Já falei aqui algumas vezes sobre a necessidade das pessoas ocuparem os espaços públicos e de como o paulistano vem finalmente percebendo que ficar dentro de um shopping ou uma balada não é lá um programa que se poderia chamar “lazer”. Isto tem efetivamente se refletido no carnaval de São Paulo nos últimos anos. O nascimento (e em alguns casos a retomada) de vários blocos tem mostrado que o povo de São Paulo, que até pouco tempo viajava para Salvador, Rio, Sao Luis do Paraitinga, entre outros locais tradicionais por seu carnaval, percebeu que a própria cidade também pode abrigar este tipo de evento ao ar livre e o carnaval deste ano, com mais de 300 blocos oficiais cadastrados, foi prova disto.
Outra coisa que eu achei muito legal neste carnaval foi a variedade temática dos blocos. Fiquei especialmente feliz por ver surgir o Bloco 77, que tem temática punk!!!! Isto mesmo, ao invés de simplesmente criticar o carnaval por não atender seu estilo, a galera foi lá e criou um bloco que faz versões carnavalescas de clássicos do punk nacional e resolveu curtir também. Ponto positivo para a aceitação, a diversidade e claro, a diversão.
O carnaval de São Paulo, através desta enxurrada de blocos que vêm nascendo e crescendo nos últimos anos (e aqui vale ressaltar o “empurrão” que alguns blocos cariocas, como o Bangalafumenga, o Sargento Pimenta e o Quizomba ajudaram a dar, bem como a “resistência” de blocos como o Bloco do Ó, Bando 7, o Bantantã e mais alguns outros já históricos) tem tudo para em alguns anos se equiparar ao Rio e a Salvador, e até passá-los, como destino para as festas de Momo.
É claro que sempre existem problemas, também fruto da inexperiência que alguns dos órgãos competentes (Prefeitura, Polícia Militar, CET, SPTur, etc) com este tipo de evento e da inexperiência de alguns dos organizadores dos blocos mais novos. Mas nada que aconteça exclusivamente em São Paulo e muitos problemas não são exclusividades do carnaval. Mas deles falarei em outro artigo.
Mas sem mais delongas, como já é tradição (ah! Segunda vez já virou tradição….hahaha), um resumão do meu carnaval (que começou dia 4 de janeiro…kkkkk)
Urubó
Já havia falado sobre o bloco em sí no resumo do ano passado, de como o bloco é familiar e que, junto com o cenário bucólico do Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó faz com que você se sinta como em uma pequena cidade do interior do Brasil. Este ano deu para notar a evolução do bloco no quesito profissionalismo: aumentaram o repertório, aumentaram a bateria e o naipe de metais, paradas programadas durante o trajeto de acordo com o repertório, etc. Com isto, além de atrairem um público fiel, ainda conseguiram atrair bastante patrocínio e parcerias que ajudam ainda mais neste profissionalismo, e isto vira um ciclo virtuoso. Não duvido nada que em alguns anos o Urubó seja um bloco a ser chamado para festas de formatura e outros eventos, como acontece com escolas de samba e trios elétricos.
Bloco do Bagaça
Segundo ano de desfile do bloco e já pode ser considerado um sucesso. O trajeto é bastante interessante, a homenagem para a Banda da Lapa foi justíssima, os músicos e a bateria estavam bem ensaiados e a organização foi muito bem feita. O ponto ruim que é foi o único bloco onde eu vi briga, isto já no final, na dispersão. Mas nada que tire os pontos positivos. Como eles são da Lapa, bairro vizinho à Freguesia do Ó, e como parte dos músicos tem origem na Comunidade do Buraco do Sapo, na Freguesia, talvez uma parceria para trocar idéias e organizar eventos com o Urubó fosse interessante.
Bando 7
31 anos de bloco! Acho que o tempo de estrada demonstra o sucesso do bloco. Este ano deram uma melhorada no repertório ao tocar menos o hino do bloco e mais marchinhas conhecidas. Não que o hino seja ruim, mas ficar metade do percurso com uma música só acaba desanimando os foliões que acabam por “fugir” para outros blocos que estiverem rolando no mesmo horário. Mas desta vez nem teve chuva para atrapalhar.
Ritaleena
Peguei no finalzinho e fiquei pouco tempo então não dá nem para avaliar muito o bloco. A única coisa a notar é que tinha muita gente muito louca (no pior sentido: de drogas e/ou álcool). Acho que o tempo de duração do bloco, bem como o tempo de concentração deve ser pensado para evitar da galera ficar muito bêbada, o que vai contribuir para a festa e evitar confusões.
Paralelepípedo
Bloquinho muito simpático, que dá volta em um quarteirão do bairro de pinheiros composto apenas por ruas de paralelepídedo. Infelizmente não tem bateria nem som ao vivo, mas para compensar o (mini) trio elétrico era usado pelas muitas crianças para brincar e durante a volta no quarteirão. Achei legal.
