Convidada a restaurar a famosa Hagadá de Sarajevo (que existe de verdade!), uma conservadora e restauradora de livros australiana encontra na obra uma série de evidências (cristais, pêlos, etc) que poderiam explicar a trajetória do livro, datado do século XV, até a sua recuperação no pós Guerra da Bósnia.
Na sua busca para identificar o que seriam cada uma das evidências, ela vai se deparando com informações inusitadas que servem de gancho para pequenos capítulos sobre a “biografia” do livro e que são intercalados com os próprios capítulos da estória de Hanna, a protagonista. Alguns destes capítulos são baseados em histórias reais, como as de um estudioso e um bibliotecário que esconderam a Hagadá, respectivamente, na Segunda Guerra (dos Alemães) e na Guerra da Bósnia (dos Sérvios). Curiosamente ambos eram Muçulmanos protegendo uma obra Judaica. Mas a maioria das estórias é fruto da imaginação da autora, que conseguiu amarrar muito bem a “memória” do livro com a estória da protagonista.
Como a Hagadá é um livro que narra uma tradição religiosa Judaica (no caso da Hagadá de Sarajevo, ela se destaca pela presença de iluminuras, coisa proibida na religião à época), nestas pequenas estórias que são intercaladas, um apanhado do que foi a história dos Judeus na Europa desde o século XV também é mostrado.
“Você tem uma sociedade na qual as pessoas toleram a diferença, como a Espanha na época da Convivencia, e tudo vai bem: criativo e próspero. De repente, esse medo, esse ódio, essa necessidade de demonizar ‘o outro’; isso meio que abala e aniquila toda a sociedade. Inquisição, nazismo, nacionalistas sérvios extremistas… a mesma velha história.”
Neste ponto, é interessante notar como as 3 maiores religiões ocidentais se comportam: ora são os cristãos que perseguem os judeus e os muçulmanos os protegem, ora é o contrário, com os judeus sempre se mantendo isolados das sociedades em que se inserem (por razões próprias), empreendendo fuga quando se encontram perseguidos e estando sempre sob um estado constante de tensão (até hoje!).
“…passei muitas noites em claro neste quarto pensando que a Hagadá veio a Sarajevo por um motivo. Ela estava aqui para nos testar, para ver se alguém aqui perceberia que aquilo que nos une é muito maior do que qualquer coisa que nos divida. Que ser humano é muito mais importante do que ser judeu ou muçulmano, católico ou ortodoxo.”
A escrita em sí é bem interessante, daquelas fluídas, que fazem a gente acabar o livro em questão de horas, e a autora também teve uma ótima sacada ao contar duas estórias em uma, tendo em uma delas um livro como personagem principal.
Recomendo principalmente a quem é afccionado por leitura.
P.S. Somente a titulo de curiosidade, o livro menciona dois judeus históricos, Abraham Seneor e Isaac Abravanel. Provavelmente são parentes distantes de Senor Abravanel, o nosso querido Silvio Santos!
Be happy 🙂