A Copa de Longe!!!!

20140630 1Nesta minha segunda viagem à Alemanha (com uma passagem de quatro dias pela Holanda) eu tive a oportunidade de acompanhar boa parte da copa de lá. Na verdade não foi uma oportunidade que “surgiu”: desde que o Brasil foi anunciado como o país sede da Copa de 2014 eu já havia planejado sair do país. Eu sempre fui contra a realização de eventos deste tipo aqui, expliquei até o motivo num artigo publicado na Feedback Magazine pouco antes da Copa e havia há muito tempo decidido passar a copa longe.

20140626Durante a minha estada por lá, os meus amigos começaram a perguntar como era, onde eu estava vendo os jogos, como os holandeses e alemães acompanhavam a copa, e mais um monte de coisas por whatsapp, por e-mail, pelo Facebook, etc. Eu resolvi contar um pouco do que via e sentia por lá em alguns post no Facebook, que eu entitulei como “A Copa de Longe”. Como prometido, farei um resumão aqui desta experiência.

20140628 2A primeira coisa que me chamou a atenção, ainda em Amsterdam, foi a quantidade de referências ao Brasil na cidade. A gente aqui nunca teve o costume de decorar a cidade, os bares e até as vitrines (o que invariavelmente se refletia na moda) com cores dos países sede das copas. A gente decora com cores, bandeiras e motivos do nosso país e pronto. Logo no primeiro dia andando por Amsterdam eu me espantei com a quantidade de bandeiras brasileiras em bares, lojas e restaurantes e com os manequins nas lojas com as cores verde e amarela e com estampas como “Brasil – São Paulo – Copacabana” (?!?!) ou com a nossa bandeira estampada com o desenho de uma girafa (?!?!).

20140628 7Porém, quando cheguei em Berlin (e mais tarde constatei em Dresden também) eu fiquei até assustado: em TODOS os lugares onde transmitiam os jogos (falarei sobre estes lugares um pouco mais abaixo) existiam várias bandeiras da Alemanha, eventualmente bandeiras de outras seleções participantes, mas sempre tinha pelo menos uma do Brasil, geralmente junto com uma da Alemanha, em posição de destaque. Das casas, carros e bicicletas que eu vi, posso dizer que ao menos 10% dos que tinham alguma referência à Alemanha também tinham ao Brasil (e o número de imigrantes brasileiros em Berlin está longe de 10% da população).

20140704 5Alem disto, as vitrines e consequentemente a moda na Alemanha também estava dominada pelo verde-amarelo-azul-e-branco (na Holanda era só verde e amarelo, mas na Alemanha eles faziam questão de fazer referência às quatro cores da nossa bandeira). Conversando depois com alguns alemães eles contaram que isto também não é comum lá, mas como a Copa seria no Brasil, um país amistoso e do qual eles gostam muito, aconteceu meio que espontaneamente esta “Brasilmania”. Em conversas com com italianos e espanhóis, estes também falaram que nos seus respectivos países esta moda do Brasil estava acontecendo desde um pouco antes da Copa. Um italiano de Monza disse que a cidade estava toda em verde e amarelo, e disse que a razão é que “o Brasil é um país simpático e amistoso”.

20140707 3Mas a admiração dos alemães pelo Brasil não foi só por causa da Copa. Ao conversar com eles nas “Weltmeisterschaft Public Viewing” (Weltmeisterschaft é “Copa do Mundo” em alemão e public viewing acho que não preciso traduzir), deu para perceber que eles admiram muito o país e são fãs do futebol sulamericano, especialmente o Brasileiro. Alguns chegaram a me dizer que na América do Sul é que se pratica o futebol de verdade (?!?!). Inclusive, para eles “Messi is gut, aber Neymar ist Wunderbar!” (o Messi é bom, mas o Neymar é fantástico).

