Lembrancinha do Adeus: História(s) de um Bandido – Julio Ludemir (23/2014)

Lembrancinha do AdeusSegundo o autor, o livro era para ser um romance-reportagem, mas ao checar as informações colhidas junto ao bandido Lambreta, usado como fonte para a parte da reportagem, ele descobriu que muita informação não batia e na verdade o bandido se colocava como um personagem principal de muitos eventos importantes no desenvolvimento do crime organizado no Rio de Janeiro desde o final da década de 70.

Ele descobriu ai que a fama de um bandido é sempre acompanhada de muitas lendas e resolveu desenvolver um romance baseado neste mote: o bandido que aumenta enormemente os seus feitos para impressionar os outros. Neste caso, um outro, Lembrancinha, o adolescente do morro do Adeus aspirante a bandido.

O livro é praticamente um diálogo entre os dois (Lambreta e Lembrancinha), onde o velho Lambreta, recentemente liberado da prisão após cumprir 30 anos, conta para Lembrancinha, como se fosse “contos de fada” a história do crime organizado no Rio, tendo sempre ele mesmo, claro, como personagem principal. O relato ocorre durante vários dias, enquanto ambos estão em um esconderijo devido à uma guerra no morro.

Apenas mais um personagem interage, rapidamente com os dois: o Pastor Uóston, conhecido em sua vida de bandido como Presença, e recém convertido à alguma das várias seitas evangélicas que infestam os bairros pobres e periféricos da maioria das cidades brasileiras.

A estória faz um apanhado geral do desenvolvimento do crime organizado atual do Rio de Janeiro, desde o já conhecido envolvimento de bandidos comuns com crimes políticos na Colônia Penal de Ilha Grande, apontado por vários especialistas como fator determinante para a conversão de bandidos comuns em bandidos organizados que houve no Rio.

Para quem não é do Rio ou não tem familiaridade com eventos e personagens dos últimos 30 anos (guerras entre quadrilhas, chacinas, bicheiros, traficantes, etc) e não tem familiaridade com a geografia do Rio, às vezes fica um pouco complicado “ligar os pontos”, apesar do autor fazer com que Lambreta, ao contar suas histórias, tente “situar” um pouco as pessoas, fatos e locais.

Para quem não conhece gíria (ou não conhece as do Rio, como eu), o início também é um pouco complicado, pois, como disse, não existe um narrador e o livro é basicamente um diálogo entre dois bandidos, que como deve ser, usam gírias (Lambreta usa inclusive gírias mais antigas, mas tem o cuidado de explicar à Lembrancinha).

Mas é um livro bem interessante, especialmente para quem tem interesse em antropologia, segurança pública, etc. Eu fiquei achando que o livro seria ótimo como base para um filme deste “cinema marginal” (Carandiru, Cidade de Deus, Salve Geral, Tropa de Elite, etc) que surgiu nos últimos anos no Brasil.

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