecido), ao invés de você assistir o programa inteiro, assista somente a segunda metade, durante a primeira, navegue por sites como A Musicoteca, Trama, o próprio Youtube, entre outros e você verá que existem artistas tão bons (e muitos até melhores, bem melhores), do que os que estarão se apresentando no programa. Inclusive melhores do que os jurados destes programas.

P.S. Sim, o título é um trocadilho infame, por que eu adoro trocadalhos do carilho!!!…..hahaha
P.S.2. Nos links tem “amostras” dos sons destas bandas.
P.S.3. O SESC também tem muito show bom a preços acessíveis, do tipo que dá pra você arriscar ir num show de uma banda desconhecida (convenhamos que hoje com uma googlada se acha videos, mp3s, etc) sem medo de “desperdiçar” dinheiro.

 

Berlin Tempelhof: uma aula de ocupação dos espaços públicos

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Já havia falado no meu texto sobre a Virada Cultural (aqui) que eu acho muito legal os movimentos que ocupam os espaços públicos nas cidades, especialmente nas grandes, onde a “luta” pelos espaços é intensa.

Infelizmente os espaços ficam cada dia mais escassos e existem vários atores que lutam para ocupar estes espaços, entre os principais, destacam-se a própria população, as empresas do ramo imobiliário e, de certa forma até o crime organizado. Quem já jogou War sabe que, quando um jogador conquista um território, se ele se estabelecer ali, fica praticamente impossível retomar aquele espaço. O mesmo acontece com os espaços urbanos nas grandes cidades (a região da cracolândia, em São Paulo, é um grande exemplo).

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Pistas de pouso e taxiamento transformadas em pistas de cooper e ciclovias

Por isto acho que quanto mais a população ocupar estes espaços, estabelecendo aquilo como de uso público, mais as outras “forças” têm que recuar e ceder aquele espaço. Da mesma forma, se a população recua e se contenta em ficar restrita à sua casa, seu condomínio ou a espaços privados de terceiros (shoppings, cinemas, etc), a chance de retomar aquilo que deveria ser usado para um bem coletivo diminui.

Nesta minha segunda viagem à Alemanha tive a oportunidade de conhecer o Tempelhof, um aeroporto desativado que tem se transformado, nos últimos anos, em um parque. A minha curiosidade em conhecer o Tempelhof era justamente por ser um aeroporto, mas ao entender como ele está sendo construido, minha motivação para percorrê-lo praticamente todo era entender um pouco mais deste processo.

A história do Tempelhof
O aeroporto de Tempelhof, que já era usado como pista de lançamento desde o início do século 20, foi declarado oficialmente um aeroporto em 8 de Outubro de 1923. Foi o aeroporto onde a Lufthansa, a maior empresa aérea alemã e uma das maiores do mundo, foi fundada em 1926.

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Jardim comunitário: os moradores do entorno do parque cultivam ali seus jardins

O terminal de passageiros, bem como seus hangares, foram durante muito tempo considerados os maiores do mundo. Foi também o primeiro terminal de passageiros do mundo a ter uma ligação direta com uma estação de trem ou metrô. Por sua imponência e tamanho, ele era um dos símbolos da força e poder do povo alemão durante o regime nacional socialista de Hitler, tendo este inclusive utilizado o aeroporto para um de seus mais célebres discursos, em maio de 1933, que segundo estimativas, foi presenciado por cerca de meio milhão de pessoas.

Durante a guerra fria, com os acessos terrestres e fluviais bloqueados pela URSS, o aeroporto foi muito importante para abastecer o setor ocidental de Berlin de comida, combustível e outros insumos e, durante este tempo serviu, além de aeroporto, como uma base aérea americana.

Após a queda do muro e a unificação da Alemanha, houve uma decisão política de se manter apenas um aeroporto na cidade e o escolhido foi o Schönefeld. Mais tarde houve a decisão de manter um segundo aeroporto, sendo este o Tegel (que originalmente também seria fechado). O aeroporto de Tempelhof foi ocifialmente fechado em 30 de Outubro de 2008, porém 3 aeronaves não puderam decolar naquele dia devido ao mau tempo e só deixaram o aeroporto em 24 de Novembro de 2008, quando então o aeroporto deixou de operar definitivamente.

