Assim como aconteceu com O Capital, do Karl Marx, também demorei dois meses para ler este livro. Apesar de ser tão complexo quanto o do Marx, O Capital do Piketty tem uma leitura mais fluída e mais “amigável”, muito mais com um ar de tese de doutorado (que na verdade foi o ponto de partida do livro) do que de “bíblia”, como o Capital do Marx.
Neste livro Piketty analisa a evolução do capital ao longo dos últimos três séculos para a Inglaterra e a França, e para alguns outros países (EUA, Alemanha, Japão e os países nórdicos) para os períodos onde existem informações disponíveis. Ele faz um alerta aos leitores que desejarem comparar com trabalhos prévios de outros autores (como o próprio Marx) de que ele teve, além de um histórico maior de dados com os quais trabalhar, a ajuda de computadores para compilar as informações, coisa que seus predecessores não tiveram, portanto as falhas em trabalhos anteriores seriam mais passíveis de acontecer. Mesmo assim ele não deixa de “espetar” Marx, que tendeu a selecionar casos que reafirmassem sua “crença”.
Uma das primeiras conclusões a que ele chega é que o fator que mais motiva a geração de riqueza de uma sociedade, a divisão desta riqueza de forma mais igualitária entre os membros desta sociedade e mesmo a redução das diferenças entre os países é “…a difusão do conhecimento e a disseminação de educação de qualidade”.
Porém, ao analisar a evolução e concentração do capital ao longo do tempo, nota-se que invariavelmente a tendência é de que poucas pessoas sejam detentores deste capital, ou seja, a tendência é sempre a de concentração e aumento das diferenças. A tendência foi quebrada na primeira metade do século XX por conta das duas grandes guerras e do esforço de organização pós guerra, mas os dados indicam que nas duas últimas décadas do século passado a tendência de concentração voltou a aparecer.
Para reduzir as diferenças, Piketty alega serem necessários impostos progressivos sobre a riqueza e a herança que sejam mais pesados do que atualmente e que a cobrança destes impostos fosse mais efetiva. O ideal seria um imposto mundial, que ele mesmo admite ser uma utopia, mas que trocas de informações fiscais entre os países, para evitar evasão, poderia ser um ponto de partida para que estes impostos fossem cobrados, independente de onde os recursos estivessem.
Uma crítica importante que ele faz no livro é sobre a lógica dos Estados de, ao invés de cobrarem maiores impostos quando há a necessidade de mais recursos, simplesmente tomarem emprestado (através de títulos de dívida pública com pagamento de juros) destas mesmas pessoas que seriam as que provavelmente deveriam pagar mais impostos, por terem mais recursos. E são estas pessoas que geralmente influenciam na política dos países para que seja feito desta forma, ou seja, é o capital gerando mais capital e aumentando as diferenças. Além disto, esta elite geralmente consegue manipular a opnião pública para ser contra qualquer imposto que venha a lhes “prejudicar”, mesmo que a sociedade como um todo saia ganhando.
Mas talvez a principal dica que o livro dê é que todas as pessoas deveriam procurar entender os mecanismos de acumulação de capital, de renda, etc, pois as pessoas que estão no topo da pirâmide certamente conhecem e utilizam justamente o desconhecimento dos demais em seu favor (como no caso impostos X empréstimos tomados por Estados). E neste ponto, o próprio livro do Piketty deveria ser de leitura e discussão obrigatórios nos bancos escolares.
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