Santiago de Cuba é a segunda maior cidade cubana, com cerca de 500 mil habitantes e fica localizada a cerca de 900 kilômetros da capital, Havana. Por causa da proximidade com a Jamaica, o Haiti e a República Dominicana, é comum ver muitas pessoas com estas origens (muitos rastas, por exemplo).
Além da cultura de café, plantados nas cercanias da Sierra Maestra, a maior cadeia montanhosa de Cuba, a província de Santiago de Cuba (província é o equivalente ao nosso estado) também é famosa por seu porto e a mineração (cobre e ouro). Porém, a importância maior desta cidade é o fato dela ter sido o berço dos dois acontecimentos históricos mais importantes para Cuba: a independência da Espanha (e dos EUA, ver o artigo sobre a história de Cuba) e a revolução Cubana.
Por ser a maior cidade no leste de Cuba (ou como eles chamam, o Oriente cubano), ela foi um dos principais palcos das batalhas pela independência de Cuba. Na década de 50 serviu de berço da revolução cubana, pois foi na cidade em que Fidel se formou em direito e morou durante alguns anos. O Cuartel de Moncada, alvo do ataque da primeira tentativa da revolução armada liderada por Fidel fica na cidade (ver o mesmo artigo acima sobre a história).
Acho que o que mais eu gostei na cidade foi que ela respira música e o povo é muito festivo. Em qualquer lugar que você pare, invariavelmente terá algum conjunto ou artista tocando. Em todas as praças em que passei, entre o final da tarde / começo da noite tinha alguma festa acontecendo (inclusive na segunda feira!). Não à toa, o carnaval de Santiago, que acontece em Julho, é muito famoso.
O que fazer?
Santiago de Cuba é uma cidade pequena e sem grandes atrativos na sua área urbana. A não ser sentar num bar ou numa praça e ficar tomando cerveja, ouvindo os músicos de rua. Em termos de “atrações turísticas”, em um dia dá para conhecer praticamente toda a cidade.
Felizmente, ao tentar conseguir um mapa mais detalhado da cidade, a concierge do hotel sugeriu que contratássemos um taxista para fazer um passeio na “grande Santiago”, ao custo de 40 CUCs (cerca de 40 euros) por dia, para até 4 pessoas. Foi realmente uma ótima sugestão.
No primeiro dia o taxista nos levou para um “city tour” passando pelo Arbol de La Paz (onde o acordo de independência foi assinado), Memorial Loma de San Juan, alguns bairros residenciais, Bosque de Los Heroes, Plaza Antonio Maceo e Teatro Heredia e depois nos dirigimos ao Santuário de La Virgen de La Caridad del Cobre, a padroeira de Cuba.
Na volta para a cidade paramos no Cementério Santa Ifigenia, que conta com um imponente memorial à José Marti (um dos heróis cubanos) e túmulos de outras figuras históricas (como a família Bacardi). É interessante chegar por volta das 13:30, pois é quando acontece a troca da guarda, que é feita de forma tão sincronizada que você não consegue perceber quem foram os guardas que acabaram de chegar e quais acabaram de sair.
A próxima parada foi no Castillo de San Pedro de la Roca, ou simplesmente Castillo del Morro, uma fortaleza construida no topo de uma das colinas localizadas na entrada da baia de Santiago de Cuba, que foi erguida para servir como ponto de defesa contra invasores. Dali se tem uma vista da bela baia e também da costa.
Após a volta, ficamos no Parque Céspedes, que na verdade não é um parque, e sim uma praça (eles chamam qualquer praça com árvores de parque em Cuba), localizada no centro de Santiago e que é rodeada por alguns prédios históricos e interessantes. Fomos até a Casa de La Trova, onde podemos presenciar uma mini apresentaçao exclusiva de Pello 21, um músico local que toca um “instrumento” chamado Órgão Paris, que é como se fosse um enorme realejo. Visitamos também o Balcón de Velásquez, de onde se tem uma vista da parte costeira da cidade e depois fomos abordados por Livan, um morador de Santiago que nos levou para conhecer a maquete de Santiago e depois um restaurante local para tomarmos alguns mojitos. Depois paramos para almoçar na Taberna El Baturro, que tem um ambiente interessante (mas a comida não vale o preço).
Após o almoço, seguimos para a Plaza de Dolores, uma pequena praça cercada de bares com mesas na calçada que é ótimo para parar, tomar umas cervejas e mojitos e aproveitar para ouvir o som dos inúmeros músicos de rua que passam por ali (e portanto, prepare-se para dar caixinhas!). Na volta a pé para o hotel (cerca de 4kms) notamos que em TODAS as praças no caminho acontecia alguma festa, isto em pleno domingo, às 21:00hrs.