O Tempelhof era tão grande, levando-se em consideração a época que ele foi construído, que chegou a abrigar uma feira aeronáutica em 1976, que teve inclusive o pouso e decolagem de um 747 da Pan Am, então a maior aeronave comercial em operação.

A ocupação
Com o aeroporto fechado e todo aquele terreno à disposição, a população vizinha ao aeroporto começou a utilizá-lo eventualmente para algumas atividades de lazer. Apesar de terem existido algumas atividades oficiais, como corridas nas pistas e feiras nos hangares, foram as atividades espontâneas que talvez mudaram o futuro do espaço.

Primeiro algumas pessoas começaram a “invadir” aos finais de semana para andarem de bicicleta, de skate ou apenas para correr nas pistas. Nas áreas próximas às entradas, e longe das pistas de asfalto, algumas pessoas aproveitavam a grama para jogarem futebol ou vôlei. Depois as pessoas começaram a fazer churrascos dentro do local, ou a levarem seus cachorros para um passeio sem coleira.

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Curso de minigolf montado pela própria população, com restos de aviões ali encontrados.

Em Agosto de 2009 a prefeitura de Berlin anunciou oficialmente que iria transformar o local em um parque. Porém, diferentemente do que normalmente vemos acontecer, onde o aparelho público chega e define que tipo de atividades existirão no local (por exemplo: terá um campo de futebol, duas quadras de tenis, tantas mesas para piqueniques, etc), como o local já estava sendo usado pela população, o tipo de atividade que está sendo desenvolvida no parque está sendo criada pelos próprios frequentadores conforme a utilização do espaço (a prefeitura só bloqueou acesso a algumas áreas que funcionam como santuário de pássaros).

Atualmente existem duas grandes áreas destinadas à churrasco, um grande campo de futebol, três quadras poliesportivas menores, três “dog parks” onde os donos podem soltar seus cachorros (cada um deles é destinado a determinado porte de cachorro), entre outros equipamentos. Os moradores vizinhos construíram também um “campo” de minigolf, utilizando-se de peças de aviões que estavam abandonadas no local.

Além disto, os moradores mantêm outros projetos dentro do agora parque, como um jardim comunitário, onde estas pessoas vão desenvolver atividades de jardinagem, que na maioria das vezes constitui-se no hobby delas, mas que por falta de espaço nos edifícios onde elas vivem, não seria possível desenvolver.

Assim como aconteceu com a East Side Gallery, que iria ser demolida para dar lugar a prédios comerciais (os prédios estão sendo construídos, mas a galeria foi mantida, mesmo assim a visão de um prédio comercial na beira do Spree, atrás de pedaços do muro de Berlin, não é legal) e a população interviu para que isto não ocorresse, no Tempelhof ocorre algo parecido, com uma intervenção ainda maior da população, seja brigando junto aos órgão para que eles equipem o parque com os aparelhos necessários, seja eles mesmo se unindo e contruindo estes aparelhos.

Ainda bem que eles tomaram a iniciativa pois, se não houvessem tomado, talvez teriamos neste momento um canteiro de obras construindo prédios residenciais, comerciais, ou pior ainda, um shopping naquele local. Parabéns aos berlinenses!!!

Vai ter copa! Mas falta bom senso.

VaiTerCopa1Não sei o motivo, mas eu nunca fui pego pelo sentimento ufanista que envolve a Seleção Brasileira, especialmente em épocas de Copa do Mundo. Quando eu era criança eu gostava da festa de ajudar a pintar as ruas, fazer bandeirinhas e do fato de não ter aula nos dias de jogos. Mais adulto eu sempre gostei dos churrascos ou das idas em bares com os amigos para assistir os jogos, muito mais pela festa do que pelo jogo em sí. Mas sinceramente a Seleção não é algo que me emocione ou me empolgue.

