Neil Gaiman é um dos expoentes do que eu chamo de “Escola Douglas Adams de Humor Literário Britânico”. Tá certo que o Douglas Adams bebeu muito na fonte do Monty Python, mas por sua vez ninguém melhor do que ele conseguiu transcrever o estilo das gags visuais do famoso grupo britânico em textos. Infelizmente este gênio nos deixou cedo, mas existem vários outros autores que, mesmo sem intenção, seguem o seu estilo: aquele humor non-sense e ao mesmo tempo cheio de sentido (para quem tiver percepção suficiente para entender as sutilezas), fantástico e ao mesmo tempo realista e que parece que está falando diretamente com você.
Talvez o Neil Gaiman seja o melhor “discípulo” desta escola e, em “Os Filhos de Anansi”, todas estas características estão muito presentes. O livro conta a história de Fat Charlie, um sujeito desajeitado, desafortunado, que passou a vida sendo alvo de piadas e pegadinhas do próprio pai. Após a morte do pai ele descobre que ele era um deus: Anansi, a aranha, com origens na África. Não só isto, descobre ter também um “irmão gêmeo”, este já consciente de que se trata de um filho de um deus e que usa isto a seu bel prazer.
Spider (o irmão), na sua “vida despreocupada de filho de um deus”, coloca Fat Charlie em diversas situações adversas, muitas delas quase trágicas, mas que ao final se tornam cômicas.
As passagens “místicas” do livro são tão surreais que mesmo eu, que monto aquele filminho na cabeça enquanto leio, não consegui imaginar completamente e com clareza os cenários e personagens destas passagens. Muito interessante o Gaiman usar mitologia africana para criar a estória.
Deu até curiosidade agora de ler o SandMan, que pelo que conheço é menos humor escrachado e mais um humor ácido, sútil, que é apenas complemento para suspense e drama. Mas do jeito que Gaiman consegue conduzir bem uma trama, não duvido que seja um livro para se devorar em poucos dias, como devorei as mais de 300 páginas de Os Filhos de Anansi (apenas quatro dias!).
Be happy 🙂