Entre as características pelas quais os brasileiros são conhecidos ao redor do mundo, destacam-se a sua criatividade, sua versatilidade e sua capacidade de se adaptar.
Se isto, por um lado gera muitos problemas (o famoso “jeitinho brasileiro”), por outro também fez com que nossa cultura fosse uma das mais ricas (senão a mais), ao menos entre as nações mais recentes. Difícil encontrar um lugar que tenha uma variedade tão grande na área gastronômica, na dança, nas artes e cultura em geral.
Porém, acho que na música é que se encontram os maiores destaques (e talvez os mais reconhecidos fora do Brasil). Por aqui já juntamos Jazz com Samba (MPB), Rock com Maracatu (Manguebeat), Rock com Samba (Jorge Ben), Rap com Samba e Reggae (o Rappa), Rap com Rock (Charlie Brown Jr, Planet Hemp), e não cansamos de misturar “chiclete com banana”.
É claro que toda esta criatividade também pode ser usada para reinventar, além de ritmos, músicas já conhecidas (ou nem tanto). Pensando nisto, resolvi criar uma lista das melhores versões nacionais para sucessos internacionais:
10 – Bruno & Marrone – Se Não Tivesse Ido
Desde a popularização da Internet que as informações fluem mais rapidamente de um país para outro. Se antes demorávamos 6 meses, um ano, para termos aqui o lançamento de um disco ou filme internacional, hoje em dia isto acontece simultâneamente. Além do que, com as novas tecnologias de gravação e edição de áudio, o custo de se produzir uma música está muito baixo. O que temos atualmente, devido à estes fatores, é uma intensa produção musical, seguida de uma rápida e ampla disseminação desta produção. Com isto, muitos artistas têm acesso à outras músicas em quantidade e variedade inimagináveis. Com isto, os artistas populares brasileiros, de várias vertentes (forró, samba, axé, sertanejo), tem aproveitado esta oportunidade para criar versões de músicas que fazem sucesso em outros países, especialmente da América Latina (o contrário também acontece). Esta música do Bruno & Marrone é uma versão de Si No Te Hubieras Ido, do mexicano Marco Antonio Solis e entra na lista para representar todas estas versões e troca de informações que vêm ocorrendo ultimamente. Ah! E também por que acho a versão legal, bem melhor que o original.
9 – Capital Inicial – O Passageiro
Talvez este seja um dos riffs mais inconfundíveis do rock nacional, especialmente para quem nasceu antes de 1980. O que pouca gente sabia à época é que a música é uma versão quase literal de The Passenger, do Iggy Pop. O clip desta música também marca uma época em que os clips nacionais começam a ter uma produção mais caprichada, pois conta da existência da então recém inaugurada MTV Brasil.
8 – Gilberto Gil – Só Chamei Porque Te Amo
Esta é uma das que pra mim sairam melhor que o original. O nível da letra é fraco, mas tanto quanto a versão original, porém a música ficou melhor que a do Stevie Wonder, I Just Called To Say I Love You.
7 – Planet Hemp – Adoled
Eu monto na minha cabeça o filminho dos ensaios do Planet Hemp: os músicos chegam, afinam os instrumentos, ai para passar o som alguém pergunta: “o que vamos tocar?”. No que alguém responde: “A do Led! A do Led!”, talvez por esquecer o título da música do Led Zeppelin (efeito colateral de alguma substância tóxica ilegal?). Depois de vários ensaios acabou virando “Adoled”, uma versão para The Ocean, do Led Zeppelin.
6 – Legião Urbana – Hoje A Noite Não Tem Luar
Hahaha! Lembro quando esta música começou a tocar nas rádios, todo mundo achando que era uma música nova, ou uma “sobra de estúdio” do Legião Urbana. Muito pouca gente sabia que era uma versão de Hoy Me Voy Para Mexico, do grupo portoriquenho, sucesso na primeira metade dos anos 80, Menudo.
5 – Ira! – Vem Ficar Comigo
Gosto muito de sons mais trabalhados, como progressivo, tanto que não sou muito fã de punk. Porém o Ira! é uma das poucas exceções. Tudo o que eles fazem é crú, direto ao ponto, sem enrolação. Com esta versão de Train In Vain, do The Clash, não seria diferente. Só colocaram um pouco da pegada Ira!
4 – Skank – Supernova
O Skank é uma banda que evoluiu absurdamente desde sua estréia. Talvez seja a que banda nacional que mais tenha evoluido ao longo de sua história. Tanto evoluiram que mudaram completamente o estilo, e se você colocar algum disco daquela fase “pop-reggae-ska” pé no saco do início de carreira deles, e as coisas mais recentes, do Maquinarama para cá, para um gringo ouvir, muito difícil ele dizer que é a mesma banda (pode acertar que é o vocalista). Desde o Maquinarama, eles resolveram temperar (eu diria encharcar!) o seu som com suas principais influências: Beatles e Clube da Esquina! O disco Supernova (um dos melhores discos nacionais de Rock das últimas duas décadas), posterior ao Maquinarama, acho que foi o disco que realmente fez a ruptura entre o antigo Skank (que eu detestava) e o atual Skank (que está entre minhas bandas atuais prediletas). Tanto assumiram sua influência que a música título do disco é quase uma cópia de Tomorrow Never Knows, dos Beatles. Tons de guitarra, equalização da bateria, ritmo, etc. É praticamente igual, mas sem ser cópia. Ainda é Skank.
3 – Raul Seixas – Você Ainda Pode Sonhar
Talvez esta seja, ao menos no mundo Rock, uma das primeiras versões de música internacional feita por estas bandas. Não poderia ser de ninguém mais além do mestre Raul, fazendo uma versão da melhor banda de rock de todos os tempos, os Beatles, especificamente para Lucy In The Sky with Diamonds. Apesar de não ser uma tradução literal, a letra tem a mesma idéia. Arrisco até dizer que a letra do Raul é mais bela do que a a original.
2 – O Rappa – Hey Joe
Assim como no caso do Raul (e da posição numero um desta lista, a seguir), o Rappa conseguiu reinventar este clássico do Jimi Hendrix, sem que a letra perdesse o sentido, porém sem tentar fazer uma tradução literal da letra (aliás, estas tentativas geralmente são sofríveis). Além de tudo tem toda aquele estilo “Rappa” de música, que não dá pra definir como Rap, como Rock, como Reggae. É simplesmente Rappa e pronto.
1 – Paulinho Moska – Nunca Foi Tarde
Antes de saber que a música era uma versão de Lover, You Should’ve Come Over, de Jeff Buckley (um artista que infelizmente foi embora muito cedo), eu já achava esta música fantástica, tanto na mensagem que ela traz, quanto na parte musical. Ai certo dia não sei porque cargas d’água descobri Jeff Buckley através desta canção. Me apaixonei pela versão original e fiquei gostando ainda mais da versão do Moska, pela capacidade que ele teve em “traduzir” a mensagem para o português, mas também por traduzir o estilo Jeff Buckley de tocar para o estilo Paulinho Moska. Pra mim é a melhor versão brasileira de uma música internacional.
Bonus Treco – Falcao – Pau No Gato
Só para o artigo não ficar tão sério e manter a veia humorística do blog, esta clássica releitura de Another Brick In The Wall, do Pink Floyd, pelo mestre dos mestre Falcão……kkkkkkkkkkkkkkkk
Be happy!!!! 🙂