Inclusive eu nem me vejo na obrigação de torcer para a Seleção. Lembro de ter torcido pela seleção brasileira em 1994 (acho que esta foi a Copa em que eu mais me empolguei) e 2002 (bem menos). Em 2010 eu torci pela seleção também, mas dividi minha torcida (na verdade, melhor chamar de simpatia), com as seleções da Alemanha e do Uruguai. Em 1998 eu simpatizava com a Holanda. Da Copa de 2006 eu pouco me lembro pois nem acompanhei muito. Nesta Copa eu gostaria que a Inglaterra ou a Alemanha levassem, não por ser contra a Seleção Brasileira, mas por entender que estes dois países sim, é que são os países do futebol (basta comparar a média de público deles superior à nossa, inclusive com suas divisões inferiores tendo média maior do que a nossa principal) e mereceriam levar.

Também fui contra a Copa no Brasil e desde a escolha do país como sede eu já havia decidido que iria viajar para fora do país quando esta acontecesse (dia 18 eu estou “fugindo”). Não porque ela foi conquistada por político A ou B, ou porque eu acho que o país tem coisas mais importantes com o que se preocupar (e tem!), ou porque haveria muita falcatrua envolvida, o que aconteceria com ou sem Copa (corrupção não é um problema da Copa e sim um problema do Brasil).

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Não tem contra indicações e pode ser tomado em doses cavalares

Eu simplesmente não concordo com eventos onde o investimento seja público, o risco seja público, mas o lucro seja privado. Desta forma eu também não concordo com as Olimpíadas, não concordo com a Fórmula 1 ou a Indy em São Paulo (apesar de ser apaixonado por automobilismo). Chego inclusive a discordar dos incentivos promovidos à indústria cinematográfica nacional, pelo mesmo motivo: o governo abre mão de impostos para que estas produções sejam desenvolvidas, porém o “patrocinador”, além da isenção, ganha com a exposição da sua marca e a empresa que produziu o filme, ainda tem a chance deste ser um sucesso, sem o compromisso de devolver os valores investidos para os cofres públicos. Ou apenas e simplesmente reinvestir na própria indústria cinematográfica.

Entendo que o “legado da Copa”vai ser pequeno. Mas talvez nem existisse se ela não acontecesse. Acho que não precisamos de um evento desta magnitude para cobrarmos dos nossos governantes investimentos em infraestrutura (talvez um dos maiores gargalos no Brasil atualmente) e em outras coisas muito importantes para o desenvolvimento do nosso país. A cobrança deve ser contínua.

Apesar disto, eu não preciso torcer para que a Copa seja um fracasso, ou para que a Seleção não conquiste o caneco (não vou torcer a favor, mas não preciso torcer contra). Eu quero é que, na medida do possível, a Copa seja uma festa alegre para os brasileiro, que os estrangeiros que estiverem no Brasil sejam bem tratados, que nada de mal aconteça a ninguém e que eles levem uma boa impressão do nosso país, que tem muitos problemas sim, mas que também tem suas muitas virtudes.

Sinceramente eu acho que você torcer pelo insucesso de algo, só porque não concorda ou não apoiou, uma pequenez muito grande. Coisa de gente com a tal “síndrome de cachorro vira latas”, da qual já falei em um artigo na Feedback Magazine.

Inclusive acho que a “grita” dos últimos dias dos tais “movimentos sociais” e dos movimentos sindicais chega a beirar a extorsão, a chantagem, por aproveitarem de um momento crítico de um grande evento para exigirem coisas, muita vezes surreais. Mas como diz um ditado russo: “você pode até dançar com um urso, mas quem vai escolher a hora de parar será ele” e o PT, que alimentou estes “monstrinhos” durante tanto tempo, agora enquanto governo, está sentindo na carne o mal que eles fazem.

Mas apesar de tudo isto, lá de longe, a alguns milhares de quilometros de distância do Brasil, eu quero pelo menos sentir orgulho de, ao assistir jogos e reportagens sobre a Copa no Brasil em um bar cheio de estrangeiros ou em uma praça, ter a oportunidade de vê-los perceber que que o Brasil é muito, mas muito melhor do que eles sempre imaginaram, que vai além da tríade “bunda, samba e futebol” e que, apesar de todos os nossos problemas, a gente consegue, do nosso jeito, fazer as coisas acontecerem sem dever nada a ninguém.

