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O Cordeiro – Christopher Moore (03/2015)

O CordeiroEu devorei as quase 600 páginas deste livro em 5 dias! Ele conseguiu me preender mais do que o Belas Maldições. Aliás, o estilo dos livros é o mesmo e creio que o Christopher Moore bebeu na mesma fonte do Neil Gaiman e Terry Pratchett, ou seja, muito Monty Phython com doses de Douglas Adams. E a mistura não poderia ter saído melhor.

Com o subtítulo “O Evangelho segundo Biif, o brother de infância de Cristo” o livro cobre a vida de Jesus entre os 6 e os 30 anos de idade, período que é ignorado nos evangelhos canônicos presentes na Bíblia. Como o livro é uma peça de humor, não vale nem entrar no mérito da existência ou não de Jesus e o autor parte do princípio de que ele existiu.

Levi, a quem chamam de Biff, é ressuscitado nos anos 2000 por um anjo para que ele escreva a sua versão do evangelho, já que ele acompanhou Josué (o nome verdadeiro de Jesus) praticamente durante toda a sua vida, à partir da infância e até poucos momentos após a sua morte (ele já não estava quando da ressuscitação).

Através da busca de Jesus dos ensinamentos que o tornariam o Messias, ele passa anos aprendendo diversas filosofias, como o Taoísmo, o Budismo e o Induísmo, para condensar tudo na sua própria filosofia. Durante este período ele precisa lidar com a sua condição humana, com os problemas de todo adolescente (especialmente no sentido de se manter celibatário), além de ter que lidar com o fardo de ser “O” escolhido.

Felizmente ele conta com a ajuda do seu fiel amigo Biff, que é exatamente o contrário de Joshua: mentiroso, encrenqueiro, mulherengo e sarcástico (aliás, o sarcasmo é uma invenção do próprio Biff!). Infelizmente Madá (sim, ela mesma, Maria Madalena) aparece apenas no início (antes dos 13 anos) e na fase final (à partir dos 30 anos), pois também é um personagem muito interessante (“mais esperta do que nós dois”, como diria Biff, no que Joshua concordou plenamente).

O autor, além de utilizar muita pesquisa sobre as filosofias já citadas, fez um estudo muito sério sobre a Torá, as condições culturais e sociais do povo judeu no século I (ele inclusive foi até Israel para pesquisar) e da própria Biblia, tanto do velho (que é praticamente uma cópia da Torá, assim como o Corão também o é) quanto do novo testamento. Com isto ele conseguiu, na medida do possível, encaixar os fatos ficcionais do livro com fatos históricos ou bíblicos. O que ele não conseguiu, como ele explica no posfácio, foi pela liberdade literária afim de tornar a estória mais interessante e dinâmica.

Assim como já tinha acontecido com Belas Maldições e com os seis livros da trilogia de cinco do Guia do Mochileiro das Galáxias, várias vezes me peguei gargalhando com algumas passagens mais engraçadas, inclusive em público (no ônibus, por exemplo).

Mas apesar de ser uma obra de ficção e de humor, existem muitas citações interessantes que foram retiradas da própria bíblia e das filosofias utilizadas como base para a estória e que me arrependi de não ter tomado notas (como geralmente faço com livros mais “sérios”).

De qualquer forma, ao final do livro fiquei com a sensação de que, se realmente Jesus existiu, ele deve ter sido mais como o Jesus do livro (amoroso, pacífico, com compaixão, etc) do que o que a maioria das denominações Cristãs e seus fiéis dão testemunho.