Precisamos falar sobre Kevin é o relato ficcional de uma mulher, feito através de cartas escritas para seu marido (cada uma das cartas é um capítulo), sobre acontecimentos relativos à vida do filho, um “garoto Columbine” que, aos 16 anos, perpetuou um ataque contra colegas e funcionários da escola onde estudava, matando nove deles e ferindo um outro.
Inicialmente achei o livro um pouco cansativo, especialmente por estas cartas parecerem uma DR que Eva resolve fazer com seu marido, Franklin, revisitando os fatos desde a decisão de ter um filho até alguns anos depois da condenação de Kevin. Falando assim parece um spoiler, mas não é, já que logo no começo do livro já fica claro que o ataque ocorreu e que Kevin foi condenado à prisão. Mas o interessante do livro é justamente o caminho, e não a conclusão (se bem que existem algumas surpresas nos últimos capítulos). Como disse, inicialmente achei o livro chato, monótono até, porém depois de umas cem páginas o livro pega um ritmo bom. Interessante notar que cada capitulo vai ficando maior (já notei isto em outros autores também, não sei se existe um motivo literário ou é apenas coincidência).
Eva intercala relatos sobre acontecimentos antigos com relatos de suas recentes conversas com Kevin durante as visitas semanais à casa de correção onde Kevin está preso e também com informações sobre o decorrer do processo. Mas apesar do livro não seguir uma linha temporal contínua, ficou bastante interessante o uso do recurso e não ficou nada confuso.
Durante estes relatos ela vai descrevendo os sentimentos de ambos, dela e de Kevin, ou melhor dizendo, a falta de sentimento (ao menos os bons sentimentos) que havia entre eles desde o nascimento de Kevin e, no meu entendimento existem três temas principais abordados por detrás da estória.
O primeiro tema, que não é mais importante, é o panorama e clima que havia nos EUA quando os casos destes garotos virou “moda” nos EUA (final da década de 90 e início dos anos 2000) e de como a população americana reagiu e ainda reage à eles.
O segundo, que eu achei mais importante, é o que leva as pessoas a terem um filho e as responsabilidades decorrentes desta decisão.
A maioria dos casais que conheço resolveram ter filhos para satisfazer uma vontade ou necessidade própria (talvez biológica, de perpetuação da espécie) e só depois, durante a gestação é que começaram a ter uma noção das responsabilidades para com este ser, esta criança. Ou seja, ter um filho, é uma responsabilidade de uma vida toda em prover para um pequeno ser que vai ser dependente por pelo menos 15 anos de alguém.
Porém, a segunda responsabilidade, que acho que poucos casais se dão conta, é a de criar um ser, um membro da sociedade e faz uma análise sobre até que ponto a influência dos pais, do ambiente e da criação são suficientes para formar um “bom cidadão”.
O terceiro tema foi o que eu mais achei mais interessante: Kevin já demonstra uma certa apatia desde o momento do nascimento e, mesmo não sendo um sociopata e tendo sido criado no melhor ambiente possível (apesar dos problemas com a mãe), vem a planejar e cometer friamente o ataque.
Eu achei interessante justamente porque eu creio que, apesar do meio influenciar, acho que as pessoas já nascem com certas tendências quanto ao comportamento. Não sou especialista e nunca tive curiosidade de ir atrás de informação nesta área (talvez já até tenham achado um “gene da maldade” e eu não saiba), mas é uma opnião baseada em observação, em ver irmãos que foram criados exatamente da mesma forma e com as mesmas oportunidades agirem de forma totalmente diferente.
É um baita de um livro, especialmente para quem, como eu, tem interesse pelo comportamento humano.
Existe uma adaptação para o cinema de 2001 que ganhou alguns prêmios em festivais de cinema e recebeu boas críticas, especialmente pela atuação da atriz Tilda Swinton, que interpreta Eva.