Eu fiquei espantado semana passada com a polêmica sobre a entrevista que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu ao UOL, logo após a confirmação do segundo turno entre os candidatos Aécio Neves, do PSDB, e Dilma Roussef, do PT.
Primeiramente, para quem não ouviu a entrevista inteira, o reporter pergunta para o FHC analisar, como sociólogo que é, o eleitorado cativo do PT nos grotões do Brasil, se seria porque estas localidades seriam pobres. O FHC então disse que não é porque seriam pobres, mas porque seriam pessoas menos instruidas e/ou informadas, que a pobreza é consequência desta situação e população mal instruida é culpa do governo e não do próprio cidadão. Ele fez uma análise de que o PT vem perdendo votos nos bancos de faculdade e nas regiões industriais, que eram redutos Petistas, sem levantar críticas. A única crítica que ele fez na entrevista foi ao próprio PSDB, dizendo que o PT sabe falar com os menos instruídos, enquanto o PSDB precisa aprender a falar com pessoas com menor grau de instrução.
Ao contrário do que o título da reportagem e os compartilhamentos fizeram parecer, a crítica foi ao próprio PSDB, que precisa abandonar o “tucanês” para conseguir se comunicar com todas os extratos sociais. Talvez por não terem ouvido a entrevista toda, e talvez por desconhecerem o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, as pessoas entenderam que ele estava dizendo que “só burro vota no PT!”, mas passou longe disto. O FHC, como bom democrata que é, sabe que dentro de uma democracia, a vontade e desejo do anafabeto, expressado através de seu voto, deve ter o mesmo peso dos desejos de um pós Doutorado.
Talvez, até por conta do que ele mesmo disse sobre a dificuldade dos tucanos de falar claramente – além é claro da descontextualização da frase, as pessoas entenderam que o FHC estava pregando contra os pobres/desinformados. Porém, antes mesmo desta entrevista, já existiam nas redes sociais manifestações preconceituosas quanto à origem dos eleitores dos partidos. Era o pessoal pró-PT xingando os paulistanos de burros, por terem reeleito o Governador Geraldo Alckmin, eram os anti-PT xingando (até com ofensas racistas) os nordestinos/nortistas, pelo fato deles votarem no PT, ambos os lados numa clara prova de que o brasileiro ainda não entendeu o que é e não está acostumado a conviver com a democracia.
Para “piorar” o cenário, o ex-presidente Lula, em sua página no Facebook, se disse chocado com a onda de preconceitos contra nordestinos e “alfinetou” o FHC e ai eu pensei: pô, o Lula sempre pregou a luta de classes, depois mirou seus canhões contra a “classe média burguesa”, muitas vezes especificando “classe média burguesa sulista” e mais recentemente contra a “elite branca paulistana”. Que moral ele tem para criticar a divisão de uma sociedade seja por qual critério for se ele mesmo, na ânsia pelo poder, sempre foi um dos que mais pregaram divisões, usando a tática de “dividir para conquistar”, ao invés de incentivar a união de todos por um bem comum?
Ai comecei a lembrar de alguns fatos históricos, em que os devotos de Marx sempre necessitaram de um “inimigo comum” com o intuito de conquistar e se manter no poder (será que porque o discurso marxista não tem sustentação própria?). Lembrei de vários fatos, porém não vou perder tempo agora explicando, mas sugerindo alguns livros, que contam um pouco desta necessidade: Dez Dias que Abalaram o Mundo, do jornalista americano John Reed (tem um breve resumo neste post); Adeus, China! de Li Cunxin e os clássicos obrigatórios “A Revolução dos Bichos” e 1984, de George Orwell.
Mas para exemplificar, basta citar nosso vizinho, a Venezuela, que ao mesmo tempo em que vende petróleo para os EUA, além de ter várias empresas americanas instaladas em seu território, gerando emprego e riquezas para o país, o tem como seu “inimigo comum” para que o governo “bolivariano” possa ter a quem atacar, quando for acusado de algo ou quando precisar simplesmente debater idéias e projetos.
Seria muito melhor para a democracia e a nação brasileira se o Lula, à exemplo de seus ex-companheiros Eduardo Jorge, que recentemente admitiu em uma entrevista ao canal Fluxo do youtube (veja aqui a primeira parte, as demais estão no relacionados) que a intenção da luta armada no Brasil não era derrubar a ditadura, mas sim instalar outra, que o PT sempre fez oposição inconsequente (inclusive dando exemplos) e que as ditaduras de esquerda foram (são) tão ruins como as de direita, e Luciana Genro, em entrevista ao mesmo canal (veja aqui a primeira parte, as demais também estão relacionadas), que admitiu que as ditaduras de Cuba, Russia, Leste Europeu e Coréia do Norte foram/são criminosas, fizesse seu “mea culpa” nesta divisão que recentemente se exacerbou no Brasil e é, em boa parte, culpa do discurso Petista, e tentasse pregar uma união em prol de um objetivo comum, de acordo com os desejos da maioria, como deve ser numa democracia.
Mas sei lá, acho mais fácil, em continuando esta divisão, ele (Lula) pregar a separação do país em Brasil do Sul e Brasil do Norte, para que ele possa sozinho, governar na parte que lhe coubesse. No que seria talvez a primeira concordância histórica entre PT e PSDB, já que o Serra também ficaria todo feliz em governar sozinho o Brasil do Sul.
P.S. Como meu pai é de Sergipe, acho que eu poderia pleitear a dupla cidadania 🙂
Eu acho q devemos fazer um novo país ,com os estados de :Minas Gerais ,Espírito Santo ,Rio de Janeiro ,São Paulo ,Mato Grosso do Sul ,Paraná ,Santa Catarina e Rio Grande do Sul
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