Já tinha ouvido falar neste livro há alguns anos atrás porém acabei não tendo a oportunidade de ler. Ao navegar no site da livraria cultura para adquirir outro livro (em breve coloco a resenha aqui tambem), o site me sugeriu este e tive a oportunidade de comprar e ler.
O livro usa basicamente duas “ferramentas” para explicar diversos fatos de nossa vida cotidiana. Coincidentemente, são duas ferramentas que eu conheço bem e nas quais eu fiz minhas duas pós graduações, ou seja, são ferramentas que já me interessavam.
Minha primeira pós foi em Gestão de Projetos de Business Intelligence. Business Inteligence, para quem não sabe é o conceito de utilizar dados (neste caso no mundo de negócio) para explicar fatos, procurar tendências, analisar comportamentos (de pessoas, mercados, máquinas, etc) e até encontrar respostas para as quais ainda não se tenha uma pergunta.
A minha segunda pós foi em Administração de Empresas, sendo que fiz uma concentração em Gestão de Pessoas. Gestão de Pessoas nada mais é do que estudar e entender os incentivos que movem as pessoas e usá-los para extrair delas o que se deseja para atingir determinado objetivo (neste caso, de uma empresa).
Freakonomics (que poderia ser traduzido como “louconomia”) trata-se de um livro que mostra os estudos de um economista (Steven Levitt) utilizando a análise de dados para entender os incentivos que fazem a sociedade ou grupos da sociedade (culturais, etnicos, etc) se comportarem daquela forma. Ele basicamente parte de uma pergunta (às vezes esdrúxula, segundo ele mesmo) e vai atrás de dados que consigam “responder” àquela questão. O livro foi escrito em conjunto com o jornalista Stephen Dubner, que é o responsável por deixar a leitura fluida e agradável, pois o próprio Steven Levitt diz que ele não teria capacidade de colocar no papel, numa forma que não fosse “acadêmica” (o que não era o intuito do livro), os resultados de seus estudos.
Além de muita informação que aparentemente é inutil (como quando ele explica como funcionam as trapaças nos campeonatos de sumô ou como quando ele compara a atividade da Klu Klux Klan com a dos corretores de imóveis), mas que no fundo servem para explicar o comportamento humano e abrir um pouco as cabeças para além do que ele chama de “sabedoria convencional”, também existem trabalhos de relevância, não só para o livro, mas fora dele.
Um exemplo é a metodologia criada por ele para analisar dados e identificar professores que trapaceavam de forma que seus alunos tirassem boas notas nos testes de avaliação de qualidade do ensino. Ou como quando ele faz uma análise (aqui em conjunto com outro professor, chamado Sudhir Venkatesh) do funcionamento de uma gangue de tráfico de crack (a pergunta inicial era “se o tráfico gera tanta grana, por que os traficantes continuam morando com as mães?”).
Porém o capítulo mais polêmico do livro fica por conta do estudo onde ele relaciona a queda vertiginosa e inesperada de criminalidade que ocorreu nos EUA à partir de metade dos anos 90 com a liberação do aborto no início da década de 70.
Apesar de não tomar partido, esta análise fez com que ele fosse criticado tanto pelos conservadores (que são contra aborto e acharam moralmente errada a conclusão de Levitt), quanto pelos liberais (por associar a criminalidade à pobreza e, no caso dos EUA, aos negros), porém, como se retirasse as várias camadas de uma cebola, ele vai “desqualificando” a maioria das teorias alegadas para explicar esta queda (algumas delas tiveram algum efeito, mas não explicam totalmente a redução), até parar num ponto em que 50% da queda não era explicada e ele consegue relacionar esta queda (baseado análises de dados históricos e de tendências) com a liberação do aborto. Ele mesmo alega que talvez a explicação possa não ser a moralmente correta, porém ela é lógica.
Em resumo, é um livro muito interessante para quem se interessa por análise de dados, comportamento humano, antropologia e sociologia.
P.S. Acabei de ver que existe um documentário baseado no livro. Tentarei encontrar, assistir e resenhar também.
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