Originalmente publicado na Feedback Magazine, em 15 de Julho de 2014. As opniões do texto não refletem, necessariamente, a minha opnião atual, já que eu sou um ser em constante evolução e que prefere “ser esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opnião formada sobre tudo”.
Numa das aulas de alemão aqui em Berlim tive a grata surpresa de ouvir Der Fisch (O Peixe), uma ficção cientifica no melhor estilo distópico. Criada em 1972 (portanto, em plena Guerra Fria) por Lothar Streblow e produzida pela rádio Bremen, Der Fisch ganhou o prêmio de “Melhor Estória Radiofônica” daquele ano, concedido pelo consórcio das empresas radiofônicas da Alemanha (ARD). Infelizmente, não encontrei uma versão com legendas ou mesmo a transcrição da história. Porém, para quem entende um pouco de alemão, ela pode ser encontrada aqui.
A história é basicamente o diálogo (na verdade, uma sessão de interrogatório) entre um representante do Estado (der Vertreter der Behörde) e um cidadão (que veremos ser, na verdade, um réu – der Geladener) que afirma ter visto um peixe. O problema é que, em 2092 (período em que a trama acontece), as pessoas vivem dentro de redomas de vidro e não existe vida fora desta.
Outro “personagem” importante da obra é um computador (o “sistema”) que guia o representante do Estado e é suprido por ele com informações obtidas do cidadão.
Durante o diálogo, o representante tenta convencer o cidadão de que ele não viu o peixe, afinal isto seria impossível. Portanto, deve ter ocorrido uma simples ilusão de ótica, uma alucinação ou algo do tipo. O cidadão, por sua vez, não esconde a euforia: diante da possibilidade da existência do peixe fora da redoma, a probabilidade de existência humana também é grande.
O cidadão se incomoda muito pela forma com a qual o representante do Estado ignora a possibilidade da existência do peixe, até o momento em que o representante, ao ver que não conseguiria convencer o cidadão, expõe toda a verdade: o Estado (o computador – der Computer) e seus agentes sabem da existência de vida fora da redoma. Entretanto, a vida dos cidadãos é bem melhor na forma como está: confinados dentro da redoma e sem saber o que se passa fora dela.
Neste momento, o representante revela que aquilo não se tratava de um interrogatório, mas sim de um julgamento, onde a negação da vida fora da redoma (consequentemente a aceitação da “verdade” que o sistema impunha ao cidadão) seria motivo para absolvição e a convicção da verdade (da existência do peixe) foi o real motivo para condenação.
No final da estória o cidadão é condenado à reciclagem, ou seja, à morte.
Além da metáfora evidente do sistema vigente nos países do bloco comunista à época (e de sistemas atuais, como o de Cuba, Coréia do Norte e ainda a China), foi interessante notar a similaridade com 1984, além da semelhança dessas duas com a trilogia Matrix.
Quando meu alemão estiver melhor tentarei fazer uma transcrição e uma tradução do texto para vocês.
Be happy! 🙂
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