Eu sou um observador e curioso nato. Até por força de profissão, eu tenho uma tendência a coletar a maior quantidade de informação possível, “armazenar” e depois analisar, chegando a alguma conclusão. Um assunto, dentre os vários que me interessam, é política. Com o advento das redes sociais, a quantidade de informações a que eu tenho acesso hoje em dia é bem maior do que a que eu tinha há anos atrás e com isto posso formar algumas teorias (sou mestre nisto!).
Analisando como amostragem meus contatos nas redes sociais e observando o seu comportamento, eu tracei um “mapa” do eleitorado brasileiro.
Do total de eleitores (ou pessoas que se mostram minimamente interessadas em política), 30% são militantes ou apaixonados pelo PT. São aquelas pessoas que, se o Capeta sair como candidato pelo partido irão não somente votar nele, mas também irão defende-lo com unhas e dentes, inclusive dizendo que o que falam dele é boato inventado por Deus, um elitista branco tucano, que através da sua imprensa golpista e seu maior veículo, a Bíblia, perpetua mentiras e mais mentiras, afim de manter o status quo e evitar que o proletariado ascenda à classe de anjos e deuses.
Do mesmo modo, existem uns 30% que são anti PT. Não são necessariamente tucanos, até porque o PSDB é muito, mas muito parecido com o PT (nenhum dos dois lados quer admitir isto, pois seria “dar o braço a torcer”), mas apenas apoiam os tucanos por estes fazerem contraponto ao PT. Da mesma forma, se Deus sair candidato pelo PT, vão dizer que ele se vendeu, que está querendo implementar uma ditadura “divina” no país e vão mandá-lo morar em Cuba, ou na China (talvez o país mais capitalista da atualidade!), e votaria no Capiroto só pra não correrem o risco de ver alguém do PT, mesmo se este alguém fosse Deus, se elegendo.
Uma pequena pausa para um fato que tenho notado também nas redes sociais: os PTistas, que há alguns anos atrás eram desafiados pelos anti PTistas à irem morar em Cuba ou na China (aquela de 30 anos atrás) e se irritavam, são hoje os mesmo que mandam os segundos irem morar em Miami. A diferença é que os segundos, não fossem os problemas de visto de trabalho, não pensariam duas vezes para se mudarem para Miami, Europa, Canada, Austrália ou qualquer outro país de primeiro mundo. Mas os primeiros nunca tiveram vontade de ir à Cuba. Nem a passeio.
Mas voltando à vaca fria, temos 60% de pessoas que já têm opnião e voto formados, independente de programa de governo, de candidato, até de ideologia política (pois nenhum dos dois principais “players” têm uma ideologia definida que não seja conquista e manutenção de poder). Eu os considero como os eleitores que “votam com o coração”. Eles já têm uma escolha prévia e a partir daí tentam arrumar (ou inventar) argumentos que justifiquem a sua escolha e desqualifiquem escolhas contrárias, muitas vezes caindo em contradição. Restam 40%.
Destes, temos uns 5% que acham que políticos são todos iguais e que preferem pegar uma praia e justificarem seu voto. Não os condeno, até porque em 2010 eu fiz o mesmo, nos dois turnos, e não tive nenhum peso na consciência por não ter “exercido meu dever de cidadão”. Eu simplesmente havia me cansado de escolher o menos pior e preferi me abster.
Temos ainda 30% de pessoas que votam de acordo com a sua situação atual/recente. Se a pessoa conseguiu manter um certo conforto e qualidade de vida durante o mandato de determinado partido, ela tende a votar naquele partido novamente. Mas ele não é fiel. Se no próximo mandato algo não for bem (por exemplo, ele perder o emprego), ele tende a culpar os mesmos políticos que ele acabou de eleger e votar no adversário. Este eleitor tem uma visão restrita (ele enxerga somente o que acontece com ele mesmo, no máximo com sua família e amigos mais próximos) e de curto prazo (no máximo o período de um mandato, mas geralmente apenas os últimos seis meses), mas ao menos ele utiliza alguma razão lógica.