20140707 5Assim como os brasileiros, eles estavam decepcionados pela maneira como o Brasil estava jogando. Eles esperavam toque de bola, dribles, jogadas sensacionais, e não o futebol burocrático, no esquema BNN (bola no Neymar) que o Brasil praticou durante a Copa. Durante o jogo Brasil e Chile teve um lançamento direto da defesa para o ataque que foi vaiado. O alemão que estava ao meu lado e que eu havia acabado de conhecer ali disse: “este não o tipo de jogo que nós esperamos do Brasil”. “Nem nós, brasileiros também”, foi a minha resposta.

20140707 6Neste jogo, que foi realizado na 11 Freunde Arena (Elf Freunde = onze amigos), um clube de amantes de futebol que edita um fanzine e montou esta arena em forma de arquibancada para as pessoas assistirem os jogos, a torcida dos Alemães estava meio dividida. Eles estavam no fundo querendo que o Brasil ganhasse, estavam crentes que iria dar Brasil X Argentina na final, pelo fator casa, mas estavam torcendo pelo Chile, com medo de pegar o Brasil nas semis (mal sabiam eles…). Mas mesmo com o “coração dividido”, haviam vários alemães torcendo pelo Brasil com camisa, boné, bandeira e tudo o que se tem direito. Outra coisa interessante é que, apesar de eles acharem que a Alemanha cairia contra o Brasil nas semis, eles estavam “aproveitando o caminho”, ou seja, “vamos curtir, até porque já sabemos o que é perder uma semi e ninguém vai morrer por causa disto”.

O Alemão e o Futebol

20140707 7No artigo citado acima, eu falei que gostaria que a Alemanha ou a Inglaterra ganhassem a Copa, por entender que estes sim é que são os países do futebol, ou seja, os países onde o povo realmente ama o futebol como esporte. Mas estando lá durante uma Copa do Mundo eu fiquei ainda mais impressionado com o fanatismo dos alemães pelo futebol. A opnião de que os alemães são realmente fanáticos por futebol foi corroborada por italianos, espanhóis e franceses!

20140707 10Lá, como cá, eles saem mais cedo do trabalho para ver o jogo. No dia do jogo contra a França, que aconteceu numa sexta-feira as 18:00hrs de lá, muita gente nem trabalhou à tarde e, faltando duas horas para o jogo, o transito de Berlin estava um inferno, com tudo travado.

Eles também são muito corneteiros. As únicas unanimidades eram o Schweinsteiger (o “criador de porcos”), o Özil e o Müller, que aliás era o xodó deles. O Joachim Löw era tão ou mais criticado do que o Felipão.

20140707Eu vi muitos comentários nas redes sociais criticando aqueles que vaiaram o hino chileno durante o jogo contra o Brasil e exaltando o hino cantado a capela pelos brasileiros. Os alemães também cantavam o hino juntos, talvez não com o mesmo empenho dos brasileiros, fato muito comentado por eles (eles diziam que era de emocionar), e vaiaram solenemente o hino francês no jogo contra a França.

20140708 4Acho que a coisa que eu mais achei legal foi o fato de eles gostarem de assistir jogos “na geral”, ou seja, junto com outras pessoas. Já falei acima da 11 Freunde Arena, mas esta era apenas uma das várias arenas montadas em Berlin, em média com capacidade entre 1500 e 2000 pessoas cada. Sem contar os bares e biergartens que sempre estavam lotados. A Hyundai montou um “fun park” no Portão de Brandemburgo, que podemos comparar ao nosso Anhagabaú, e a cada jogo pelo menos 500 mil pessoas se reuniam ali. Considerando que a região metropolitana de Berlin (a cidade de Berlin e mais os municípios ao redor) tem 5 milhões de habitantes, 10% da população estava presente. Se for contar todos os outros lugares que existiam para ver jogos, creio que metade da população assistia o jogo fora de casa.

Os animadores destas “fun fests” até tiravam barato de quem ficava em casa no sofá. Por falar em sofá, o FC Union Berlin teve uma idéia genial: antes da copa pediu para os torcedores levarem o sofá para o estádio para assitirem os jogos lá, o resultado foi este: http://epocanegocios.globo.com/Essa-E-Nossa/noticia/2014/06/na-alemanha-torcedores-levam-sofa-para-assistir-copa-no-estadio.html.

