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A democracia, a liberdade de expressão e o direito (ou não) de falar besteira

LevyFudelix

E tenho a teoria (mais uma!) que um dos grandes responsáveis pela incapacidade do brasileiro de analisar fatos e tomar decisões baseadas nos seus próprios conceitos são dos professores de ciências sociais, que na ânsia de promover uma doutrinação de esquerda, ao invés de ensinar os alunos a analisar fatos e tirarem suas próprias conclusões, fazem com que os brasileiros fiquem acostumados a receberem opniões prontas e as adotarem (mas isto é tema para outro artigo). Um grande exemplo é o conceito que a maioria dos brasileiros têm de democracia e um dos seus principais pilares: a liberdade de expressão.

O brasileiro comum faz uma mistura danada sem entender realmente o conceito de democracia. Democracia, segundo o conceito que boa parte dos brasileiros têm, é que a vontade da maioria deve se sobrepor à dos demais. Mas na verdade, a democracia é apenas um meio de gerenciar a discordância em temas que afetam a sociedade ou grupos dentro desta sociedade.

Ou seja, se a pessoa faz algo que afete somente a vida dela, não é o Estado que deve interferir.

Vamos exemplificar: reza a lenda que a palavra “fuck” (opa! Agora vai bombar o post!!!!…hahaha) é o acrônimo para “Fornication Under Consent of King” (fornicação sob consentimento do rei), que seria um aviso grudado na porta dos casais cujo Rei havia permitido que praticasse sexo (para fins de procriação). Na idade média, os Reis eram os donos de tudo o que havia no reino, inclusive das vidas dos seus súditos. Então (e isto não é lenda) eles determinavam até quando as pessoas iriam se procriar e inclusive se davam o direito de serem os primeiros a “experimentarem” cada mulher do reino.

Com o avanço das sociedades, “descoberta” da democracia e a evolução desta, chegou-se à conclusão que o Estado não deveria intervir em questões de foro íntimo dos cidadãos, desde que estas questões não inteferissem na vida de mais ninguém.

Seguindo pelo mesmo caminho, o do sexo, a democracia funciona da seguinte maneira: se duas pessoas praticam o ato sexual, de forma consensual, não é papel do estado intervir, já que isto não afeta a vida da população como um todo. Então se um homem trepa com uma mulher, ou mesmo que seja um homem com homem ou uma mulher com outra mulher, o ato só irá interferir na vida daquelas duas pessoas que, de livre e espontânea vontade, praticaram o ato.

Porém, se o ato sexual ocorreu entre duas pessoas sem o consentimento de uma delas (estupro), ai sim o Estado deve intervir. Ou se o ato aconteceu entre alguém com suas plenas capacidade mentais e intelectuais com alguém que não as tenha (menor de idade, deficientes mentais e mesmo pessoas que estejam incapacitadas momentaneamente, inclusive por álcool e outras drogas), ai o Estado deve interferir para proteger estas pessoas.

Agora vamos à questão da liberdade de expressão. É facultado à todo cidadão, em uma democracia, expressar o seu pensamento livremente. Porém, voltando ao ponto de que, você é livre para fazer o que quer desde que não prejudique alguém, que é um dos pilares da democracia (lembra quando sua mãe falava que “o seu direito termina quando começa o do outro”?), você pode expressar o que desejar sem prévia censura, só que, se alguém ou algum grupo se sentir prejudicado ou ofendido por aquilo que você falou, e se a justiça considerar que realmente aquilo causou algum constrangimento ou prejuízo, você irá pagar por isto.

A Liberdade de expressão quer dizer que ninguém vai cercear seu direto de se expressar, porém, também quer dizer que, se você falar algo que prejudique alguém, você terá que ser responsabilizado por isto.

Então agora vamos ao ponto principal: há algumas semanas atrás, em um dos debates entre os candidatos à presidencia que ocorreram antes do primeiro turno, o então candidado Levy Fidelix fez um discurso onde ele expressou toda a sua homofobia em rede nacional.

