Desde a época da faculdade (e depois passando por duas pós), eu concentrei minhas leituras (uma das minhas paixões) em literaturas mais “técnicas”. Primeiramente foram os livros da faculdade, depois livros ou revistas relativos à minha carreira, depois vieram as pós graduações, e acabei deixando, durante muito tempo, a leitura de outros tipos de livro.
De uns quatro anos para cá me impus metas de leituras não técnicas (não que elas também não me dão prazer). Eu me comprometi a ler ao menos 2 livros novos por mês (na média). No primeiro ano foram apenas 12, ano retrasado já havia conseguido 18, ano passado consegui ler 20 livros e, finalmente, este ano consegui superar minha meta.
Para talvez despertar o interesse e compartilhar minhas opniões sobres os livros que eu li este ano, à seguir uma breve opnião sobre cada um deles (lembrando que dificilmente eu acho um livro ruim, então que sirva como balizador):
1 – Pride And Prejudice – Jane Austen
História água com açúcar, mas serviu para aprender algumas palavras e expressões mais “rebuscadas” em inglês e pra ver como o inglês ainda era mais próximo do alemão a mais de 100 anos atrás.
2 – Guia da Culinaria Ogra – Andre Barcinski
Item obrigatório para quem mora ou visita São Paulo e tem interesse em aproveitar a gastronomia da cidade. Não aquela gastronomia aviadada dos “chez”, “bistrôs” e outros modismos, mas aqueles lugares onde se come bem, paga-se pouco e é bem atendido. O texto do André Barcinski é uma atração à parte. Destaque para os mandamentos da culinária ogra.
3 – Admiravel Mundo Novo – Aldous Huxley
Este livro, juntamente com o restante da “trilogia da distopia” (Farenheit 451 e 1984, comentados abaixo) e “A Revolução dos Bichos” deveriam ser leitura escolar obrigatória como conteúdo para a formação política (sem doutrinação, por favor!) dos alunos. É um livro de tirar o folêgo que mostra um futuro onde as pessoas são “produzidas” em série como se fossem peças de um sistema, de uma engrenagem. Muito interessante notar muitas coisas contadas no livro que se tornaram realidade após o seu lançamento e outras que não tardam a acontecer. Como complemento, sugiro o filme Gattaca, claramente baseado no livro.
4 – A Ira De Nasi – Mauro Betin & Alexandre Petillo
Nunca tinha lido biografias e resolvi arriscar a primeira justamente com um cara e uma banda (o livro vai além da biografia só do Nazi e faz um passo a passo do nascimento e carreira do Ira!) que dificilmente eu iria me decepcionar, já que o Ira! é a minha banda nacional favorita (perdi até as contas de quantos shows deles eu vi, mas creio que fica próximo dos 100). O livro foi muito bem escrito, com uma fluidez bem interessante e conta, além da história dos 2 (Nasi e Ira!), um pouco da história do rock paulista dos anos 80 (Titãs, Ritchie, Mercenárias, etc). Ótima pedida!
5 – 50 Anos A Mil – Lobão & Claudio Tognolli
Já que tinha arriscado uma biografia, resolvi encarar uma outra na sequência e justamente foi de outro artista polêmico do rock nacional. A do Lobão já é um pouco cansativa (o texto dele vai e volta várias vezes, tornando algumas partes maçantes), além do Lobão ser sempre ser colocado como um herói, muitas vezes como vítima da sorte, da vida, etc. Ou seja, acaba passando um pouco a linha da biografia para virar um “romance”. Mas mesmo assim vale a pena.
6 – Fahrenheit 451 – Ray Bradbury
Para mim a história é de terror: imagine um mundo onde os livros fossem proíbidos e a nova função dos bombeiros, ao invés de apagar incêndios (já que não mais existiam incêndios) é ser o o braço repressor do Estado, caçando indivíduos que possuem livros, encarregando-se de prendê-los e queimar os livros. Assim como em “Admirável Mundo Novo” (acima) e “1984” (abaixo), chega a ser assustador notar como algumas “previsões” do livro vêm realmente ocorrendo.
7 – 1984 – George Orwell
O livro que completa a “trilogia da distopia”, este clássico de George Orwell se passa em um regime político totalitário e mostra como o sistema é capaz de suprimir as individualidades. Uma boa pedida é ler o outro clássico do Orwell, “A Revolução dos Bichos”, que conta em forma de fábula como um regime deste tipo se instala, antes de 1984. O mais interessante é que, apesar de conter uma forte crítica aos sistemas socialistas implementados até então (especialmente o Soviético), Orwell era um socialista (democrático, segundo ele mesmo), tendo inclusive lutado na revolução espanhola ao lado do POUM (Partido Operário de Unificação Marxista).
