Quando estava escrevendo a resenha sobre o E Tem Outra Coisa… eu estava lendo O Salmão da Dúvida, o que me fez chamar o Douglas Adams de gênio naquela resenha.
Muitos já o classificariam assim pelo compêndio do Guia do Mochileiro das Galáxias, porém talvez sejam as outras obras e especialmente textos de não ficção que o levem a este patamar.
O Salmão da Dúvida é um livro póstumo, que contém uma historia na qual Adams estava trabalhando e que dá o título ao livro e um coniunto de textos, artigos, cartas, entrevistas e um ótimo ensaio (do qual falarei mais abaixo) reunidos por seu editor, com a ajuda de sua assistente e sua viúva. O livro foi dividido em três partes: A Vida, O Universo e Tudo Mais.
Tudo Mais, a última parte do livro, contém o romance título do livro. Conforme entrevistas do proprio Douglas, o roteiro no qual ele estava trabalhando e que entre outros títulos provisórios, teve “O Salmão da Dúvida” como um deles, estava mais propício a ser utilizado para um livro do Guia, mas como ele começou a ser desenvolvido como um texto do Dirk Gently e foram estas as versões encontradas no computador de Douglas, acabou sendo um compilado de doze capitulos extraídos das 3 versões encontradas tendo Dirk Gently como personagem principal. Vale o aviso de que a história ficou sem final. Mas mesmo assim vale a pena, especialmente pelo capitulo que é descrito pela perspectiva de Desmond (e mais não falo para não estragar a surpresa).
Mas o mais interessante mesmo no livro são as duas primeiras partes (A Vida e O Universo). Os artigos selecionados para o livro contam um pouco da vida do autor e as entrevistas publicadas no livro demonstram bastante da personalidade de Douglas já no pós guia e sua relação com as suas obras. Interessante notar como ele, como apaixonado por tecnologia, “previu” muitas coisas que viriam a acontecer em alguns anos, especialmente no que se refere à Internet e como ela vem mudando o mundo. Por exemplo, ele já previa/pensava em Big Data quando o termo ainda nem existia.
Todos os textos ou entrevistas tem o humor tipico de Adams, o que por si só já vale o livro.
Os dois capitulos que eu achei mais interessantes foram o da descrição de uma aventura dele para testar um sub bug e um discurso dele em uma convenção de biotecnologia, na qual ele explana sua teoria do “Deus Artificial”.
O primeiro conta a aventura que ele planejou, de mergulhar na grande barreira de corais, na Austrália com um sub bug (equipamento para mergulho) e fazer a comparação entre mergulhar usando o sub bug e usar uma arraia jamanta.
O segundo é um discurso onde ele explana a sua “Teoria das 4 eras da areia e do Deus Artificial”, que é simplesmente sensacional e mostra toda a genialidade de Douglas.
Mais do que um escritor ou roteirista, ao final deste livro eu me convenci que Douglas era também um visionário, pensador e filósofo. Pena que partiu tão cedo.
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