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Barba Ensopada de Sangue – Daniel Galera (22/2015)

BarbaEnsopadaDeSangueApós o suicídio do pai, um professor de educação física e ex-atleta semi profissional gaúcho resolve se mudar para Garopaba, no litoral catarinense, com o intuito de se isolar dos acontecimentos recentes (o suicídio do pai e a recente separação da sua mulher, que o “trocou” pelo irmão) e também para tentar descobrir o que houve com seu avô que, de acordo com o que o pai havia lhe revelado um pouco antes da morte, foi assassinado na cidade na década de 60.

Além de enfrentar a resistência dos moradores locais a um “estranho” (e que ainda por cima resolve fazer perguntas que a cidade quer esquecer) ele ainda enfrenta um rara condição neurológica que o impede de memorizar rostos, inclusive o próprio, o que o torna ainda mais um “estranho no ninho”. Munido apenas de um video game, um álbum de fotografias (que o ajuda a recontar sua história), algumas roupas e na companhia da cachorra Beta, “herdada” do pai, ele se instala na cidade para buscar a verdade à respeito da morte do avô, mas acima de tudo, para buscar a sí mesmo.

O livro foi presente de aniversário de uma amiga e confesso que não conhecia o autor, que pelo que andei lendo, é uma “jovem promessa” dentro da literatura  brasileira (este é o quarto livro dele). O que eu mais gostei no livro é a qualidade da narrativa, especialmente quando o autor se propõe a descrever fisicamente os personagens, já que como o protagonista não memoriza rostos, ele precisa se atentar a outros detalhes para reconhecer as pessoas, como o tipo e tamanho de cabelo, as proporções do corpo, alguma marca ou mesmo o modo de falar. A narração das sensações do protagonista (como por exemplo quando nada no mar) também são impressionantes e, para quem como eu, monta aquele filme na cabeça enquanto lê o livro, é um prato cheio.

Um outro ponto que me chamou a atenção no livro é a personalidade do protagonista: ele é um cara não muito afeito a seguir um “padrão” de vida considerado normal pela sociedade (consumo, casamento, carreira, etc) e, apesar de ser cético, entende que o que aconteceu tinha que acontecer, melhor não se lamentar e tocar a vida adiante, guardando na memória o que foi bom (sem ficar buscando ou forçando uma situação de repetição) e apenas ignorando o que foi ruim.

É uma leitura simples e um ótimo entretenimento, sem grandes pretensões “literárias” (ou arrogância literária!), o que é ótimo, pois o intuito maior de um livro é este: entreter. E nisto o livro cumpre bem seu papel.

Be happy 🙂