8 – The Dead Zone – Stephen King
Apenas por esta lista é fácil identificar meu autor favorito. The Dead Zone (A Zona Morta, na versão em português) conta a história de John Smith, que após um acidente de carro e um período de 6 anos em coma, desenvolve uma estranha habilidade de “enxergar” o passado e o futuro das pessoas apenas com um toque (nas próprias pessoas ou em objetos tocados por elas). O livro rendeu uma série de relativo sucesso, que foi transmitida no Brasil pela AXN e mais tarde no SBT.
9 – Thinner – Stephen King
“Maldição do Cigano” na versão em português, conta a história de um advogado bem sucedido que, ao atropelar e matar uma velha cigana, recebe uma maldição que faz com que ele perca peso e a sua luta para conseguir que o cigano que lhe colocou a maldição a retire. Final bem típico do Stephen King. Também virou um filme “meia boca”.
10 – Four Past Midnight – Stephen King
Coleção de 4 contos do Stephen King. Apesar dele ser meu autor favorito, os romances maiores dele geralmente começam um tanto quanto monótonos, por causa dos detalhes, às vezes excessivos, que ele usa para descrever personagens, locais e cenas. Normalmente é uma “enrolação” (mas ainda assim, muito boa) até 70% do livro e nos 30% restantes ele dá uma “corrida” para criar o clima e finalizar a estória em grande estilo. Nos contos dele esta característica inexiste, pois são estórias mais curtas e rápidas.
- The Langoliers: num vôo noturno de Los Angeles para Boston, algum fenômeno estranho acontece, o vôo atravessa um “rasgo temporal” e entra em uma zona onde o tempo está sendo “devorado” por estranhas criaturas (os tais langoliers). Mostra a luta dos sobreviventes (ou melhor, das pessoas que não desapareceram) do vôo quando este passou pela fenda temporal para entender o que está acontecendo e tentar sair deste “limbo”. Lembro de ter visto, há um bom tempo atrás, uma minisérie na Record baseada neste conto.
- Secret Window, Secret Garden (a Janela Secreta, em português): um escritor em crise (pessoal e de criatividade), se isola em uma cabana em busca de tranquilidade. Porém, inesperadamente ele recebe a visita de um estanho homem do mississipi, querendo uma retratação por achar que o escritor lhe roubou um conto. Virou um filme muito bom com o Johnny Deep e tem um final surpreendente.
- The Library Policeman: esta história usa de mote um contexto bem americano, que é o medo que as crianças têm do tal “Library Policeman”. Esta é uma lenda de um fiscal da biblioteca que vêm atrás das crianças que não devolvem seus livros. Mais ou menos como uma “loira do banheiro” no Brasil. Interessante.
- The Sun Dog: o Stephen King é tão gênio que consegue usar um mote de uma polaroid para fazer um grande conto. A história em sí não é das melhores dele, mas o clima que ele cria até a conclusão é fantástico.
11 – A Vida Não E Justa – Andrea Pacha
Andrea Pachá é uma Juiza da vara de família numa comarca no interior do Rio de Janeiro. Aqui ela conta várias histórias reais ocorridas no seu tribunal. Muitas são tristes, algumas têm final feliz, às vezes até engraçado. Mas o melhor de tudo é você ver situações que ocorrem na vida das pessoas que faz você parar para pensar o por que de você reclamar da sua vida. Vale muito a pena a leitura.
12 – Dez Dias que Abalaram o Mundo – John Reed
Este livro é uma minuciosa descrição dos fatos que culminaram na revolução russa de 1917. Revolução esta que veio a instalar o regime comunista. O livro é um tanto cansativo pois se trata de uma narração em “real time” do que acontecia naquele momento e vêm acompanhado de muitas notas do autor e referências à reportagens (também constantes no livro), o que faz com que a leitura vire uma “navegação” entre as seções. Mas é interessante notar o clima e as ações que culminaram na revolução. E para mim, é assustador perceber que muitas das táticas utilizadas à época ainda são utilizadas hoje pela militância partidária e pela imprensa política em geral.
13 – Dom Quixote – Miguel de Cervantes
Clássico da literatura espanhola, conta a história de Dom Quixote, um pequeno fidalgo que perde a razão por excesso de leitura de romances de cavalaria e se lança em aventuras, sempre ajudado por seu fiel escudeiro, Sancho Pança. É um romance cômico, mas que tem seus momentos sublimes, por conta da inocência do personagem principal. Deveria ter lido isto bem antes.