Cotas: a necessidade, os prós e os contras

Level Playing Field 1

Quem alguma vez na vida já jogou futebol na rua, sabe o quanto é importante, na hora do par ou impar, escolher o campo e, em se tratando de uma subida (ou descida, depende do ponto de vista), estar na parte mais alta. Quem joga na parte de cima, além de ter a vantagem de se cansar menos, ainda conta com a ajuda da gravidade, tanto em benefício do ataque, quanto em benefício da defesa, ou seja, o desnível do campo pode favorecer ou desfavorecer determinado time.

Os americanos costumam utilizar a expressão “level playing field” (campo de jogo “equalizado”) para descrever situações onde os “competidores” (sejam no esporte, nos negócios ou na vida acadêmica) têm as mesmas regras, as mesmas oportunidades e o mesmo ponto de partida. É claro que, usando o esporte como exemplo, um atleta pode ter um patrocínio maior e ter mais disponibilidade, para por exemplo, adquirir equipamentos melhores, porém, deve existir um ponto de partida mais equalizado para que a competição não se torne injusta (as divisões por peso e idade nos esportes de luta, por exemplo).

(Antes de continuar, um aparte: eu não gosto muito de utilizar experiências pessoais negativas, pois fica parecendo que é “choro de perdedor” ou que eu estou me fazendo de coitadinho, o que não é o caso. As usarei aqui somente para ilustrar minhas idéias)

Quando no último ano de faculdade, em 2002, já com 25 anos (por diversos motivos não pude cursar uma faculdade antes, aliás, até comecei uma com 19 anos e não pude continuar), fui atrás de estágio, eu senti na pele como pontos de partida diferentes influenciam na vida de uma pessoa. Eu me candidatei para inúmeros estágios, nas mais diversas empresas, especialmente as grandes (era um sonho fazer carreira numa grande empresa).

Porém, quando eventualmente era selecionado para participar do processo seletivo (fato raro), eu entrava na disputa como um azarão. Seja porque os outros “competidores” tinham estudado em colégios de renome (fiz o primeiro e segundo graus em colégios estaduais), seja porque eles puderam ter acesso às melhores faculdades (que ou eram públicas, e apesar de eu achar que estudando com afinco conseguiria uma vaga, eu não poderia deixar de trabalhar para estudar, ou eram mais caras do que a faculdade que eu pude pagar) ou mesmo porque tiveram experiência internacional, sabiam falar 2 idiomas além do português, entre outras coisas.

No final das contas eu fui fazer estágio em uma pequena consultoria de tecnologia, muito mais porque eu tinha um background profissional na área em que eles estavam precisando (e muito porque quem tinha o melhor curriculum, preferia as empresas maiores e de renome).

Por estes motivos, e por achar que a função maior do Estado é proporcionar qualidade de vida aos seus cidadãos, e que, qualidade de vida passa por oportunidades de desenvolvimento, eu entendo que o Estado deve sim interferir para corrigir injustiças e erros, que muito provavelmente foram causados por ele mesmo, e que irão influir no futuro dos cidadãos (e consequentemente da própria nação). Já deixei isto claro no meu artigo de estréia na Feedback Magazine.

Level Playing FieldEu comecei com esta história como um “gancho” para falar do assunto principal do artigo. Há algumas semanas vi algumas pessoas compartilhando a notícia de que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da câmara dos deputados aprovou uma cota de 20% das vagas para negros em concursos federais. A notícia quase passou despercebida pois as pessoas estava mais preocupadas com a votação do Marco Civil da Internet (Ok! Atualmente, pra muita gente, a Internet é mais importante do que pessoas), porém, pelas poucas pessoas que compartilharam e discutiram sobre o assunto, o que eu mais notei foram extremismos. Tinha quem é contra toda e qualquer cota, pois entendem que, independente de qualquer coisa, as pessoas têm que se esforçar para conseguir algo (talvez elas também achem que as paraolimpíadas sejam uma bobagem e, quem quiser competir, que o faça entre os atletas “normais”). Também tinha quem era totalmente à favor, pois o Estado deve corrigir injustiças do passado. Não vi ninguém discutindo a forma como esta compensação/correção é feita, o que para mim é o maior erro.

