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A democracia, a liberdade de expressão e o direito (ou não) de falar besteira

LevyFudelix

E tenho a teoria (mais uma!) que um dos grandes responsáveis pela incapacidade do brasileiro de analisar fatos e tomar decisões baseadas nos seus próprios conceitos são dos professores de ciências sociais, que na ânsia de promover uma doutrinação de esquerda, ao invés de ensinar os alunos a analisar fatos e tirarem suas próprias conclusões, fazem com que os brasileiros fiquem acostumados a receberem opniões prontas e as adotarem (mas isto é tema para outro artigo). Um grande exemplo é o conceito que a maioria dos brasileiros têm de democracia e um dos seus principais pilares: a liberdade de expressão.

O brasileiro comum faz uma mistura danada sem entender realmente o conceito de democracia. Democracia, segundo o conceito que boa parte dos brasileiros têm, é que a vontade da maioria deve se sobrepor à dos demais. Mas na verdade, a democracia é apenas um meio de gerenciar a discordância em temas que afetam a sociedade ou grupos dentro desta sociedade.

Ou seja, se a pessoa faz algo que afete somente a vida dela, não é o Estado que deve interferir.

Vamos exemplificar: reza a lenda que a palavra “fuck” (opa! Agora vai bombar o post!!!!…hahaha) é o acrônimo para “Fornication Under Consent of King” (fornicação sob consentimento do rei), que seria um aviso grudado na porta dos casais cujo Rei havia permitido que praticasse sexo (para fins de procriação). Na idade média, os Reis eram os donos de tudo o que havia no reino, inclusive das vidas dos seus súditos. Então (e isto não é lenda) eles determinavam até quando as pessoas iriam se procriar e inclusive se davam o direito de serem os primeiros a “experimentarem” cada mulher do reino.

Com o avanço das sociedades, “descoberta” da democracia e a evolução desta, chegou-se à conclusão que o Estado não deveria intervir em questões de foro íntimo dos cidadãos, desde que estas questões não inteferissem na vida de mais ninguém.

Seguindo pelo mesmo caminho, o do sexo, a democracia funciona da seguinte maneira: se duas pessoas praticam o ato sexual, de forma consensual, não é papel do estado intervir, já que isto não afeta a vida da população como um todo. Então se um homem trepa com uma mulher, ou mesmo que seja um homem com homem ou uma mulher com outra mulher, o ato só irá interferir na vida daquelas duas pessoas que, de livre e espontânea vontade, praticaram o ato.

Porém, se o ato sexual ocorreu entre duas pessoas sem o consentimento de uma delas (estupro), ai sim o Estado deve intervir. Ou se o ato aconteceu entre alguém com suas plenas capacidade mentais e intelectuais com alguém que não as tenha (menor de idade, deficientes mentais e mesmo pessoas que estejam incapacitadas momentaneamente, inclusive por álcool e outras drogas), ai o Estado deve interferir para proteger estas pessoas.

Agora vamos à questão da liberdade de expressão. É facultado à todo cidadão, em uma democracia, expressar o seu pensamento livremente. Porém, voltando ao ponto de que, você é livre para fazer o que quer desde que não prejudique alguém, que é um dos pilares da democracia (lembra quando sua mãe falava que “o seu direito termina quando começa o do outro”?), você pode expressar o que desejar sem prévia censura, só que, se alguém ou algum grupo se sentir prejudicado ou ofendido por aquilo que você falou, e se a justiça considerar que realmente aquilo causou algum constrangimento ou prejuízo, você irá pagar por isto.

A Liberdade de expressão quer dizer que ninguém vai cercear seu direto de se expressar, porém, também quer dizer que, se você falar algo que prejudique alguém, você terá que ser responsabilizado por isto.

Então agora vamos ao ponto principal: há algumas semanas atrás, em um dos debates entre os candidatos à presidencia que ocorreram antes do primeiro turno, o então candidado Levy Fidelix fez um discurso onde ele expressou toda a sua homofobia em rede nacional.

Ele ser homofóbico é todo um direito dele. Como é direito de qualquer cidadão não gostar de alguém por conta da etnia, do local de origem, de faixa etária, de gênero, etc. É um problema totalmente individual e o Estado não deve inteferir nisto.

Porém, e voltando ao assunto inicial, é problema do Estado quando isto interfere na vida de outras pessoas. O discurso do Levy Fidelix, que foi digno da caneta de Goebbels e do discurso de Hitler, por mais que fosse a livre expressão das idéias dele, vem a prejudicar outras pessoas, e no caso todo um grupo de pessoas. Quando ele fez aquele discurso dizendo que os homossexuais deveriam ser isolados e tratados (qualquer semelhança com os campos de concentração nazistas não é mera coincidência), desperta uma situação que exalta os animos agressivos (para ser “leve”) de quem não gosta de homossexuais e acaba por colocar os homossexuais em risco. E ai, voltando àquele ponto de que, enquanto você não atinge outro, você pode fazer o que quiser, o candidato Levy Fidelix colocou em risco a integridade física de pessoas.

É engraçado que muitas pessoas gostam de usar os Estados Unidos ou a Europa como parâmetro na área econômica e em questão de desenvolvimento, mas estas mesmas pessoas pregam um discurso totalmente contrário à estes países no que se refere aos direitos humanos, liberdades individuais e a tolerância. E boa parte delas sairam em defesa do Levy Fidelix, alegando a liberdade de expressão para defender o discurso e até para praticarem discurso iguais.

Conheço bem os EUA e conheço um pouco a Europa e se um discurso igual ao dele fosse proferido em rede nacional nos EUA e em boa parte da Europa Ocidental, ele sairia algemado do local do debate e já impugnado para as eleições. Na Alemanha então, uma “democracia cristã”, como gostam de usar como exemplo ideal de país os “cristãos fundamentalistas”, ele simplesmente estaria preso até agora e sua carreira política teria se acabado naquele momento.

Como bem disse a amiga Gisele Berto, naquele momento ele passou da categoria de caricato, a do “candidato do aerotrem”, para a categoria dos canalhas.