Ele ser homofóbico é todo um direito dele. Como é direito de qualquer cidadão não gostar de alguém por conta da etnia, do local de origem, de faixa etária, de gênero, etc. É um problema totalmente individual e o Estado não deve inteferir nisto.

Porém, e voltando ao assunto inicial, é problema do Estado quando isto interfere na vida de outras pessoas. O discurso do Levy Fidelix, que foi digno da caneta de Goebbels e do discurso de Hitler, por mais que fosse a livre expressão das idéias dele, vem a prejudicar outras pessoas, e no caso todo um grupo de pessoas. Quando ele fez aquele discurso dizendo que os homossexuais deveriam ser isolados e tratados (qualquer semelhança com os campos de concentração nazistas não é mera coincidência), desperta uma situação que exalta os animos agressivos (para ser “leve”) de quem não gosta de homossexuais e acaba por colocar os homossexuais em risco. E ai, voltando àquele ponto de que, enquanto você não atinge outro, você pode fazer o que quiser, o candidato Levy Fidelix colocou em risco a integridade física de pessoas.

É engraçado que muitas pessoas gostam de usar os Estados Unidos ou a Europa como parâmetro na área econômica e em questão de desenvolvimento, mas estas mesmas pessoas pregam um discurso totalmente contrário à estes países no que se refere aos direitos humanos, liberdades individuais e a tolerância. E boa parte delas sairam em defesa do Levy Fidelix, alegando a liberdade de expressão para defender o discurso e até para praticarem discurso iguais.

Conheço bem os EUA e conheço um pouco a Europa e se um discurso igual ao dele fosse proferido em rede nacional nos EUA e em boa parte da Europa Ocidental, ele sairia algemado do local do debate e já impugnado para as eleições. Na Alemanha então, uma “democracia cristã”, como gostam de usar como exemplo ideal de país os “cristãos fundamentalistas”, ele simplesmente estaria preso até agora e sua carreira política teria se acabado naquele momento.

Como bem disse a amiga Gisele Berto, naquele momento ele passou da categoria de caricato, a do “candidato do aerotrem”, para a categoria dos canalhas.

Brasil do Norte, Brasil do Sul

mapaEu fiquei espantado semana passada com a polêmica sobre a entrevista que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu ao UOL, logo após a confirmação do segundo turno entre os candidatos Aécio Neves, do PSDB, e Dilma Roussef, do PT.

Primeiramente, para quem não ouviu a entrevista inteira, o reporter pergunta para o FHC analisar, como sociólogo que é, o eleitorado cativo do PT nos grotões do Brasil, se seria porque estas localidades seriam pobres. O FHC então disse que não é porque seriam pobres, mas porque seriam pessoas menos instruidas e/ou informadas, que a pobreza é consequência desta situação e população mal instruida é culpa do governo e não do próprio cidadão. Ele fez uma análise de que o PT vem perdendo votos nos bancos de faculdade e nas regiões industriais, que eram redutos Petistas, sem levantar críticas. A única crítica que ele fez na entrevista foi ao próprio PSDB, dizendo que o PT sabe falar com os menos instruídos, enquanto o PSDB precisa aprender a falar com pessoas com menor grau de instrução.

Ao contrário do que o título da reportagem e os compartilhamentos fizeram parecer, a crítica foi ao próprio PSDB, que precisa abandonar o “tucanês” para conseguir se comunicar com todas os extratos sociais. Talvez por não terem ouvido a entrevista toda, e talvez por desconhecerem o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, as pessoas entenderam que ele estava dizendo que “só burro vota no PT!”, mas passou longe disto. O FHC, como bom democrata que é, sabe que dentro de uma democracia, a vontade e desejo do anafabeto, expressado através de seu voto, deve ter o mesmo peso dos desejos de um pós Doutorado.