Como disse anteriormente, não sou contra estas compensações, porém eu discordo da forma com que elas são feitas atualmente e, principalmente da justificativa.

A principal justificativa para a implementação das cotas raciais (pior que o conceito de raça nem é mais utilizado, e sim o de etnia) é corrigir o mal que foi causado aos negros por conta da escravidão.

Agora eu volto a outra história pessoal. Eu nasci e cresci nas periferias de São Paulo (e até da Grande São Paulo). Meu pai é de Sergipe e também filho de nordestinos, sendo que sua mãe tinha ascendência européia e seu pai era índio. Minha mãe nasceu no interior de São Paulo, sua mãe também tinha ascendência européia (até onde eu sei portuguesa) e seu pai, ou seja, meu avô materno, era um mulato originário da Bahia. Sim, apesar da minha tez branca e jeito europeu, eu sou decendente de índios e negros.

Meu avô, como todos os negros no Brasil, sofreu com falta de oportunidades para estudar (ele era semialfabetizado) e para arrumar emprego (ele trabalhava de segurança noturno), ou seja, ele herdou todos os problemas causados pela escravidão no Brasil. O mesmo aconteceu com o meu outro avô, que herdou todos os problemas (extermínio, escravidão, migrações forçadas, etc) que os índios sofreram na colonização do nosso país. Pois bem, se a justificativa para as cotas raciais é corrigir o grave erro da escravidão no Brasil, como seria possível mensurar que impacto a situação dos meus avôs influenciou a do meu pai (que era torneiro mecânico) e da minha mãe (que cursou até a quarta série e é costureira até hoje) e consequentemente a minha? Será que eu nasci e me criei na periferia, tendo que estudar em colégios público (no meu caso, o famoso “Malocão”, cujo lema extraoficial era “Entra burro e sai ladrão!”), porque meus avôs também não tiveram oportunidades? De que forma seria possível identificar algum impacto disto na minha vida e fazer com que eu também fosse compensado?

Não sou idiota a ponto de falar que eu entendo o que um negro sente quando é preterido de algo, ou mesmo ofendido, por causa da cor da sua pele, apesar de ter presenciado muitos casos (até hoje!), inclusive na família. Mas eu entendo que, apesar da maior parte da população de baixa renda e que, consequentemente, não têm o mesmo “ponto de partida” dos mais abastados, ser formada por negros, existem também muitas pessoas de outras etnias (os índios, como meu avô e boa parte do pessoal do norte e nordeste), que também não puderam ter acesso às mesmas oportunidades. E ai eu entendo que as cotas apenas raciais acabam criando uma “exclusão entre os excluidos” ou uma “inclusão seletiva”, pois o “baiano” (para quem é de São Paulo, ou “paraiba” pra quem é do Rio), que já teve oportunidades negadas no seu nascimento, novamente é colocado de lado em prol de outra “minoria”.

Mas o que mais me incomoda realmente é que estes mecanismos de ajustes são o remédio para o sintoma. E todo mundo fica discutindo como tratar ou não o sintoma enquanto se esquecem da causa do problema. O Brasil já tem um histórico de, pelo menos, 20 anos de uso de dispositivos sociais para diminuir as diferenças e injustiças, que têm sim sua efetividade, porém não vemos uma melhora nas causas do problema, especialmente no que tange à educação (já falei disto em um outro artigo meu).

Eu acho sim que devem existir dispositivos (auxilios, cotas, benefícios, etc) afim de corrigir injustiças do passado e erros que o Estado tenha cometido. Porém, estes dispositivos devem ser muito bem pensados, para que não acabem criando mais injustiças. E o principal: eles devem ser um paliativo enquanto a causa do problema não é solucionada, sendo que esta sim, é que deve demandar a maior parte dos esforços.

E não estou advogando em causa própria, já que eu já estou formado, pós graduado, trabalho numa grande empresa multinacional e consegui, apesar dos pesares, conquistar um certo nível de conforto.

Dekanawidah: My Lessons Learned

Dekanawidah

I have been part of a very good collaborative game named Dekanawidah – A Liga das Nações Iroquesas (Dekanawida – The League of Iroque Nations) and would like to share my personal view about the game and the results of it.