Haviamos combinado com o taxista de fazer um outro passeio no dia seguinte, desta vez fomos até a La Gran Piedra, um dos pontos mais altos de Cuba, situado na Sierra Maestra. O passeio é bem legal e a vista é fantástica, mas deve-se estar preparado para subir os quase 500 degraus até a pedra. Depois passamos no Museu Isabelica, um sítio histórico onde foi montada a primeira fazenda de café de Cuba. No sítio dá para se ter uma idéia de como viviam um fazendeiro e seus escravos.
Depois fomos até o Jardim Botânico, que é muito bonito e conta com uma variedade bem grande da flora cubana. Na sequência do passeio era para termos passado pela Granja Sibonay, o pequeno sítio que Fidel alugou e onde ele organizou a primeira tentativa de revolução. Porém, por ser uma segunda feira, o local estava fechado para visitas. Então nos dirigimos até o penúltimo ponto do passeio, que era a Praia de Sibonay, onde comemos em um legítimo Paladar cubano.
Há alguns anos o governo autorizou algumas pessoas a servirem refeições nas suas casas para os turistas. Na época, a novela brasileira Vale Tudo estava sendo transmitida em Cuba e a personagem da Regina Duarte nesta novela era a dona de um pequeno restaurante chamado “Paladar”. Por conta disto, o nome Paladar acabou “pegando” como denominação destes locais que servem refeições literalmente caseiras (os paladares são montados nos quintais ou em algum cômodo da casa).
A praia de Sibonay é bonita, porém o mar é um pouco agitado e de tombo. Como não tinhamos planos de pegar praia, somente aproveitamos para tirar algumas fotos e voltamos para Santiago (Sibonay é um município na grande Santiago de Cuba) para o último ponto do passeio, que era o histórico Cuartel de Moncada, porém o museu do quartel também estava fechado por ser uma segunda. Então fomos conhecer o terraço do Casa Granda Hotel, de onde se tem uma vista 360º de quase toda a cidade, já que o hotel, apesar de não ser muito alto, fica numa colina e pelo fato de que em Santiago existem muito poucos prédios altos.
Depois passamos para tomar um café no la Isabelica Café, que é bem tradicional e que, além de qualidade, tem uma enorme variedade de bebidas que levam café como ingrediente principal. Depois de pararmos novamente para tomar algumas cervejas na Plaza Dolores, resolvemos voltar ao hotel. No caminho (que foi o mesmo do dia anterior), notamos que novamente haviam festas em TODAS as praças. Em plena segunda feira! Resolvemos parar em uma perto do hotel, que fica tipo num calçadão comercial e tinha música rolando ao vivo. Apesar do grupo tocar 3 músicas e fazer uma “pequena pausa” de meia hora, para voltar e tocar mais 3 músicas e fazer uma nova pausa, foi legal curtir esta última noite no meio dos locais, em um local que não é turístico e ainda de quebra descobrir que Kaoma e seu eterno sucesso “Chorando se Foi” também é sucesso em Cuba. Bem, ao menos em Santiago.
Observações, dicas e considerações:
Se for voar de Cubana de Aviación prepare-se: como ela é basicamente a única companhia aérea que voa dentro de Cuba e por não ter muitas aeronaves, qualquer atraso desencadeia um efeito dominó em toda a malha. Na ida o atraso foi de 11 horas e na volta de duas.
- Ainda assim valeu a experiência de andar num Antonov – AN 158, talvez a aeronave mais silenciosa em que eu já voei.
- Eu não sou muito chegado em café então provavelmente não seja a pessoa certa para falar se um café é bom ou ruim, mas se eu morasse em Santiago com certeza iria virar um viciado no café do La Isabelica Café. O melhor que já tomei!
- A maioria das atrações turísticas de Santiago fecham às segundas. Então é bom levar isto em consideração na hora de programar a viagem. Mas se a intenção for aproveitar festa, pode ir na segunda à vontade!
- Quando estava em Havana, conheci um “local” e comentei com ele que tinha acabado de chegar de Santiago de Cuba, e ele soltou “Cuba é pobre, mas Santiago é mais pobre ainda!”, por conta disto, em Santiago existem muito mais pedintes e existem muito mais pessoas querendo ser “guias” para conseguir alguma gorjeta, ou mesmo uma refeição por conta do turista. Então prepare-se para ser abordado.
- Apesar dos moradores de Santiago serem pobres e não terem acesso a vários bens e serviços que são corriqueiros para nós, eles são muito felizes e se divertem muito (mas muito mesmo!), o que nos leva a pensar como realmente não precisamos de muita coisa para ser feliz e viver bem.
Be happy 🙂
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