Chega Mais
Bloco com temática dos anos 80. Eu não entendo porque tanta gente tem sente tanta nostalgia por uma época tão chata. Mas o trio em sí é bem legal e animou a galera num domingo de manhã. Palmas para os músicos que foram todos usando fantasias com a temática do bloco.
Bangalafumenga e Sargento Pimenta
Estes dois blocos levaram cerca de 120 mil pessoas para a rua e a prefeitura já tem que começar a pensar em um outro espaço para alocá-los no próximo ano, pois o local ficou insuportável de andar, os banheiros já não deram conta e o viaduto parecia que ia cair (infelizmente esqueci de filmar o viaduto balançando). Quanto aos blocos: o Banga é ótimo e melhora a cada ano com o acréscimo dos ritmistas da oficina de SP. O Sargento Pimenta é meio Sambô (ou o Filme Debi & Loide, por exemplo): a primeira vez que você assiste é interessante, a segunda você já não vê graça. A terceira já se tornou chato. Muito provavelmente não verei mais.
Bloco do Ó
O Bloco do Ó é o meu preferido, talvez até porque eu tenha um carinho especial, por ter sido o primeiro bloco a me despertar a “paixão” pelo carnaval, há uns 6 anos atrás. No seu 11º ano, por conta das organizações da prefeitura (ano passado ele “encoscou” com outro bloco), ele saiu mais cedo. Mas foi ótimo porque pela primeira vez eu acompanhei até a dispersão, que acontece em uma charmosa praça na Rua Fidalga com a Rodésia, na Vila Madalena. Ponto positivo também pela quase totalidade de foliões fantasiados.
Banda do Candinho
A Banda do Candinho, já com 34 anos de idade, toca marchinhas e sambas enredo (alguns dos ritmistas são da bateria da Vai Vai). Mas acho que a principal atração é o trajeto, que começa na boêmia 13 de Maio, no Bixiga, dá uma volta pela São João, Praça da República, Sao Luiz, voltando ao ponto inicial pelo Viaduto 9 de Julho. Uma ótima oportunidade de dar uma volta pelo centro à noite, especialmente pela parada que fazem em frente ao Teatro Municipal. Ponto ruim: o narrador que ficava toda hora falando dos patrocinadores, dos apoiadores, fazendo agradecimentos, etc.
João Capota na Alves (e Samba de Rainha)
Bloquinho bem legal ali na região da João Moura, Benedito Calixto, etc. Apesar de focarem bastante em músicas próprias eles sabem dosar para não ficar chato. De quebra, no meio do percurso o grupo Samba de Rainha fez uma apresentação à partir de uma varanda de um apartamento. Bem legal. E o público bem variado deste bloco também ajudou na festa. Uma pena somente a falta de banheiros.
Bloco Me AbraSa
Bloco carnavalesco do movimento Paulista com Farofa, que organiza churrascos com samba ao ar livre na região da Paulista. Não conhecia o movimento e ainda não fui ao evento, mas a organização do bloco nas redes sociais pareceu promissora: 2 kits de camiseta para ajudar o bloco, parceria com o Easy Taxi, tocaram no Lapa 40º depois do bloco, etc. Mas, a organização prévia não se refletiu no bloco em si: a concentração demorou demais (mais de 3 horas!) então quando o bloco saiu a galera, músicos inclusos, já estavam todos muito bêbados. A banda não tinha um repertório definido, não estava pré-programado onde seriam as pausas, a bateria estava desentrosada com os músicos em cima do trio que ficavam mudando de música e ritmo à toda hora. É o segundo ano do bloco e creio que eles devam perceber os erros para não voltar a cometê-los, já que o trajeto do bloco é bem legal.
Cordão do Jamelão
Para fechar as festividades, peguei mais este cordão no sábado após o carnaval. Apesar do atraso no início da concentração, o que deve ter feito alguns desavisados desistirem quando chegaram e encontraram a rua vazia, o bloco foi interessante e contou com a Banda da Lapa, que foram os homenageados pelo Bloco do Bagaça. O trajeto pelas ruas da Bela Vista e do Centro de SP é muito legal e a galera dos prédios e comercios se empolgava com a passagem do bloco.
Uma pena que o corpo já não aguente mais uma maratona com poucas horas de sono como ocorria há uns 10 ou 15 anos atrás, porque senão dava também para ter curtido os bailes do Ó do Borogodó e do Lapa 40º, ou algum outro bloco que ocorria mais cedo, ou mais tarde. Sem contar a dificil tarefa de escolher um quando haviam dois blocos legais rolando ao mesmo tempo. Mas deu para me divertir bastante.
Agora é pegar no batente porque o ano finalmente começou. Se bem que em Março vou pra Salvador e dizem que lá é carnaval o ano todo!!!!
Be happy! 🙂