A biografia deste grande ícone da música brasileira (e que, infelizmente, é pouco conhecido internacionalmente) me provocou sentimentos dúbios. Não o livro em sí, mas em relação ao próprio Tim Maia. Mas volto ao assunto daqui a pouco.
Escrita pelo jornalista (e compositor e produtor musical e escritor, etc.) Nelson Motta, tem um quê de obra de ficção e lembra pouco uma biografia escrita por um especialista, que se atenta a datas, busca diversas fontes, etc. Talvez seja assim que o livro deva ser encarado: uma história de ficção baseada na vida de um artista. Não que eu duvide que muitas das histórias/estórias contadas sejam reais, mas sabe como é, o autor floreou e romanceou boa parte dos acontecimentos. Além do que, alguns trechos provavelmente são histórias verdadeiras que foram sendo contadas de boca em boca e, como diz o ditado, “quem conta um conto, aumenta um ponto”.
Mas isto não tira o brilho da obra e, para contar a vida de um artista tão singular e polêmico, talvez esta seja a melhor maneira.
O livro conta toda a epopéia de vida do Sebastião Rodrigues Maia, o Tião da Tijuca, Tião Marmiteiro, mais tarde Tim Maia (e como ele mesmo se chamava “Tim Maia do Brasil”), desde sua infância na Tijuca, os perrengues em que passou em busca do sucesso e, principalmente, todos os problemas pelos quais ele passou, mesmo tendo alcançado o posto de um dos artistas mais populares (e talvez a voz mais potente) do Brasil.
Diga-se de passagem que a maioria dos problemas foram causados por ele mesmo e sua forte personalidade e ai entra o meu sentimento dúbio.
Eu sempre considerei o Tim Maia como um dos melhores músicos do Brasil e, apesar de todas as polêmicas em que ele se envolveu, eu imaginava que apesar de ser um artista e uma pessoa difícil de lidar, que ele era aquele “gordinho gente boa”. Porém, após ler o livro, fiquei com a impressão de que ele era um egocentrista e que, em benefício próprio ou simplesmente durante arroubos, acabou por prejudicar além de si mesmo, vários dos que viviam à sua volta, incluindo familiares, casos amorosos, funcionários e colegas de trabalho. Não bastava a ele se destruir (com drogas, financeiramente, amorosamente, profissionalmente). Ele precisava “sugar” para o buraco negro que o puxava (e que era ele mesmo) todos que orbitavam ao seu redor.
Felizmente, ao contrário de muita gente que acaba por julgar a obra do artista pela pessoa (como fazem atualmente, por exemplo, com o Chico Buarque e o Lobão, dois artistas importantíssimos, mas dois babacas como pessoa), eu consigo separar a “pessoa física” da “pessoa jurídica” e continuo admirando sua obra. Só parei de achar que foi alguém que “perdemos cedo demais” e hoje já acho que, por tudo o que ele fez a si mesmo, até que durou bastante.
Enfim, vale a leitura, que é bem fluida e feita para divertir.
Be happy 🙂