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Why Information Grows – César Hidalgo (10/2017)

Imagine um físico escrevendo sobre economia e adicionando umas pitadas de filosofia. Loucura não? Então conheça César Hidalgo e você vai ficar entre o “PQP! O que este cara está falando?” e o “E não é que faz sentido?!”.

A hipótese sobre a qual o livro é construido é a de que o universo é um caos e a pouca ordem que existe no universo é o que gera “coisas” (como os planetas, as estrelas, as constelações, etc.).  Só que no meio desta ordem aleatória e incrivelmente rara aconteceu o improvável: surgiu vida, e de um tipo destas vidas emergiu uma “coisa” (o ser humano) que tem consciência da sua existência e consegue colocar ordem no caos.

A partir daí César desenvolve esta idéia de que a escassa ordem em um universo de caos tem valor. Saindo do nível cósmico e descendo para o nível do nosso planeta, ordenar o caos é o que traz valor para nosso ambiente e para nossa espécie. Para ordenar o caos conscientemente e não aleatoriamente (e inclusive combater a entropia, que é o caminho para o qual o universo sempre caminha), a espécie humana precisa gerar e transmitir conhecimento, que ele resume em informação.

E o valor das coisas que produzimos reside justamente na informação que cada uma destas coisas carrega. Não é o esforço embutido em produzir e nem os recursos utilizados na produção que dá valor as coisas. É a quantidade e complexidade de informações que aquela coisa carrega, ou seja, o que dá ordem (aos átomos, aos materiais, etc.).

Para exemplificar esta teoria ele usa um caso hipotético de um Bugatti Veyron: um carro que vale 5 milhões de dólares em perfeito funcionamento! Mas caso você bata um Veyron ao ponto dele virar um amontoado de aço, borracha, plástico e outros materiais, todo aquele valor contido no carro se esvai, apesar de os átomos ainda existirem, agora desordenadamente. Portanto o que dá valor ao Bugatti é a ordem e, em última instância, a informação contida naquela ordem (obviamente desprezando o fato de que o interesse ou necessidade é que traz valor a um bem ou serviço, mas que para os propósitos didáticos pode ser desprezado, como ele cita no livro).

Partindo deste pressuposto (novamente, que faz muito sentido!) de que o que dá valor as coisas é a quantidade e complexidade de informação que elas carregam, ele propõe a análise economica de um outro ponto de vista. Por exemplo, ao invés de usar a “balança comercial” para mensurar as relações comerciais entre os países, ele propõe o uso da “balança de imaginação”. Para suportar este argumento, ele inclusive usa o exemplo do Brasil, que exporta mais do que importa, em dólares, para a China, porém exporta bens primários enquanto importa produtos com alto valor adicionado (carga de informação). Ou seja, apesar da balança comercial entre Brasil e China ser favorável ao Brasil, a “balança de imaginação” é favorável à China.

Ele até traz a tona que a narrativa (muito explorada politicamente, inclusive no país de origem de Hidalgo, o Chile) de que os países que exportam matéria prima são explorados por aqueles que importam é um erro de conceito e na verdade ocorre o contrário: se não fosse o nível de informação contido em um produto final, a matéria prima não teria valor. Portanto, não é os EUA que exploram o petróleo Venezuelano, mas a Venezuela que explora a imaginação de Henry Ford, Rudolf Diesel, Gottlieb Daimler, etc.

Cesar explica que existe um limite de acumulação (e portanto de geração e disseminação) de informação por um único indivíduo, que ele chama de personbyte. Para aumentar esta capacidade, o ser humano tem que trabalhar em conjunto, aumentando assim a capacidade coletiva de colocar informação (ordem) nas matérias. Ele faz uma análise de como as sociedades se organizam, como estes indivíduos se relacionam para formar estes “clusters de conhecimento” e como são formados os elos destes clusters (basicamente através de confiança).

Aqui ele entra numa constatação interessante: em sociedades com baixo nível de confiança geral (como nas sociedades latinas, incluindo-se ai o sul da Europa), os clusters tendem a ser menores, pois eles tendem a se formar em torno de famílias e/ou indivíduos com algum tipo de ligação prévia, e dificilmente ultrapassam esta fronteira. Quando precisam ultrapassar, como há falta de confiança, há a necessidade de “formalização” destes links, o que gera a burocracia (contratos, leis, etc.), e isto por si só também é um entrave à formação de cluster maiores. Este é um dos motivos que ele cita para a diferença entre produção de conhecimento (e consequentemente desenvolvimento econômico e bem estar geral) entre sociedades como os EUA, Alemanha, Japão, onde existe uma nível alto de confiança geral entre os indivíduos, e outras sociedades, como Itália, França, Espanha e toda a America Latina.

Outro ponto interessante é a capacidade de encapsulamento e replicação de um cluster de informação. Ele traz o exemplo Chinês: a China se consolidou como uma potência em manufatura não porque a mão de obra é barata, mas sim porque a China é capaz de replicar cluster produtivos. Existem diversos países onde a mão de obra é mais barata que na China (aliás, ano passado o salário médio Chinês ultrapassou o Brasileiro), mas estes lugares não são capazes de replicar estes clusters e sua consequente capacidade de atribuir valor as coisas.

Vou parar por aqui porque senão eu vou reproduzir o livro todo e qualquer resumo não vai traduzir todas as idéias contidas nele. Sugiro muito a leitura! Para quem se interessa por economia e tecnologia da informação eu diria até que é uma leitura obrigatória. Mas qualquer pessoa que esteja tentando entender este mundo louco em que vivemos atualmente deveria ler este livro.

Be happy 🙂