Marcelo Gleiser é um físico e astrônomo carioca que, à exemplo de seus pares Carl Sagan, Neil deGrasse Tyson e Richard Dawkins, além da pesquisa científica se dedica à divulgação científica. Em A Dança do Universo, ele faz um apanhado geral das teorias e mitos sobre a criação do Universo, que ele chama de a Pergunta (com P maísculo, que é simplesmente o “de onde viemos”).
Vou dizer que no início eu não gostei muito do livro. Inicialmente, ao explicar os mitos sobre a criação criados por várias civilizações antigas e que, consequentemente envolviam muita religiosidade. Nesta parte um, composta de dois capítulos e denominada “Origens”, aparentemente ele dava a impressão de querer de qualquer forma justificar uma ligação entre ciência e religião.
Porém durante o desenvolvimento do livro fica claro que o ponto que ele quer demonstrar é que os cientistas não estão e não devem se preocupar com as religiões e, muito pelo contrário, a maioria dos cientistas que foram relevantes para o nível de conhecimento que temos hoje sobre o universo e os fenômenos naturais tiveram na fé um grande motivador. O problema é que muitas destas descobertas contrariavam dogmas religiosos e consequentemente ainda ameaçam o poder (político) das religiões. É bom aqui fazer uma bela distinção entre fé (ou espiritualidade) e religião: a fé é algo intrínsseco e pessoal e religião é a institucionalização da fé.
Seguindo a linha cronológica desde mitos antigos até as descobertas mais recentes da física (e suas vertentes, como astrologia e cosmologia), o autor vai ligando o texto com fatos históricos, biologia, química, matemática e muitos outros assuntos, todos eles relacionados, o que torna a compreensão de conceitos que, quando apresentados isoladamente são chatos e/ou incompreensíveis, bem mais fácil e com algum sentido prático.
Isto novamente me levou a questionar o porque da atual metodologia educacional separar os assuntos em “áreas de conhecimento”, isolando-os e tornando-os mais incompreensíveis. E nem é questão de “reinventar” o modelo educacional, já que no século XVII, o próprio Newton teve uma educação diferente: no primeiro “termo”, denominado trivium, aprendia-se sobre retórica, gramática e lógica (o primeiro ciclo do nosso ensino fundamental deveria se concentrar nisto, e ainda incluir o inglês “de verdade”), no segundo “termo”, chamado de quadrivium, as aulas eram de geometria, aritmética, música (que envolve muita matemática) e astronomia (poderia ser muito bem ensinado no nosso segundo ciclo do ensino fundamental). À partir dai a base para estudar assuntos específicos (como filosofia, história, geografia, física, química, etc), que poderia ser feita no ensino médio, estaria bem sólida. Não que estes assuntos fossem desprezados durante os primeiros ciclos, mas eles eram “complementos” para o desenvolvimento de habilidades básicas como o desenvolvimento da comprensão de texto, da capacidade de argumentação (e de pesquisa, já que para argumentar você precisa ter uma boa base de conhecimento) e de raciocínio lógico e matemático (raciocínio, não decoreba de fórmula).
Mas voltando à vaca fria, é um ótimo livro, mais um que deveria ser leitura obrigatória nas escolas. Para se ter uma idéia de como ele te prende, eu tenho uma dificuldade para me concentrar e temas como matemática e física nunca foram os meus preferidos e, mesmo assim, cheguei a ler 50 páginas deste livro de uma só vez!
Be happy 🙂