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Queda Livre: Ensaios de Risco – Otávio Frias Filho (02/2023)

 

queda_livre_ensaios_de_riscoO autor, Otávio Frias Filho, foi durante muito tempo diretor de redação e edição (não ao mesmo tempo) do jornal Folha de São Paulo e do Grupo Folha (ao qual o jornal até hoje pertence), respectivamente. Apesar de ter formação em direito (com pós-graduação em ciências sociais), provavelmente por ter trabalhado toda a vida na imprensa, tinha um texto que não deve nada a jornalistas de formação. E isto fica muito claro e notório em “Queda Livre: Ensaios de Risco”, uma coleção de 7 ensaios resultantes de experiências a que Otávio se propôs, tanto com o intuito de produzir reportagens “imersivas”, mas principalmente para se desafiar.

“Queda Livre”, o primeiro dos ensaios, relata um salto de paraquedas. “Viagem ao Mapiá” (o segundo) as experiências com o Santo Daime. No terceiro ensaio, “A bordo do Tapajós”, a experiência de passar um dia dentro do submarino brasileiro Tapajós. Estas três experiências e seus respectivos textos são interessantes, mas ao menos para mim são ensaios e desafios sem muito apelo, que poderiam ter sido encarados por qualquer outra pessoa, jornalista ou não, e que renderiam textos de qualidade. É uma leitura interessante, acima da média, mas ainda assim não me deixaram aquela sensação de “que baita texto!”

A partir do quarto ensaio, “O Terceiro Sinal”, é que o livro realmente começa a se diferenciar para mim. Neste ensaio, ele conta sua experiência em atuar no Teatro Oficina, do recém falecido Zé Celso. Nesta experiência Otávio parece realmente se entregar de corpo e alma. E é também onde ele começa a se entregar para o leitor.

O quinto texto, “No Caminho das Estrelas”, a experiência encarada e entregue é de percorrer o caminho de Santiago de Compostela. Com certeza existem muitos relatos e livros sobre esta experiência, mas novamente Otávio se entrega e se abre para o leitor sem reservas, o que, juntamente com o texto muito bem escrito, torna a leitura deliciosa.

Mas o ápice da coleção são os últimos dois ensaios.

Em “Casal Procura” o autor se joga no “submundo” dos tabus sexuais: voyerismo, trocas de casais, sexo grupal, sexo com desconhecidos, entre outros. O autor novamente se abre, expondo a desilusão amorosa que o levou a explorar este mundo (ao ponto de ficar viciado!). Não estou fazendo juízo de valor quando usei “submundo”, mas foi a palavra que achei para delinear práticas que não são aceitas e/ou bem-vistas pelas sociedades, especialmente a hipócrita sociedade brasileira.

O último ensaio, “O Abismo”, é o mais denso de todos. Nele o autor narra sua experiência como voluntário do CVV (Centro de Valorização da Vida). Novamente o autor se abre, expondo seus próprios demônios. E mesmo fazendo relato de uma experiência ligada a um tema tão pesado como o suicídio, Otávio consegue fazer um texto que ao mesmo tempo ameniza mas ainda consegue dar a devida gravidade ao assunto.

Uma outra coisa que eu gostei do livro (até nos três primeiros textos – os que eu achei “comum”) são as inserções de história, filosofia, literatura, tudo muito bem referenciado (só faltou ter nota de rodapé!). Mania de jornalista ou advogado?

Be happy 🙂