Talvez, até por conta do que ele mesmo disse sobre a dificuldade dos tucanos de falar claramente – além é claro da descontextualização da frase, as pessoas entenderam que o FHC estava pregando contra os pobres/desinformados. Porém, antes mesmo desta entrevista, já existiam nas redes sociais manifestações preconceituosas quanto à origem dos eleitores dos partidos. Era o pessoal pró-PT xingando os paulistanos de burros, por terem reeleito o Governador Geraldo Alckmin, eram os anti-PT xingando (até com ofensas racistas) os nordestinos/nortistas, pelo fato deles votarem no PT, ambos os lados numa clara prova de que o brasileiro ainda não entendeu o que é e não está acostumado a conviver com a democracia.

Para “piorar” o cenário, o ex-presidente Lula, em sua página no Facebook, se disse chocado com a onda de preconceitos contra nordestinos e “alfinetou” o FHC e ai eu pensei: pô, o Lula sempre pregou a luta de classes, depois mirou seus canhões contra a “classe média burguesa”, muitas vezes especificando “classe média burguesa sulista” e mais recentemente contra  a “elite branca paulistana”. Que moral ele tem para criticar a divisão de uma sociedade seja por qual critério for se ele mesmo, na ânsia pelo poder, sempre foi um dos que mais pregaram divisões, usando a tática de “dividir para conquistar”, ao invés de incentivar a união de todos por um bem comum?

Ai comecei a lembrar de alguns fatos históricos, em que os devotos de Marx sempre necessitaram de um “inimigo comum” com o intuito de conquistar e se manter no poder (será que porque o discurso marxista não tem sustentação própria?).  Lembrei de vários fatos, porém não vou perder tempo agora explicando, mas sugerindo alguns livros, que contam um pouco desta necessidade:  Dez Dias que Abalaram o Mundo, do jornalista americano John Reed (tem um breve resumo neste post); Adeus, China! de Li Cunxin e os clássicos obrigatórios “A Revolução dos Bichos” e 1984, de George Orwell.

Mas para exemplificar, basta citar nosso vizinho, a Venezuela, que ao mesmo tempo em que vende petróleo para os EUA, além de ter várias empresas americanas instaladas em seu território, gerando emprego e riquezas para o país, o tem como seu “inimigo comum” para que o governo “bolivariano” possa ter a quem atacar, quando for acusado de algo ou quando precisar simplesmente debater idéias e projetos.

Seria muito melhor para a democracia e a nação brasileira se o Lula, à exemplo de seus ex-companheiros Eduardo Jorge, que recentemente admitiu em uma entrevista ao canal Fluxo do youtube (veja aqui a primeira parte, as demais estão no relacionados) que a intenção da luta armada no Brasil não era derrubar a ditadura, mas sim instalar outra, que o PT sempre fez oposição inconsequente (inclusive dando exemplos) e que as ditaduras de esquerda foram (são) tão ruins como as de direita, e Luciana Genro, em entrevista ao mesmo canal (veja aqui a primeira parte, as demais também estão relacionadas), que admitiu que as ditaduras de Cuba, Russia, Leste Europeu e Coréia do Norte foram/são criminosas, fizesse seu “mea culpa” nesta divisão que recentemente se exacerbou no Brasil e é, em boa parte, culpa do discurso Petista, e tentasse pregar uma união em prol de um objetivo comum, de acordo com os desejos da maioria, como deve ser numa democracia.

Mas sei lá, acho mais fácil, em continuando esta divisão, ele (Lula) pregar a separação do país em Brasil do Sul e Brasil do Norte, para que ele possa sozinho, governar na parte que lhe coubesse. No que seria talvez a primeira concordância histórica entre PT e PSDB, já que o Serra também ficaria todo feliz em governar sozinho o Brasil do Sul.

P.S. Como meu pai é de Sergipe, acho que eu poderia pleitear a dupla cidadania 🙂

Tanto faz, é igual! Felizes são os peixes!

