Arquivo da tag: Pará

Wanderlust #28 – Norte e Nordeste Brasileiro

Brasil 1Há alguns anos eu vinha tendo vergonha de um fato: eu conhecia mais estados dos EUA do que do Brasil. Este ano resolvi mudar isto e fui conhecer um pouco mais do meu próprio país. Em março fui a Salvador, agora rodei por mais 4 estados. Também fui à Brasilia, mas falarei no próximo Wanderlust.

Propositalmente eu foquei minhas férias em capitais / estados que não ficam na rota do turismo comum e são pouco explorados pelos proprios brasileiros: Pará, Maranhão, Paraíba e Sergipe.

A minha primeira impressão ao chegar no Pará e depois no Maranhão foi “por quê diabos estes locais são pouco explorados?”, não so pela indústria do turismo, mas por inúmeros tipos de negócios que poderiam (e deveriam) ser melhor desenvolvidos por lá. São estados com inúmeros recursos, tanto naturais quanto de mão de obra.

Tanto Belém quanto São Luís são cidades mal conservadas, com regiões (notadamente as regiões centrais e as periferias) com prédios abandonados e entregues ao crime e à contravenção.

Ai depois eu fui até João Pessoa e tive uma impressão totalmente diferente. João Pessoa é uma cidade organizada, limpa, segura. Você se sente à vontade em andar pela cidade sem ter que ficar tenso e prestando atenção ao que ocorre à sua volta, a não ser a paisagem. O custo de vida também é barato e você vê que as pessoas, independente da classe econômica, conseguem ter uma boa qualidade de vida, que ao final é o que importa.

Aracaju então me surpreendeu demais. Muitas e muitas quadras – de futebol (society e salão), tênis  (cimento e saibro), basquete, vôlei. Parque de diversões, um belo jardim linear na orla da praia, muitas ciclovias, praças, skatepark e até pista de motocross e kartódromo. Tudo feito pelo poder público. Assim como João Pessoa, Aracaju me mostou que com um pouco de boa vontade o Estado pode propiciar uma qualidade de vida melhor para todos os cidadãos.

Mas a diferença entre os lugares que eu conheci nesta trip me leva a pensar em duas coisas:
1 – Comparados com o Pará e Maranhão, Paraíba e Sergipe são muito pequenos e com muitas restrições de recursos, tanto os finaceiros quanto de espaço e naturais. O que me leva a pensar que o problema do Brasil é a abundância: nos estados mais ricos e no país como um todo nós apenas nos preocupamos em abusar dos recursos que temos, sem fazermos o melhor uso deles e pensando sempre no curto prazo.
2 – A sensação de segurança em João Pessoa e Aracaju é enorme em comparação com Belém e São Luís  (e também Salvador, Rio e São Paulo), o que me leva a pensar que o problema da violência não é causado apenas por conta da impunidade, mas também pela baixa qualidade de vida e a sensação de exclusāo que a população mais pobre sofre nas grandes cidades.

Acho que um dos maiores problemas do brasileiro hoje é o fato de que a maioria dos cidadãos não pensa em qualidade de vida como objetivo final para sua própria vida e para a sociedade. O brasileiro pensa em se sentir diferenciado. Ele não quer que todo mundo tenha condições de ir e voltar para o trabalho/escola usando transporte público, com conforto, segurança e no menor tempo possível. Ele quer isto só pra ele e ai ele quer comprar o melhor (e maior) carro e quer que as avenidas sejam dele. Ele não quer que todo mundo seja capaz de viajar para os mesmos lugares que ele nas férias (que sentido teria viajar se não for pra contar vantagem né?!?!). Ele não pensa que todos poderiam usar a cidade e os seus aparelhos (de lazer, cultura, saúde), ele quer é ir morar num prédio com piscina, playground, varanda gourmet (argh!), até cinema, para não precisar nem sair para o shopping. Ele não quer que as desigualdades sejam menores, ele quer é estar no topo da pirâmide, mesmo que isto signifique que ele tenha que andar de carro blindado.

Como já deixei claro em um artigo recente: o brasileiro precisa decidir o que ele quer, se é ser diferente ou se é ter uma sociedade segura, sem corrupção e onde o Estado cumpra o seu papel com a maior eficiência possível. A história e mesmo os exemplos atuais mostram que desigualdade e qualidade de vida não caminham juntas e, sinto informar, nem se mudar para Miami vai adiantar.

Be happy! 🙂

Wanderlust #24 – Belém, Pará, Brasil

01 Belém - Brasil - Ver-o-pesoPara a segunda parte das minhas férias deste ano já havia decidido conhecer um pouco mais do Brasil e também havia resolvido conhecer locais que não vêm logo à cabeça quando se pensa em viajar pelo nosso imenso país. E a primeira parada desta trip foi Belém, a capital do Pará. Vale dizer que assim como Salvador, a cidade me despertou sentimentos dúbios.

Eu achei legal conhecer um lugar dentro do meu próprio país que é muito diferente de tudo o que eu já conhecia. Mas por outro lado, fiquei um pouco triste ao ver como muitos lugares do nosso país são mal cuidados e principalmente como o potencial (turístico, por exemplo) e os recursos (naturais, humanos, etc) são mal explorados.