14 – Rose Madder – Stephen King
Neste livro achei que o Stephen King iria conseguir fazer um livro de terror sem ter que “apelar” para o místico, para o sobrenatural, e baseado num tema real e triste, que infelizmente ainda ocorre muito, que é a violência doméstica. No meio do livro ele coloca o sobrenatural, o que não faz dele um mal livro, mas se ele tivesse seguido por outra linha, este livro talvez entrasse, dentro de sua obra, no nível de um “À Espera de um Milagre”, “Um Sonho de Liberdade”, etc
15 – Der Jaguar – Theo Scherling & Elke Burger
Apesar desta leitura ter sido apenas para treinar o alemão, a histórinha até que é interessante, porém muito curta.
16 – O Pequeno Principe – Antoine de Saint-Exupéry
Este é o tipo do livro que, apesar de ser infantil, todos nós deveriamos ler de tempos em tempos na nossa vida. Quem sabe não nos faz relembrar os sonhos, desejos e atitudes que tinhamos na época de nossa inocência.
17 – O Apanhador No Campo de Centeio – J. D. Salinger
Se para uma criança eu daria “O Pequeno Príncipe” de presente e para um pré-adolescente o “Meninos da Rua Paulo”, para um adolescente eu daria “O Apanhador No Campo de Centeio”. Conta a estória do adolescente Holden Caulfield e toda a confusão, angústia, alienação e rebeldia características desta idade.
18 – Different Seasons – Stephen King
Outro livro de contos do Stephen King:
- Rita Hayworth and Shawshank Redemption – Hope Springs Eternal (Um Sonho de Liberdade, na versão em português): conta a estória de Andy Dufresne, que setenciado à duas penas perpétuas consecutivas por matar a mulher e seu amante, é enviado para a prisão de Shawshank. Mostra a luta de Andy para sobreviver num ambiente hostil e sua busca pela liberdade. Virou um ótimo filme com Tim Robbins e Morgan Freeman (o filme é o número 1 segundo o IMDB, de acordo com avaliações dos usuários).
- Apt Pupil – Summer of Corruption: conta a estória de Todd Bowden, um garoto que descobre um criminoso nazista entre seus vizinhos e o chantageia para obter dele histórias da época da guerra, o que faz com que Todd se torne um monstro, assim como acaba despertando o monstro que estava há muito adormecido dentro do tal criminoso. Existe um filme de 1988 com o Ian McKellen baseado neste livro, porém não consegui encontrar.
- The Body – Fall From Innocence: a história ficou muito conhecida no mundo todo, inclusive no Brasil, por ser a base do filme “Conta Comigo”. Aqui, um grupo de garotos sai atrás do corpo de um outro garoto que se perdeu na floresta. Durante a jornada eles vão descobrindo e moldando valores que os acompanhariam pelo resto da vida.
- The Breathing Method – A Winter’s Tale: este é um típico conto de horror, porém narrada por um contador de histórias. Interessante, mas não é das melhores obras do Stephen King.
19 – Der Fluch der Mumie – Böttcher, Land & Salvador
Histórinha besta apenas para treinar o alemão.
20 – A Peste – Albert Camus
Eu nunca fui de ler um livro mais de uma vez, não por não achar interessante, mas por acreditar que eu tenho tanta coisa pra ler que eu não posso “perder tempo” relendo uma obra. Esta foi uma das poucas e felizes exceções (as outras exceções foram a trilogia Machadiana). É interessante ler um livro depois de 15 anos, pois você provavelmente já se tornou outra pessoa, tem outros valores (ou melhor, lapidou os seus valores). A estória se passa em uma cidade da costa da Argelia assolada por uma peste e isolada do resto do mundo. Mostra como o ser humano perde toda a civilidade quando colocado em situações extremas. Anteriormente nunca havia notado a influência desta obra em “Ensaio Sobre a Cegueira”, do Saramago, e consequentemente no seriado “The Walking Dead” (se vc acha que o seriado é sobre zumbis, é melhor rever com mais atenção).
21 – O Estrangeiro – Albert Camus
O livro conta a história de Marsault, um homem despido de sentimentos ou remorsos que comete um assassinato. Durante o julgamento, todos atêm-se à este fato, ao invés do crime em si, como base para sua condenação à morte. Livro muito tenso, mas uma obra prima.