TantofazPrimeiramente gostaria de avisar que o post é desaconselhável para os torcedores de partido A ou B (ou para os que torcem contra A ou B).

Já havia decidido, antes mesmo da eleição começar, que só iria votar no segundo turno se alguém que não fosse do PT ou do PSDB que estivesse lá. Inicialmente havia a possibilidade do Eduardo Campos, e depois do falecimento deste, poderia ser a Marina Silva. Não porque tenha votado nela no primeiro turno, pois resolvi mudar meu voto para o Eduardo Jorge, mas por achar que a diferença entre PT e PSDB é pouca e por me recusar a votar em qualquer um destes dois partidos tão iguais (a não ser que o candidato em si me convença e nem Dilma nem Aécio conseguiram). Isto posto, é claro que surgiriam algumas perguntas dos meus três leitores, que tentarei “imaginar” quais seriam e tentarei responder.

Como são iguais se o PSDB é direita e o PT esquerda?
Para início de conversa, os dois partidos são originalmente de esquerda. O PT tem como origem o sindicalismo, ou seja, um esquerdismo mais “hard”, enquanto o PSDB tem como origem os bancos das faculdades, ou seja, um esquerdismo mais “light”. Figuras históricas de ambos os partidos lutaram juntos contra a ditadura militar e sofreram perseguições desta (o Lula foi preso, o Serra se exilou no Chile, para citar dois exemplos).

Como o PSDB é de esquerda se foram eles que privatizaram as estatais?
Um dos motivos pelo qual o PSDB nunca defendeu veementemente as privatizações que ocorreram (e tinham que ter ocorrido mesmo!), é justamente porque vai contra a ideologia deles. A diferença entre eles e o PT é que os tucanos são mais pragmáticos e estão mais propensos à concessões ideológicas, se enxergarem que é o melhor caminho a se tomar no momento.

Mas o Serra foi contra o aborto e a legalização das drogas, que são posições de direita!
O que ocorreu nos últimos 10 anos foi que o PT se moveu dentro do espectro em direção à centro-esquerda, que era a posição ocupada pelo PSDB (a tal esquerda light), o que fez com que o PSDB (erroneamente, pois deveria ter defendido posição) movesse em direção à direita, para fazer contraponto. Aliás, este é mais um motivo para eu não votar em nenhum dos dois: por causa da busca pelo poder eles mudam de posição ideológica muito facilmente.

Mas o PT quer implementar uma ditadura socialista no Brasil!
Quer nada. Eles já se renderam às maravilhas do capitalismo. A questão é que eles ainda precisam manter o discurso marxista para agradar à parcela mais radical do partido (aquela que não se debandou para o PSOL e PSTU) e aos comunistas de beira de piscina e copo de whisky na mão que são fãs do partido.

Mas o PT é corrupto! / Mas o PSDB é corrupto!
Ambos são corruptos e talvez na mesma medida. Talvez a única diferença entre os dois partidos é que o PT, como “estatista” que é, prefira roubar diretamente na fonte e o PSDB prefere roubar no mercado. E os escândalos do PT vieram mais à tona pois estes são (ou eram) mais amadores, enquanto o PSDB neste quesito sempre foi mais profissional e consegue fazer esquemas que sejam mais difíceis de investigar / provar.

Mas então por que a maioria dos escândalos que saem na imprensa são do PT?
Além do fato anterior (os Ptistas são mais amadores), o povo tem uma tolerância menor à falhas de caráter do PT (por culpa deles mesmos, foram eles que sempre disseram que seriam diferentes, o que gerou a expectativa), então os meios de imprensa “pressionam” o PT com reportagens, para que este libere verbas de propagandas institucionais ou de estatais. É só notar que tanto Folha, quanto Veja, Globo, Época, têm como seus maiores anunciantes o próprio governo. E note também que nas semanas subsequentes à qualquer escândalo divulgado na imprensa, a quantidade de reportagens sobre política diminui, enquanto a quantidade de páginas de propaganda dos Correios, Petrobrás, ministérios, etc aumenta.

