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Cervejas, Brejas e Birras – Mauricio Beltramelli (17/2014)

Cervejas Brejas e BirrasApesar de já ter contato com as cervejas ditas especiais há mais de 20 anos, pelo fato de morar na Freguesia do Ó, lar do pioneiro bar de cervejas especiais Frangó, só fui realmente me interessar pela cultura cervejeira em 2008, quando estava à trabalho nos EUA e, ao ir a um mercado fazer compras me deparei com a imensa quantidade de cervejas disponíveis num simples mercado de bairro (chutando baixo devia ter pelo menos 100 rótulos diferentes).

À partir dai, e com tempo de sobra para “experimentos puramente científicos”, comecei a procurar mais informações sobre a história, os estilos e os processos de fabricação da cerveja, pois queria me munir de informações para poder escolher entre toda aquela enorme variedade. Foi o pontapé inicial para eu virar um apaixonado pela cultura cervejeira e acho que acabei inclusive indo aprender alemão por conta disto. Eu chuto que eu já tenha experimentado mais de 350 rótulos diferentes (incluindo as populares brasileiras), de mais de 70 países (alguns inusitados, como Namíbia, Cuba, El Salvador e Líbano), dos cinco continentes, muitas “in loco”. Infelizmente comecei a registrar quais eu havia tomado há pouco tempo (desde 2010) para ter o número exato.

Mas voltando à vaca fria, este livro do Mauricio Beltramelli, um dos mentores e criadores do ótimo www.brejas.com.br, que é basicamente o site sobre cervejas mais frequentado pelos apaixados no Brasil, e resume em pouco mais de 300 páginas informações que eu demorei anos para colher na internet.

Usando uma linguagem simples, de boteco mesmo (como não poderia deixar de ser), ele passa pelo essencial que qualquer pessoa que esteja se interessando pelo tema deva conhecer: história da cerveja, principais ingredientes, processos de fabricação, principais escolas cervejeiras e viagens relacionadas à cerveja, tanto no Brasil, quanto no exterior.

É o verdadeiro “Beer for dummies” em português. Mesmo eu tendo conhecimento de boa parte do conteúdo, ainda fui apresentado a bastante informação nova, alguns detalhes que eu desconhecia e também alguns mitos nos quais eu acreditava foram desmistificado (como o do chopp ser a cerveja não pasteurizada).

A parte sobre a história da cerveja no Brasil, país sem tradição em preservar o passado, por exemplo, foi bastante enriquecedora, pois é um pouco complicado encontrar informações na internet e o Maurício, com sua curiosidade e seus contatos conseguiu resumir o pouco de informação que ele conseguiu para tentar traçar um pouco a história da indústria cervejeira brasileira.

Uma outra parte que eu achei muito interessante também é a que ele descreve os dois tipos de “beer evangelizadores”: o intervencionista, que é aquele que quer impor sua vontade sobre os demais e acaba virando um chato (ou bierchato, numa alusão aos enochatos) e os libertários, que é aquele sujeito que aprecia cervejas especiais, mas também não se recusa a tomar uma skol “trincando” na beira da praia com um sol de 40 graus na cachola e que, no momento apropriado irá apresentar aos amigos as maravilhas das cervejas não comerciais.

Achei interessante também a lista com 150 cervejas elencadas por ele ao final do livro, que seria um bom ponto de partida para o iniciante ir abrindo sua mente e acostumando seu paladar.

Durante a leitura foi impossível não sentir vontade de abrir uma cerveja, nem que fosse aquela “de milho e arroz” do boteco da esquina! 🙂

P.S. Apesar de não querer me tornar um beerchato, a Itaipava simplesmente é horrível. É literalmente a única cerveja que eu evito de tomar, mesmo que não tenha outra opção. Prefiro ficar sem beber mesmo….hahaha

 

Good Omens – Terry Pratchett & Neil Gaiman (16/2014)

Minha dentista outro dia me comentou sobre este livro e fiquei na curiosidade de ler, pois a “sinopse” que ela havia feito me pareceu muito interessante: dois anjos, um do exército divino e um anjo caído, ou seja, do exército do inferno, se encontram na terra há mais de seis mil anos, com a missão de prepararem as coisas para o dia do armagedom.

O problema é que, além deles terem se tornado amigos, eles já viveram tanto tempo entre os humanos que se habituaram a alguns prazeres mortais (como carros, no caso de Crowley, o anjo caído, ou sushi e livros, no caso de Aziraphale, o anjo do exército divino). Além de terem desenvolvido afeição pelas pessoas e questionarem a necessidade de se extirpar a vida na terra por conta de um capricho divino.

Para piorar a situação, na hora de colocar o anticristo para ser criado em determinada família, os assistentes de Crowley acabam confundindo tudo e o bebê acaba indo para uma outra família, sem que ninguém saiba qual é, e ambos (Crowley e Aziraphale) têm que correr para descobrir onde se encontra o filho do senhor das trevas antes do dia do juizo final, que acontecerá em 4 dias e que eles estão, na verdade, tentando evitar.

Vale dizer que os autores são britânicos, então já dá para imaginar o tipo de humor encontrado no livro, que é uma mistura de Douglas Adams (O Guia do Mochileiro das Galáxias) com Monty Python (notaram a semelhança da confusão de bebês com “The Life of Bryan”?).

Existem partes simplesmente hilárias, como na que eles contam como uma freira satânica (a mesma que fez a confusão na troca de bebês) criou o que conhecemos hoje como “treinamentos corporativos”, daqueles em que o pessoal da empresa é levado à um hotel de luxo que têm piscina, quadras, bares, geralmente num dia de sol e calor, para que os funcionários fiquem enfurnados dentro de uma sala afim de construir uma canoa, ou uma torre, ou algum outro tipo de atividade que ninguém vê sentido algum, mas para qual todos inventam “lessons learned” (e eu concordo plenamente que este tipo de atividade só pode ser coisa do cão!).

Ou na “reconstrução” dos quatro cavaleiros do apocalipse, onde a fome, por exemplo, é um famoso guru de dietas, que criou uma linha de produtos que não engorda, mas também não alimenta, além de uma rede de fast food cuja descrição em muito lembra o McDonalds, Burger King, e outras gigantes americanas.

A acidez do humor britânico também se faz presente como no trecho abaixo, onde algumas crianças estavam querendo “brincar” de Inquisição Espanhola:

– Eu não acredito que seja permitido às pessoas sairem por ai queimando outras pessoas!
– É permitido se você for um religioso.

Foi um dos livros mais legais que eu li e em vários trechos eu não conseguia conter as gargalhadas, mesmo enquanto estava lendo em público. O único porém foi que eu comprei o livro em inglês e devo ter perdido várias piadas, pois estou mais habituado com o inglês americano. Ao menos entendi a do Greatest Hits do Queen, que diz que, ao escolher aleatoriamente uma fita no carro para colocar para tocar, é 100% de chances que esta fita seja o greatest hits do Queen e que a música que esteja “no ponto” seja precisamente “Bohemian Rhapsody”.

Tentei até encontrar o livro em português, cujo título é “Bons Presságios”, para ler novamente (sim, estou disposto a ler novamente, de tão bom que é), mas infelizmente está esgotado.

Não sei como ninguém teve a idéia de transformar em um seriado. Iria render umas boas 3 temporadas de estórias hilariantes.