Firstly, a brief explanation about the game: the participants are separated into 4 teams. Each team is a ‘tribe’. Since it’s a collaborative game, it means that, even that there are 4 teams playing, they need to work on small goals to achieve the main goal which is shared by all participants. So, or everyone wins or everyone loses. The table is divided in four territories. Each tribe has knowledge and domain about one territory. The tribes need to move on the table by using resources in order to complete each small goals (in the beginning of the game, each team receives 7 small objectives). Inside its own territory, which is known by the tribe settled on it, the use of resources is less than when you are moving inside a territory that you do not know. The teams can share information and trade resources between them. You can even just give resources to other tribes.

During the game I could identify three different and distinct moments.

In a first moment, with the teams ‘sailing through calm waters’, moving inside a known territory with enough resources, they cared about their own goals and expected that the others would take care of theirs in order to accomplish the main goal. In this moment, even if the teams are not using the resources, they weren’t willing to share or trade them with the other teams.

In a second moment, as the game difficult increased, the teams started to care about others’ goals and willing to share their resources, but still in a reactive way (‘if someone ask us, we can help’).

When the game got very difficult, the teams ‘realized’ that, even if they have concluded their own goals, they should help other teams or the entire group would not achieve the main goal. So, the teams that have finished their goals started to offer help in analyze other teams’ objectives, helping them planning and sharing the resources with those teams.

My main concern at the end of the game was: since all participants knew the main goal and the rules (possibility of trades, everyone’s victory or loss, small goals, etc) from the beginning of the game, why do they take too long to start to help each other? Why didn’t they work together since the beginning in order to create a unique strategy to win the game? So, the main lesson that I took from the game was: we do not need to wait for someone ask for our help to work with our colleagues in order to achieve a main goal and, maybe, if we help each other since the beginning of the ‘game’ (a project, a task, etc), the hard times could not come.

Nota: publicado originalmente em 2011 na Newsletter do Application Services, o departamento onde trabalho, na Johnson & Johnson.

Making A Good Place to Work

Great Place To Work

We often see articles and specialists talking about what makes a good place to work. They usually use a lot of tangible data, such as salary, benefits, bonus rates and others to identify what company the professionals would like to work for, and therefore, the company that would probably have the best people.

Robert Levering

Robert Levering

Robert Levering, author of best sellers “The 100 best companies to work for in America” and “A great place to work”, says that, besides the data, what makes people wake up every morning and go to the office with a smile upon their face are the relationships and their quality.

For all of us, the work environment is built by three types of interconnected relationships: between the employees and the company, between the employees and their jobs and between employees and other employees. Each of those relationships are based on a essential element. Let’s go over each of them:

Trust
This essential element drives the relationship between employees and the company. This essential element, in a first moment, seems to be very elusive and nondescript, but in fact, it consists of three major factors:

  • Credibility: managements must have credibility to the eyes of employees. Executives should be perceived to be competent, to have a clear view of where the organization is going, and to understand how to get there.
  • Fairness: employees must perceive that the playing field is level. They want to feel that promotions and pay are based on merit and contributions rather than on political maneuvers. Cuts, when needed, need to be fair and objective.
  • Respect: employees must feel that they are respected and supported as individuals.

Pride
Pride is the essential element for the relationship between employees and their job. People want to be proud of what they are doing. They want to be part of something big, of something that they can spread out to their friends, and what they are doing is not just a job. They want to feel and believe that they make difference.

Camaraderie
This final element affects the quality of the workplace, by driving the relationship between employees themselves. People need acceptance, understanding, appreciation and enjoinment in their personal interaction with fellow staff. They also want access to one another’s beliefs, attitudes, hopes and values. This element can have a tremendous impact on cooperation among employees.

We can individually contribute to build a good (and maybe the best) place to work, by treating our colleagues respectfully and fairly, by letting the people know about for what are they doing their tasks. Or simply being friendly and caring about each other. These are just some examples, but each one of us can think about how to improve the quality of each one of the three relationships.

Nota: publicado originalmente em 2011 na Newsletter do Application Services, o departamento onde trabalho, na Johnson & Johnson.