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The Ministry of Truth: The Biography of George Orwell’s 1984 – Dorian Lynskey (07/2020)

De tempos em tempos uma das duas principais obras de George Orwell (Animal Farm e 1984) ganham os holofotes. A mais recente delas ocorreu com a surpreendente vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA em 2016. Após a cerimonia de posse, Sean Spicer, então secretário de imprensa de Trump, afirmou que a cerimonia tinha tido o maior público para uma cerimonia do tipo até então, não só nos EUA, mas no mundo todo, em qualquer momento da história, fato facilmente desmentido pelas imagens do evento. Quando questionada a respeito, já que os fatos eram contrários a tal afirmação, Kelliane Conway, então conselheira do presidente, disse que existiam fatos alternativos (e os jornalistas presentes perderam uma grande oportunidade de afirmar que qualquer alternativa a um fato é simplesmente mentira). As vendas de 1984 dispararam logo em seguida!

Aproveitando o embalo, Dorian Lynskey resolveu lançar uma “biografia” de 1984.

Usar o termo “biografia” para uma obra literária soa um pouco estranho, mas a palavra cabe, já que a proposta foi exatamente ter a obra como ponto central e tentar dissecar (outro termo aplicável a seres orgânicos) como a obra foi feita, influenciada e como ela influenciou outras obras e a sociedade em geral.

Obviamente que para entender tudo o que pode ter influenciado a obra, uma biografia do próprio autor se faz necessária, então o livro traz bastante detalhes sobre a vida de Orwell, especialmente sobre sua formação. Também a fim de explicar as influências, existem partes dissecando utopias que precederam 1984, como The Sleeper Awakes, de H.G. Wells (autor que mereceu um capítulo inteiro) e Looking Backwards, de Edward Bellamy, que foi o precursor do gênero utópico. Uma das hipóteses de Lynskey é que Orwell quis criar propositalmente um contraponto à este gênero.

Mas talvez a obra que mais motivou e inspirou 1984 tenha sido We, do escritor russo Yevgeny Zamyatin, que é provavelmente a primeira obra do gênero que viria a se chamar distopia. We é também considerado uma forte influência de Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, que forma junto com Farenheit 451, de Ray Bradbury, a trilogia clássica da distopia. Outra obra bastante citada no decorrer do livro e que recebeu influências de todas estas citadas é The Handmaid’s Tale, de Margaret Atwoods.

Um outro ponto interessante do livro é uma análise de como o livro influenciou as sociedades. Duplipensar (doublethink), crimepensar (thoughtcrime), Big Brother, buraco da memória (memory hole). Todos são termos que se popularizaram a partir do livro. Até “orwelliano” virou uma expressão que é usada tanto no sentido de “prever” como Orwell ou de ser “previsto” por Orwell. Praticamente um duplipensar! Importante sempre frisar, como já fiz na resenha de Orwell’s Revenge, que o próprio Orwell não se considerava e nem gostava de ser entendido como um “profeta”.

Pelo lado da política, praticamente todas as correntes ideológicas já usaram termos cunhados ou ideias desenvolvidas por Orwell, geralmente atribuindo-os ao “outro lado”: socialistas e capitalistas, conservadores e liberais, autoritários e democratas. Nada mais Orwelliano!

Um livro bem interessante para quem, como eu, é fã do autor (1984 e Animal Farm estão no meu top 10 de melhores livros!). E claro, como não podia faltar, fica a dica de Animals, meu album preferido do Pink Floyd, que foi inspirado em Animal Farm..

Be happy 🙂