Mas e por que o empresariado prefere o Aécio?
Como disse, o PT tem em suas bases o sindicalismo e sofre pressões destas bases. Para o empresariado é melhor um governo sem estas influências.

Então se o PT está com os sindicatos, está com os trabalhadores!
Ledo engano. Os sindicatos hoje são verdadeiras máfias (do nível do PCC, com a diferença é que os sindicatos são bancados por um dia de salário por ano de todo trabalhador registrado) que funcionam em função própria. Aliás, muitas vezes os próprios sindicatos se unem aos empresários para arrancar benesses do governo. Exemplo: as montadoras de carro anunciam demissões, o sindicato pressiona o partido, que concede isenção de IPI (ou aumenta o IPI para importados). Ou então as empresas de ônibus de SP atrasam pagamentos, os sindicalistas organizam greves e pressionam a prefeitura a aumentar o repasse às empresas. Pode até que não seja combinado (cada um acredita na mentira que quiser), mas uma classe (empregadores / sindicatos patronais) usa a outra (sindicatos dos trabalhadores) em benefício próprio e vice-versa.

Mas então tão faz votar em um ou em outro?
Sim. Para não dizer que eles são idênticos. O PSDB tem uma agenda levemente mais liberal no quesito economia, enquanto o PT prega uma maior intervenção do Estado nesta. Mas tirando esta “divergência”, em linhas gerais, as coisas não vão mudar. Da mesma forma que o PT não jogou fora todas as conquistas do governo PSDB na área econômica, este não vai dar um passo atrás desfazendo as conquistas no campo social que o PT conseguiu.

Como bem disse a Luciana Genro em um dos debates, Aécio, Dilma e Marina são irmãos siameses. Eu até tenderia a votar no Aécio pela alternância de poder, que é sempre saudável, e pela agenda econômica mais liberal do PSDB. Mas eu já cansei de escolher o menos pior e, se possível, farei como em 2010 e irei pegar uma praia. Se não rolar, anulo o voto e vou tomar umas cervejas, já que terei quatro anos de ressaca mesmo.

P.S. Para quem ficou curioso com o título, é uma música do disco Titanomaquia, na minha opnião o melhor disco da banda paulistana Titãs. E felizes são os peixes pois a memória deles se limita a alguns segundos, como a memória da grande parte do eleitorado brasileiro.

Sobre o eleitorado brasileiro e porque a Dilma “merece” ganhar a eleição!

EleicoesEu sou um observador e curioso nato. Até por força de profissão, eu tenho uma tendência a coletar a maior quantidade de informação possível, “armazenar” e depois analisar, chegando a alguma conclusão. Um assunto, dentre os vários que me interessam, é política. Com o advento das redes sociais, a quantidade de informações a que eu tenho acesso hoje em dia é bem maior do que a que eu tinha há anos atrás e com isto posso formar algumas teorias (sou mestre nisto!).

Analisando como amostragem meus contatos nas redes sociais e observando o seu comportamento, eu tracei um “mapa” do eleitorado brasileiro.

Do total de eleitores (ou pessoas que se mostram minimamente interessadas em política), 30% são militantes ou apaixonados pelo PT. São aquelas pessoas que, se o Capeta sair como candidato pelo partido irão não somente votar nele, mas também irão defende-lo com unhas e dentes, inclusive dizendo que o que falam dele é boato inventado por Deus, um elitista branco tucano, que através da sua imprensa golpista e seu maior veículo, a Bíblia, perpetua mentiras e mais mentiras, afim de manter o status quo e evitar que o proletariado ascenda à classe de anjos e deuses.