Os 5% restantes são aqueles que utilizam a razão, mas têm uma visão mais ampla e de longo prazo. Ele entende que ações tomadas hoje podem refletir daqui 10, 20 anos. Do mesmo jeito ele cobra dos governantes algumas ações que podem até lhe causar algum desconforto no curto prazo, mas que trará benefícios maiores no longo prazo. Entre estes temos esquerdistas e direitistas, liberais e conservadores, estatistas e privatistas. Porém eles não se limitam a votar somente no partido que reflete suas ideologias, mas a analisar o candidato e o momento, inclusive fazendo concessões ideológicas.
Particularmente eu navego entre os 5% desesperançosos e os 5% que utilizam a razão no longo prazo. Tudo depende do momento, dos candidatos e, porque não, do meu humor.
Já fui eleitor do PT, apesar de nunca ter sido um Marxista, mas havia caido no “canto da sereia” de se fazer política de uma forma diferente, e principalmente no discurso da ética, fatos abandonados tão logo o partido chegou à instância máxima de poder no país. Já votei no PSDB, no PV e, mesmo antes da tragédia com o Eduardo Campos, estava propenso a votar no PSB, por conta da Marina e do pessoal da Rede Solidariedade, apesar de não ter gostado da aliança em sí, fato este que já havia comentado neste artigo. Não votei no PTista Haddad (pela primeira vez na vida anulei meu voto), mas gosto da sua gestão na cidade de São Paulo e se ele estivesse saindo hoje como candidato a Governador, por exemplo, meu voto seria dele.
Apesar de estar propenso a votar na Marina (ou no Eduardo Jorge, ainda estou decidindo), eu torço para que a Dilma ganhe o pleito.
Ai o prezado leitor vai pensar “que cara louco! Ele vota em um candidato, mas quer que o adversário ganhe?”
Para explicar os motivos, é preciso fazer um pequeno recall dos mandatos dos últimos presidentes brasileiros. Já que, desde o Collor, todos eles contribuiram de alguma forma para a situação em que o país se encontra hoje, que se ainda está longe do que eu imagino ser um país ideal, também está distante do terrível período Sarney (é o que eu me lembro, antes disto eu era muito novo).
O Collor, apesar de todas as trapalhadas (confisco de poupança, planos econômicos desastrosos), fez uma coisa que pouca gente teria a coragem de fazer, da forma que foi feita: abriu o mercado brasileiro de uma vez. Ok! Isto gerou quebradeira de várias empresas nacionais, mas só quebraram aquelas que tinham se tornado acomodadas com a reserva de mercado, ou seja, quebrou quem tinha que quebrar. Se ele tivesse implementado uma abertura progressiva, como desejava o empresariado e as associações sindicais (um dos maiores males do Brasil, mas é papo para outro artigo), talvez até hoje estivéssemos andando em “carroças” e utilizando computadores Scopus, Micro Digital ou o MSX da Gradiente (google it!). Aliás, perto dos escandalos dos governos FHC, Lula e Dilma, o escandalo que disparou o movimento “Fora Collor” era fichinha. Coisa de moleque furtando chicletes no mercado.
Depois veio o Itamar, que deu carta branca para o Fernando Henrique Cardoso implementar o plano Real. O FHC conseguiu a tão sonhada estabilidade econômica (já vamos para 20 anos sem cortes de zeros e troca de moeda!), enxugou o Estado e se livrou das estatais. Algumas cresceram e viraram gigantes internacionais (Vale e Embraer), e algumas outras, se ainda não prestam com a qualidade devida os serviços que deveriam prestar pelo valor que se paga (caso das Teles e das Rodovias), ao menos prestam este serviço (enquanto estatais não o faziam) e a custos bem menores do tempo em que eram estatais (linha telefônica, dependendo da região, chegava a custar o valor de um imóvel!).
O Lula veio e, já com a estabilidade econômica consolidada, conseguiu expandir alguns programas sociais criados no governo FHC (Bolsa Escola, o embrião do bolsa família, FIES, etc), implementar outros e reduzir a grande diferença social existente no Brasil. Se hoje ela ainda é grande, basta lembrar que há 15 anos atrás era um verdadeiro abismo. Lula também agiu bem quando, diante da crise de 2008, tomou medidas para desenvolver e explorar o enorme potencial do mercado interno que tinhamos à época (o mercado ainda existe, mas hoje já não há mais espaço para expansão como havia).
Todos eles deram sua contribuição para que a nossa economia fosse, apesar dos pesares, uma das maiores do mundo, para que boa parte dos brasileiros tivessem acesso à bens e serviços que a geração do meu pai, por exemplo, não teve (faculdade, carro zero, imóvel próprio antes dos 40 anos, viagens, inclusive pro exterior, etc).
