Ateu, graças a Deus!

HomerXDarwinEu devolvo troco errado, não furo fila, pago meus impostos corretamente, não estaciono em vaga de deficiente/idoso, obedeço as leis do meu país, inclusive aquelas com as quais eu não concordo e até multa de trânsito eu tomo pouquíssimas (a maioria por desatenção), portanto me considero uma pessoa honesta. Eu trato a todos, independente de etnia, credo, nacionalidade, orientação sexual, idade, etc com dignidade e respeito, portanto me considero uma pessoa de bem. Na medida do possível eu contribuo com causas sociais, seja financeiramente, seja com tempo (trabalho voluntário), então me considero uma pessoa caridosa e altruísta. Eu vivo o que eu chamo de “vida plena”: fazer a maioria das coisas que me dão prazer sem prejudicar outras pessoas; então dentro do meu conceito eu sou uma pessoa feliz. E sou ateu!

Com o crescimento da internet e principalmente das redes sociais, com seus grupos, comunidades, vlogs, blogs e espaço para exposição e discussão de idéias e conceitos, aparentemente existe um crescimento anormal no número de ateus, o que leva alguns teístas a apelidar isto de “modinha do ateísmo” e designar os descrentes pejorativamente como “neo ateus”.

Primeiro é importante lembrar que sim, a tendência mundial é de cada vez mais existirem ateus, especialmente nos países onde há liberdade religiosa e de expressão, um estado realmente laico e um bom nível educacional e científico. Aqui vai o primeiro parêntese: existe sim uma relação muito forte entre nível educacional e nível de ateísmo quando países são comparados, porém não existe uma causalidade direta, ou seja, não quer dizer que os mais inteligentes/educados sejam ateus ou que os ateus sejam mais inteligentes. O que existe é que em países com nível educacional alto e liberdade de expressão as pessoas tendem a questionar mais qualquer ideologia, valor ou dogma, e isto acaba invariavelmente por levar a um número maior de descrentes.

Mas não se trata de moda. Simplesmente hoje existe uma “rede de segurança virtual” que permite que mais pessoas se declarem ateus, sendo que em um passado recente estas pessoas temeriam se posicionar como um não crente sob pena de julgamento e isolamento por parte dos seus convíveres e  preferiam não se manifestar ou até mesmo se declararem agnósticos (era o meu caso). O mesmo acontece com outras “minorias” que fogem de padrões definidos pela sociedade.

Acontece que isto tem irritado os teístas em geral, que acham que moral e ética está relacionada e é totalmente dependente da fé e ai surgem perguntas como “Você é ateu? Mas você é uma boa pessoa!” ou “Como você pode ser caridoso sem acreditar num prêmio/punição divina?”.  Sinto informar que até o altruísmo é uma ferramenta biológica de preservação da espécie. Este artigo sobre um cientista americano chamado George Price explica um pouco como acontece (e a história pessoal de Price é muito interessante também).

A irritação dos “mercadores da fé” com os ateus é até compreensível: você consegue fazer com que um usuário de um produto adote um similar de outra marca, mas dificilmente vai convencer alguém a utilizar um produto que não é de sua necessidade ou desejo. Então, do ponto de vista mercadológico (que é o que importa aos Malafaias, R.R. Soares, Felicianos e Macedos da vida) realmente o crescimento do ateísmo é uma ameaça, pois fazer alguém que já é crente trocar uma denominação e até mesmo uma religião por outra é bem mais simples do que fazer alguém que não cre passe a ter fé em algo.

O que eu não entendo é a ira dos simples praticantes das religiões (e mesmo dos não praticantes) para com os ateus. Salvo raras exceções, para nós ateus, desde que a crença dos outros não venha interferir na vida privada de cada um (imposição de dogmas de determinada religião para toda uma sociedade) pouco importa no que as outras pessoas acreditam. Eu particularmente volto ao meu conceito de vida plena: se faz bem para você e não faz mal a ninguém, ótimo! Fico feliz por você!

Ao contrário de boa parte dos religiosos, um ateu dificilmente vai tentar “desconverter” alguém, até porque entendemos que é questão de foro intimo crer ou não em algo. E aqui vem meu segundo parêntese: neste ponto eu admiro os Batistas, que ao contrário de outras denominações protestantes, não ficam batendo de porta em porta, ou então abordando pessoas na rua, afim de convertê-las. Eles apenas dão bom testemunho através de suas ações e ao mostrar que sua fé faz bem para eles. E para mim é assim que deveria ser.

Talvez o que boa parte dos teístas não conseguem admitir/entender é que alguém pode ser honesto, ético, de bem, ter moral e ser feliz, sem a necessidade de crer em uma entidade divina e/ou num paraíso ou danação eterna. Mas de certa forma eu até entendo esta frustração. Imagino que seja uma mistura de inveja (por eles não conseguirem o mesmo sem ter esta “muleta”), misturada com algumas doses de “será que me enganaram durante todo este tempo?” e algumas pitadas de “será que eu gastei tempo demais da minha vida seguindo algo que não é necessário para atingir um objetivo?”.

Be happy! 🙂

RunJack

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