Do mesmo modo, existem uns 30% que são anti PT. Não são necessariamente tucanos, até porque o PSDB é muito, mas muito parecido com o PT (nenhum dos dois lados quer admitir isto, pois seria “dar o braço a torcer”), mas apenas apoiam os tucanos por estes fazerem contraponto ao PT. Da mesma forma, se Deus sair candidato pelo PT, vão dizer que ele se vendeu, que está querendo implementar uma ditadura “divina” no país e vão mandá-lo morar em Cuba, ou na China (talvez o país mais capitalista da atualidade!), e votaria no Capiroto só pra não correrem o risco de ver alguém do PT, mesmo se este alguém fosse Deus, se elegendo.

Uma pequena pausa para um fato que tenho notado também nas redes sociais: os PTistas, que há alguns anos atrás eram desafiados pelos anti PTistas à irem morar em Cuba ou na China (aquela de 30 anos atrás) e se irritavam, são hoje os mesmo que mandam os segundos irem morar em Miami. A diferença é que os segundos, não fossem os problemas de visto de trabalho, não pensariam duas vezes para se mudarem para Miami, Europa, Canada, Austrália ou qualquer outro país de primeiro mundo. Mas os primeiros nunca tiveram vontade de ir à Cuba. Nem a passeio.

Mas voltando à vaca fria, temos 60% de pessoas que já têm opnião e voto formados, independente de programa de governo, de candidato, até de ideologia política (pois nenhum dos dois principais “players” têm uma ideologia definida que não seja conquista e manutenção de poder). Eu os considero como os eleitores que “votam com o coração”. Eles já têm uma escolha prévia e a partir daí tentam arrumar (ou inventar) argumentos que justifiquem a sua escolha e desqualifiquem escolhas contrárias, muitas vezes caindo em contradição. Restam 40%.

Destes, temos uns 5% que acham que políticos são todos iguais e que preferem pegar uma praia e justificarem seu voto. Não os condeno, até porque em 2010 eu fiz o mesmo, nos dois turnos, e não tive nenhum peso na consciência por não ter “exercido meu dever de cidadão”. Eu simplesmente havia me cansado de escolher o menos pior e preferi me abster.

Temos ainda 30% de pessoas que votam de acordo com a sua situação atual/recente. Se a pessoa conseguiu manter um certo conforto e qualidade de vida durante o mandato de determinado partido, ela tende a votar naquele partido novamente. Mas ele não é fiel. Se no próximo mandato algo não for bem (por exemplo, ele perder o emprego), ele tende a culpar os mesmos políticos que ele acabou de eleger e votar no adversário. Este eleitor tem uma visão restrita (ele enxerga somente o que acontece com ele mesmo, no máximo com sua família e amigos mais próximos) e de curto prazo (no máximo o período de um mandato, mas geralmente apenas os últimos seis meses), mas ao menos ele utiliza alguma razão lógica.

Os 5% restantes são aqueles que utilizam a razão, mas têm uma visão mais ampla e de longo prazo. Ele entende que ações tomadas hoje podem refletir daqui 10, 20 anos. Do mesmo jeito ele cobra dos governantes algumas ações que podem até lhe causar algum desconforto no curto prazo, mas que trará benefícios maiores no longo prazo. Entre estes temos esquerdistas e direitistas, liberais e conservadores, estatistas e privatistas. Porém eles não se limitam a votar somente no partido que reflete suas ideologias, mas a analisar o candidato e o momento, inclusive fazendo concessões ideológicas.

Particularmente eu navego entre os 5% desesperançosos e os 5% que utilizam a razão no longo prazo. Tudo depende do momento, dos candidatos e, porque não, do meu humor.

Já fui eleitor do PT, apesar de nunca ter sido um Marxista, mas havia caido no “canto da sereia” de se fazer política de uma forma diferente, e principalmente no discurso da ética, fatos abandonados tão logo o partido chegou à instância máxima de poder no país. Já votei no PSDB, no PV e, mesmo antes da tragédia com o Eduardo Campos, estava propenso a votar no PSB, por conta da Marina e do pessoal da Rede Solidariedade, apesar de não ter gostado da aliança em sí, fato este que já havia comentado neste artigo. Não votei no PTista Haddad (pela primeira vez na vida anulei meu voto), mas gosto da sua gestão na cidade de São Paulo e se ele estivesse saindo hoje como candidato a Governador, por exemplo, meu voto seria dele.