22 – A Queda – Albert Camus
Outra obra prima de Camus, onde o personagem Jean-Baptiste Clamence, anteriormente um advogado de sucesso em Paris, atualmente autoexilado em Amsterdã, conta, em um monólogo dirigido ao leitor, a história da sua ascensão e queda e das motivações de sua vida. Coincidentemente (já que não sabia disto antes de ler os dois) têm muito em comum com Notas do Subsolo (abaixo).
23 – Notas Do Subsolo – Fiodor Dostoievski
O personagem (simplesmente Homem subterrâneo) conta em primeira pessoa suas desventuras e tenta, à todo custo, criar uma empatia para com o leitor, na primeira parte do livro, enquanto na segunda ele consegue despertar totalmente o desprezo daqueles à sua volta (inclusive o leitor). Um ótimo ensaio sobre as idéias de moral.
24 – O Processo – Franz Kafka
Um dos livros mais tensos que eu já li. Ele pode ser analisado sobre duas óticas e, ao final, numa combinação das duas. A primeira é de como o sistema age colocando uma “peça” desta engrenagem a seu dispor e descartando-a, quando bem entender. A segunda é da culpa, já que apesar de o personagem principal, Joseph K, nunca ser acusado formalmente e nunca ter idéia de qual o crime pelo qual ele está sendo acusado, ele não consegue “confessar sua inocência”, culminando enfim, com a simples aceitação e indiferença sobre os motivos do processo, aceitando sua culpabilidade (de que?).
25 – O Diario de Anne Frank – Anne Frank
Como dizem os alemães para justificarem tantos monumentos às vítimas do holocausto e da época da Alemanha dividida: nós não podemos nos esquecer, para que não cometamos os mesmos erros novamente. Este livro também não pode ser esquecido nunca. Trata-se das notas de Anne Frank, que permaneceu escondida com sua família por dois anos no sótão de uma fábrica em Amsterdã, durante a ocupação nazista na Holanda, até serem descobertos (muito provavelmente denunciados) e mandados para campos de concentração, onde o único sobrevivente foi o pai de Anne.
26 – Na Natureza Selvagem – Jon Krakauer
Jon Krakauer refaz, neste livros, os passos de Christopher McCandles, um jovem de classe média alta americana que, logo após a faculdade, larga tudo para se embrenhar numa aventura que culminaria na sua morte no Alaska. Como conta uma história real e Krakauer é um jornalista, e não um “contador de estórias”, o livro tem um ar de documentário. Um bom livro que virou um filme que eu ainda não tive a oportunidade de assistir.
27 – Guia Politicamente Incorreto da América Latina – Leandro Narloch & Duda Teixeira
Mais um da interessante série “Guia Politicamente Incorreto”. Nesta série, o autor, baseado em estudos e teses de história, geografia, política, antropologia, etc (tudo muito bem referenciado) derruba alguns mitos sobre fatos e personagens da história, neste caso da América Latina. Ele faz o contraponto justamente aos fatos históricos que são ensinados atualmente nas escolas e universidades e que, infelizmente, não são mostrados, sendo que toda a história tem vários lados. O texto têm uma fluidez muito boa e é escrito com um humor interessante.
28 – Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo – Leandro Narloch
Vide anterior.
29 – O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser Um Idiota – Olavo de Carvalho
Seleção de textos e artigos publicados em vários meios (jornais, internet, cursos, etc) do filósofo brasileiro Olavo de Carvalho. Você pode até não concordar com os conceitos e idéias dele (como eu não concordo com a maioria), achá-lo reacionário, polêmico, etc, mas não dá para negar que, ao menos, ele baseia seus conceitos em estudos aprofundados sobre vários assuntos (filosofia, religião e história, principalmente) e não apenas repete fórmulas prontas, o que já é um alento dentro da “comunidade intelectual brasileira”. Eu sugiro a leitura principalmente para quem não gosta dele, pois até para discordar de algo, você tem que conhecer este algo a fundo.
30 – Kaltes Blut – Roland Dittrich
Outro livrinho bobo para treinar o Alemão.
31 – Cacique de Ramos – Uma História Que Deu Samba – Carlos Alberto Messeder Pereira
Livro que tem como base uma tese de mestrado em Antropologia defendida na UFRJ e que mostra como o samba se renovou entre os final dos anos 60 e início dos anos 80 através desta comunidade / bloco. Item obrigatório para quem gosta de música, especialmente MPB e/ou samba. O livro é um pouco cansativo por conta das notas de rodapé, mas muito interessante.
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