A cobertura da imprensa alemã

Eu gostei muito de como a imprensa alemã cobriu a Copa como um todo. Primeiro que eles não quiseram transformar a seleção deles em “heróis” ou coitadinhos (como fazem aqui), até porque é apenas um jogo de futebol.

20140708 5O segundo fato que eu gostei bastante foi como os repórteres que cobriam o “cotidiano” faziam as reportagens: nunca colocavam os brasileiros como coitadinhos, como povo sofrido ou apelavam para o “dramático” em suas reportagens. Eles apenas retratavam uma cultura diferente, e pelo que deu para perceber, muito interessante para eles. Os repórteres alemães não tinham frescura para irem em favela, dormirem numa tapera, comerem dobradinha, pegarem carona no lombo de um jegue. A impressão que eu tive foi que eles aceitam, entendem e até admiram mais a nossa cultura do que nós mesmos, brasileiros.

Talvez isto explique até o comportamento da seleção alemã durante sua estada na Bahia, interagindo com os locais, aproveitando cada experiência. Eles sim deixaram um baita legado: só pela exposição que o local teve na Alemanha, deve ter fila de 2 anos de alemães querendo conhecer a Vila de Santo André da Bahia.

20140708Outra coisa que eu achei muito legal foi eles tentando falar o nome das cidades, dos jogadores, dos estádios, da forma que os brasileiros falam. Eles inclusive chamavam a seleção brasileira de “Seleção”, a argentina de “Albiceleste”, além de utilizarem outras frases em português, como “joga bonito”. (só pra constar: “Feuer in den augen” – fogo nos olhos – é uma expressão bem mais legal que “sangue nos olhos”)

Em um jogo em que o Daniel Alves tomou (mais) uma bola nas costas, eles soltaram “Avenida Daniel Alves” em pleno português e depois explicaram a piada. Da mesma forma, no jogo do Chile, quando o Jô entrou, eles soltaram um “vem ai Jô, the joke”. Das zoeira endet nie!

Agora, a melhor coisa da imprensa alemã foi a Fernanda Brandão, uma brasileira radicada em Munique, escalada para fazer reportagens de rua, geralmente nas praias do Rio de Janeiro, sempre bem à vontade, como se estivesse pegando uma praia, interagindo com o pessoal, torcendo descaradamente pela seleção e sendo “gente como a gente”.

O fatídico 7×1

20140712No dia do jogo Brasil X Alemanha, iria acontecer um show do Ed Motta na Haus der Kulturen der Welt (casa de cultura do mundo), onde estavam ocorrendo eventos relacionados ao Brasil durante toda a Copa. O show foi sensacional. O público estava meio a meio, por conta da temática brasileira, porém a maioria dos alemães estava lá por alguma ligação com o Brasil (muitos alemães / alemãs casados/as com brasileiros/as, alemães que haviam morado no Brasil, etc) então não pode ser utilizado como parâmetro, mas à partir do quarto gol da Alemanha, os próprios alemães começaram a torcer contra o time deles. Mas não creio que só isto foi a razão, visto que o próprio time da Alemanha “tirou o pé”, senão teria sido uns 12!

A pergunta que eu mais respondi (até chegar a um ponto que nem repondia mais) era: “a Copa do Mundo é no Brasil, o que você está fazendo aqui?”.

Foi uma baita experiência. Eu que nunca fui muito ligado em Copa do Mundo fiquei até com vontade de assistir a próxima “in loco”, já aproveitando para conhecer um país que eu tenho muita curiosidade para conhecer, afinal, a Rússia é logo ali!!!!

Só preciso começar a estudar russo desde já e a “treinar” o fígado, desta vez com vodka!

Para quem quiser mais fotos que eu tirei durante os jogos e no dia-a-dia: http://www.4shared.com/folder/wjncMm2Y/ACopaDeLonge.html

Uma ideia sobre “A Copa de Longe!!!!

  1. Pingback: Wanderlust #33 – Berlin (e Potsdam), Alemanha | Botecoterapia

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