Apesar de estar propenso a votar na Marina (ou no Eduardo Jorge, ainda estou decidindo), eu torço para que a Dilma ganhe o pleito.

Ai o prezado leitor vai pensar “que cara louco! Ele vota em um candidato, mas quer que o adversário ganhe?”

Para explicar os motivos, é preciso fazer um pequeno recall dos mandatos dos últimos presidentes brasileiros. Já que, desde o Collor, todos eles contribuiram de alguma forma para a situação em que o país se encontra hoje, que se ainda está longe do que eu imagino ser um país ideal, também está distante do terrível período Sarney (é o que eu me lembro, antes disto eu era muito novo).

O Collor, apesar de todas as trapalhadas (confisco de poupança, planos econômicos desastrosos), fez uma coisa que pouca gente teria a coragem de fazer, da forma que foi feita: abriu o mercado brasileiro de uma vez. Ok! Isto gerou quebradeira de várias empresas nacionais, mas só quebraram aquelas que tinham se tornado acomodadas com a reserva de mercado, ou seja, quebrou quem tinha que quebrar. Se ele tivesse implementado uma abertura progressiva, como desejava o empresariado e as associações sindicais (um dos maiores males do Brasil, mas é papo para outro artigo), talvez até hoje estivéssemos andando em “carroças” e utilizando computadores Scopus, Micro Digital ou o MSX da Gradiente (google it!). Aliás, perto dos escandalos dos governos FHC, Lula e Dilma, o escandalo que disparou o movimento “Fora Collor” era fichinha. Coisa de moleque furtando chicletes no mercado.

Depois veio o Itamar, que deu carta branca para o Fernando Henrique Cardoso implementar o plano Real. O FHC conseguiu a tão sonhada estabilidade econômica (já vamos para 20 anos sem cortes de zeros e troca de moeda!), enxugou o Estado e se livrou das estatais. Algumas cresceram e viraram gigantes internacionais (Vale e Embraer), e algumas outras, se ainda não prestam com a qualidade devida os serviços que deveriam prestar pelo valor que se paga (caso das Teles e das Rodovias), ao menos prestam este serviço (enquanto estatais não o faziam) e a custos bem menores do tempo em que eram estatais (linha telefônica, dependendo da região, chegava a custar o valor de um imóvel!).

O Lula veio e, já com a estabilidade econômica consolidada, conseguiu expandir alguns programas sociais criados no governo FHC (Bolsa Escola, o embrião do bolsa família, FIES, etc), implementar outros e reduzir a grande diferença social existente no Brasil. Se hoje ela ainda é grande, basta lembrar que há 15 anos atrás era um verdadeiro abismo. Lula também agiu bem quando, diante da crise de 2008, tomou medidas para desenvolver e explorar o enorme potencial do mercado interno que tinhamos à época (o mercado ainda existe, mas hoje já não há mais espaço para expansão como havia).

Todos eles deram sua contribuição para que a nossa economia fosse, apesar dos pesares, uma das maiores do mundo, para que boa parte dos brasileiros tivessem acesso à bens e serviços que a geração do meu pai, por exemplo, não teve (faculdade, carro zero, imóvel próprio antes dos 40 anos, viagens, inclusive pro exterior, etc).

Porém, tanto o FHC quanto o Lula deixaram de tomar ações para garantir o crescimento sustentável do Brasil a longo prazo e para elevar a qualidade de vida dos Brasileiros a um padrão de primeiro mundo. Simplesmente deixaram de tomar porque “deitaram em berço esplêndido” das suas realizações e à partir dai preferiram jogar para a torcida para garantir a permanência de sua turma no poder. Só que o ser humano, à partir de um momento em que tem uma necessidade atendida, cria outra num patamar acima desta (grande Maslow, google it too!).

