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O Salmão da Dúvida – Douglas Adams (21/2014)

O Salmao da DuvidaQuando estava escrevendo a resenha sobre o E Tem Outra Coisa… eu estava lendo O Salmão da Dúvida, o que me fez chamar o Douglas Adams de gênio naquela resenha.

Muitos já o classificariam assim pelo compêndio do Guia do Mochileiro das Galáxias, porém talvez sejam as outras obras e especialmente textos de não ficção que o levem a este patamar.

O Salmão da Dúvida é um livro póstumo, que contém uma historia na qual Adams estava trabalhando e que dá o título ao livro e um coniunto de textos, artigos, cartas, entrevistas e um ótimo ensaio (do qual falarei mais abaixo) reunidos por seu editor, com a ajuda de sua assistente e sua viúva. O livro foi dividido em três partes: A Vida, O Universo e Tudo Mais.

Tudo Mais, a última parte do livro, contém o romance título do livro. Conforme entrevistas do proprio Douglas, o roteiro no qual ele estava trabalhando e que entre outros títulos provisórios, teve “O Salmão da Dúvida” como um deles, estava mais propício a ser utilizado para um livro do Guia, mas como ele começou a ser desenvolvido como um texto do Dirk Gently e foram estas as versões encontradas no computador de Douglas, acabou sendo um compilado de doze capitulos extraídos das 3 versões encontradas tendo Dirk Gently como personagem principal. Vale o aviso de que a história ficou sem final. Mas mesmo assim vale a pena, especialmente pelo capitulo que é descrito pela perspectiva de Desmond (e mais não falo para não estragar a surpresa).

Mas o mais interessante mesmo no livro são as duas primeiras partes (A Vida e O Universo). Os artigos selecionados para o livro contam um pouco da vida do autor e as entrevistas publicadas no livro demonstram bastante da personalidade de Douglas já no pós guia e sua relação com as suas obras. Interessante notar como ele, como apaixonado por tecnologia, “previu” muitas coisas que viriam a acontecer em alguns anos, especialmente no que se refere à Internet e como ela vem mudando o mundo. Por exemplo, ele já previa/pensava em Big Data quando o termo ainda nem existia.

Todos os textos ou entrevistas tem o humor tipico de Adams, o que por si só já vale o livro.

Os dois capitulos que eu achei mais interessantes foram o da descrição de uma aventura dele para testar um sub bug e um discurso dele em uma convenção de biotecnologia, na qual ele explana sua teoria do “Deus Artificial”.

O primeiro conta a aventura que ele planejou, de mergulhar na grande barreira de corais, na Austrália com um sub bug (equipamento para mergulho) e fazer a comparação entre mergulhar usando o sub bug e usar uma arraia jamanta.

O segundo é um discurso onde ele explana a sua “Teoria das 4 eras da areia e do Deus Artificial”, que é simplesmente sensacional e mostra toda a genialidade de Douglas.

Mais do que um escritor ou roteirista, ao final deste livro eu me convenci que Douglas era também um visionário, pensador e filósofo. Pena que partiu tão cedo.

E Tem Outra Coisa… – Eoin Colfer (20/2014)

E tem Outra Coisa“E tem outra coisa…” é o sexto livro da trilogia de cinco livros do Guia do Mochileiro das Galáxias. Para quem não conhece, o Guia do Mochileiro das Galáxias foi uma serie ficção científica cômica criada para o radio e transmitida pela BBC no final da decada de 70. O responsável pela criação foi o gênio Douglas Adams.

A série de rádio deu origem a uma série de livros, uma série de TV britânica na década de 80, um filme em 2005, web sites, gibis, jogos de computador e gerou todo um universo (na verdade vários universos, ou seja, um multiverso) em torno de Arthur Dent, Ford Prefect, Tricia McMillan, Zaphod Beeblebrox e todos os insólitos e estranhos personagens e suas aventuras.

Para quem esteve nas ultimas décadas na Nebulosa Cabeça de Cavalo ou em um fiorde de algum planeta construído pelos Magrateanos nos confins deste universo (ou de algum outro) e não sabe nada sobre o Guia, sugiro que corra ate livraria (eletrônica ou física) mais próxima e adquira a série. Prometo que não vai se arrepender. É o tipo de livro que você não consegue parar de ler. Eu li os 5 livros originais da série em cerca de 20 dias, numa toada de 50 páginas por dia.

Mas voltando à este sexto livro em específico, ele foi lançado em 2009, portanto 8 anos após o falecimento de Douglas Adams. A missao foi confiada a Eoin Colfer, um autor irlandês de obras infanto-juvenis.

Acho que a escolha nao poderia ter sido melhor. Colfer soube usar a própria improbabilidade tipica de Adams para trazer de volta os personagens e conseguiu manter a “pegada” do humor britânico que ele tinha, além de inserir um toque próprio, o que não faz com que o estilo seja uma simples cópia do estilo de Adams..

Colfer também inseriu algumas novidades tecnológicas, especialmente ligadas à Internet, que não existiam quando Adams escreveu os cinco livros originais (apesar de ele ter “criado” a subeta.net, uma Internet do universo, nos seus livros, ainda na década de 80). Um exemplo são vídeos virais de celebridades, coisa tão comum nos dias de hoje.

O livro abusa das “notas do guia” para refrescar a memória dos leitores e introduzir novos conceitos, porém não é algo chato ou enfadonho. E mesmo com muita coisa explicada nas notas é interessante que os outros livros sejam lidos previamente para uma melhor compreensão do texto.

Assim como toda a obra de Adams e como o Belas Maldições (será que a escolha de Adam como nome do personagem principal de Belas Maldições não seria uma homenagem à Douglas?), este é um livro que dá vontade de ler novamente tão logo você o termine.