Praça Batista Campos

Praça Batista Campos

Cheguei na cidade já tarde da noite e fui dormir cedo para aproveitar o outro dia, que era feriado de Corpus Christi. Sai caminhando pela cidade afim de conhecer um pouco. Passei pela Praça da República, que apesar de ser o local onde fica o Teatro da Paz, não apresenta muitos atrativos turísticos. Resolvi andar até Praça Batista Campos, esta sim uma bela praça, e cruzei com uma sorveteria Cairu. Aproveitei então para experimentar um dos vários sorvetes feitos com frutas da região. A Cairu é parada obrigatória em Belém. Sugiro parar mais de uma vez, tanto para aplacar o calor da cidade, quanto para ter a oportunidade de experimentar mais dos diferentes sabores oferecidos.

Depois caminhei por uma região não muito turística até o Portal da Amazônia, que é um calçadão construído em uma das margens do Rio Guamá. Este calçadão conta com infraestrutura para prática esportiva (bike, patins, caminhada, etc) e algumas praças. Depois segui até o Mangal das Garças que, junto com a Estação das Docas, é a principal atração da cidade.

Mangal das Garças

Mangal das Garças vista da torre

O parque é muito bem cuidado e montado e lá pode-se ter contato com um pouco da fauna e da flora da região. A entrada no parque é gratuita, mas algumas atrações são cobradas. Vale comprar o “passaporte” (R$ 15,00) que dá acesso às 4 atrações pagas do parque: a torre, o museu náutico, o viveiro de pássaros e o santuário de borboletas.

Após o Mangal, dei uma passada na Casa das Onze Janelas, mas preferi não entrar, e na sequência fui ao Forte do Castelo, que não tem lá muita coisa. Mas estando em Belém não custa perder uns 10 minutos e visitar, já que é de graça. Depois passei em frente à Catedral Metropolitana para tirar algumas fotos da bela praça em frente (não sou fã de ficar entrando em igrejas).

Catedral Metropolitana

Catedral Metropolitana

Dei uma rápida passada no ver-o-peso (tinha me programado para explorar o local apenas no outro dia) e fui até a Estação das Docas, onde resolvi almoçar em um dos restaurantes que ofereciam buffet com opções da região. Dos pratos que eu experimentei, achei interessante o tal do “filhote”, uma posta de um peixe da região (e olha que não sou chegado em peixe) feito com tucupi. Mas achei muito bom mesmo a maniçoba! Durante o almoço, um cara do outro lado do restaurante acenou e veio em minha direção. Quando ele chegou perto, pediu desculpas e disse que tinha me confundido com outra pessoa, no caso Felix Robatto, um artista local.

Como sobremesa, outro sorvete na unidade da Cairu da Estação das Docas. Como já tinha feito a programação do dia, fiquei morgando por ali até a abertura da Amazon Beer, que além de oferecer ótimas cervejas (a preços mais do que justos!), proporciona um belo visual do por do sol. Aproveitei para procurar algo para fazer à noite e acabei caindo no site do Templários Pub, que teria como atração naquela quinta-feira justamente o tal do Félix Robatto.

Chuva de 20 minutos com tanta água que daria para encher a Cantareira

E dá-lhe chuva!

Como não podia faltar, quando estava saindo da Estação das Docas caiu aquela baita tempestade que cessou depois de 20 minutos mas trouxe água suficiente para encher a Cantareira.

À noite fui ao tal pub para conhecer um pouco da noite Paraense. Achei interessante a mistura de ritmos dos estilos locais (tecno brega, guitarrada, carimbó). Creio que pelo fato do Pará estar bem próximo à linha do Equador, além das influências da música afro brasileira (axé, samba), os estilos locais também têm muita influência das músicas afro caribenhas, especialmente do mambo, da salsa e do reggae.

No outro dia, como já tinha me programado, fui conhecer o ver-o-peso. É interessante pelos cheiros e cores das diferentes frutas da região, e para observar alguns costumes dos locais, como por exemplo, de comer açaí com farinha como acompanhamento de peixe. Mas acabei achando que os relatos que eu havia lido e ouvido sobre o local eram sempre superestimados. Talvez para pessoas que sejam fascinadas por culinária seja uma atração mais interessante.

Ver-o-peso

Ver-o-peso

Como já tinha feito tudo o que eu tinha programado, fui andar por lugares não tão turísticos e acabei caindo na Belém da elite, que fica fora da cidade velha é formada por vários prédios de luxos e um grande shopping. Particularmente eu não gosto muito de cidades onde existe este tipo de segregação entre elite e o resto.

Depois voltei novamente para mais um happy hour na Amazon Beer, mas de leve, pois tive que pegar meu vôo na madrugada para o próximo destino, São Luís, no Maranhão, do qual falarei no próximo Wanderlust.

Observações, dicas e considerações:

  • Os motoristas em Belém são xaropes. Raramente respeitam farol, faixa de pedestre, mão de direção. E à noite ainda andam à 100 km/h.
  • Tem um negócio que me incomoda muito e acontece na maioria das cidades brasileiras, que é abandonarem uma área quando ela dá uma deteriorada, ao invés de tentarem recuperar. Isto acontece com a região do ver-o-peso. Apesar da criação da Estação das Docas numa tentativa de revitalizar a região portuária, o entorno está abandonado, o que abre espaço para a criminalidade. Quando a sociedade e o poder público não ocupam devidamente os espaços públicos, invariavelmente a criminalidade vai ocupar.
  • A variedade que se encontra na culinária local falta ao artesanato. Mesmo nas tendinhas do ver-o-peso foi difícil encontrar alguma coisa realmente “local” para trazer de souvenir.

Be happy! 🙂

Estação das Docas

Estação das Docas

Amazon Beer

Amazon Beer