Porém, tanto o FHC quanto o Lula deixaram de tomar ações para garantir o crescimento sustentável do Brasil a longo prazo e para elevar a qualidade de vida dos Brasileiros a um padrão de primeiro mundo. Simplesmente deixaram de tomar porque “deitaram em berço esplêndido” das suas realizações e à partir dai preferiram jogar para a torcida para garantir a permanência de sua turma no poder. Só que o ser humano, à partir de um momento em que tem uma necessidade atendida, cria outra num patamar acima desta (grande Maslow, google it too!).
O FHC ainda pegou algumas “bombas” (medidas impopulares e crises) durante seu mandato, não que isto justifique a falta de investimentos em educação e infra estrutura, e a necessidade, cada vez mais proeminente, das reformas (política, tributária, trabalhista e previdenciária, por ordem de importância). Mas o Lula surfou durante boa parte do seu mandato em ondas havainas (o boom dos BRICs e o bom momento da economia mundial) e soube aproveitar o enorme potencial do mercado interno, quando estas ondas viraram “marolinhas”, mas mesmo assim também não mexeu nestes vespeiros. Dilma fez ainda pior: além de também não ter feito os investimentos e reformas necessários, manteve uma política econômica que deveria ser sido usada “com parcimônia” durante mais tempo do que necessário, também como forma de se sair bem no seu mandato e garantir um novo, mas esquecendo do impacto disto no longo prazo.
Só que crises econômicas vêm e vão em ciclos e o que difere o impacto delas nos países é justamente as atitudes tomadas em tempos de vacas gordas (lembram da passagem bíblica do sonho de Faraó?) e o governo Dilma não “recolheu o quinto da colheita” para guardar para o tempo de vacas magras.
Com isto, independente de quem vencer estas eleições, o ano de 2015, mais tardar 2016, será um ano de estagnação, quando não crise mesmo.
Mas voltando à questão inicial, com base em tudo o que escrevi, tenho os seguintes motivos para, apesar de pretender votar na Marina ou no maluco beleza, torcer para que a Dilma ganhe:
- O PT se fez em tempos de fartura e ele tem que sofrer também os anos de fome, já que ele não tomou as medidas necessárias para aplacar este “inverno” que se aproxima (lembrei agora da fábula da Cigarra e a Formiga).
- O próximo presidente, devido a esta estagnação que se anuncia, seja quem for, irá se queimar para a disputa das eleições de 2018. Se for a Dilma, o Lula apenas a jogará aos leões e voltará para o pleito. Porém, se for o Aécio ou a Marina, este estará fora do páreo para o próximo pleito e, com um contendor a menos, o caminho estará aberto para a volta do “nosso senhor e salvador Luis Inácio” (lembrem-se que 30% do eleitorado, que é quem decide as eleições, o faz por conta de resultados recentes).
- Como pode-se notar neste breve recall que eu fiz, grandes mudanças no Brasil só acontecem quando “a água bate na bunda” e, como eu acho que, com a Dilma este período de vacas magras tende a ser pior do que com algum outro (até pela expectativa, é a tal da “profecia autorealizável”), é melhor ser um período ruim “de verdade”, pois talvez desta forma alguns dos remédios amargos que temos que engolir sejam enfim utilizados.
- Como disse, o Fernando Haddad vem fazendo um bom mandato à frente da cidade de São Paulo, inclusive arrumando briga dentro do próprio PT por não utilizar de populismo barato, por escolher para as secretarias pessoas técnicas e não por questões partidárias. Com um monte de PTistas desempregados, é capaz que ele acabe cedendo à pressão do partido para colocar este bando de gente em cargos na prefeitura de São Paulo (cidade em que moro). Até porque boa parte dos salários dos ocupantes dos cargos comissionados volta para o caixa do partido (isto acontece com TODOS os partidos, é um dízimo que qualquer postulante a cargos deste tipo têm que pagar).
P.S. Notem que na análise do eleitorado eu não fiz nenhum juízo de valor. Dentro de uma democracia, “votar com o coração”, ou mesmo se abster, é totalmente válido. Mas que eu acho engraçado o pessoal procurando argumentos lógicos para justificar uma escolha emocional, isto eu acho!