O FHC ainda pegou algumas “bombas” (medidas impopulares e crises) durante seu mandato, não que isto justifique a falta de investimentos em educação e infra estrutura, e a necessidade, cada vez mais proeminente, das reformas (política, tributária, trabalhista e previdenciária, por ordem de importância). Mas o Lula surfou durante boa parte do seu mandato em ondas havainas (o boom dos BRICs e o bom momento da economia mundial) e soube aproveitar o enorme potencial do mercado interno, quando estas ondas viraram “marolinhas”, mas mesmo assim também não mexeu nestes vespeiros. Dilma fez ainda pior: além de também não ter feito os investimentos e reformas necessários, manteve uma política econômica que deveria ser sido usada “com parcimônia” durante mais tempo do que necessário, também como forma de se sair bem no seu mandato e garantir um novo, mas esquecendo do impacto disto no longo prazo.

Só que crises econômicas vêm e vão em ciclos e o que difere o impacto delas nos países é justamente as atitudes tomadas  em tempos de vacas gordas (lembram da passagem bíblica do sonho de Faraó?) e o governo Dilma não “recolheu o quinto da colheita” para guardar para o tempo de vacas magras.

Com isto, independente de quem vencer estas eleições, o ano de 2015, mais tardar 2016, será um ano de estagnação, quando não crise mesmo.

Mas voltando à questão inicial, com base em tudo o que escrevi, tenho os seguintes motivos para, apesar de pretender votar na Marina ou no maluco beleza, torcer para que a Dilma ganhe:

  • O PT se fez em tempos de fartura e ele tem que sofrer também os anos de fome, já que ele não tomou as medidas necessárias para aplacar este “inverno” que se aproxima (lembrei agora da fábula da Cigarra e a Formiga).
  • O próximo presidente, devido a esta estagnação que se anuncia, seja quem for, irá se queimar para a disputa das eleições de 2018. Se for a Dilma, o Lula apenas a jogará aos leões e voltará para o pleito. Porém, se for o Aécio ou a Marina, este estará fora do páreo para o próximo pleito e, com um contendor a menos, o caminho estará aberto para a volta do “nosso senhor e salvador Luis Inácio” (lembrem-se que 30% do eleitorado, que é quem decide as eleições, o faz por conta de resultados recentes).
  • Como pode-se notar neste breve recall que eu fiz, grandes mudanças no Brasil só acontecem quando “a água bate na bunda” e, como eu acho que, com a Dilma este período de vacas magras tende a ser pior do que com algum outro (até pela expectativa, é a tal da “profecia autorealizável”), é melhor ser um período ruim “de verdade”, pois talvez desta forma alguns dos remédios amargos que temos que engolir sejam enfim utilizados.
  • Como disse, o Fernando Haddad vem fazendo um bom mandato à frente da cidade de São Paulo, inclusive arrumando briga dentro do próprio PT por não utilizar de populismo barato, por escolher para as secretarias pessoas técnicas e não por questões partidárias. Com um monte de PTistas desempregados, é capaz que ele acabe cedendo à pressão do partido para colocar este bando de gente em cargos na prefeitura de São Paulo (cidade em que moro). Até porque boa parte dos salários dos ocupantes dos cargos comissionados volta para o caixa do partido (isto acontece com TODOS os partidos, é um dízimo que qualquer postulante a cargos deste tipo têm que pagar).

P.S. Notem que na análise do eleitorado eu não fiz nenhum juízo de valor. Dentro de uma democracia, “votar com o coração”, ou mesmo se abster, é totalmente válido. Mas que eu acho engraçado o pessoal procurando argumentos lógicos para justificar uma escolha emocional, isto eu acho!

Eleicoes