Conforme já comentado no artigo anterior, sobre a história da cidade, Berlin nasceu à margem do Rio Spree e acabou crescendo as margens deste rio. Perto do Spree é onde se encontram os bairros mais antigos da cidade, seus mais famosos museus, praças e edifícios.
O Spree hoje é inclusive uma rota turística da cidade, por onde se pode fazer excursões que passam praticamente pela maioria dos principais pontos turísticos.
Porém, com todos os acontecimentos que marcaram a história de Berlin, especialmente as guerras e a divisão da cidade durante a guerra fria, não é difícil imaginar que a cidade apresente uma variedade impressionante no que se refere à arquitetura.
Apesar de muitos dos edifícios que foram destruidos durante a segunda guerra terem sido reconstruidos, especialmente na parte oriental (os soviéticos eram bons nisto, na Polônia e em Dresden também existem vários edifícios que foram restaurados exatamente como eram antes dos bombardeios), existe muita modernidade convivendo com certa harmonia com construções antigas. Um exemplo é a Potzdamer Platz. A estação central de trem (Hauptbahnhof = estação de trem principal) é uma verdadeira maravilha da Engenharia e Arquitetura, tendo sido inclusive tema de um programa na Discovery (ou NatGeo, não lembro qual).
Na parte ocidental é onde se encontram os prédios mais modernos, porém, atualmente a parte oriental parece um canteiro de obras, pois apesar de os soviéticos terem reconstruído vários dos edifícios, e até terem construído uma réplica de Moscou na Karl-Marx-Alle, uma imponente avenida com quase 20 metros de largura e prédios simétricos (eles precisavam de um lugar para os desfiles militares), eles focavam esforços no que iria ficar visível para as câmeras de TV e fotografia. Ou seja, nas avenidas principais os prédios foram reconstruidos, ou foram construidas novas e imponentes edificações, porem, atrás destes a cidade era praticamente abandonada, então hoje em dia existem diversos prédios e galpões em estado precário e que estão (infelizmente) sendo demolidos para darem lugar a prédios comerciais e residenciais modernos.
Os terrenos que compunham a death strip também estão sendo, aos poucos, alvo da especulação imobiliária. Isto quase gerou um problema: a região à margem do Spree onde se encontra a East Side Gallery, a maior seção do muro ainda de pé e que se transformou em uma galeria de arte a céu aberto, foi adquirida por uma empresa que está erguendo ali um condomínio comercial. Inicialmente o plano era acabar com a East Side Gallery, porém após protestos da população, eles resolveram conservar o muro. Mas a imagem de um prédio comercial entre a East Side e o Spree não é das melhores.
Um outro resquício da guerra fria é a Fernsehturm (simplesmente “Torre de TV”): os soviéticos a construiram como um ato de provocação, para que ela fosse vista de qualquer ponto da cidade, especialmente pelos ocidentais, e conseguiram seu objetivo. Apesar de hoje em dia alguns prédios mais altos já encobrirem a visão da torre, ela é tão grande que se tornou até um ponto de referência: basta você procurá-la para saber em que direção está o centro da cidade. É possivel inclusive enxergá-la por vários minutos enquanto o avião está pousando em um dos aeroportos da cidade. Mas não pense que só os soviéticos eram filhas da puta: os americanos construiam perto dos checkpoints, os pontos por onde era possível passar de um setor à outro e onde os orientais conseguiam enxergar a parte ocidental (a death strip servia também para que o pessoal do leste não tivesse contato nenhum com o do oeste), restaurantes para que o pessoal do oriente soubesse que não havia falta de comida no ocidente.
Os prédios, mesmo os mais novos, têm uma característica diferente do que temos no Brasil. Aqui geralmente a posição do prédio em relação ao terreno visa aproveitar o máximo da luz do dia para as áreas de lazer e para permitir que, ao menos em parte do dia, os apartamentos sejam iluminados pela luz do sol. Em Berlin, geralmente os prédios são construídos “em volta” dos terrenos, tendo um centro aberto (que geralmente são jardins de inverno) e desta forma as “áreas de lazer” e os cômodos principais (geralmente quartos) ficam isolados do vento pela parte externa do prédio. Da mesma forma, as ruas não são retas enormes, mas sim um ziguezague (se olhado do alto), pois isto impede que o vento corra por entre os prédios.
Outra coisa interessante da cidade é que ela é praticamente plana (por isto a Fernsehturm é vista praticamente de qualquer ponto), apresentando poucos morros (Berg em alemão). Esta característica faz com que a cidade seja perfeita para o uso de bicicleta como transporte no dia a dia. Estima-se que existam 2,5 milhões de bicicletas na região metropolitana de Berlin, para uma população de aproximadamente 5 milhões de pessoas.
Mas uma das coisas que mais me impressiona em Berlin é o seu sistema de transporte público. Exceto se você morar em algum subúrbio muito distante, você praticamente não precisa de carro para se locomover na cidade. Sua rede interligada de trêns urbanos (U-Bahn), suburbanos (S-Bahn), ônibus e bondes (tram) faz com que você consiga chegar em qualquer ponto da cidade sem maiores dificuldades. E para melhorar, as sextas, sábados e vésperas de feriados o metrô funciona 24 horas.
Não sou um profundo conhecedor ou admirador de arquitetura, apesar de me interessar um pouco por urbanismo, mas creio que Berlin deva ser uma das cidades que têm o maior acervo do mundo, quando se fala em estilos arquitetônicos. E mesmo quem, como eu, não tem muito interesse pelo assunto, começa a prestar atenção em detalhes que em outros lugares passariam despercebidos e a andar olhando para o alto, para encontrar alguma surpresa no alto dos prédios ou no topo das igrejas, bibliotecas e museus.
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